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My Soul to Take Rachel Vincent Ela não vê os mortos, mas... Ela sente quando alguém próximo a ela esta a ponto de morrer. E quando isso acontece, uma força além de seu controle a obriga a gritar morte sangrenta. Literalmente. Kaylee só quer desfrutar de ter chamado a atenção do garoto mais bonito da escola. Mas é difícil conseguir um encontro normal quando Nash parece saber mais do que ela sobre a necessidade de gritar. E quando seus colegas de classe começam a cair mortos sem nenhuma razão aparente, só Kaylee sabe quem será o próximo...
SOUL SCREAMERS A última coisa que ouvirá antes de morrer...
Títulos anteriores da série SOUL SCREAMERS : Soul Screamers 00 - My Soul To Lose
Créditos:
Comunidade Tradução de Livros [http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=25399156]
Tradução: Hayleyyy (Val) [http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=4163518357463385049
Tradução: Thábata Papini [http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=1224165313819057875]
Tradução: Michelle [http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=15221778400641543549]
Tradução e Revisão: Thábata Papini [http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=1224165313819057875]
Capítulo 1 "Vamos!" - Emma sussurrou a minha direita, as palavras flutuaram de sua boca como uma nuvem branca e fina. Ela olhou o painel de aço maltratado em frente a nós, como se sua própria impaciência fosse fazer com que a porta se abrisse. - "Ela esqueceu, Kaylee. Eu deveria ter sabido que o faria." - Emma deixava sair jatos de ar da sua boca perfeitamente pintada para manter-se aquecida, suas curvas eram visíveis sob a blusa vermelha brilhante que tinha "tomado emprestado" de uma de suas irmãs. Sim, tinha um pouco de inveja, eu tenho algumas poucas curvas e não tenho irmãs para pedir roupas emprestadas. Mas tinha tempo, e uma olhada em meu celular me disse que ainda eram oito horas e seis minutos. - "Estará aqui." - Acariciei a frente de minha própria blusa e deslizei meu celular em meu bolso quando Emma chamou pela terceira vez. - "Estamos adiantadas. Simplesmente lhe de um minuto." Meu próprio sopro de ar ainda não havia se desvanecido quando o metal rangeu e a porta abriu-se lentamente em nossa direção, houveram flashes de uma luz de fumaça e escutaram-se golpes baixos no beco frio e escuro. Traci Marshall - irmã mais velha de Emma ficou com uma mão na porta, mantendo-a aberta. Ela usava um vestido apertado, de corte baixo, mostrando a semelhança de toda a família, como se seu longo cabelo loiro não fosse suficiente. "Bem a tempo!" - Disse Emma, dando um passo adiante para tentar passar pela irmã. Mas Traci bateu a mão livre contra o batente da porta, bloqueando nossa entrada. Ela me devolveu brevemente o sorriso, então franziu o cenho para sua irmã. - "Muito bom te ver também. Diga-me as regras." Emma revirou seus olhos castanhos e esfregou o queixo, com os pêlos dos braços arrepiados - tínhamos deixado nossos casacos no meu carro. - "Nada de álcool, nada de produtos químicos. Nenhuma diversão de nenhum tipo." - Sussurrou a última parte, e reprimiu um sorriso. "O que mais?" - Exigiu Traci, obviamente, tentando manter uma rara careta. "Nós viemos juntas, estamos juntas, e vamos embora juntas." - Disse, recitando as mesmas frases que repetíamos cada vez que ela nos infiltrava - apenas duas vezes. As regras eram uma porcaria, mas eu sabia que não iríamos entrar se não as dissesse. "E..." Emma chutou para sentir um pouco de calor, os saltos grossos ecoavam no concreto. - "Se formos apanhadas, nós não te conhecemos."
Como se alguém fosse acreditar nisso. As meninas Marshall tinham o mesmo padrão: altas, voluptuosas curvas que deixavam minhas próprias modestas curvas com vergonha. Traci assentiu com a cabeça, aparentemente satisfeita, e deixou cair a mão do batente da porta. Emma deu um passo adiante e sua irmã franziu a testa, puxando-a para a luz vinda da sala. - "Essa é a blusa nova da Cara?” Emma franziu a testa e puxou seu braço. - "Ela nunca saberá que foi usada." Traci riu e fez um gesto com seu braço em direção à frente do clube de onde saía luz e o som inundou as salas dos fundos e os escritórios. Agora que estávamos todas dentro, tinha que gritar para ser ouvida por cima da música. - "Aproveite o resto de sua vida enquanto dura, porque quando ela descobrir que você pegou sua blusa..." Imperturbável, Emma dançou enquanto ia pelo corredor e entrou na sala principal, com as mãos no ar e balançando os quadris ao ritmo da música. Eu a segui, animada com a energia da multidão na noite de sábado desde o momento em que vi o primeiro grupo de corpos em movimento. Nós abrimos caminho através da multidão, e fomos engolidas por ela, absorvendo tudo, deixando-nos levar pelo ritmo, o calor e pelos casais que se puxavam para mais perto. Dançamos com diversas canções, juntas, sozinhas ou em pares ao acaso, até que eu mal conseguia respirar e estava encharcada de suor. Fiz sinal a Emma que ia tomar uma bebida, e ela assentiu com a cabeça enquanto eu já estava em movimento caminhando pela multidão. Atrás do bar, Traci trabalhava junto com outro garçom, um grande homem de pele escura, com roupa preta estranhamente iluminada por uma faixa na cabeça de neon azul. Sentei-me no primeiro banco do bar, e o homem de preto apoiou as duas mãos no balcão em frente a mim. "Eu atendo essa." - Disse Traci, com uma mão em seu braço. Ele assentiu e mudouse para o próximo cliente. - "O que vai ser?" - Traci alisou uma mecha de seu cabelo, os cabelos tingidos de azul. Eu sorri, apoiando os cotovelos sobre o bar. - "Jack e Coca-Cola?" Ela riu. - "Vou te dar a Coca-Cola." - Ela colocou o refrigerante em um copo com gelo e deslizou-o para mim. Empurrei dinheiro pelo balcão e girei meu banquinho para ver a pista de dança, explorando a multidão para encontrar Emma. Ela estava dançando entre dois rapazes, os três dançando em uníssono. Emma chamava atenção como a lã chama estática. Ainda sorrindo, terminei minha bebida e coloquei o copo sobre balcão. “Kaylee Cavanaugh.”
Pulei quando ouvi meu nome, e girei meu banquinho para a esquerda. Meus olhos caíram em um conjunto de hipnóticos olhos castanhos que eu jamais tinha visto, e durante vários segundos eu só pude olhar perdidamente nos redemoinhos mais surpreendentes de marrom e verde vivo profundo, os quais pareciam ter o giro do tempo com meus próprios batimentos cardíacos - embora certamente não fosse mais que reflexo das luzes intermitentes de cima. Meu senso comum só voltou quando tive que piscar, e a perda temporária de contato me trouxe de volta a mim mesma. Foi então que percebi a quem estava observando. Nash Hudson. Santo Deus. Quase olhei para baixo para ver se o gelo tinha ancorado meus pés ao chão, pois sem dúvida o inferno havia congelado. De alguma maneira saí da pista de dança e entrei em alguma área de deformação rara onde nadava em íris coloridas, Nash Hudson sorria para mim, e eu estava sozinha. Peguei meu copo, esperando que tivesse uma última gota para melhorar minha garganta que de repente estava seca - e perguntando-me rapidamente se Traci tinha enchido meu copo de Coca-Cola - mas descobri que estava tão vazio como eu esperava. "Precisa de outra bebida?" - Perguntou Nash, e nesse momento minha boca se abriu. Depois de tudo, se eu estava sonhando - ou em um terreno sombrio - não tinha nada a perder se falasse. Certo? "Estou bem. Obrigada." - Arrisquei-me a dar um sorriso hesitante e meu coração quase se rompeu quando vi meu sorriso refletido em seus lábios perfeitamente formados. "Como você chegou aqui?" - Ele levantou uma sobrancelha, mais em diversão do que em verdadeira curiosidade. - "Arrastando-se através de uma janela?" "A porta de trás" - Sussurrei, sentindo que meu rosto corava. Claro que ele sabia que eu era uma caloura - muito jovem para um clube para pessoas de dezoito anos - e – ainda mais para um clube como Taboo. "O que?" - Ele sorriu e inclinou-se para me ouvir acima da música. Sua respiração roçou meu pescoço, e meu coração batia tão forte que me senti tonta. Ele cheirava tãoooo bem. "Pela porta dos fundos" - Repeti em seu ouvido. - "A irmã de Emma trabalha aqui." "Emma está aqui?" Apontei para ela que estava na pista de dança, agora se balançando com três rapazes de uma vez - e suponho que essa seria a última vez que eu veria a Nash Hudson.
Mas, para minha surpresa quase fatal - fiquei em choque - ele deu uma olhada em Emma e se virou para mim com um brilho travesso naqueles olhos incríveis. "Você não vai dançar?" Minha mão de repente estava suada em volta do meu copo vazio. Isso queria dizer que ele queria dançar comigo? Ou que ele queria que eu desocupasse o banco do bar para sua namorada? Não, espere. Ele tinha deixado sua namorada na semana passada, e os tubarões já estavam rodeando a carne fresca. Ainda que, agora não estavam dando voltas ao redor dele... Não vi ninguém da multidão costumeira de Nash, ou agrupados em torno dele, ou na pista de dança. "Sim, eu vou dançar." - Eu disse, e de novo, seus olhos estavam girando o fuso de cor verde convertendo-se em marrom e preto, com alguns flashes azuis que ocasionalmente lhe provocava o néon. Eu poderia olhar seus olhos durante horas. Mas ele provavelmente teria pensado que isso era estranho. "Vamos!" - Ele pegou minha mão e levantou-se enquanto eu descia do banco, e o seguia até a pista de dança. Um sorriso doce floresceu em meu rosto e meu peito parecia se apertar em volta do meu coração em antecipação. Eu o conhecia há muito tempo - Emma tinha saído durante um tempo com alguns de seus amigos - mas nunca tinha sido o objeto de sua atenção. Nem sequer havia considerado a possibilidade. Se a escola Eastlake fosse o universo, eu seria uma das luas girando ao redor do Planeta Emma, sempre escondida por sua sombra, e feliz por estar ali. Nash Hudson seria uma das estrelas: muito brilhante para olhá-lo, quente demais para tocá-lo e era o centro de seu próprio sistema solar. Mas, na pista de dança, me esqueci de tudo isso. Sua luz brilhava diretamente sobre mim, e era tãooooo quente. Acabamos a apenas poucos metros de Emma, mas com as mãos de Nash em mim, seu corpo pressionado contra o meu, eu quase não a notei. Essa primeira música terminou, e nos movemos para a próxima antes que eu percebesse que tinha mudado o ritmo. Vários minutos depois, vi a Emma por cima do ombro de Nash. Ela estava em pé no bar com um dos rapazes com quem tinha dançado, e enquanto olhava, Traci colocou umas bebidas na frente de cada um deles. Quando sua irmã virou. Emma tomou a bebida de seu parceiro - algo escuro com uma rodela de limão na borda, e a esvaziou em três goles. O rapaz da fraternidade sorriu, e a puxou de volta para a multidão. Fiz uma nota mental para não deixar Emma dirigir meu carro - nunca - então deixei vagar meus olhos de volta para Nash, onde queriam estar em primeiro lugar. Mas no caminho, minha atenção prendeu-se em uma desconhecida extensão de cabelo loiro,
culminando na cabeça da única menina no edifício que era rival de Emma em beleza. Esta menina também tinha seus eleitos parceiros de dança, e embora ela não pudesse ter mais de dezoito anos, era evidente que tinha bebido muito mais do que Emma. Mas apesar da beleza e obviamente do quão carismática ela era, vendo-a dançar, algo se torceu no mais fundo de minhas entranhas e meu peito se apertou, como se eu não pudesse obter ar suficiente. Algo estava errado com ela. Eu não tinha certeza de como sabia, mas estava absolutamente segura que algo não estava bem com aquela garota. "Você está bem?" - Nash gritou, colocando uma mão no meu ombro, e de repente percebi que eu tinha parado, enquanto todos ao meu redor estavam se contorcendo ao ritmo da música. "Sim!" - Sacudi meu mal estar e estava aliviada ao olhar-me nos olhos de Nash que exalavam uma sensação, deixando em seu lugar uma nova calma, misteriosos em sua profundidade e alcance. Dançamos durante várias musicas, cada vez mais confortáveis um com o outro a cada momento que passava. No momento em que paramos para tomar uma bebida, o suor escorria em minha nuca e meus braços estavam molhados. Recolhi a maior parte do meu cabelo para sentir um pouco de ar, enquanto acenava com minha mão livra para Emma, quando me virei para seguir Nash fora da pista de dança - e quase colidi com a mesma loira. Não é que ela tenha notado. Mas no momento em que meus olhos encontraram com os dela, a sensação de mal-estar voltou - o desconforto era mais forte, como um gosto ruim em minha boca. Sentia-o por todo meu corpo. E desta vez estava acompanhado de uma estranha tristeza. Uma melancolia geral que parecia particularmente ligada com esta pessoa. A quem nunca havia conhecido. "Kaylee?" - Nash gritou por cima da música. Ele estava de pé no bar, segurando dois copos de refrigerante. Fechei o espaço entre nós e peguei o copo que me oferecia, com um pouco de medo ao notar que, desta vez, mesmo olhando diretamente em seus olhos não podia relaxar completamente. Não podia afrouxar minha garganta, que ameaçava fechar contra o frio da bebida que tanto precisava. "O que aconteceu?" - Estávamos a centímetros de distância, graças à multidão pressionando cada vez mais perto do bar, mas ele ainda tinha que apoiar-se em mim para ser ouvido. "Eu não sei. Há algo sobre essa garota, a loira que está ali" - Fiz um gesto com a cabeça em direção a dançarina em questão - "Me incomoda." - Bem, merda. Eu não queria admitir isso. Soava tão patético em voz alta. Mas Nash apenas olhou para a garota, então me olhou novamente. - "Parece bem para mim. Supondo que ela já tenha uma carona para casa..."
"Sim, espero." - Mas, então, a música atual terminou e a garota tropeçou - parecendo de alguma forma elegante, ainda que obviamente estivesse embriagada - fora da pista de dança e em direção ao bar. Ela veio direto até nós. Meu coração batia mais forte a cada passo que ela dava. Minha mão estava enrolada em volta do meu copo até que meus dedos ficaram brancos. E essa sensação familiar de melancolia inflou-se em um sentimento de tristeza. De negros presságios. Engasguei, surpreendida por uma repentina certeza, horrível. Não novamente. Não com Nash Hudson para ver-me completamente louca. Na segunda-feira toda a escola ficaria sabendo de tudo, e poderia dizer adeus a pouca posição social que tinha ganhado. Nash colocou seu copo no bar e olhou para meu rosto. "Kaylee? Você está bem?" - Mas eu só conseguia balançar a cabeça, incapaz de responder. Estava longe de estar bem, mas não conseguia articular o problema de uma forma coerente. De repente, os boatos potencialmente devastadores pareciam coisas de menor importância comparado com o pânico que crescia dentro de mim. Cada respiração era mais rápida do que a anterior, e um grito crescia no fundo do meu peito. Eu apertei minha boca para manter o grito dentro, meus dentes rangiam dolorosamente. A loira aproximou-se do bar pela esquerda, e havia um só banco entre nós. O garçom pegou seu pedido e ela virou-se de lado para esperar por sua bebida. Seus olhos encontraram os meus. Ela sorriu brevemente e, em seguida, olhou para a pista de dança. O horror tomou conta de mim em uma onda devastadora de intuição. Fechou-se em minha garganta. Afogada em um grito de terror. Meu copo escapou de minhas mãos e espatifou-se no chão. A dançarina lora gritou e pulou para trás, enquanto meu refrigerante gelado espirrou nela, em mim, em Nash e no homem do banco a esquerda. Mas mal me dei conta do líquido frio, e das pessoas que me olhavam. Eu apenas olhava para a garota, e à sombra, a sombra transparente que a envolvia. "Kaylee?" - Nash inclinou seu rosto de modo que nossos olhos se encontraram. Seus olhos estavam cheios de preocupação, as cores giravam fora de controle agora em luzes intermitentes. Vê-los me deixava tonta. Eu queria dizer-lhe alguma coisa... qualquer coisa. Mas se eu abrisse a boca, o grito sairia, e então qualquer um que não estivesse me olhando viraria para me olhar. Eles pensariam que estou louca. Quem sabe eles tivessem razão. "O que há de errado?" - Nash exigiu, dando um passo para mais perto de mim, sem se importar com os vidros e o chão molhado. - "Você tem convulsões?" - Mas eu só podia mover minha cabeça em direção a ele, negando-me a deixar que as lágrimas
saíssem de mim, negando a existência de uma estreita cama em um quarto branco, esperando por mim. E de repente Emma estava lá. Emma, com seu corpo perfeito, belo rosto e o coração do tamanho de um elefante. - "Ela vai ficar bem." - Emma me separava do bar enquanto o garçom apareceu com um esfregão e um balde. "Ela precisa apenas de um pouco de ar." - Ela fez um sinal para Traci que parecia preocupada e fazia gestos frenéticos com as mãos, então me empurrou pela multidão. Apertei minha boca com a mão livre e balancei a cabeça furiosamente quando Nash tentou pegar minha mão na sua. Deveria estar preocupada com o que ele pensaria de mim. Como talvez, que ele não desejaria nada comigo agora que o tinha envergonhado publicamente. Mas eu não podia me concentrar o suficiente para me preocupar com nada, exceto com a loira no bar. A que nos viu sair, a que estava envolta em um manto de sombras que só eu podia ver. Emma me levou para o corredor que estava perto do banheiro, com Nash em nossos calcanhares. "O que está acontecendo?" - Ele perguntou. "Nada." - Emma fez uma pausa e sorriu para nós dois, e a gratidão rompeu-se através de meu terror escuro por um instante. - "É um ataque de pânico. Só precisa de um pouco de ar fresco e tempo para se acalmar." Mas era aí que ela estava errada. Não era tempo que eu precisava, e sim espaço. Distância entre eu e a fonte da angústia. Infelizmente, não havia espaço suficiente em todo o clube para estar suficientemente longe da garota no bar. Mesmo estando parada na porta de trás, o pânico era tão forte como sempre. O grito queimava em minha garganta, e aflorava em meu paladar - se eu perdesse meu controle - meu grito romperia os tímpanos de todos. Talvez o som da música pudesse encobrir meu constrangimento e, possivelmente, desligar os alto-falantes – isso se não quebrasse as janelas. Tudo por culpa de uma loira que nem sequer conheço. Só em pensar nela enviava uma nova onda de devastação através de mim, e meus joelhos desmoronaram. Caí sobre Emma que estava com a guarda baixa, e eu a teria arrastado comigo se não fosse Nash me agarrar. Ele levantou-me completamente fora do chão, acolheu-me como uma criança, e seguiu Emma pela porta de trás comigo em seus braços. O clube estava mal iluminado, mas o beco estava mais escuro, e ficou em silêncio após a porta se fechar atrás de nós. O frio e o silêncio deveriam ter me acalmado, mas a bagunça em minha mente havia chegado ao seu limite. O grito que eu me recusava a liberar girava em
torno de meu cérebro, ressonante, fazendo eco, pontuando a dor ao vermelho vivo em meu coração. Nash deixou-me sentada no beco, mas naquele momento meus pensamentos tinham perdido todos os traços de lógica ou de compreensão. Senti algo macio e seco debaixo de mim, e mais tarde percebi que Emma havia encontrado uma caixa para que ele me sentasse. Meus jeans tinham subido por minhas pernas enquanto Nash me levava, e o papelão estava frio e arenoso contra minhas panturrilhas. "Kaylee?" - Emma ajoelhou-se diante de mim, com seu rosto a centímetros do meu, mas eu não podia dar sentido às palavras que ela disse depois do meu nome. Ouvia apenas meus pensamentos. Apenas um, na verdade. Um delírio paranóico, de acordo com minha ex-terapeuta, que se apresenta com a absoluta autoridade de uma longa lista de feitos. Então o rosto de Emma desapareceu e eu estava olhando para seus joelhos. Nash disse algo que eu não conseguia distinguir. Algo sobre uma bebida... A música voltou a ser ouvida, depois Emma tinha ido. Ela tinha me deixado sozinha com o menino mais bonito com quem eu tinha dançado - a última pessoa no mundo que eu queria que fosse testemunha da minha total ruptura da realidade. Nash se deixou cair de joelhos e olhou em meus olhos, seus olhos verdes e marrons seguiam em seu frenesi, de algum modo seguiam combinando as cores, ainda que não havia nenhuma luz no teto agora. Eu estava imaginando. Tinha que ser. Eu já os tinha visto dançar com as luzes antes, e agora minha mente traumatizada tinha se apoderado dos olhos de Nash como um ponto focal de minha ilusão. Tal como aconteceu com a loira. Certo? Mas não havia tempo para pensar sobre minha teoria. Eu estava perdendo o controle. As sucessivas ondas de dor ameaçavam esmagar-me contra a parede com uma pressão invisível, como se Nash não estivesse ali. Não podia aspirar uma respiração profunda, porém, um agudo lamento escapou de minha garganta, mesmo com a minha boca fechada. Minha visão começou até a ficar ainda mais escura do que o beco, embora eu não tivesse pensado que isso fosse possível - como se todo o mundo tivesse sido coberto por um filtro estranho de cor cinza. Nash franziu a testa, ainda me observando, então sentou-se ao meu lado, de costas contra a parede também. Nas bordas da minha visão cinza, algo passou em silêncio. Um rato ou algum outro carniceiro atraído pela caixa de lixo do clube? Não. O que eu tinha vislumbrado era grande demais para ser um roedor, a menos que houvesse saído do pântano Buttercup - e muito confuso para eu decifrar. Nash pegou minha mão na sua, e me esqueci de tudo o que eu tinha visto. Ele empurrou meu cabelo para trás da minha orelha direita. Não conseguia entender o
que ele estava sussurrando em meu ouvido, mas pouco a pouco percebi que suas palavras não eram importantes. O que importava era sua proximidade. Sua respiração no meu pescoço. Seu calor fundindo-se em mim. Seu aroma me rodeando. Sua voz rodava em minha cabeça, isolando o grito que continuava pulando contra meu crânio. Ele estava tranqüilizando-me com nada mais que sua presença, sua paciência e sussurrando-me palavras em voz baixa que soavam como uma rima infantil, baseado no pouco que eu entendia. E estava funcionando. Minha ansiedade desvaneceu-se gradualmente e a cor filtrouse novamente em meu mundo. Meus dedos relaxaram em torno de sua mão. Meus pulmões ampliaram-se completamente, respirei profundamente, uma respiração fria, de repente congelando o suor que tinha tido no clube, minha pele agora estava seca. O pânico ainda estava lá, nas sombras da minha mente, as manchas escuras na borda da minha visão. Mas eu podia controlá-lo agora. Graças a Nash. "Você está bem?" - Perguntou quando virei a cabeça em direção a ele, o tijolo estava frio e áspero contra minha bochecha. Assenti. E foi então que um novo horror apareceu: total, consumindo, uma mortificação inevitável, mais terrível em sua longevidade. O ataque de pânico tinha quase desaparecido, mas a humilhação ia durar por toda a vida. Tinha me perdido completamente na frente de Nash Hudson. Minha vida tinha acabado, nem mesmo minha amizade com Emma seria suficiente para o dano da ferida tão desagradável. Nash esticou suas pernas. - "Quer falar sobre isso?" Não. Eu queria esconder-me em um buraco, ou enfiar a cabeça em um saco, ou mudar de nome e ir para o Peru. Mas, de repente, eu queria falar sobre isso. Com a voz de Nash ainda ressoando na minha cabeça, baixinho, suas palavras sussurrando levemente sobre minha pele, eu queria dizer-lhe o que tinha acontecido. Não fazia nenhum sentido. Depois de conhecer-me por oito anos e ter me ajudado em dezenas de ataques de pânico anteriores, Emma ainda não tinha idéia do que as causava. Eu não podia dizer a ela. Poderia assustá-la. Ou pior ainda, finalmente a convenceria que eu realmente estava louca. Então, por que queria contar a Nash? Não tinha resposta para isso, mas a necessidade era inegável.
"... a loira." - Já tinha dito em voz alta, e comprometi a mim mesma algum tipo de explicação. A testa de Nash estava franzida pela confusão. - "Você a conhece?" "Não." - Felizmente. A simples troca de oxigênio com ela quase havia me roubado a mente. - "Mas há algo errado com ela, Nash. Ela é... escura." Kaylee cale-se! Se ele já não estava convencido de que eu estava louca, logo estaria... "O que?" - Seu gesto agora era mais profundo, mais confuso ou cético, ele parecia surpreso. Então veio a vaga compressão. Compressão e... medo. Talvez ele não soubesse exatamente o que eu queria dizer, mas não parecia totalmente desorientado. - "O que quer dizer com 'escura'?" Fechei meus olhos pensando no último segundo. E se ele me entendesse mal? E se ele achasse que eu estava louca? Pior ainda, e se ele estivesse certo? Mas no final, abri meus olhos e olhei-o com franqueza, porque tinha que dizer-lhe alguma coisa, e provavelmente não poderia fazer mais danos a opinião que ele tinha de mim. Certo? "Está bem, isso vai soar estranho" – Eu comecei. - "Mas há algo errado com a garota do bar. Quando a olhei, ela estava... cercada por sombras." - Hesitei, tomando coragem para terminar o que havia começado. - "Ela vai morrer, Nash. Essa garota vai morrer em breve."
Capítulo 2 “Que?” – As sobrancelhas de Nash levantaram-se, mas não rolou os olhos, ou riu, ou bateu na minha cabeça e chamou os homens de branco1. Na verdade, parecia quase como se acreditasse em mim. – “Como sabe que ela vai morrer?” Esfreguei minhas têmporas, tentando apagar a familiar frustração que sentia. Ele pode não estar rindo por fora, mas com certeza gargalhava por dentro. Como podia não rir? Que demônios eu estava pensando? “Não sei como sei. Nem sequer tenho certeza. Mas quando a olhei... ela é... mais escura que todos ao seu redor. Como se estivesse parada na sombra de algo que não pude ver. E sei que ela vai morrer.” Nash franziu o cenho com preocupação, e eu fechei meus olhos, apenas notando o repentino som da música do clube. Eu reconhecia esse olhar. Era o que as mães dão a seus filhos quando eles perdem a razão e começam a falar sobre unicórnios e esquilos dançarinos. “Sei que soa...” – Louco – “... raro, mas...” Ele pegou minhas mãos, virando-se para poder me olhar melhor, e de novo as cores de seus olhos pareciam dançar com as batidas do meu coração. Ele abriu a boca, e segurei a respiração esperando o veredito. O havia perdido por falar de sombras aterrorizantes, ou meus erros me levariam de volta ao leite derramado2? “Parece bastante estranho para mim.” Nós dois levantamos a cabeça para ver Emma nos observando, com uma garrafa de água em sua mão gotejando no cimento sujo, eu quase me queixei de frustração. O que quer que seja que Nash estava a ponto de dizer já havia ido, pude ver no sorriso cauteloso que me deu, antes de voltar a olhar para Emma. Ela abriu a garrafa e me entregou. – “Mas então, não seria Kaylee se não me deixasse confusa de vez em quando.” – Ela encolheu os ombros com amabilidade e me estendeu uma mão enquanto Nash ficava de pé para unir-se a nós. – “Então teve um ataque de pânico porque acredita que uma garota no clube vai morrer?” Assenti hesitante, esperando que ela risse ou rolasse os olhos, se é que pensava que eu estava brincando. Ao invés disso arqueou suas sobrancelhas, e inclinou sua cabeça para um lado. – “Bom, não deveria dizer a ela? Ou algo assim?” “Eu...” – Pisquei com confusão e franzi o cenho para a parede que estava atrás dela. De alguma forma, essa opção nunca havia passado pela minha cabeça. – “Não sei.” – Olhei para Nash, mas não encontrei resposta em seus olhos agora normais. – “Ela 1 2
Enfermeiros de hospitais psiquiátricos. Da frase: Não chore pelo leite derramado.
provavelmente pensará que estou louca. Ou perderia o controle.” – E realmente, quem a culparia? “De todos os modos não importa, porque não é certeza. Certo? Não pode ser.” Nash encolheu os ombros, mas parecia querer dizer algo. Mas Emma falou, nunca vacilava em dar sua opinião. – “Claro que não. Teve outro ataque de pânico e sua mente se apegou a primeira pessoa que viu. Poderia ter sido eu, ou Nash, ou Traci. Isso não quer dizer nada.” Assenti, querendo acreditar em sua teoria, só que não me sentia bem. Ainda assim, eu não podia advertir a loira. Não importava o que eu acreditava saber, a possibilidade de dizer a um completo estranho que ia morrer, parecia uma loucura, e eu havia tido o suficiente de loucuras no momento. Na verdade, pelo resto da minha vida. “Está melhor?” – Perguntou Emma, quando leu a decisão em meu rosto. – “Quer entrar?” Sentia-me melhor, mas esse escuro pânico ainda persistia nas bordas da minha mente, e só pioraria se visse a garota outra vez. Não tinha dúvidas disso. E não daria a Nash outra atuação essa noite, se fosse possível. “Apenas quero ir para casa.” – Meu tio havia levado minha tia para jantar por seu aniversário de quarenta anos, e Sophie estava viajando com sua equipe de dança. Pela primeira vez teria a casa só para mim. Sorri para Emma me desculpando. – “Mas se quiser ficar, provavelmente poderia ir embora com Traci.” “Não, vou com você.” – Emma pegou a garrafa de água da minha mão e bebeu um gole. – “Ela nos disse que fossemos embora juntas, lembra?” “Também disse que não bebêssemos.” Emma rolou seus grandes olhos marrons. – “Se ela realmente queria dizer isso, deveria ter nos colado no balcão.” Essa era a lógica-Emma. Quanto mais tempo passava, menos sentido tinha. Emma olhava de mim para Nash. Logo sorriu e dirigiu-se pela calçada para onde estava o carro na rua, para nos dar privacidade. Peguei as chaves do meu bolso e tratei de evitar o olhar de Nash até que soubesse o que dizer. Ele havia me visto no meu pior momento, e ao invés de ir embora ou fazer piada, havia me ajudado a recuperar o controle. Havíamos nos conectado de uma forma que eu não acreditava ser possível uma hora antes, principalmente com alguém como Nach, cuja única idéia na cabeça era uma lenda. Ainda assim, não podia lutar contra a certeza de que o sonho desta noite terminaria em pesadelo amanhã. O dia traria seus sentidos de volta, e ele se perguntaria o que estava fazendo comigo.
Abri a boca, mas não saiu nenhum som. Minhas chaves faziam barulho, e eu girava o anel que tinha no dedo indicador, ele franziu o cenho quando seu olhar parou nas chaves. “Está bem para dirigir?” – Ele sorriu, e meu coração saltou em resposta. – “Eu poderia te levar para casa e ir a pé de lá. Vive no complexo Parkview, certo? É apenas a alguns minutos da minha casa.” Ele sabia onde eu morava? Eu devia parecer surpresa, porque ele se apressou em explicar. – “Fui deixar tua irmã lá uma vez. No mês passado.” Minha mandíbula apertou-se, e senti que minha expressão escureceu. – “Ela é minha prima.” – Nash tinha dado uma carona a Sophie? Por favor, que não seja um eufemismo... Ele franziu o cenho e balançou a cabeça em resposta a minha pergunta não formulada. – “Scott Carter me pediu que desse uma carona a ela.” Oh. Que bom. Eu assenti, e ele encolheu os ombros. – “Então, quer que te leve em casa?” – Estendeu a mão para pegar as chaves. “Está bem, estou bem para dirigir.” – Não tinha o costume de deixar pessoas que não conhecia bem dirigir meu carro. Especialmente garotos bonitos – que diziam por aí – ter conseguido duas multas por excesso de velocidade. Nash respirou profundamente. – “Então pode me dar uma carona? Vim com Carter, e não acredito que ele esteja pronto para ir embora por pelo menos mais algumas horas.” Meu pulso subiu para minha garganta. Ele estava indo cedo para poder ficar comigo? Ou eu havia arruinado sua noite com minhas loucuras? “Hmm... sim.” – Meu carro era um desastre, mas já era tarde para me preocupar com isso. – “Mas vai ter que mover Emma do banco da frente com uma escopeta.” Felizmente isso não foi necessário. Emma foi para o banco de trás, dando-me uma olhada significativa enquanto Nash sentava no banco da frente, jogando um saco de pipocas no chão. Deixei ela primeiro, uma hora e meia antes de seu toque de recolher, o que deve ser algum recorde. Enquanto eu ia embora pela rua de Emma, Nash virou-se no acento do passageiro para ficar de frente para mim, sua expressão era sombria, e meu coração batia tão forte que quase doía. É a hora da badalada final. Ele era muito bom para dizer algo na frente de Emma, e mesmo quando ela não estava mais, provavelmente seria bom. Mas o resultado final era o mesmo, ele não estava interessado em mim. Ao menos não depois da minha crise pública.
“Já teve outros ataques de pânico antes?” Que? Minhas mãos apertaram-se no volante pela surpresa quando virei à esquerda no final da rua. “Algumas vezes.” – Pelo menos meia dúzia de vezes. Não pude esconder a surpresa da minha voz. Meus ‘assuntos’ deveriam fazê-lo gritar, e no lugar disso ele queria detalhes? Por quê? “Teus pais sabem?” Movi-me em meu assento, como se uma nova posição fizesse com que eu me sentisse mais cômoda com a pergunta. Mas precisaria mais que isso. – “Minha mãe morreu quando eu era pequena, e meu pai não pôde cuidar de mim. Ele mudou para a Irlanda, e tenho morado com meus tios desde então.” Nash piscou e assentiu com a cabeça esperando que eu continuasse. Ele não disse nenhuma palavra de lástima ou compaixão, não-estou-certo-do-que-dizer, o que acontece geralmente quando as pessoas descobrem que fiquei meio órfã, e depois fui completamente abandonada. Gostei disso nele, ainda que não gostasse de suas perguntas. “Então seus tios sabem disso?” Sim claro. Eles pensavam que eu era o ovo choco na bandeja. Mas a verdade dói muito ao dizê-la em voz alta. Virei-me e percebi que ele estava me olhando muito de perto, e minha suspeita gritou de novo, tanto que queimava dentro de mim. Porque lhe importava o que minha família sabia ou não sobre minha mísera vida privada? Ao menos que ele estivesse planejando rir de mim com seus amigos sobre quão louca eu estava. Mas sua intenção não parecia má. Especialmente tendo em conta o que ele havia feito por mim no clube. Então, talvez sua curiosidade fosse fingida e ele estava atrás de algo maior para dizer a seus amigos. Algumas garotas raras vezes negam se os rumores estão certos. Se eu não conseguisse negar, diria a escola inteira meu medo mais obscuro e doloroso? Não. Meu estômago revirou com a idéia, e pisei no freio com força quando chegamos a um semáforo. Meu pé ainda estava no freio, olhei pelo espelho retrovisor a rua vazia atrás de mim, então estacionei o carro e virei-me para Nash. – “O que quer de mim?” – Falei antes que eu mudasse de opinião. Os olhos de Nash abriram-se com surpresa, e se apoiou com força contra a porta do passageiro, como se eu o houvesse empurrado. – “Eu só... nada.”
“Não quer nada?” – Queria ver o profundo verde e marrom de seus olhos, mas a luz do semáforo mais perto não chegava até meu carro, assim que, apenas a penumbra da luz do rádio brilhava sobre ele, e não era o suficiente para iluminar seu rosto. Para me deixar ler sua expressão. – “Posso contar em uma mão o número de vezes que realmente nos falamos antes dessa noite.” – Mantive minha mão para cima para dar ênfase. – “Então você aparece do nada e joga com o papel de cavalheiro com a donzela desesperada, e supõe-se que devo acreditar que não quer nada em troca? Nada para contar a seus amigos?” Ele tentou rir, mas o som cortou-se de imediato, e moveu-se incômodo em seu assento. “Eu não...” “Deixa. Corre o rumor que você tem conquistado mais território que Genghis Khan3.” Apenas uma sobrancelha levantou-se, desafiando-me. – “E você acredita em tudo o que ouve?” Meus olhos dispararam para os dele. – “Está negando?” Ao invés de responder, riu de verdade e apoiou o cotovelo sobre a maçaneta da porta. “É sempre assim com os garotos que cantam para você em becos escuros?” Minha resposta seguinte morreu em meus lábios, estava tão surpresa com a recordação. Ele havia cantado para mim, e de alguma maneira acalmou meu ataque de pânico. Ele havia me salvado de uma humilhação pública. Mas tinha que ter uma razão e eu não era tão boa para ser uma conquista. “Não confio em você.” – Eu disse por fim, com minhas mãos no colo. “Agora mesmo eu também não confio em você.” – Sorriu para mim na escuridão, deixando-me ver seus dentes brancos e uma covinha, e colocou a mão na porta. – “Está me expulsando do carro ou me dará uma carona até em casa?” Essa seria a última carona que obteria. Mas coloquei o carro em movimento e segui pela rua novamente, então dei a volta à direita em um bairro que definitivamente estava a mais do que alguns minutos do meu. Ele realmente teria caminhado se eu tivesse deixando ele me levar para casa? Teria me levado diretamente para casa? “Vire a esquerda, e depois à direita, é a casa da esquina.”
3
Era um conquistador e imperador mongol.
Suas direções me levaram a uma pequena casa de madeira em uma parte antiga do bairro. Estacionei na calçada atrás de um Sedan. A porta do motorista estava aberta, a luz de dentro iluminando a grama seca que estava à esquerda da cerca. “Deixou a porta do carro aberta.” – Lhe disse, contente em me concentrar em algo que não fosse Nash, sem dúvida onde meu olhar queria estar. Nash suspirou. – “É da minha mãe. Ela destruiu três baterias em seis meses.” Reprimi um sorriso enquanto a luz do carro piscava. – “Aí vai a quarta.” Ele gemeu, mas quando virei-me para ele, o encontrei olhando para mim ao invés do carro. – “Então... posso ter a chance de ganhar tua confiança?” Meu pulso saltou. Falava sério? Deveria ter dito que não. Devia agradecer-lhe por me ajudar no Taboo, e ir embora depois de deixá-lo em seu jardim. Mas não era o suficiente forte para resistir a suas covinhas. Ainda sabendo que muitas outras garotas deviam ter tido o mesmo problema. Eu culpo a minha debilidade pelo recente ataque de pânico. “Como?” – Perguntei-lhe finalmente, logo ruborizei quando ele sorriu. Ele sabia que eu cederia. “Vem aqui amanhã de noite?” Em sua casa? De jeito nenhum. Eu era fraca, não estúpida. Não é como se eu pudesse vir de qualquer modo... – “Trabalho até as nove nos domingos.” “No cinema?” Ele sabe onde trabalho. A surpresa me esquentou de dentro para fora, e franzi o cenho em dúvida. “Te vi por lá.” “Oh.” – Claro que ele havia me visto lá. Provavelmente em um de seus encontros. – “Sim, estarei na bilheteria a partir das duas horas.” “Almoço então?” Almoço. Quanto poderia estar tentada em um lugar público? – “Ok. Mas ainda não confio em você.” Ele sorriu e abriu a porta, e a luz do teto acendeu-se. Suas pupilas fecharam-se um pouco pela iluminação repentina, e meu coração acelerou-se, ele se inclinou para
frente, como se fosse me beijar. Ao invés, sua bochecha roçou na minha e senti sua respiração quente no meu ouvido enquanto sussurrava: - “Essa é parte da diversão.” Minha respiração ficou presa em minha garganta, mas antes que eu pudesse falar, o carro balançou com a perda de seu peso e logo o assento do passageiro estava vazio. Fechou a porta do carro e correu até a entrada para abraçar sua mãe. Fui embora de sua casa em um sonho e quando estacionei em frente a minha, não conseguia lembrar como tinha voltado para casa. *** “Bom dia, Kaylee.” – Tia Val estava apoiada no balcão da cozinha, banhada com a luz do sol da última hora da manhã, segurando uma xícara fumegante de café quase maior que sua cabeça. Ela usava um vestido de cetim azul do mesmo tom de seus olhos, e suas brilhantes ondas marrons estavam ainda despenteadas. Mas estavam despenteadas da mesma forma que os cabelos nos filmes, quando a estrela acorda completamente maquiada, usando milagrosamente um pijama sem nada enrugado. Eu não posso nem sequer passar os dedos pelo meu cabelo quando acordo. A roupa de minha tia e o tamanho de sua xícara eram os únicos sinais de que ela e meu tio haviam tido uma longa noite. Ou melhor, uma longa manhã. Os ouvi chegar ao redor das duas da manhã, tropeçando pelo corredor e rindo tontamente como idiotas. Logo coloquei meus fones de ouvido, assim não tive que ouvir enquanto ele provava o quão atrativa ela estava, ainda depois de dezessete anos de casamento. Tio Brendon era o mais novo dos dois, e minha tia se ressentia por cada um dos quatro anos que ela tinha a mais que ele. O problema não era que ela aparentava sua idade – graças ao botox e uma obsessiva rotina de tratamentos, ela parecia ter trinta e cinco no máximo – mas ele também parecia bem jovem para sua idade. Ela brincava chamando-o de Peter Pan, mas quando seus 40 se aproximavam, ela deixou de achar engraçada sua própria piada. “Cereal ou waffles?” – Tia Val colocou o café em cima do balcão e tirou uma caixa do congelador, sustentado-a para que eu escolhesse. Minha tia não fazia grandes cafésda-manhã. Dizia que ela não podia permitir-se comer tal quantidade de calorias em uma só refeição, e ela não ia cozinhar o que não podia comer. Mas éramos livres para servir-nos de todo colesterol que quiséssemos. Normalmente tio Brendon servia-se de ambos nos sábados de manhã, mas ainda podia ouví-lo roncando em seu quarto. Ela obviamente havia esgotado-o. Cruzei a cozinha com minhas pantufas peludas e silenciosas sobre o piso frio. – “Apenas torradas. Vou sair para almoçar em algumas horas.”
Tia Val colocou os waffles de volta no congelador e me deu uma fatia de pão de trigo integral com poucas calorias – o único tipo que ela comprava. – “Com Emma?” Sacudi minha cabeça e deixei cair duas fatias na torradeira, logo puxei minha calça para cima apertando o cordão. Ela arqueou suas sobrancelhas por cima de sua xícara. – “Tem um encontro? Alguém que eu conheço?” – Querendo dizer. – “Algum dos ex da Sophie?” “Eu duvido.” – Tia Val estava constantemente decepcionada, pois diferente de sua filha – a aluna do segundo ano mais popular e ambiciosa do mundo – eu não tinha nenhum interesse no conselho estudantil, ou equipe de dança, ou comitê do carnaval de inverno. Em parte porque Sophie teria feito minha vida miserável se eu tivesse me metido em ‘seu’ território. Mas acima de tudo porque tive que trabalhar para pagar o seguro do meu carro, e preferia passar minhas raras horas livres com Emma do que ajudando a equipe de dança a coordenar seu gel brilhante com seus trajes de lantejoulas. Enquanto Nash sem dúvida teria recebido a cordial aprovação de tia Val, não precisava que ela estivesse rondando-me quando chegasse em casa, com os olhos brilhantes de antecipação a uma escalada social que eu não estava interessada. Estava feliz andando com Emma e qualquer pessoa que ela quisesse no momento. “Seu nome é Nash.” Tia Val pegou uma faca de manteiga na gaveta de talheres. – “Em que ano está?” Gemi interiormente. – “Último ano.” – Lá vamos... Seu sorriso era muito entusiasmado. – “Bom, isso é maravilhoso!” Claro, o que ela realmente quis dizer foi “saindo das sombras, leprosa social, e entrando na brilhante luz da aceitação!” Ou alguma merda como essa. Porque minha tia e minha prima só conheciam duas formas de ser: brilhante ou não. E se não era brilhante, bom, só restava a outra opção… Passei geléia de morango na minha torrada e sentei em um banco do balcão. Tia Val serviu-se de uma segunda xícara de café e apontou o controle remoto através da mesa para dentro do gabinete, onde a TV de tela plana de cinqüenta polegadas voltava a vida, finalizando a obrigatória ‘conversa’ do café-da-manhã. “… transmitindo a vocês ao vivo do Taboo, onde na noite passada, o corpo de Heidi Anderson de dezessete anos foi encontrado no piso do banheiro.” Nãoooo. Meu estômago agitou-se com a meia torrada comida, e virei-me lentamente em meu banco, temendo enviar muita adrenalina pelas minhas veias. Na tela, o repórter
muito sereno estava de pé na passagem de trás do clube onde eu havia entrado sorrateiramente doze horas antes, e quando olhei, sua imagem foi substituída por uma fotografia de Heidi Anderson sentada em uma cadeira de praia com uma camiseta e seus dentes retos e reluzentes, cabelo loiro, golpeado por trás pelo vento da praia. Era ela. Eu não podia respirar. “Kaylee? O que foi?” Pisquei e respirei rapidamente, logo levantei o olhar para minha tia que estava olhando fixamente meu prato, onde havia deixado cair minha torrada com a geléia para baixo. Era um milagre que não tivesse vomitado a metade que já tinha comido. “Nada. Pode aumentar a TV?” – Empurrei meu prato para longe e tia Val aumentou o volume, olhando-me com o cenho franzido. “A causa da morte ainda não foi identificada.” – Disse o repórter na TV. – “Mas de acordo com o empregado que encontrou o corpo da senhorita Anderson, não havia nenhum sinal óbvio de violência.” A imagem mudou novamente, e agora Traci Marshall olhava fixamente a câmera, pálida pelo choque e rouca, como se houvesse chorado. – “Ela estava apenas deitada ali, como se estivesse dormindo. Pensei que havia desmaiado até que compreendi que não estava respirando.” Traci desapareceu e o repórter estava de volta, mas não podia ouvi-lo quando dia Val disse. – “Essa não é a irmã de Emma?” “Sim. Ela trabalha no Taboo.” Tia Val olhou fixamente a televisão com a expressão severa. – “Tudo isso é tão trágico...” Concordei. Não tem idéia. Mas eu sim. Também estava em choque. Isso realmente aconteceu. Com meus ataques de pânico anteriores, meus tios não haviam tido nenhuma razão para prestar atenção em minha histeria sobre sombras ameaçantes e morte iminente. E sem nenhuma forma para calar-me uma vez que o grito começava, eles me levavam para casa, consideravelmente longe da fonte do pânico. Para que eu me calasse. Exceto por essa última vez, quando me levaram direto ao hospital, deixandome na ala psiquiátrica e começaram a me olhar com olhos cheios de compaixão. Preocupação. Alívio não dito já que era eu que estava ficando louca, e não sua feliz e normal filha.
Mas agora tinha a prova de que não estava louca. Certo? Havia visto Heidi coberta pela sombra e sabia que ela morreria. Havia contado para Emma e Nash. E agora minha premonição havia se tornado realidade. Levantei tão rápido que meu banco balançou. Tinha que dizer a alguém. Precisava ver a confirmação nos olhos de alguém, assegurando-me que eu não estava imaginando a notícia, porque de verdade, se podia imaginar a morte, quão difícil seria para minha pobre e doente mente inventar notícias? Mas não podia contar a minha tia o que havia acontecido sem admitir que havia escapulido para um clube, uma vez que contando essa parte, ela não escutaria o resto. Apenas pegaria a chave do meu carro e ligaria para meu pai. Não, contar a tia Val estava fora de questão. Mas Emma podia acreditar em mim. Enquanto minha tia assistia fixamente, deixei cair meu prato na pia e corri para meu quarto, ignorando-a quando me chamou. Fechei a porta com um golpe, derrubei-me na cama e peguei meu telefone celular da mesa onde havia deixado carregando na noite passada. Liguei no celular de Emma, e quase gemi em voz alta quando sua mãe atendeu. Mas Emma havia chegado mais de uma hora e meia mais cedo dessa vez. Porque havia sido castigada? “Olá senhora Marshall.” – Deixei-me cair de costas e olhei fixamente o teto. – “Posso falar com Emma? É importante.” Sua mãe suspirou. – “Hoje não Kaylee. Emma chegou em casa cheirando bebida na noite passada. Certamente espero que você não tenha bebido com ela.” Oh, merda. Fechei meus olhos, pensando em uma resposta que não fizesse Emma parecer uma delinqüente em comparação. Estava em branco. – “Hmm, não senhora. Eu estava dirigindo.” “Bom, ao menos uma de vocês tem um pouco de juízo. Faça-me um favor e trate de compartilhar um pouco disso com Emma da próxima vez. Assumindo que ela alguma vez volte a sair de casa.” “Certo, senhora Marshall.” – Desliguei, de repente contente por não ter passado a noite na casa de Emma, como havia sido meu plano original. Com Emma de castigo e Traci provavelmente ainda em choque, o café-da-manhã não deve ter sido uma refeição agradável. Depois de um minuto de vacilação, e muito pânico, decidi ligar para Nash, porque apesar de sua reputação e minha suspeita sobre seus motivos, ele não havia rido quando lhe disse a verdade sobre as crises de pânico.
E com Emma de castigo, ele era o único que sabia. Peguei o telefone outra vez – então lembrei que não tinha seu número. Cuidadosamente, evitando minha tia e meu tio, que agora estava acordado fritando bacon, de acordo com o cheiro impregnando a casa, escapuli para a sala de estar, peguei a lista telefônica de uma mesa e voltei para meu quarto. Havia quatro Hudons com o mesmo prefixo, mas apenas um em sua rua. Nash atendeu no terceiro toque. Meu coração martelou com tanta força que estive certa que ele podia ouvi-lo pelo telefone, e durante vários segundos, o silêncio foi tudo com que pude lidar. “Alô?” – Repetiu, soando agora tão irritado como sonolento. “Oi, é a Kaylee.” – Disse finalmente, esperando fervorosamente que ele se lembrasse de mim – que eu não houvesse nos imaginado dançando na noite anterior. Porque francamente, depois da premonição de ontem no noticiário de hoje, ainda estava me perguntando se Sophie estava certa sobre mim. Nash pigarreou, e quando falou, sua voz era rouca pelo sono. – “Olá, não está ligando para cancelar, né?” Não pude evitar um sorriso, apesar da razão da minha ligação. – “Não. Eu... Viu o noticiário da manhã?” Ele riu com a voz rouca. – “Nem sequer vi o chão essa manhã.” – Nash bocejou, e as molas da cama rangeram, ele ainda estava na cama. Aprisionando as escandalosas imagens que isso trouxe a minha mente, forcei-me a focar no assunto. – “Ligue sua TV.” “Realmente não estou pronto para notícias recentes...” – Mais molas rangeram quando ele se virou. Meus olhos estavam fechados e me apoiei na cabeceira, respirando profundamente. – “Ela está morta Nash.” “Que?” – Ele soava ligeiramente mais acordado dessa vez. – “Quem está morta?” Inclinei-me para frente e minha própria cama rangeu. – “A garota do clube, a irmã de Emma a encontrou morta no banheiro do clube.” “Tem certeza que é ela?” – Ele definitivamente estava acordado agora, e o imaginei sentando-se direito na cama. Espero que sem camisa. “Olhe você mesmo.” – Apontei meu controle remoto à televisão de dezenove polegadas em cima do meu armário e passei pelos canais locais até que encontrei um que ainda falava da história. – “Canal nove.”
Algo fez barulho no telefone, e vozes soaram em seu quarto. Um momento depois, os sons de sua televisão sincronizaram com a minha. – “Oh, merda.” – Sussurrou Nash. Logo sua voz voltou mais profunda. Séria. – “Kaylee, isso havia acontecido antes? Quero dizer, alguma vez esteve certa?” Vacilei, insegura de quanto contar. Meus olhos fecharam-se novamente, mas a parte de trás de minhas pálpebras não ofereceram nenhum consolo. Então suspirei e lhe disse a verdade. Depois de tudo, ele já sabia da pior parte. “Não sei. Não posso falar sobre isso aqui.” – A última coisa que eu precisava era que meu tio ou minha tia escutasse por casualidade. Eles ou me castigariam pelo resto da minha vida ou me devolveriam a ala psiquiátrica. “Irei te buscar. Meia hora?‟ “Estarei na frente de casa.”
Capítulo 3
Tomei banho em tempo recorde, e vinte e quatro minutos depois de desligar o telefone, estava limpa, seca, vestida, e usando maquiagem o suficiente para esconder o choque. Mas ainda estava alisando os cabelos quando ouvi um carro parando na entrada. Merda. Se não chegasse a ele primeiro, tio Brendon faria com que Nash entrasse e se submetesse a um interrogatório. Puxei a prancha de alisar, corri de volta para meu quarto atrás do meu celular, chaves e carteira, em seguida corri para o corredor e para fora da porta de entrada, gritando "bom dia" e "adeus" para meu atordoado tio, tudo no mesmo fôlego. "É cedo para almoçar. O que acha de panquecas?" - Nash perguntou enquanto eu deslizava para o banco do passageiro do carro de sua mãe e fechava a porta. "Hmm... claro." - Embora com a morte na minha consciência e Nash a minha vista, a comida era mais ou menos a última coisa em minha mente. O carro cheirava café, e Nash cheirava a sabonete, pasta de dentes, e algo indescritível e tentadoramente delicioso. Queria inalá-lo profundamente, e não podia deixar de olhar para seu queixo, macio esta manhã onde tinha estado deliciosamente áspero na noite passada. Lembrava-me da textura do seu rosto contra o meu, e tive que fechar os olhos e me concentrar para dissipar a perigosa lembrança. Eu não sou uma conquista, não importa quão bem ele cheira. Ou quão bom seja seu sabor. E a súbita e urgente necessidade de saber como seria o gosto dos seus lábios fez todo meu corpo tremer, e lutar por algo seguro para dizer. Algo casual, que não fizesse alusão à perigosa direção que havia tomado meus pensamentos. "Parece que o carro funcionou." - Disse eu, puxando o cinto de segurança através do meu tronco. Logo me amaldiçoei por uma linha tão estúpida de abertura. Claro que o carro tinha funcionado. Sua breve olhada pareceu queimar através de mim. - "Tenho exageradamente uma boa sorte." Pude apenas assentir e apertar a maçaneta da porta enquanto forçava meus pensamentos de volta a Heidi Anderson para mantê-los fora de Nash e... dos pensamentos que não deveria estar tendo. Quando olhou em minha direção novamente, seu olhar deslizou por minha garganta até o decote da minha camiseta antes de voltar bruscamente para a estrada enquanto apertava sua mandíbula. Contei minhas respirações para mantê-las uniformes. Acabamos em um estande do Jimmy's Omelet, uma cadeia de lanches de propriedade local que servia café da manhã até as três da tarde. Nash sentou-se em
frente a mim, com seus braços apoiados sobre a mesa e suas mangas arregaçadas até os cotovelos. Uma vez que a garçonete tinha anotado nossos pedidos e tinha ido, Nash inclinou-se para frente e encontrou meu olhar corajosamente, intimamente, como se tivéssemos compartilhado muito mais do que uma ida a um beco escuro e um quase beijo. Mas a provocação e flerte tinham ido, ele parecia mais sério do que alguma vez eu o tinha visto. Sombrio. Quase preocupado. "Certo..." - Disse em voz baixa, diferente da multidão falando, mastigando e tilintando pratarias ao nosso redor. - "Então, na noite de ontem você pressentiu a morte desta garota, e esta manhã ela apareceu no noticiário, morta." Concordei, engolindo pesadamente. Ouvi-lo dizer assim - como se não fosse nada - o fazia soar de duas formas, louco e assustador. E eu não estava certa de qual era pior. "Você disse que tinha tido estas premonições antes?" "Só algumas vezes." "Alguma delas tornou-se realidade alguma vez?" Neguei com a cabeça, depois dei de ombros e em seguida, peguei um guardanapo para ter algo o que fazer com as mãos. - "Não que eu saiba." "Mas você só sabe desta porque apareceu no noticiário, certo?" - Concordei sem levantar o olhar, e ele continuou. - "Então, as outras também podem ter se tornado realidade, e você nunca ter ficado sabendo." "Acho que sim." - Mas, se fosse esse o caso, não estava certa de querer saber. Quando tirei meu foco do guardanapo que havia retirado do meio da faca e garfo, encontrei-o me olhando atentamente, como se cada palavra minha pudesse significar algo importante. Seus lábios estavam pressionados firmemente juntos, sua testa franzida em concentração. Mudei de posição no banco de vinil acolchoado, inquieta sob tanta observação. Agora, provavelmente ele realmente pensava que eu era uma aberração. Uma garota que pensa que sabe quando alguém vai morrer - o que pode ser interessante em certos círculos - mas definitivamente apresentava um certo clichê mórbido. Mas uma garota que realmente pode prever uma morte? Isso era simplesmente aterrador. Nash franziu a testa, e sua atenção deslocou-se para frente e para trás entre meus olhos, como se estivesse procurando algo específico. - "Kaylee, você sabe por que isso está acontecendo? O que significa?"
Meu coração batia dolorosamente, e apertei o desfiado guardanapo. - "Como você sabe que isso significa alguma coisa?" "Eu... não sei." - Suspirou e recostou-se em sua cadeira, deixando cair seu olhar para a mesa enquanto pegava um mini-pote de geléia de morango do carrossel de geléias. - "Mas você não acha que deve significar alguma coisa? Quero dizer, não estamos falando de números da loteria e vencedores de corridas de cavalos. Você não quer saber por que pode fazer isso? Ou quais são os limites? Ou..." "Não." - Levantei o olhar bruscamente, irritada com o familiar pavor estabelecendo-se em meu estômago, matando o pouco apetite que tinha tentado manter. - "Não quero saber por que ou como. Tudo que eu quero saber é como pará-lo." Nash inclinou-se para frente novamente, dando-me um olhar tão intenso, tão profundamente invasivo, que me tirou o fôlego. - "E se você não puder?" Meu humor escureceu pelo mero pensamento. Sacudi a cabeça, negando a possibilidade. Ele baixou o olhar novamente para a geléia, girando-a sobre a mesa, e quando levantou a vista de novo, seu olhar tinha suavizado. Simpático. - "Kaylee, você precisa de ajuda com isso." Meus olhos se estreitaram e uma ponta de raiva e traição disparou através mim. "Você acha que eu preciso de terapia?" - Cada respiração era mais rápida do que a anterior enquanto lutava para afastar as lembranças de aventais de cores brilhantes, e agulhas e correias de punho acolchoados. - "Eu não sou louca." - Levantei-me e deixei cair a faca sobre a mesa, mas quando tentei ir embora passando por ele, sua mão envolveu firmemente meu pulso e se virou para me olhar. "Kaylee, espera, isso não é o que eu..." "Me larga." - Queria livrar meu braço, mas e temia que ele não o soltasse. Restrição nos quatro punhos ou uma mão inflexível era tudo a mesma coisa se eu não podia estar livre. O pânico abria caminho lentamente até meu estômago, enquanto lutava para me soltar de seu agarre. Meu peito se contraiu, tenso, em meu desespero para acalmar-me. "As pessoas estão olhando." - Sussurrou urgentemente. "Então me deixe ir." - Cada respiração agora era curta e rápida, e o suor reuniu-se nas curvas dos meus cotovelos. - "Por favor". Ele soltou.
Exalei, e fechei os olhos, enquanto o alivio penetrava lentamente por mim. Mas eu não podia me mover. Ainda não. Não sem correr. Quando percebi que estava esfregando meu pulso, fechei minhas mãos em punhos até que minhas unhas cortaram minha palma. Ao longe, notei que o restaurante tinha se acalmado ao nosso redor. "Kaylee, por favor, sente-se. Não foi isso que eu quis dizer." - Sua voz era suave. Calmante. Minhas mãos começaram a relaxar, e inspirei profundamente. "Por favor." - Repetiu, e levou cada pedaço de autocontrole que tinha para me fazer voltar a afundar-me no banco estofado. Com as mãos no meu colo. Sentamos em silêncio até que recomeçaram as conversas em torno de nós, eu olhando para a mesa, ele olhando para mim, como se eu tivesse que adivinhar. "Você esta bem?" - Perguntou finalmente, enquanto a garçonete colocava a comida na mesa atrás de mim, senti liberar-se a tensão em meus ombros quando me apoiei de volta contra a madeira da cadeira. "Eu não preciso de um médico." - Obriguei-me a olhar para cima, pronta para manter-me firme contra seu argumento contrário. Mas ele nunca veio. Ele suspirou fazendo um som pesado, com relutância. - "Eu sei. Você precisa dizer ao seu tio e tia." "Nash...” "Eles podem ser capazes de ajudá-la, Kaylee. Você tem que dizer a alguém..." "Eles sabem, ok?" - Olhei para a mesa para encontrar a meus dedos rasgando o já picado guardanapo em pedacinhos ainda menores. Jogando-os para um lado, encontrei com o olhar de Nash, de repente imprudentemente determinada a dizer-lhe a verdade. Quanto pior poderia possivelmente pensar de mim? "A última vez que isso aconteceu, me descontrolei e comecei a gritar. E não podia parar. Eles me colocaram em um hospital, me amarraram a uma cama, me encheram de drogas, e não me deixaram sair até que todos concordaram que eu tinha superado meu "delírio e histeria" e que já não precisava falar disso, nunca mais. Ok? Portanto, não acho que dizer a eles vá fazer muito bem, a menos que eu queira passar as férias de outono na unidade de saúde mental." Nash piscou, e no espaço de um segundo, sua expressão passou por descrença, desgosto e indignação antes de finalmente se fixar em fúria, sua testa baixa, os braços apertados, como se quisesse bater em alguma coisa. Levei um tempo para entender que nada disso estava direcionado a mim. Que ele não estava zangado e com vergonha de ser visto com a psicopata da escola. Provavelmente porque ninguém mais sabia. Ninguém, exceto Sophie, e seus pais
tinham a ameaçado com o ostracismo social - prisão domiciliar total - se ela alguma vez deixasse escapar o segredo de família. "Por quanto tempo?" - Perguntou Nash, seu olhar penetrando o meu tão profundamente que me perguntei se podia olhar através dos meus olhos e dentro da minha mente. Suspirei e arranhei o rótulo de um pequeno frasco de xarope sem açúcar. "Depois de uma semana, falei todas as coisas certas, e meu tio me tirou de lá, contra as ordens dos médicos. Eles disseram na escola que tinha tido uma gripe." - Eu estava no segundo ano então, e a quase um ano de conhecer Nash, quando Emma começou a sair com uma série de seus companheiros de equipe. Nash fechou os olhos e respirou pesadamente. - "Isso nunca deveria ter acontecido. Você não está louca. A noite de ontem provou isso." Concordei, entorpecida. Se o tivesse entendido mal, não teria sido capaz de caminhar de cabeça erguida em minha própria escola novamente. Mas não podia trabalhar qualquer irritação sobre essa possibilidade por enquanto. Não com meus segredos expostos, meu coração jazia aberto e o terror latente espreitando nas confusas e drogadas memórias que tinha desejado enterrar. "É preciso dizer-lhes novamente, e..." "Não." Mas ele continuou, como se eu nunca tivesse falado - "Se eles não acreditam em você, chame seu pai." "Não, Nash." Antes que eu pudesse argumentar novamente, um macio e pálido braço apareceu em meu campo de visão, e a garçonete pôs um prato sobre a mesa na minha frente, e um em frente a ele. Não tinha sequer a ouvido se aproximando, e baseada nos olhos arregalados de Nash, ele também não. "Ok, comecem a comer. E deixem-me saber se vocês precisarem de algo mais, certo?" - Disse a garçonete. Nós assentimos com a cabeça enquanto ela se afastava. Mas só pude cortar minhas panquecas em perfeitos triângulos e empurrá-las por toda a calda. Não tinha apetite. Mesmo Nash, simplesmente cutucava sua comida. Finalmente, colocou seu garfo para baixo e limpou a garganta até que olhei para cima. - "Não vou convencê-la disso, certo?"
Neguei com a cabeça. Ele fez uma careta, então suspirou e abriu um pequeno sorriso. - "Como você se sente em relação a gansos?" *** Depois de um café da manhã que não comi, e Nash não desfrutou, paramos em uma lanchonete e compramos um saco de pão amanhecido. Então nós fomos para o Lago White Rock para alimentar um bando de gansos que grasnavam e bicavam, um par dos quais eram pequenos demônios audazes. Um agarrou um pedaço de pão bem da minha mão, quase levando meu dedo com ele, e o outro mordeu o sapato de Nash quando não tirou a comida do saco rápido o suficiente. Quando acabou o pão, escapamos dos gansos - apenas para passear ao redor do lago. O vento batia em meus cabelos os embaraçando, tropecei em uma tábua solta do banco, mas quando Nash agarrou minha mão, permiti-lhe mantê-la, e o silêncio entre nós era confortável. Como poderia não ser, quando ele tinha visto, agora, cada sombra da minha alma e cada canto da minha mente, e não tinha me chamado de louca nem uma única vez - ou tentado me manusear. E porque não? Eu me perguntava, olhando discretamente seu perfil enquanto entrecerrava os olhos ao sol através do lago. Eu não era bonita o suficiente? Não, não queria ser a última em sua rumorosa lista de conquistas, mas não me importaria saber que era digna dele. Nash sorriu quando percebeu que estava olhando-o. Seus olhos eram mais verdes do que marrons a luz do sol, e pareciam estar mexendo-se delicadamente, provavelmente refletindo o movimento da água. "Kaylee, posso te perguntar uma coisa pessoal?" Como se a morte e a doença mental não fossem pessoais? "Só se eu começar te perguntando uma coisa." Ele pareceu considerar por um momento, depois sorriu abertamente, mostrando uma única e profunda covinha, e apertou minha mão enquanto caminhávamos. "Você primeiro." "Você dormiu com Laura Bell?" Nash parou bruscamente e ergueu as duas sobrancelhas dramaticamente, por um longo tempo, belas sobrancelhas masculinas. "Isso não é justo. Eu não te perguntei com quem tem saído." Eu dei de ombros, desfrutando de seu desconforto. - "Pergunta." - Nem sequer precisava de um dedo para marcar minha lista.
Ele franziu a testa, obviamente, tinha outra pergunta em mente. - "Se eu disser que sim, você ficará com raiva?" Eu dei de ombros. - "Não é assunto meu." "Então por que você se importa?" Grrr... - "Ok, nova pergunta." - Comecei a andar novamente, preparando os nervos para perguntar algo que não estava certa se eu queria saber. Mas eu tinha que saber, antes que as coisas fossem mais longe. - "O que você está fazendo aqui?" Segurei nossas mãos juntas para dar mais ênfase. - "O que há nisso para você?" "Sua confiança, eu espero." Minha cabeça dava voltas um pouco por causa disso, e sufoquei um sorriso espantado. - "Isso é tudo?" - Pisquei para ele enquanto subíamos para o cais. Mesmo que fosse verdade, não podia ser só isso. Fiz uma careta brincalhona. - "Você tem certeza que você não está tentando dormir comigo?" Seu sorriso desta vez foi verdadeiro enquanto me puxava para mais perto e me empurrava suavemente contra a velha grade de madeira, seus lábios a centímetros do meu nariz. "Você está se oferecendo?" Meu coração disparou e deixei minhas mãos ficarem em suas costas, traçando os músculos rígidos, através da camiseta de mangas longas. Sentindo-o apertado contra mim. Cheirando-o de perto. Considerando, só por um único momento de uma batida de coração... Então aterrizei de volta a terra com um imaginário baque seco. A última coisa que precisava era ser listada entre os escombros do passado de Nash Hudson. Mas antes que eu pudesse decidir como lhe dizer isso sem deixá-lo chateado ou sem soar como uma puritana total, seus olhos brilharam com diversão, ele se inclinou e beijou a ponta do meu nariz. Ofeguei, e ele riu. - "Estou brincando, Kaylee. Só que, não esperei que você pensasse sobre isso por tanto tempo." - Ele sorriu abertamente, então foi para trás e pegou minha mão outra vez, enquanto eu o olhava com perplexidade e com meu rosto em chamas. "Faça sua pergunta antes que eu mude de idéia."
Seu sorriso desapareceu, a brincadeira tinha acabado. Que outra coisa poderia querer saber? O que serviam no almoço no hospital psiquiátrico? - "O que aconteceu com sua mãe?" Oh. "Não tem que dizer." - Ele parou e se virou para mim, andando para trás quando confundiu meu alívio com vergonha. - "Eu estou apenas curioso. Sobre como ela era." Eu gostaria que minha mãe ainda estivesse viva, é claro, e realmente desejava poder viver com minha própria família, em vez com a de Sophie. Mas minha mãe tinha estado ausente por tanto tempo que quase não lembrava, e estava habituada a esta pergunta. - "Ela morreu em um acidente de carro quando eu tinha três anos." "Você vê seu pai de vez em quando?" Dei de ombros e chutei uma pedra para fora do cais. - "Ele costumava vir várias vezes por ano." - Depois, apenas pouco antes do Natal e do meu aniversário. E agora não o vejo há mais de um ano. Não que eu me importe. Ele tem sua vida supostamente - e eu tenho a minha. A julgar pelo brilho de compaixão nos olhos de Nash, ele tinha ouvido até mesmo as partes que não tinha dito em voz alta. Depois, houve uma mudança sutil em sua expressão, a qual não consegui interpretar completamente. - "Eu ainda acho que você deveria dizer ao seu pai sobre ontem à noite." Franzi a testa e desci pelo cais com os braços cruzados sobre o peito, satisfeita quando o vento mudou para soprar o cabelo longe do meu rosto por uma vez. Nash correu atrás de mim. - "Kaylee..." "Você sabe qual é a pior parte disso?" - Exigi quando me alcançou e desacelerou o passo para caminhar. "Qual?" - Ele pareceu surpreso por minha vontade de falar sobre isso. Mas eu não estava falando sobre meu pai. Meus olhos fecharam-se, e quando o vento acalmou, e o sol ficou quente em meu rosto, um surpreendente contraste com o frio cresceu dentro de mim. - "Eu sinto que deveria ter feito algo para pará-lo. Quero dizer, eu sabia que ela ia morrer, e não fiz nada. Nem sequer lhe disse. Só enfiei o rabo entre as pernas e corri para casa. Eu a deixei morrer, Nash."
"Não." - Sua voz era firme. Meus olhos se abriram quando me virei para encará-lo, ripas de madeira rangeram abaixo de nós. - "Não fez nada errado, Kaylee. Saber que ia acontecer não significa que você pudesse deter." "Talvez sim. Eu nem sequer tentei!" - E tinha estado tão presa em sua morte, no que significava para mim, que não parei para pensar sobre o que deveria ser feito por ela. Seus olhos cravaram-se nos meus, sua expressão era feroz. - "Não é tão fácil. A morte não golpeia ao azar. Se era sua hora de ir, não há nada que qualquer um de nós pudesse ter feito para impedir isso." Como ele podia ter tanta certeza? - "Eu deveria pelo menos ter-lhe dito..." "Não!" - Seu tom duro assustou a nós dois, e quando ele esticou-se para pegar meus braços, dei um passo atrás. Nash abaixou a cabeça e estendeu as mãos para mostrar que não iria me tocar, em seguida, colocou-as em seus bolsos. - "Ela não teria acreditado. E de qualquer forma, é perigoso mexer com coisas que não entende, e você não entende isso ainda. Jure que se isso acontecer de novo e eu não estiver lá, você não vai fazer nada. Ou dizer qualquer coisa. Só dará a volta e irá embora. Esta bem?" "Tudo bem" - Eu concordei. Ele estava começando a me assustar, seus olhos arregalados e sérios, as linhas de sua linda boca apertada, e fina. "Jure" - Insistiu Nash, com a íris brilhando e girando ferozmente na luz solar. - "Você tem que jurar." "Eu juro." - Eu quis dizer isso, porque nesse momento, com o sol pintando seu rosto com uma dura isenção de luz e sombra, Nash parecia tão assustado quanto assustador. Mas o que era ainda pior, ele parecia saber exatamente do que estava falando.
Capítulo 4 Nash me levou para casa duas horas antes que eu tivesse que estar no trabalho, e enquanto eu caminhava para a porta, o aroma de frésia me deu uma dor de cabeça instantânea. Sophie estava em casa. Minha prima levantou-se do sofá, onde ela obviamente tinha estado espiando através das cortinas, e apoiou uma magra mão em sua cintura, por cima do jeans de corte baixo. – “Quem era esse?” – Perguntou, ainda que seus olhos dissessem que já tinha um suspeito em mente. Sorri docemente e passei a seu lado na sala. – “Um garoto.” “E seu nome seria...” – Ela me seguiu até meu quarto, onde se sentou em minha cama como se fosse sua. Ou como se fossemos amigas. Sophie apenas fazia isso quando queria algo de mim, geralmente dinheiro ou carona. Dessa vez, era óbvio que estava querendo informações. Fofocas para alimentar a fogueira dos rumores em que ela e suas amigas seguiam fazendo queimar na escola. Mas eu não ia intensificar suas chamas. Dei-lhe as costas para esvaziar o que tinha em meus bolsos. – “Ninguém de seu interesse.” – Pelo espelho vi um cenho franzido tomar conta de seu rosto, tirando suas características de duende fora de forma. O problema de conseguir tudo o que deseja na vida é que não está preparado para a decepção quando chega. Considerei um prazer deixar Sophie familiarizar-se com esse conceito. “Mamãe disse que é do último ano.” – Ela colocou as pernas em cima da cama e as cruzou por debaixo dela, com sapato e tudo. Quando não respondi, olhou meu reflexo no espelho. – “Posso saber quem é em dois segundos.” “Então obviamente não precisa de mim.” – Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto. – “Bem vinda a festa, Nancy Drew.” Pequenas linhas formaram-se ao redor de sua boca quando ela franziu o cenho novamente, e cruzei o quarto para pegar minha camiseta do uniforme de um cabide pendurado no armário. – “Fora. Tenho que ir trabalhar. Assim posso pagar o seguro do meu carro.” – Sophie não teria sua carteira de motorista por mais cinco meses, e ela ficava louca que eu pudesse dirigir e ela não. Meu carro foi o melhor presente que meu pai havia me dado, mesmo sendo usado. E mesmo ele nunca tendo visto.
“Falando de carros, teu encontro misterioso parece conhecido. Pequeno Sedan prateado, com bancos de couro, certo?” Sophie ficou de pé, andando para a porta lentamente, balançando seus quadris e movendo a cabeça como se estivesse pensando. – “O banco de trás é bastante cômodo, mesmo com esse pequeno rasgo no lado do passageiro.” Senti dor em minha mandíbula, e me dei conta que estava apertando meus dentes. “Cumprimente Nash por mim.” – Disse, com uma mão na minha porta. Então sua expressão mudou de piadista maldosa para uma boa samaritana, no espaço de apenas um segundo. – “Não estou tentando ferir seus sentimentos Kaylee, mas acredito que deve saber a verdade.” – Seus olhos verdes pálidos arregalaram-se com falsa inocência. – “Ele está te usando para chegar até mim.” Meu temperamento incendiou-se e fechei a porta. Sophie gritou e tirou a mão do caminho bem a tempo de evitar quatro dedos quebrados. Minhas mãos apertaram a camiseta do meu uniforme, e a sacudi sobre a marca de traseiro de bailarina que ela deixou no meu edredom. Ela está errada. Mas de todos os modos estudei meu reflexo, tentando me ver como os demais me viam. Como Nash me via. Não, não tinha um corpo magro de bailarina como Sophie, ou as curvas abundantes de Emma, mas não era horrível. Ainda assim, Nash podia fazer muito melhor que isso. Por isso havia me beijado? Eu era uma conveniência entre namoradas? Ou um encontro piedoso? Algum tipo de programa social para caras de bom coração? Não. Ele não passaria tanto tempo falando com alguém em que não tivesse verdadeiro interesse, mesmo se estivesse buscando uma coisa casual. Mas eu podia ter uma segunda opinião qualificada. Com o celular na mão, caí na cama e acalmei minha respiração enquanto digitava uma mensagem, com a esperança de que a mãe de Emma houvesse devolvido seu celular. Não tive tal sorte. Depois de dois minutos muito longos após enviar uma mensagem de texto. – “Pode falar?” – Chegou a resposta. – “Ainda está de castigo. Fale com Emma no trabalho.” Nunca devia ter ensinado sua mãe a escrever textos. Eu disse que nada de bom podia sair disso. Emma e eu estávamos no mesmo turno, e durante a tarde a coloquei a par do meu encontro com Nash enquanto vendíamos as entradas para os filmes mais recentes. Em nosso descanso, nos sentamos em uma esquina do balcão de aperitivos, compartilhando um pretzel suave e batatas fritas com queijo, enquanto contava-lhe
sobre Heidi Anderson – o que havia escutado de sua irmã – onde ninguém mais pudesse ouvir. Emma estava fascinada com a exatidão da minha premonição, e estava de acordo com Nash de que devia contar aos meus tios, ainda que seus motivos tivessem mais a ver com dizer-lhes um grande [i]‟eu disse‟[/i] ao invés de ajudar-me a saber o que fazer com meu talento mórbido. Mas novamente não aceitei o conselho. Não tinha intenção alguma em ter novas reuniões com o Dr. Nelson – sobre restrições médicas e pílulas. Aliás, me agarrava a esperança de que a seguinte premonição – se tivesse outra – seria em meses, se possível em anos. Depois de tudo, havia passado quase nove meses entre as duas últimas. A última parte do meu turno demorou mais que o normal, porque em menos de quinze minutos, o administrador colocou Emma na cafeteria, deixando-me sozinha na bilheteria. Quando o dia havia finalmente acabado, chequei o relógio e esperei Emma na sala de descanso dos empregados. Quando estava fechando minha jaqueta, Emma empurrou a porta e a manteve aberta com seu corpo, o cenho franzido. “O que foi?” – Minha mão ficou parada no zíper. “Vamos. Tem que escutar isso.” – Ela abriu ainda mais a porta e foi para o lado para que eu pudesse passar. Porém hesitei. Suas notícias, obviamente, não eram boas, e eu estava no topo de um momento frio e deprimente. – “Sério. Isso é atípico.” Suspirei e logo coloquei minhas mãos nos bolsos da jaqueta e a segui por metros de balcões de linóleo e através do vestíbulo do cinema até o balcão de aperitivos. Jimmy Barnes estava ocupado com um cliente, mas assim que viu Emma esperando para falar com ele, atendeu o pedido tão rapidamente que quase esqueceu de colocar manteiga na pipoca. Tinha uma pequena queda pela Emma. Não era o único. “De volta já?” – Jimmy me cumprimentou com a cabeça e logo apoiou-se com seus braços no balcão de vidro, olhando Emma como se o significado da vida estivesse em seus olhos. Seus dedos estavam manchados de amarelo da manteiga e cheirava a pipoca e cerveja que escorria por seu avental preto. “Pode dizer a Kaylee o que Mike te disse?” O sorriso tonto de cachorro apaixonado de Jimmy murchou, e se colocou de pé, arrumando sua postura de forma a ficar de frente para nós duas. – “Foi a coisa mais horripilante que já ouvi.” – Procurou debaixo do balcão uma sacola com copos de
plástico e começou a arrumar enquanto falava. – “Conhece Mike Powell, certo?” – Perguntou, “Sim.” – Olhei para Emma com as duas sobrancelhas levantadas em questionamento, mas ela assinalou Jimmy com a cabeça, em silêncio, indicando-me que prestasse atenção. Jimmy pressionou uma pilha de copos ao contrário, que se fundiram em um buraco no mostrador para dar espaço a mais. – “Mike pegou um turno no balcão de aperitivos hoje, preenchendo o lugar de um cara que cuspiu coca-cola em alguém.” “Ei, posso conseguir algumas pipocas aqui?” Olhei para o lado para ver um homem esperando diante da caixa registradora, flanqueado por uma menina com seu polegar na boca e um menino maior com o olhar – e seus polegares – pregados a um PSP. “Será um combo, senhor?” – Jimmy levantou um dedo nos pedindo para esperar um minuto e foi até a máquina mais perto de pipocas, enquanto peguei meu celular do bolso para olhar as horas. Já tinha passado das nove e estava morrendo de fome. E não estava exatamente ansiosa para saber sobre alguma estranha e assustadora história que Jimmy tinha para contar. Quando os clientes foram embora com uma bandeja cheia de comiga e sucos, Jimmy voltou até nós. “De qualquer modo, Mike chamou a mais ou menos meia hora, totalmente enlouquecido. Disse que uma garota morreu em frente a ele esta tarde. Apenas caiu morta, ainda estava segurando sua pipoca.” O choque me atravessou, esfriando-me de dentro para fora. Olhei para Emma, e ela assentiu sombriamente. Quando voltei a olhar para Jimmy, um mal estar escuro despregou-se dentro de mim, serpenteando por minha coluna vertebral como tentáculos de gelo. – “Fala sério?” “Totalmente.” – Colocou o restante dos copos em outro buraco vazio. – “Mike disse que foi irreal. A ambulância a levou em uma maldita bolsa de plástico, o gerente fechou o local e entregou vales a todos os clientes. E os policiais seguiram fazendo perguntas a Mike, tentando entender o que aconteceu.” Emma me olhou para ver minha reação, mas eu só conseguia olhá-lo, com minhas mãos agarradas a borda do balcão, não pude colocar meus pensamentos dispersos em uma ordem lógica. A semelhança com Heidi Anderson era evidente, mas não tinha nenhuma razão concreta para conectar as mortes. “Sabem como morreu?” – Perguntei finalmente, grudando na primeira idéia coerente que tomou forma.
Jimmy encolheu os ombros. – “Mike disse que estava bem em um minuto, e caída no minuto seguinte. Não teve tosse, não engasgou, não segurou seu coração ou a cabeça.” Um vago e pesado temor estava construindo-se dentro de mim, cozinhando em fogo brando da premonição, em comparação com a ebulição rápida de pânico que senti quando Heidi estava coberta de sombras. As mortes estavam conectadas. Tinham que estar. Emma me olhava de novo, e eu devia parecer tão doente como me sentia, porque colocou uma mão em meu ombro. – “Obrigada Jimmy. Nos vemos na quarta.” No trajeto para sua casa, Emma agarrava seu cinto de segurança e se retorcia no assento do passageiro ao franzir o cenho para mim, seu rosto uma máscara de fascinação lúgubre. – “Quão estranho foi isso? Em primeiro lugar você conseguiu predizer a morte de uma garota no Taboo. Logo, essa noite, outra garota cai morta no cinema, igual na outra noite.” Liguei a seta para passar um carro na faixa da direita. – “Não são o mesmo.” – Insisti, apesar de meus próprios pensamentos similares. – “Heidi Anderson estava bêbada. Provavelmente morreu de coma alcoólico.” “Não-o” – Emma sacudiu a cabeça, seu cabelo loiro balançando no canto da minha visão. – “Nas notícias disseram que examinaram seu sangue. Estava bêbada, mas não tanto.” Encolhi os ombros, incômoda com a direção da conversa. – “Pode ser que ela desmaiou e bateu a cabeça quando caiu.” “Se foi assim, não acredita que a polícia teria se dado conta disso?” – Quando eu não respondi, Emma continuou, tapando os olhos da luz de um carro que passou. – “Acredito que não sabem o que a matou. Aposto que é por isso que não programaram o funeral ainda.” Minhas mãos apertaram o volante e a olhei surpresa. – “O que está fazendo, espiando a garota morta?” Ela encolheu os ombros. – “Apenas vejo as notícias. Estou de castigo, que mais posso fazer? Além do mais, essa é a coisa mais estranha que aconteceu por aqui. E o fato de você saber que uma delas ia morrer é mais estranho ainda.” Liguei a seta de novo e saí da avenida, obrigando minha mão a relaxar ao redor do volante. Nem sequer queria pensar mais em minha premonição, muito menos falar disso. – “Não sabe se as mortes estão relacionadas. E elas não foram assassinadas. Pelo menos a garota do cinema. Mike a viu morrer.” “Pode ter sido envenenada...” – Insistiu Emma, mas eu seguia ignorando-a enquanto reduzia a velocidade para dar a volta em sua rua. “E mesmo que as mortes estejam conectadas, não tem nada a ver conosco.”
“Você sabia que a primeira ia morrer.” “Sim, e espero que não volte a acontecer.” Emma franziu o cenho, mas deixou o assunto morrer. Depois que a deixei, parei em frente a um terreno baldio perto de sua casa e liguei para Nash. “Alô?” – Ao fundo, ouvi disparos e gritos, até que ele baixou o volume de sua TV. “Ei, é a Kaylee. Está ocupado?” “Apenas evitando as tarefas. O que acha?” Eu olhava pelo pára-brisas, e meu coração parecia tropeçar com as batidas enquanto eu ficava nervosa. “Kaylee, está aí?” “Sim.” – Fechei os olhos e obriguei as palavras seguintes a saírem antes que minha garganta congelasse. – “Posso usar seu computador? Tenho que procurar algo, mas não posso fazer isso em casa sem que Sophie espie.” – E não queria que minha tia trouxesse minha roupa sem bater na porta antes – como era seu costume – e ver o que eu estava procurando na internet. “Sem problemas.” Mas a reflexão veio rápida e dura. Não deveria ficar sozinha com Nash em sua casa, a completa falta de força de vontade de novo. Ele começou a rir, como se soubesse o que eu estava pensando. Ou escutou meu nervoso silêncio. – “Não se preocupe. Minha mãe está aqui.” Alívio e decepção chegaram igualmente, e lutei para que nenhuma delas escapasse em minha voz. – “Isso está bem.” – Liguei o carro e os faróis fizeram arcos de luz na escuridão. – “Está com fome?” “Estava a ponto de pedir uma pizza.” “Se interessa por um hambúrguer?” “Sempre.” Vinte minutos mais tarde, estacionei na calçada em frente a sua casa e saí do carro com uma sacola de comida rápida em uma mão e uma bandeja de bebidas na outra. Uma vez mais, o Sedan de sua mãe estava na frente da entrada, mas dessa vez com a porta fechada.
Cruzei o pequeno e bem cuidado pátio, e fui até a campainha, mas Nash abriu a porta antes que eu pudesse sequer tocá-la. – “Ei, entra.” – Pegou as bebidas, deixou a porta aberta, e entrei atrás dele em uma limpa e pouco decorada sala de estar. Nash colocou os copos no final de uma mesa e colocou as mãos nos bolsos, enquanto eu olhava ao redor. Os móveis de sua mãe não eram novos ou de luxo como os de tia Val, mas pareciam muito mais confortáveis. O piso de madeira era antigo, mas impecável, e toda a casa cheirava a chocolate. No início pensei que era o cheiro de um incenso como os que tia Val acendia no Natal, para dar a impressão de que sabia cozinhar. Mas logo escutei a porta do forno abrir-se a esquerda da sala, e o cheiro de biscoitos aumentou. A senhora Hudson estava cozinhando de verdade. Quando meu olhar voltou até Nash, o encontrei olhando minha camiseta, mas com diversão ao invés de interesse. Foi quando me dei conta que ainda estava com meu uniforme do cinema. A forma Kaylee de se vestir... Nash riu quando viu minha surpresa, logo fez um gesto ao estreito corredor que saía da sala. – “Vamos...” – Mas antes de ter dado dois passos, a porta da cozinha se abriu e uma esbelta e bem proporcionada mulher apareceu, descalça, vestindo jeans e uma camiseta justa azul. Não tenho certeza do que esperava do físico da mãe de Nash, mas essa mulher não correspondia. Ela era jovem. Como se tivesse trinta anos. Mas isso não podia ser certo, porque Nash tinha dezoito anos. Tinha seus longos cabelos loiro escuro presos em um simples coque, a exceção de umas poucas mechas que caíam em seu rosto. Podia ser sua irmã mais velha. Sua muito bonita irmã mais velha. Tia Val a odiaria... Quando os olhos da senhora Hudson encontraram os meus, o mundo pareceu deixar de se mover. Ou melhor, ela deixou de se mover. Completamente. Como se nem sequer respirasse. Suponho que eu não era o que ela estava esperando. As ex de Nash eram bonitas, e aposto que nenhuma delas havia ido até lá vestindo uma camiseta com o logo do cinema bordado no ombro. A maneira intensa com que me mirava me desconcertou, como se estivesse tentando ler meus pensamentos em meus olhos, e eu tinha um impulso insuportável de fechálos para o caso de ser exatamente isso que ela estava fazendo. Ao invés, agarrei a sacola de comida com ambas as mãos e a olhei também, porque não parecia brava. Apenas muito curiosa. Depois de vários segundos incômodos, me deu um charmoso sorriso, nada maternal e assentiu, como se aprovasse o que havia visto em mim. – “Olá Kaylee, sou Harmony.” – A mãe de Nash limpou a mão direita na parte dianteira de sua calça, deixando uma débil mancha de farinha em forma de mão, deu um passo para frente e pegou minha mão. Lhe cumprimentei vacilantemente. – “Ouvi falar muito de você.”
Havia ouvido falar de mim? Olhei para Nash e o vi franzindo o cenho para sua mãe, e tive a clara impressão de que acabava de perder ele fazendo um movimento com a cabeça, ou algum outro sinal de [i]‟fica quieta‟[/i]. O que eu estava perdendo? “Também é um prazer conhecê-la, senhora Hudson.” – Suprimi a necessidade de limpar a farinha na minha calça. “Oh, não é senhora.” – Seu sorriso suavizou-se, ainda que seus olhos nunca deixaram os meus. – “Somos só Nash e eu há anos. E você Kaylee? Fale-me de seus pais.” “Eu... é...” Os dedos de Nash enroscaram-se nos meus e o deixei me tirar dali. – “Kaylee precisa usar meu computador.” – Fez um gesto a sacola de comida que eu segurava. – “Vamos comer enquanto trabalhamos.” Por um momento, pareceu como se a senhora Hudson fosse objetar. Logo deu um sorriso severo a Nash. – “Deixe a porta aberta.” Nash murmurou um vago sim, então se dirigiu ao curto e escuro corredor com a bandeja de bebidas. Ainda sem falar, eu o seguir com a sacola apertada no meu peito. O quarto de Nash era casual e cômodo, e gostei imediatamente. Sua cama estava desfeita, e sua escrivaninha estava cheia de CD´s, jogos de Xbox e caixas de comida pronta. A televisão estava ligada, mas a desligou quando passou perto. Sua cadeira era a única no quarto, e a lata aberta de coca-cola na mesa dizia que tinha estado sentado ali. Por um momento, fiquei congelada, como um coelho, olhando a cama, o único lugar para eu me sentar, enquanto meu pulso batia em meus ouvidos. Nash começou a rir e empurrou a porta até deixar apenas um vão, agitando a cama com a mão vazia. – “Não vou te grudar na parede.” Eu estava mais preocupada de que fosse tragada inteira. E não podia deixar de me perguntar quantas garotas haviam sentado ali antes de mim... Por último, adotando algumas medidas, coloquei de lado um livro fechado de química e sentei na beirada da cama, já abrindo a sacola. – “Aqui.” – Lhe entreguei um hambúrguer e uma caixa de batatas fritas.
Ele colocou a comida sobre a mesa e sentou na cadeira, movendo o mouse até que seu monitor voltou a vida. “O que estamos procurando?” – Perguntou, logo colocou uma batata frita na boca. Desenrolei meu hambúrguer, pensando na melhor forma de dar minha resposta. Mas não havia nenhuma boa maneira de dizer o que eu tinha para dizer. – “Outra garota morreu essa noite. No cinema. Um rapaz com quem trabalho estava ali, e ele disse que ela apenas caiu morta, com uma bandeja de pipocas na mão.” Nash me olhou sem piscar, congelado no meio da mastigação. – “Sério?” – Perguntou depois de engolir, e eu assenti. “Acredita que está conectado a essa garota que morreu na outra noite?” Encolhi os ombros. – “Eu não previ essa, mas é ainda mais estranho do que aconteceu no Taboo. Quero detalhes.” – Assim poderia provar a mim mesma que as mortes não eram tão similares como parecia. “Está bem, espera...” – Ele escreveu algo e um site de busca apareceu no monitor. – “Em Arlington?” “Sim.” – Disse, a ponto de morder meu hambúrguer. Nash escrevia enquanto mastigava, e os sites começaram a aparecer na tela. Clicou no primeiro. – “Aqui está.” – Era um site do canal de notícias de Dallas – a estação que havia transmitido a história de Heidi Anderson no dia anterior. Inclinei mais perto para ver por cima de seu ombro, muito consciente do quão bem Nash cheirava, e ele leu em voz alta. “As autoridades locais estão perplexas pela morte da segunda adolescente em poucos dias. Esta tarde, Alyson Barker de quinze anos morreu no vestíbulo do cinema 9, no shopping de Six Flags. A polícia ainda precisa determinar a causa de sua morte, mas descartaram drogas e álcool como fatores. Segundo uma testemunha, Baker [i]‟apenas caiu morta‟[/i]. Um memorial será celebrado amanhã na escola Stephen F. Austin para Baker, que era uma estudante do segundo ano ali.” Bebendo do copo, examinei o artigo por um momento, depois de terminar a leitura. – “Isso é tudo?” “Há uma foto.” - Clicou em cima de uma imagem para revelar uma foto em preto e branco de um anuário de uma bonita morena com o cabelo longo, reto e características dramáticas. – “O que te parece?” Suspirei e afundei novamente na beirada da cama. Ver a última garota morta não havia respondido nenhuma das minhas perguntas, mas havia me dado um nome e
rosto, e fez sua morte infinitamente e desgraçadamente mais real. – “Não sei. Ela não parece muito com a Heidi. E é quatro anos mais nova.” “E não estava bêbada.” “E não tinha idéia que isso ia acontecer.” – Sem mais fome, embrulhei o resto do meu hambúrguer e o deixei dentro da sacola. – “A única coisa que têm em comum é que morreram em público.” “Sem uma causa evidente de morte.” – Nash olhava a sacola no meu colo. – “Vai terminar isso?” Entreguei meu hambúrguer, mas suas palavras ainda ressoavam em minha mente. Havia ficado em branco com isso – conduzindo em linha reta a meu coração. Heidi e Alyson literalmente haviam caído mortas sem advertência, sem doença e sem feridas de nenhum tipo. E eu havia sabido que a morte de Heidi se aproximava. Se eu estivesse ali quando Alysson estava pedindo sua pipoca, teria sabido que ela ia morrer? E se estivesse ali, teria adiantado dizer-lhe? Escapulí de volta para a cama e trouxe meus joelhos até o peito enquanto o sentimento de culpa pela morte de Heidi crescia dentro de mim como uma esponja que absorve a água. A havia deixado morrer? Nash deixou cair o papel do hambúrguer e girou na cadeira para ficar de frente a mim. Ele franziu o cenho ao mirar minha expressão e se inclinou para frente para empurrar suavemente minhas pernas para baixo, para que pudesse ver meu rosto. – “Não há nada que você pudesse ter feito.” Meus pensamentos eram assim tão evidentes? Eu não conseguia sorrir. – “Você não sabe.” Sua boca formou uma linha dura em um instante, como se fosse discutir, mas logo sorriu com seu olhar cravado em mim. – “O que você precisa é relaxar. Pensar em outra coisa que não seja morte.” Sua voz era um suave murmúrio enquanto se movia da cadeira para sentar-se junto a mim na cama, e o colchão rangeu com seu peso. Minha respiração e meu pulso se aceleraram em antecipação. – “Em que deveria estar pensando?” – Minha própria voz saiu baixa, minhas palavras eram tão suaves que mal podia ouvi-las. “Em mim.” – Sussurrou de novo, inclinando-se para frente para que seus lábios roçassem meu ouvido enquanto falava. Seu cheiro me envolveu, e sua bochecha estava áspera contra a minha. – “Deveria estar pensando em mim.” – Seus dedos se entrelaçaram com os meus em meu colo, e se afastou do meu ouvido pouco a pouco,
seus lábios roçaram minha bochecha, deliciosamente suave em contraste com a barba afiada. Deixou um rastro de pequenos beijos ao longo da minha mandíbula, e meu coração bateu mais forte a cada beijo. Quando chegou ao queixo, beijou-me até que sua boca se encontrou com a minha, chupando suavemente meu lábio inferior. Provando se fazer um contato completo. Meu peito subia e descia rapidamente, minha respiração mais profunda, meu pulso acelerado. Mais... Ele me ouviu. Deve ter ouvido. Nash foi para trás o suficiente para encontrar meu olhar, com o calor abrasador por detrás de seus olhos, e me dei conta de que também estava respirando com dificuldade. Seus dedos fecharam-se em torno dos meus e sua mão livre se deslizou dentro do meu cabelo na base do meu crânio. Então me beijou de verdade. Minha boca se abriu debaixo da sua, e o beijo foi mais profundo quando o abracei, mais voraz do que já havia provado. Meus dedos fecharam-se ao redor dele, e minha mão livre encontrou seu braço, explorando o duro e delineado músculo e força contidos nele. Nash se afastou e me olhou, a profunda necessidade era latente em seus olhos. A intensidade dessa necessidade – a profundidade assombrosa – chocou-se contra a minha como uma onda em uma praia, ameaçando me golpear. Para tirar-me desse mar turbulento, onde a corrente seguramente me levaria para longe. Seu dedo seguiu por meu lábio inferior, seu olhar cravado no meu, e minha boca aberta, pronta para a sua de novo. Eu quase não podia respirar quando ele me tocava, então estava constrangida por... tudo. Mas ele cheirava tão bem, e me sentia tão bem, que não queria parar, mesmo se nunca mais respirasse outra vez. Dessa vez eu o beijei, tomando o que queria, encantada e surpreendida por sua vontade ao permiti-lo. Minha cabeça estava tão cheia de Nash que não estava certa se poderia pensar em outra coisa de novo. Até que a porta abriu. Nash foi para trás tão rápido que me deixou sem respirar pela surpresa. Pisquei, pouco a pouco lutando por cima da onda de sensações que eu queria sentir de novo. Minhas bochechas arderam enquanto arrumava meu rabo de cavalo. “Estão jantando, é?” – A senhora Hudson estava na porta com os braços cruzados no peito, com uma mancha fresca de chocolate em sua camiseta. Franziu o cenho para nós, mas não parecia particularmente brava ou surpresa.
Nash cobriu o rosto com ambas as mãos. Fiquei ali, sem falar, e mais envergonhada do que havia estado em toda minha vida. Mas ao menos havíamos sido surpreendidos pela sua mãe ao invés do meu tio. Disso, eu jamais me recuperaria. “Vamos deixar a porta aberta, mas dessa vez de verdade, ok?” – Voltou a sair, mas logo seu olhar parou na tela do computador, onde a foto de Alyson estava olhando o quarto. Algo escuro cruzou seu rosto – medo ou preocupação? Então sua expressão endureceu enquanto se dirigia a seu filho. – “O que está fazendo?” – Perguntou ela em voz baixa, obviamente, já não se referia a nossa interação social. “Nada.” – A expressão de Nash estava tão pesada como a de sua mãe, mas eu não podia ler nada específico na sua, ainda que a tensão na sala aumentou notavelmente. “Eu deveria ir.” – Levantei, buscando as chaves em meu bolso. “Não.” – Nash pegou minha mão. A expressão da senhora Hudson se suavizou. – “Realmente não é necessário.” – Disse. – “Fique e coma alguns biscoitos. Apenas deixem a porta aberta.” – Olhou para Nash nessa última parte e a tensão desapareceu do ar. Nash girou os olhos mas assentiu com a cabeça. Logo ambos olharam para mim, esperando minha resposta. “Obrigada, mas tenho dever para terminar...” – E a mãe de Nash acabara de nos surpreender na cama, o que parecia muito com o fim da noite para mim. Nash me acompanhou até meu carro e me beijou de novo, seu corpo pressionando o meu contra a porta do motorista, com as mãos entrelaçadas. Logo voltei para casa em uma nuvem e fui diretamente para o meu quarto, ignorando toda a informação menos que sutil que Sophie havia atirado em minha direção. E apenas mais tarde me dei conta que na verdade, havia esquecido das garotas mortas e ainda estava pensando em Nash quando dormi.
Capítulo 5 "Dentro ou fora?" - Nash deixou sua bandeja sobre a mesa mais próxima e enfiou a mão no bolso. O som das moedas era pouco audível sobre o barulho dos talheres e o zumbido de dezenas de conversas, ele tirou um monte de moedas, já se virando para a máquina de refrigerante. A manhã de outono tinha começado fria e clara, mas para o terceiro trimestre estava quente o suficiente para que meu professor de biologia abrisse as janelas do laboratório para poder ventilar o cheiro de conservantes químicos. - "Fora." Almoço no pátio parecia bom para mim, especialmente considerando o calor humano que havia no refeitório, e as dezenas de pessoas que já haviam notado seus dedos enroscados nos meus na fila para a pizza. Incluindo sua última ex, que agora me olhava de dentro de um grupo hostil de líderes de torcida. Olhei por cima do meu ombro para Emma, que assentiu. - "Vou pegar uma mesa." Virou-se e se esquivou de um calouro, que carregava três sorvetes, e quase derrubou a bandeja de suas mãos. "Desculpe." - Ele murmurou, em seguida, parou para observá-la, em sua expressão uma mistura de evidente desejo e saudade. Emma nem sequer percebeu. Nash pegou duas cocas da máquina e colocou uma na minha bandeja. Então nós fizemos nosso caminho pelo corredor central, nos esquivando das mesas, indo diretamente para a saída. Eu praticamente pude sentir os olhos de meus colegas cravados em minhas costas, e era tudo o que poderia fazer para não me contorcer diante de seu controle. Como ele fazia para suportar as pessoas olhando o tempo todo? Estávamos a dois passos da porta dupla que levava ao pátio quando elas abriram a apenas alguns centímetros de bater em minha bandeja. Um grupo de garotas magras vestindo jaquetas Letterman4 idênticas passou ao nosso lado, muitas sorrindo para Nash. Uma inclusive percorreu sua manga com os dedos, eu estava surpresa pelo desejo súbito e irracional de bater em sua mão. O que seria desnecessário, já que ele passou por ela apenas com um aceno distraído. Sophie foi a única que me olhou, e sua expressão não poderia ser considerada amigável. Então olhou para Nash. Deixando que seu braço roçasse nele ao passar, olhando em seus olhos, com um sorriso carnal aparecendo no canto de sua boca perfeitamente maquilada, um convite tácito. Segundos depois, as bailarinas tinham ido embora, deixando uma nuvem de perfume forte o suficiente para que meus olhos ardessem. Passei pelas portas que ainda estavam abertas, e deixei o local. Nash correu para me alcançar. Carregava a bandeja em uma mão, e com o outro braço enlaçava minha cintura, os dedos roçando em 4
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meu quadril com uma íntima familiaridade que me fez meu pulso acelerar. - "Ela está apenas tentando irritá-la." "Ela disse que esteve no banco de trás." - Não podia evitar a suspeita em minha voz. Sim, sua mão no meu quadril fazia uma declaração pública, e isso - juntamente com seu silêncio em relação à minha saúde mental - finalmente colocou fim ao meu teimoso medo que ele havia planejado uma conexão rápida comigo para o fim de semana, e terminaria comigo na segunda-feira. Mas Nash nem sequer tinha negado os boatos de suas façanhas, e eu não podia suportar a idéia de que Sophie teria sido uma delas. "O que?" - Ele parou no meio do pátio, franzindo a testa com evidente confusão. "A parte de trás do seu carro. Ela disse que há um rasgo no banco de trás e quer que eu pense que ela o viu de perto." Nash riu baixinho e começou a caminhar enquanto falava, então eu não tinha outra escolha senão segui-lo. - "Hum... Sim, e ela o fez.” – Disse ele. – “Ela estava acabada na noite que a levei para casa, e vomitou por todo o piso do banco do passageiro na parte da frente, coloquei-a na parte de trás e um de seus sapatos tinha uma estúpida fivela que ficou presa no assento e o rasgou.” Eu ri, e minha raiva derreteu-se como a maquilagem de Sophie em Junho. Na verdade, eu quase senti pena dela, mas não o suficiente para evitar usar essa informação na próxima vez que minha prima tentasse flertar com Nash na minha frente. O pátio era um comprido retângulo, rodeado por três lados de diferentes alas do edifício da escola com a entrada do refeitório no final de uma longa parede. O quarto lado estava aberto até os campos de Baseball, localizados na parte traseira do campus. Emma estava em uma das mesas mais afastadas, protegida do vento pela união entre as salas de linguagem e de ciências. Sentei-me no banco oposto ao seu, e Nash deslizou ao meu lado. Sua perna encostada na minha, do quadril até meu joelho, o que foi o suficiente para me manter quente de dentro para fora, apesar do frio, e a brisa intermitente nas minhas costas. "O que aconteceu com a equipe de dança?" - Emma perguntou enquanto eu mordia minha pizza. – “Passaram por aqui um minuto atrás, gritando e pulando como se alguém tivesse jogado molho quente em suas calças." Eu ri, e quase engasguei com um pedaço de calabresa. - "Elas ganharam as Regionais, no sábado. Sophie tem estado insuportável desde então." "Então, quanto tempo elas vão ficar gritando e pulando?"
Levantando um dedo, mastiguei e engoli outra mordida antes de responder. - "As Estaduais são no próximo mês. Depois disso, elas não poderão abster-se de gritar ou chorar de tristeza. Então, não há mais até maio, quando elas fazem um teste para estar na equipe do próximo ano." - Apesar, de tudo, vou lamentar o final da temporada de competição, juntamente com Sophie. Os treinos da equipe ocupavam a maior parte de seu tempo livre durante muitos meses do ano, dando-me um momento muito cobiçado de paz e tranqüilidade enquanto ela estava fora de casa. E apesar do quão mimada e arrogante ela era, Sophie estava completamente dedicada à equipe. Mostrava mais respeito pelas outras bailarinas do que alguma vez mostrou a mim, e à dedicação e pontualidade que lhes demonstrava era a única evidencia em mais de treze anos, de que ela tinha um osso responsável em seu corpo irritantemente gracioso. Além disso, a maioria de suas colegas de equipe podia dirigir, sempre estavam dispostas a levá-la. Depois das Estaduais, Sophie voltaria às suas aulas diárias de balé e agora que eu tinha um carro, estava certa que seus pais me fariam levá-la e trazê-la, como se não tivesse algo melhor para fazer com meu tempo. E meu dinheiro gasto com gasolina. "Bom, aqui está a esperança de que todos nós fiquemos surdos." - Emma manteve sua garrafa de água no ar, Nash e eu batemos com as nossas latas. - "Então..." fechou a tampa da sua garrafa. - "Vocês já ouviram falar algo de novo sobre a garota de Arlington?" Nash franziu a testa, e neste momento suas sobrancelhas baixaram sobre uns olhos mais marrons do que verdes. "Sim." - Deixei meus restos de pizza na bandeja e peguei uma maçã. - "O nome dela era Alyson Baker. Aconteceu exatamente como Jimmy nos contou. Ela caiu morta, e a polícia não tem idéia do que pode tê-la matado." "Estava bebendo?" - Emma perguntou, obviamente pensando em Heidi Anderson. "Não, ela tampouco estava... nada." - Nash fez um gesto com a borda da sua pizza. "Mas ela não tem nada a ver com a primeira, certo?" - Olhou para mim com as sobrancelhas levantadas em questionamento. - "Quero dizer, não pressentiu esta. Nem mesmo a viu, certo?" Concordei e dei a primeira mordida em minha maçã. Ele tinha razão, claro. Mas havia uma conexão óbvia entre as duas garotas, as duas foram mortas sem causa aparente. O noticiário local sabia disso. Emma sabia disso. Eu sabia disso. Apenas Nash parecia alheio. Ou pelo menos, desinteressado. Emma apontou para ele com seu garfo de plástico, com seu rosto de porcelana enrolado em uma bela máscara de incredulidade. - "Você não acha que é estranho que duas garotas tenham morrido nos últimos dois dias?"
Ele suspirou e tirou o rótulo da sua lata vazia, observando isso mais do que a qualquer uma de nós. - "Eu nunca disse que não seja incomum. Mas não tenho essa obsessão doentia que vocês têm por estas pobres garotas. Estão mortas. Vocês não conheciam a nenhuma delas. Deixe-as descansar em paz." Revirei meus olhos, e tirei a etiqueta da loja de minha maça. - "Nós não estamos interrompendo seu descanso." "Não é obsessão... é cautela." - Emma rebateu, apontando sua garrafa para ele como se fosse uma batuta de maestro. - "Ninguém sabe como elas morreram, e eu não acredito em coincidências também. Poderia ser uma de nós amanhã." - Olhou para mim, incluindo-me claramente como uma das possíveis vítimas de... hmm... cair morta sem motivo. - "Ou qualquer uma delas." - Ela apontou com a cabeça para o refeitório, me virei para ver Sophie e várias de suas amigas andando junto com uma meia-dúzia de atletas em idênticas jaquetas verde e branco. "Está exagerando totalmente." - Nash empurrou sua bandeja e se retorceu no banco para ficar de frente a nós. - "É apenas uma estranha coincidência que não tem nada a ver conosco.” "E o que acontece se não é?" - Exigi, e até eu reconheci a dor em minha voz. Não poderia deixar de pensar na possibilidade de que poderia ter ajudado. Poderia até ter salvado Heidi, se eu apenas tivesse dito alguma coisa. - "Ninguém sabe o que aconteceu com estas garotas, então você não pode ter certeza se acontecerá outra vez." Nash fechou os olhos, como se estivesse juntando seus pensamentos. Ou talvez sua paciência. Logo os abriu, olhou primeiro para Emma, depois para mim. - "Não, eu não sei o que aconteceu com qualquer uma delas, mas a polícia descobrirá mais cedo ou mais tarde. Provavelmente morreram de maneiras completamente diferentes, de doenças que não estão relacionadas. Um aneurisma, ou um raro ataque cardíaco anormal na adolescência. E aposto meu Xbox que não têm nada a ver uma com a outra." Seus olhos se estreitaram nos meus e pegou minha mão na dele. - "E não têm nada a ver com você." "Então... como ela sabia o que ia acontecer?" - Emma olhou para nós com seus grandes olhos castanhos. - "Kaylee sabia que a primeira garota ia morrer. Eu diria que isso a envolve muito." "Ok, sim." - Nash voltou-se para ela. - "Kaylee sabia sobre Heidi. Isso é estranho e horrível, e parece como o enredo de um filme de terror de má qualidade." "Ei!" - Acotovelei Nash, e ele sorriu para mim.
"Desculpe. Mas ela perguntou. Meu ponto é que a sua premonição é a única parte estranha aqui. O resto é simplesmente uma coincidência. Uma total casualidade. Algo que não vai voltar a acontecer." Tirei minha mão de seu alcance. - "E se você estiver errado?" Nash franziu a testa, e passou os dedos pelos cabelos artisticamente despenteados. Mas antes que ele pudesse responder, uma mão pousou sobre meu ombro, fazendome saltar. "Problemas no paraíso?" - Perguntou Sophie, e olhei para cima para encontrá-la sorrindo para Nash. "Não, estamos todos radiantes e felizes aqui, obrigada" - Respondeu Emma, já que eu não podia afrouxar meus dentes o suficiente para responder. "Oi, Hudson." - Uma manga verde deslizou sobre os ombros de Sophie, e me encontrei olhando para Scott Carter, o zagueiro titular e atual brinquedo de minha prima. - "Fazendo novos amigos?" Nash assentiu. "Você conhece Emma, não é?" Carter apertou a mandíbula ao olhar para minha melhor amiga. Ele a conhecia, com certeza. Emma o havia dado um fora duramente durante o verão, em seguida, jogou Slushie5 em sua camiseta no cinema, quando ele se recusou a entender a mensagem. Se alguém mais tivesse estado trabalhando com ela em vez de Jimmy, provavelmente teria sido denunciada e demitida. A mão de Nash agarrou a minha. - "E esta é Kaylee." Carter olhou para mim, provavelmente esta era a primeira vez que o fazia, e sorriu quando seus olhos passaram de meus olhos para o decote da minha camiseta. O que provavelmente poderia ver diretamente, já que ele estava de pé. - "É a irmã de Sophie, certo?" "Prima." - Sophie e eu dissemos em uníssono. Era a única coisa que estávamos de acordo. "Ei, pegaremos o barco do meu pai na noite de sexta-feira, vamos ao lago. Vocês dois deviam vir." "Ela não pode." - Sophie disse ironicamente, enroscando-se no braço de Carter. - "Ela tem que trabalhar."
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Slurpee ou ICEE são feitas através do congelamento de uma bebida gaseificada
Como se trabalhar fosse um palavrão. Embora, pessoalmente, depois do que Emma disse sobre ele, prefiro passar a noite toda tentando remover os chicletes presos sob os assentos do teatro do que passar um minuto no barco do pai de Carter. "Da próxima vez iremos." - Nash disse, e Carter concordou enquanto Sophie o puxava até uma das mesas de frente ao pátio, cheio de pessoas com jaquetas verdes e brancas. "Wow." - Emma assobiou baixinho. - "Ele é um imbecil. Olhou direto em sua camiseta, com Nash e Sophie junto dele. Isso é um atleta." "Não somos todos maus." - Nash disse, mas parecia claramente pouco divertido com a invasão ótica de Carter e o comentário de Emma sobre isto. Sem seus colegas de equipe por perto, era fácil esquecer que Nash jogava futebol. Baseball também. O que ele poderia querer comigo, enquanto as garotas como Sophie faziam fila para babar sobre ele? "Não se senta ali normalmente?" - Eu perguntei, apontando para a mesa do grupo verde e branco. Nós nos sentamos com os atletas no início deste ano, quando Emma saia com um dos jogadores da defesa, mas honestamente, o ruído e a postura constante deles me deixavam nervosa. "Vocês duas são melhor companhia." - Nash sorriu, aproximando-se, mas pela primeira vez, eu quase não notei. Algo na multidão verde e branco tinha chamado minha atenção. Alguma coisa parecia... errada. Nãooo...! Não poderia estar acontecendo de novo! Nash disse que não voltaria a acontecer! Mas os primeiros sentimentos de pânico já formigavam em minha carne. As bordas da minha visão escureceram, como se a morte crivara-se fora de vista. Meu coração martelava. Minha pele formigava, e minhas mãos cerraram em punhos. Nash estremeceu e soltou minha mão. Eu tinha esquecido que a estava segurando, e tinha feito com que sangrasse a palma de sua mão. "Kaylee?" - Sua voz estava cheia de preocupação, mas eu não conseguia desviar o olhar da multidão verde e branca. Eu não podia me concentrar nele, enquanto o pânico trovejava em minha cabeça e a culpa rasgava meu coração. Alguém ia morrer. Eu podia sentir, mas ainda não poderia dizer quem. As jaquetas misturavam-se umas com as outras, como uma manada de zebras multicoloridas, misturando-se cada uma na multidão. Mas a camuflagem social não funcionaria. A morte ia encontrar quem queria, e eu não poderia alertar a vítima se não pudesse encontrá-lo. Ou encontrá-la. E era uma garota. Eu podia sentir essa parte. "Ela está fazendo de novo."
Ouvia Emma como se estivesse muito longe, embora soubesse vagamente que ela tinha mudado de lugar para meu lado. Eu não podia olhá-la. Só tinha olhos para a multidão que escondia a próxima garota a morrer. Precisava ver quem era ela. Tinha que ver... Em seguida, a multidão se abriu e os aplausos começaram. Música, alguém trouxe um pequeno aparelho de som. As garotas estavam acomodando suas jaquetas em uma pilha no chão. Alinharam-se no gramado, em ziguezague, uma formação que reconheci da competição que meus tios me arrastaram para assistir. A equipe de dança estava fazendo uma demonstração. Mostrando a coreografia que as fez ganhar a Regional. E então eu vi. Segunda da esquerda, três abaixo de Sophie. Alta, magra, com cabelos castanhos mel, e grossos cílios. Meredith Cole. A capitã da equipe. Envolta em uma sombra tão densa que mal conseguia distinguir suas feições. Tão logo meus olhos a encontraram, minha garganta começou a queimar, como se tivesse inalado vapores de cloro. A devastação me empapava, ameaçando me levar abaixo da superfície do desespero. E esse escuro conhecimento familiar deixou-me tremendo onde estava. Meredith Cole iria morrer em breve, muito em breve. "Kaylee, vamos" - Nash se levantou, pegou meu braço, tentando me tirar dali. "Vamos" Havia um nó na garganta, minha respiração ficou curta. Minha cabeça nadava entre o caos construído dentro de mim, e meu coração estava inchado e pesado, cheio de dor. Mas eu não podia ir. Devia lhe dizer. Deixei Heidi morrer, mas podia salvar Meredith. Eu podia avisá-la, e tudo estaria bem. Minha boca se abriu, mas as palavras não saíram. Em vez disso, um grito lancinante saiu da minha garganta, anunciando sua chegada com o usual pânico abrasador, por esta altura não havia nada que pudesse fazer para detê-lo. Eu não conseguia falar, só gritar. Mas isso não seria suficiente. Precisava de palavras para avisar Meredith, não um grito não articulado. O que tinha de bom sobre meu "dom" se não poderia usá-lo? Se tudo o que podia fazer era gritar inutilmente? O grito começou no fundo de minha garganta, tão baixo que sentia meus pulmões em chamas. No entanto, o som era suave no início. Como um sussurro, senti mais do que ouvi. Apertei a mandíbula em horror enquanto os olhos de Nash arregalavam-se, sua íris parecia abater-se novamente com a luz do sol. Minha visão ficou turva e tornou-se pesada, como se a mesma névoa cinzenta tivesse coberto o mundo inteiro. O dia parecia mais tênue agora, as sombras mais densas, e o ar mais nevoento. Minhas próprias mãos estavam borradas, como se não pudesse
focá-las. Mesas, estudantes e o edifício da escola estavam de repente vibrando, como se alguém tivesse drenado as cores. Levantei-me e levei minha mão à boca, implorando, com uma estranha e descolorida olhada, pedindo ajuda a Nash com meus olhos. O lamento enrolou na minha garganta e ficou lá, como um resmungo, sem oferecer nenhuma liberação. Nash colocou um braço em volta da minha cintura e acenou a Emma para que se colocasse a meu lado. - "Calma Kaylee." - Sussurrou no meu ouvido, com seu hálito quente no meu pescoço e removendo os cabelos de lá. - "Apenas relaxe e ouça..." Minhas pernas entraram em colapso, mesmo quando meus olhos voltaram-se para Meredith, que agora dançava entre Sophie e uma pequena loira, que só conhecia de vista. Nash me pegou em seus braços e me manteve apertada contra seu peito, ainda sussurrando algo em meu ouvido. Algo familiar. Algo rimado. Suas palavras caíram sobre mim com uma presença quase física, acalmando-me em todas as partes onde me tocavam, como um bálsamo que podia ouvir. No entanto, o grito fazia estragos dentro de mim, exigindo uma saída, e aparentemente disposto a forjar uma saída se eu não oferecesse uma alternativa. Emma caminhou na nossa frente, até o final da sala de Inglês e virou a esquina, fora da vista do pátio. Ninguém mais percebeu, todos estavam observando a demonstração da equipe de dança. Nash me acomodou no chão contra a parede do prédio perto da porta usada para a única saída. Sentou-se ao meu lado novamente, agora ele colocou os braços ao meu redor, enquanto Emma estava ajoelhada em frente a nós. Nash estava aquecendo minhas costas, tudo que eu podia ouvir era seu sussurro e meu próprio lamento, que persistia apesar da minha luta para suprimi-lo. Olhei para Emma através do ombro de Nash, ela estranhamente cinza a distância, e eu concentrando minha energia para falar sem gritar. Algo se precipitou pela margem esquerda da minha visão, tentei alcançá-la com os olhos automaticamente, tentando focá-la. Mas se movia muito rápido, deixando-me unicamente com uma vaga impressão de uma silhueta humana, com uma proporção que não podia explicar com um olhar tão curto. A figura era deformada de alguma forma. De aparência estranha. E quando pisquei, já não podia ter certeza de onde tinha visto. Um professor, certamente, que se tornou irreconhecível pela nuvem cinza estranha de minha visão. Fechei os olhos firmemente para evitar qualquer distração futura. Então, tão rapidamente quanto o pânico tinha aparecido, desapareceu. A tensão drenou-se do meu corpo, como o ar de uma bola de praia, deixando-me com um solto alívio e cansaço. Abri os olhos para ver que a cor e a claridade haviam retornado ao meu mundo. Minhas mãos relaxaram, e o grito morreu em minha garganta. Mas um
segundo depois, um grito rasgou através do ar, e levei um segundo para perceber que não tinha saído de mim. Vinha do pátio. Sabia o que tinha acontecido sem nem sequer olhar. Meredith tinha desmoronado. Minha vontade de gritar morreu no mesmo momento em que ela o fez. Outra vez, eu sabia que alguém iria morrer. E, de novo, tinha deixado acontecer. Meus olhos fecharam-se por causa de uma nova onda de choque e a tristeza voltouse para mim, em seguida, foi substituída imediatamente por uma culpa tão pesada que eu mal podia sustentar minha cabeça. Minha culpa. Deveria ter sido capaz de salvá-la. Mais gritos vieram do pátio, e alguém gritou para chamarem uma ambulância. As portas rangeram ao abrir, em seguida, bateram contra a lateral do prédio de tijolos. Os passos com sapatos ecoavam no piso de concreto. Lágrimas de vergonha e frustração rolaram pelo meu rosto. Descansei minha cabeça no ombro de Nash, ignorando minhas lágrimas molhariam que sua camiseta. Poderia tê-la matado eu mesma, por todo o bem que minha advertência havia feito. No canto, o zumbido do caos tocava cada voz que se misturava com a seguinte. Alguém estava chorando. Alguém mais estava correndo. E, sobre tudo isso, a Sra. Tucker, treinadora da equipe feminina de softbol assoprou seu apito, tentando inutilmente acalmar todo mundo. "Quem é?" - Perguntou Emma, ainda de joelhos diante de nós, com os olhos em choque e cheios de compreensão, enquanto acomodava uma mecha de meu cabelo para ver meu rosto. "Meredith Cole." - Sussurrei, enxugando as lágrimas com a manga. Nash apertou-me mais forte, agarrando-se firmemente a meu estômago. Emma levantou-se lentamente, em sua expressão havia um misto de medo e desconfiança. Afastou-se de nós, bamboleando as pernas. Então voltou e olhou atentamente ao redor da esquina. - "Eu não posso ver nada. Há muita gente." "Não importa" - Eu disse um tanto surpresa com a dormência na minha voz. - "Ela já está morta." "Como você sabe?" - Suas mãos agarraram a esquina do edifício, com as unhas enterrando nos tijolos marrons. - "Tem certeza que é Meredith?" "Sim" - Suspirei, então me levantei e puxei Nash, enxugando mais lágrimas de meu rosto. Ele ficou à minha esquerda, Emma à minha direita. Juntos, viramos a esquina e fomos ao caos.
Capítulo 6 Emma tinha razão: havia gente por todos os lados. Várias portas das salas de aula estavam abertas no pátio, e os estudantes estavam saindo apesar dos protestos de seus professores. E mesmo que ainda restassem dez minutos do segundo intervalo, o refeitório estava esvaziando-se de sua multidão habitual. Vi pelo menos vinte estudantes em seus celulares, e alguns fragmentos das conversas que ouvi pareciam ligações para o 911, ainda que a maioria dos que ligavam na realidade não sabiam o que havia acontecido, ou quem estava envolvido. Apenas sabiam que alguém estava ferido, e não tinha havido disparos. A treinadora Tucker apareceu no canto da multidão verde e branca com seus sapatos de exercícios, tirando os garotos fora de seu caminho e gritando em um rádio da escola. Finalmente, a multidão se apartou dela, revelando um corpo feminino imóvel estendido no chão marrom, com um braço caído a seu lado. Não pude ver seu rosto porque um dos jogadores, o número quatorze, estava realizando RCP6 nela. Mas eu sabia que era Meredith Cole. E poderia dizer ao número quatorze que seus esforços eram em vão, não podia ajudá-la. A treinadora Tucker tirou o jogador de futebol de perto da garota morta e se ajoelhou ao lado do corpo, gritando para que todos se afastassem. Que voltassem ao prédio. Logo inclinou-se para ver se Meredith estava respirando. Um momento depois, a treinadora inclinou a cabeça da bailarina para trás e voltou a realizar o RCP de onde o número quatorze tinha parado. Segundos depois, a treinadora da equipe de dança – Sra. Foley, também uma das professoras de álgebra – moveu-se pelo pátio desde uma sala de aula, aturdida e sem palavras durante vários segundos devido ao caos. Depois de umas breves palavras com um casal de estudantes, reuniu as bailarinas restantes em um grupo choroso a vários metros de Meredith e da treinadora. O resto dos estudantes as olhavam com assombro, alguns chorando, alguns sussurrando e outros estavam em silêncio ou em estado de choque. Enquanto assistíamos desde a margem do caos, três adultos correram pelas escadas do refeitório: a diretora, que parecia esticada em sua saia estreita e saltos, seu assistente, um pequeno homem calvo que agarrava uma pasta em seu peito como uma balsa, e o treinador Rundell, o treinador de futebol. A diretora ficou na ponta dos pés e sussurrou algo no ouvido do treinador Rundell, que assentiu. Ele carregava um apito e um megafone. Não precisava, mas utilizou os dois. O som do apito atravessou meus tímpanos como um prego, e todo mundo ao nosso redor congelou. 6
Ressucitação Cardio Pulmonar
O treinador Rundell levou o megafone à boca e começou a transmitir ordens com uma rapidez e claridade que teria deixado qualquer sargento orgulhoso. “Agora estamos em confinamento! Se não tem segundo intervalo, voltem a suas salas. Se tem segundo intervalo, sentem-se no refeitório.” Com um sinal da diretora, seu assistente começou a fazer os anúncios de bloqueio de segurança e acordos necessários. Os professores começaram a levar seus alunos para as salas, e uma por uma, as portas foram fechadas e uma tensa calma caiu sob o pátio. A Sra. Foley, vendo-se sobrecarregada e a beira de lágrimas, reuniu suas bailarinas soluçantes e as conduziu ao prédio através de uma entrada lateral. A diretora começou a agrupar a multidão de volta ao refeitório, e seu assistente, quando apareceu outra vez, ajudou. Nash, Emma e eu caímos no fluxo de estudantes justo atrás do pelotão de jaquetas verde e branco, e ao passar pela última mesa, olhei para a direita, onde o treinador Rundell havia substituído a treinadora Tucker no RCP. Mesmo doente com a culpa e paralisada pelo choque, tive que ver por mim mesma. Tinha que mostrar a minha mente o que meu coração sabia durante todo esse tempo. E ali estava Meredith, seu cabelo comprido espalhado pelo chão, seu rosto visível apenas quando o treinador sentou-se para uma rodada de compressões no peito. Meus olhos umedeceram e mais lágrimas caíram, Nash se colocou a minha direita, bloqueando minha visão enquanto subíamos as grandes escadas de concreto no prédio. No interior, as luzes estavam apagadas. Mas a janela do refeitório – um muro de vidro – não tinha cortina e era bem grande, por onde a luz do dia entrava, deixando sombras profundas e algumas cores coloridas, em contraste com a a luz brilhante que geralmente vem das lâmpadas. No outro extremo do salão, os jogadores se mantiveram em um solene silêncio, agruparam-se ao redor de uma das mesas redondas. Vários se sentaram com os cotovelos apoiados sobre os joelhos, as cabeças caídas em suas mãos. O número quatorze, quem tentou valentemente salvar Meredith, tinha sua namorada em seu colo. Ela com o rosto cheio de lágrimas e rímel, o braço ao redor de sua cintura, com o queixo apoiado em seu ombro. Outros estudantes se sentavam agrupados em tordo do resto das mesas. Alguns sussurravam perguntas que ninguém tinha a resposta, uns quantos choravam suavemente, e todo mundo estava estupefato ao ponto da incompreensão. Não havia tido nenhuma advertência, sem violência, e sem causa aparente. Esse desfecho não encaixava com os exercícios que elas praticavam duas vezes por semestre, e todos sabiam.
As mesas estavam todas ocupadas, e vários pequenos grupos de estudantes sentaram-se no chão encostados na larga parede, sustentando mochilas, bolsas, e pilhas pequenas de livros. Emma estava agitada e pálida quando nos dirigimos a um canto vazio, e eu podia sentir minhas pernas bamboleando, a perna esquerda estava quase totalmente adormecida pela exatidão de minha segunda premonição em três dias. Apenas Nash parecia relativamente estável, seu aperto em minha mão era a única indicação de que não estava tão tranqüilo quanto parecia. Sentamo-nos em um canto no chão, Emma a minha esquerda, Nash ainda segurando minha mão a minha direita, cada um atordoado demais para falar. Meus pensamentos eram caóticos, um escândalo sem fim de culpa, choque e infinita incredulidade. Uma cacofonia privada em contraste absoluto ao silencioso refeitório, sombrio ao meu redor. E não podia parar. Não podia frear a torrente de emoções para escolher apenas uma delas, ou decifrar algumas perguntas. Apenas podia sentar, olhar e esperar. Minutos mais tarde, as sirenes ganharam vida na calçada, começando suavemente, mas seu volume foi aumentando a cada segundo que passava. A ambulância se deteve ensurdecedoramente em frente a escola, mas no momento em que andou ao redor para entrar no prédio com muito cuidado, o barulho havia se silenciado, ainda que continuasse ressoando em minha cabeça, uma banda sonora adequada ou meu caos interior. A ambulância se deteve fora de vista, mas as luzes brilhavam de um vermelho furioso contra o chão marrom apagado, declarando uma urgência otimista que eu sabia não ser necessária. Meredith Cole estava morta, e não importava o tempo que trabalhassem nela, ela não ia voltar. Essa certeza amarga me comia viva, consumindo-me de dentro para fora até que me senti suficientemente oca para fazer eco a cada golpe de dor do meu coração. Enquanto os médicos trabalhavam lá fora, os professores iam e vinham do refeitório, em algumas ocasiões respondendo perguntas de qualquer pessoa valente o suficiente para falar, e em algum momento, o conselheiro estudantil aproximou-se da mesa dos atletas e começou a falar em voz baixa com aqueles que estavam perto de Meredith e a viram realmente cair. Finalmente, o vice diretor falou através do intercomunicador e declarou que o dia de aula havia sido oficialmente suspenso, e que todos podiam retirar-se de forma individual, uma vez que nossos representantes legais fossem avisados. Nesse momento, as luzes vermelhas haviam deixado de piscar, e ainda que ninguém houvesse feito nenhum anúncio, fez eco ao nosso redor como todas as verdades importantes, surdas, não desejadas e inevitáveis. Depois disso, o primeiro grupo de estudantes foi chamado à sala do diretor e Emma se apoiou em mim enquanto eu me apoiava em Nash, desejando que seu cheiro e seu calor me tranqüilizassem enquanto me levantava e esperava. Mas minutos mais
tarde, a treinadora Tucker se deteve na porta do refeitório e examinou os rostos até que seu olhar caiu sobre mim. Sentei-me enquanto ela andava pelo labirinto de mesas, direto até nós, e se deteve quando estendeu uma mão para me tirar dali, apenas dando uma olhada em Nash e Emma quando me levantou. – “As bailarinas estão desoladas, e estamos ligando para seus pais primeiro. Sophie não está aceitando isso bem. A treinadora dela falou com a sua mãe, e ela gostaria que você levasse sua irmã para casa.” Suspirei, agradecida quando a mão de Nash deslizou-se na minha novamente. – “Ela é minha prima.” A treinadora Tucker fanziu o cenho, como se detalhes como esse não devessem importar nessas circunstâncias. Tinha razão, mas não me atrevia a pedir desculpas. – “Não se preocupe com teus livros.” – Ela me olhou agora severamente. – “Apenas a leve para casa.” – Assenti, e a treinadora voltou a andar através do refeitório, fazendo sinal para que eu a seguisse. “Falarei com vocês mais tarde.” – Disse, olhando para Emma e Nash enquanto apertava sua mão. Ela sorriu debilmente e assentiu com a cabeça, buscando seu celular em seu bolso. Acabava de sair dali, em direção a sala do diretor quando meu celular vibrou. Uma olhada a tela me disse que havia recebido uma mensagem de texto. De Nash. – Não diga a ninguém. Te explicarei mais tarde. Um momento depois, chegou outra mensagem. Eram duas palavras. – Por favor. Não respondi, porque não sabia o que dizer. Ninguém acreditaria em mim se tentasse explicar o que tinha acontecido. E, além disso, as premonições eram reais, e precisas. O silêncio já não parecia como uma opção, especialmente se havia alguma possibilidade de poder evitar que a próxima premonição se tornasse realidade. Se ao menos pudesse dar uma advertência a próxima vítima – e talvez uma oportunidade de lutar – eu não estava obrigada moralmente a fazer isso? Além do mais, Nash não havia sugerido ontem que eu dissesse a meus tios? “Kaitlin, por aqui!” – Dei uma olhada para encontrar a senhora Foley agitando sua mão para mim da porta da sala do diretor. Sophie estava sentada no chão atrás dela, rodeada de meia dúzia de rostos vermelhos manchados de rímel. “É Kaylee.” – Disse, parando em frente as bailarinas aturdidas. “Claro.” – Mas não parecia importar meu nome a treinadora. – “Já falei com tua mãe.” – Mas não me importei em dizer que seria impossível sem um Tabuleiro Ouija. [Gray]( Utilizado na comunicação com espíritos. Os participantes colocam os dedos
sobre o indicador que então se move pelo tabuleiro para responder perguntas e enviar mensagens. – No Brasil chama-se Brincadeira do Copo.)[/Gray] – “E ela quer que leve Sophie direto para casa. Vai encontrá-las lá.” Assenti, fazendo caso omisso a mão empática da treinadora da equipe de dança colocada momentaneamente em meu ombro, como se fosse me agradecer por compartilhar um grande carga. “Está pronta?” – Perguntei a minha prima, e para minha surpresa, ela assentiu com a cabeça, levantou-se com sua bolsa na mão, e me seguiu durante todo o caminho sem dizer nenhuma palavra com má intenção. Ela deve estar em estado de choque. No estacionamento, abri a porta do passageiro, logo dei a volta para entrar. Sophie deslizou-se em seu assento e fechou a porta, depois virou lentamente para mim, sua expressão normalmente arrogante havia dado lugar ao que eu só poderia descrever como tristeza profunda. “Você viu?” – Perguntou ela com seu lábio inferior tremendo, e pela primeira vez sem brilho labial. Deve ter saído junto com as lágrimas e a maior parte de sua maquiagem. Parecia... normal. E não pude evitar a dor de simpatia que sua miséria me causou, apesar da cadela que era comigo todos os dias da minha vida. Por agora, não era mais que medo, confusão e dor, em busca de um ouvido compassivo. Como eu. E mesmo em uma situação como essa eu não podia baixar totalmente a guarda com ela, porque não tinha nenhuma dúvida de que uma vez que sua dor passasse, Sophie iria com todas suas amigas bailarinas contra mim novamente, e usaria contra mim qualquer coisa que eu dissesse. – “Vi o que?” – Suspirei, ajustando o espelho retrovisor. Minha prima revirou os olhos, e por um momento sua habitual intolerância tomou lugar em cima da dor. – “Meredith. Viu o que aconteceu?” Girei a chave e meu pequeno Sunfire voltou a vida, o volante vibrava em minhas mãos. – “Não.” – Não senti uma grande perda por ter perdido o espetáculo, a visão preliminar foi suficiente para mim. “Foi horrível.” – Ela olhou diretamente através da janela enquanto eu apertava o cinto de segurança e tirava o carro do estacionamento, mas obviamente não estava olhando para nada específico. – “Estávamos dançando, apenas exibindo-nos com Scott e os garotos. Havíamos passado as partes difíceis, incluindo esse passo em que Laura salta com um golpe...” Não tinha nem idéia de que passo estava falando, mas a deixei divagar, porque parecia que se sentia melhor. “... E estava quase terminando. Logo, apenas... Meredith caiu. Mole como uma boneca, caiu no chão.”
Minhas mãos apertaram o volante, e as obriguei a afrouxar o aperto. Virei a direita no semáforo, suspirando uma vez que a escola – e com isso a fonte da minha última premonição – perderam-se de vista. E ainda com Sophie falando, transmitindo sua dor, completamente alheia a meu incômodo. “Pensei que havia desmaiado. Sabe, ela não comia o suficiente nem para manter um hamster vivo.” Eu não sabia, claro. Não me ocupo dos hábitos alimentares do grupo de dança. Mas se o apetite de Meredith era como o da minha prima – ou da minha tia – o que Sophie dizia era perfeitamente plausível. “Mas logo nos demos conta que não se movia. Nem sequer estava respirando.” – Sophie se deteve por um momento, e senti esse silêncio como o primeiro trago de ar depois de um mergulho. Eu não queria ouvir mais nada sobre a morte que havia sido incapaz de prevenir. Já me sentia o suficientemente culpada. Mas ela não tinha terminado. – “Peyton acredita que ela teve um ataque cardíaco. A senhora Rushung nos disse ano passado na aula de saúde que se o trabalho de seu corpo é muito duro e não lhe dá combustível corretamente, teu coração para de funcionar com o tempo. Assim.” Ela estalou os dedos e seu esmalte brilhou na luz do sol. – “Acredita que foi isso que aconteceu?” – Levei um momento para entender que sua pergunta não era retórica. Na verdade, estava pedindo minha opinião sobre algo, e sua pergunta não estava carregada de sarcasmo. “Não sei.” – Olhei pelo espelho retrovisor quando entrei em nossa rua, e não me surpreendeu ver o carro de tia Val atrás de nós. – “Talvez.” – Mas isso era uma mentira. Meredith Cole era a terceira adolescente a cair morta sem aviso prévio nos últimos três dias, e enquanto eu não estivesse disposta a dizer minhas suspeitas em voz alta – pelo menos não ainda – já não podia dizer a mim mesma que as mortes não estavam conectadas. A teoria de coincidência de Nash havia chocado contra um iceberg e afundava rapidamente. Deixei o carro no caminho da garagem, e tia Val dirigiu por nós até sua vaga. Sophie estava fora do carro antes que eu tivesse desligado o motor, e no momento que viu sua mãe, começou a chorar de novo, como se suas portas interiores não pudessem resistir aos olhos cheios de compaixão e um ombro para chorar. Tia Val conduziu sua chorosa filha pela garagem e depois pela cozinha. Fui atrás delas, levando a bolsa de Sophie e apertei o botão para a garagem fechar. Dentro de casa, deixei a bolsa em cima do balcão enquanto Sophie inalava, e entre soluços, soltava mais detalhes meio coerentes enquanto limpava primeiro suas bochechas e logo seu nariz já vermelho com lenços de uma caixa em cima do balcão. Mas tia Val não parecia muito interessada nos detalhes, que provavelmente já havia escutado da treinadora de dança. Enquanto eu me sentava a mesa com uma lata de
coca-cola e o desejo de silêncio, ela se ocupava em torno da cozinha, preparando chá quente e limpando o balcão, e só quando já não havia sobrado coisas para fazer, sentou-se em um banco ao lado de sua filha. Tia Val fez que Sophie bebesse o chá lentamente, até que os soluços desaceleraram e logo pararam. Mas ainda assim, Sophie não parava de falar. A morte de Meredith foi a primeira lança de tragédia que perfurou o mundo de contos de fada da minha prima, e ela não tinha idéia de como lidar com isso. Quando vinte minutos mais tarde ainda estava chorando e derramando catarro no chá já morno, tia Val desapareceu no banheiro e regressou com uma pequena caixa de pílulas que reconheci de imediato: pílulas zumbi que restaram da minha última visita ao Dr. Nelson, da unidade de saúde mental. Virei meu banco e arqueei as sobrancelhas a minha tia, mas ela apenas sorriu lamentavelmente, então encolheu os ombros. “A tranqüilizará e a ajudará a dormir. Ela precisa descansar.” Sim, mas ela precisava de sono natural, não o estado de coma induzido por esse estúpido sedativo. Não que qualquer uma delas me escutasse, mesmo que eu tivesse tentado oferecer minha opinião sobre o tema de esquecimento químico. Por um momento invejei a inocência da minha prima. Eu havia aprendido cedo sobre morte, e tão inconsolável como Sophie estava nesse momento, havia tido quinze anos para aproveitar seu envoltório de plástico, acolchoado, com cores alegres, a armadura de uma existência banhada em ouro, onde a escuridão não se atrevia a pisar. Sem importar o que passasse depois, ninguém podia tirar-lhe sua infância feliz. Tia Val olhou Sophie tragar apenas uma pequena pílula branca, logo encaminhou sua filha pelo corredor até seu quarto, onde o colchão rangeu com seu peso. Dez minutos mais tarde, o desagradável ronco foi o suficiente para não deixar dúvida em minha mente que minha prima havia herdado grande parte de sua mãe e pai. Enquanto minha tia colocava Sophie na cama, peguei uma segunda coca-cola de tio Brendon – a única coisa livre do reino de tia Val, livre de açúcar, sem gordura - e a levei para a sala de estar, onde dei uma olhada no canal de notícias local. Mas não havia noticiários as duas e meia da tarde. Teria que esperar a transmissão das cinco. Desliguei a televisão, e meus pensamentos vagavam até os Cole, a quem eu havia conhecido apenas uma vez, em uma competição de dança no ano passado. Meus olhos encheram de lágrimas enquanto imaginava a mãe de Meredith tentando explicar a seu outro filho que a irmã mais velha não voltaria para casa da escola. Nunca mais. Um som de cristal veio da cozinha, tirando-me momentaneamente da culpa e dor que estavam me afundando, girei no sofá para ver minha tia servindo chá quente em uma grande xícara. Franzi o cenho em confusão por um momento, talvez tia Val
precisasse de um sedativo? Até que ela ficou na ponta dos pés para abrir o armário superior. Onde ela e tio Brendon guardavam o álcool. Minha tia pegou uma garrafa e abriu. Logo colocou uma generosa quantidade em sua xícara. E deixou a garrafa em cima do balcão, claramente pensando em pegar mais um pouco depois. Tomou um gole de seu chá, depois voltou para a sala de estar com o controle remoto na mão. No momento que seu olhar cruzou com o meu, ficou imóvel e corou. “Não passou no noticiário ainda.” – Lhe disse, e não podia deixar de dar-me conta de quão cansados e pesados pareciam seus passos enquanto cruzava a sala de estar. Tia Val e a senhora Cole haviam sido amigas desde o colégio. Talvez a morte de Meredith tenha golpeado mais forte do que eu havia me dado conta. Ou talvez ela havia conectado a morte de Meredith a de Heidi Anderson – que eu saiba, ela ainda não tinha escutado falar de Alysson Baker – e havia começado a suspeitar que algo estava mal. Como eu. De qualquer maneira, sua pele estava pálida e suas mãos tremiam. Parecia tão frágil, que eu estava temerosa a acrescentar algo mais em seus problemas. Ainda assim, as premonições haviam ido muito longe. Eu precisava de ajuda, ou conselho, ou... alguma coisa. Qual era a vantagem de saber que alguém ia morrer se não podia evitar que isso acontecesse? Tia Val não sabia nada disso, mas tampouco alguém sabia. E na ausência dos meus pais, não tinha a ninguém mais com quem falar. Meus dedos enroscaram-se uns nos outros em meu colo enquanto ela afundava de cansaço no outro extremo do sofá, com os joelhos juntos e os tornozelos cruzados. As linhas de expressão ao redor de sua boca e o tremor em suas mãos diziam que não estava tranqüila como queria aparentar. Isso, e o cheiro que seu falso chá deixava na sala. A última vez que tentei dizer-lhe que eu sabia que alguém ia morrer, ela e tio Brendon haviam me levado diretamente ao hospital psiquiátrico e me deixaram ali. Claro, no momento, estava gritando histericamente no meio do shopping e tirando de perto qualquer um que tentava me tocar. Presumidamente, não haviam tido outra opção. Seguramente seria melhor dessa vez, porque eu estava tranqüila e racional, e não estava no meio de um ataque de gritos. E porque ela estava meio bêbada. Meus nervos estavam fora de controle, e busquei distraidamente o difusor de essências na mesa a minha esquerda, perfumando a sala com um pouco de baunilha e madeira fina. – “Tia Val?” Saltou, salpicando chá em seu colo. – “Sinto muito querida.” – Deixou sua xícara sobre um porta copos no final da mesa, e logo correu até a cozinha para limpar sua
calça com um pedaço de pano limpo e úmido. – “Esse assunto sobre Meredith me deixou com os nervos a flor da pele.” Eu sabia exatamente como se sentia. Exalando, respirei profundamente, enquanto minha tia voltava a sala, uma mancha molhada em sua calça. – “Sim, foi bastante... atemorizante.” “Ah, sim?” – Se deteve a vários pés do sofá, me olhando com uma mistura de preocupação e... suspeita? “Estava lá?” – Ela havia adivinhado o que eu ia dizer? Talvez Nash tivesse razão. Talvez eu devesse guardar meu segredo um pouco mais... Movi a cabeça lentamente, e meu olhar desviou-se novamente para o difusor de essências. – “Não, na realidade não vi.” – Exalou de alívio, e quase odiei arruinar isso com o resto do que eu tinha a dizer. – “Mas... sabe a garota que morreu no Taboo outro dia?” “Claro. Que triste.” – Ela voltou ao sofá e tomou um gole lentamente de seu [i]”chá”[/i], com os olhos fechados como se estivesse pensando. Ou talvez rezando. Logo tomou um gole maior e baixou sua xícara, com os olhos abertos e cautelosos. – “Kaylee, essa garota não tem nada a ver com o que aconteceu hoje. De acordo com o noticiário, estava bêbada, e pode ter sido alguma coisa mais forte que álcool.” Eu não tinha escutado essa parte, mas não tinha oportunidade de fazer perguntas, porque ela estava falando de novo. Tal mãe, tal filha. Minha tia fez um gesto com sua xícara enquanto falava, mas não derramou nada dessa vez. Já estava fazia. – “Sophie disse que Meredith caiu enquanto dançava. Essa pobre menina não comia quase nada e vivia de cafeína. Na verdade era só questão de tempo antes que seu corpo gritasse basta.” “Eu sei, e Sophie pode ter razão.” – Inclinei a tampinha da minha lata de coca cola, para frente e para trás, fazendo com cuidado para liberá-la de seu encaixe, apenas para não ver a compaixão e ceticismo que sem dúvida estava atrás de sua cautelosa compreensão. – “A forma que morreram pode não ter nada a ver com nada.” – Ainda que certamente tinha minhas dúvidas. – “Mas tia Val, acredito que sou a conexão entre elas.” “Que?” Olhei para cima bem a tempo de ver os olhos de minha tia cheios de confusão. Mas logo seu rosto realmente relaxou, suavizando as linhas de tensão, como se acabasse de averiguar o que estava falando, e foi um alívio.
Se o retorno de minhas ilusões a faziam sentir-se cômoda, que diabos ela esperava que eu dissesse? Sua expressão suavizou-se, e a familiar máscara protetora de lástima despertou meu orgulho. – “Kaylee, é sobre seus ataques de pânico?” – Ela inclinou-se e sussurrou essa última parte, como se temesse que alguém pudesse escutar. A raiva correu através de mim, como pequenos raios de luz; - “Não é uma piada, tia Val. E não estou louca. Soube que Meredith ia morrer antes que acontecesse.” Por um instante, menos de uma respiração – minha tia pareceu aterrorizada. Como se tivesse visto seu próprio fantasma. E então balançou a cabeça – literalmente sacudindo o medo de minha recaída – e colocando sua máscara de sempre. Tinha estado certa. Ela não ia me escutar. Nunca. “Kaylee, não faça isso de novo.” – Implorou, o cenho franzido gravava linhas profundas ao redor de sua boca enquanto levantava-se e levava sua xícara vazia para a cozinha. A segui, olhando-a com irritação. “Sei que está afetada por Meredith, mas isso não a trará de volta. Não é a maneira de lidar com sua dor.” “Isso não tem nada a ver com dor.” – Insisti com os dentes apertados, deixando cair minha lata cheia no lixo. Aterrizou com um ruído surdo, seguido do som do gás e a bebida esvaziando-se no plástico. Li a frustração no olhar de minha tia. O desespero com que segurava a chaleira. Provavelmente desejava poder me nocautear tão facilmente como havia sido com Sophie. E uma parte de mim sabia que falar com ela não faria mais bem do que teria feito se tivesse tentado advertir Meredith. Ainda assim, outra parte de mim negava-se a me render. Estava farta dos segredos e olhares patéticos. E definitivamente estava farta dos hospitais e pílulas brancas. Não ia deixar que ninguém me chamasse de louca. Nunca mais. Tia Val deve ter visto minha determinação, porque colocou a chaleira no fogão, logo apoiou-se no balcão, olhando-me. – “Pense em Sophie. Já está traumatizada. O que acha que faria com ela essa história egoísta onde você está tentando chamar atenção?” Minha mandíbula apertou-se, e as lágrimas queimaram detrás dos meus olhos. – “Que Sophie vá à merda!” – Bati com os punhos no balcão, e o golpe trouxe dor até meus braços, com uma onde de ira. Minha tia estremeceu, com as mãos apoiadas na cintura. – “Sinto muito.” – Eu disse, consciente que não parecia muito arrependida. – “Mas isso não é sobre ela. Estou tentando te dizer que tenho um problema sério, e nem sequer está escutando!”
Tia Val fechou os olhos e respirou fundo, como se estivesse praticando yoga. Ou buscando paciência. – “Todos sabemos que tem problemas, Kaylee.” – Disse quando seus olhos abriram-se, sua tranqüilidade e o tom de voz calmo me enfurecia. – “Fique calma e...” “Eu sabia, tia Val.” – Bati as mãos no balcão de novo e fiquei olhando o granito. Levantei meu olhar e me obriguei a dizer o resto. – “Eu sabia sobre a garota do Taboo também. Os olhos de minha tia fecharam-se drasticamente, mostrando dois conjuntos de pé de galinha, e sua voz baixou-se. – “Como poderia, ao menos que estivesse lá?” Encolhi os ombros e cruzei os braços. – “Eu escapei.” – Não estava a ponto de delatar Emma e sua irmã. – “Me castigue se quiser, mas isso não muda nada. Eu estive lá e vi Heidi Anderson. E sabia que ia morrer. Assim como eu sabia com Meredith.” Os olhos de tia Val voltaram a se fechar. Logo exalou profundamente e virou-se para me olhar. – “Está bem. Essa outra garota...” – Apesar de que ambas sabíamos que voltaríamos a conversar sobre esse assunto do clube mais tarde. – “Se sabia que Meredith ia morrer, porque não disse a ninguém?” Uma nova pontada de dor me fez estremecer, e deixei-me cair em um dos bancos acolchoados em frente a ela, com os braços cruzados sob o balcão. – “Eu tentei.” – As lágrimas chegaram a meus olhos, deixando embaçado o rosto de minha tia, e as sequei com a manga de minha camiseta antes que pudesse cair. – “Mas quando abri a boca, a única coisa que podia fazer era gritar. E aconteceu tão rápido. No momento que pude falar, já estava morta.” – Olhei para cima, buscando em seu rosto algum sinal de entendimento. Ou de credibilidade. Mas não havia nada reconhecível em sua expressão, e isso me assustou, quase tanto como escutar Meredith morrer. “Nem sequer estou certa de que dizer teria ajudado em algo.” – Disse, sentindo meu valor afundar. – “Mas te juro que tentei.” Tia Val foi para frente, pegou sua xícara e começou a tomar um gole, até que se deu conta de que não havia tomado nada. – “Kaylee, com certeza sabe como soa isso.” Assenti e baixei os olhos. – “Pareço louca.” – Eu sabia melhor que ninguém. Sacudiu a cabeça e se inclinou sobre o balcão buscando minha mão. – “Não louca querida. Delirante. Há uma diferença. Provavelmente só está alterada pelo que passou a Meredith, e teu cérebro inventa histórias que disfarcem a verdade. Eu entendo. Dá medo pensar que qualquer um em qualquer lugar pode cair morto sem aviso. Se pode acontecer com ela, pode acontecer com qualquer um de nós, certo?” Tirei minha mão da sua, e boquiaberta com minha tia diante sua incredulidade. O que precisaria para ela acreditar em mim?
A prova era bastante difícil de conseguir quando as premonições apenas chegavam com poucos minutos de antecedência. Saí do banco e retrocedi um passo, ansiosa para colocar mais espaço entre nós. – “Apenas conhecia Meredith. Não tenho medo porque acredito que possa acontecer comigo. Tenho medo porque sabia que ia acontecer com ela, e não pude deter.” – Aspirei profundamente, tentando respirar sem culpa e dor que ameaçava sufocar-me. – “Eu quase gostaria de estar ficando louca. Pelo menos então não me sentiria tão culpada por deixar que alguém morra. Mas não estou louca. Isso é real.” Durante vários segundos minha tia me olhou com uma expressão que mesclava confusão, alívio e piedade, como se não estivesse segura do que devia dizer. Suspirei, meus ombros caíram. – “Ainda não acredita em mim.” A expressão de minha tia suavizou-se, e sua postura murchou quase imperceptivelmente. – “Oh querida, acredito que você acredita no que está dizendo.” – Hesitou, e logo encolheu os ombros, mas o gesto parecia mais calculado que casual. – “Talvez devesse tomar um sedativo também. Te ajudará a dormir. Estou certa que tudo terá mais sentido quando acordar.” “Dormir não vai me ajudar.”- Soava áspera, mesmo para meus próprios ouvidos. – “Muito menos essas pílulas estúpidas.” – Agarrei a caixa de comprimidos onde ela havia deixado e joguei longe o mais forte que pude. O plástico da caixa rompeu e a tampa caiu, as pílulas brancas espalharam-se pelo chão. Tia Val saltou, logo me olhou como se eu tivesse acabado de romper seu coração. Quando ela se ajoelhou para limpar a desordem, corri pelo corredor e entrei em meu quarto, logo fechei a porta e me apoiei nela. Havia feito o melhor que podia com minha tia, tentaria de novo com tio Brendon quando ele chegasse em casa. Ou talvez não. Talvez Nash soubesse o que dizia quando disse para que eu não contasse a ninguém.
Capítulo 7 Por vários minutos, sentei-me quietamente no meu quarto, tão irritada, assustada e confusa. Não sabia se gritava, chorava, ou esmurrava alguma coisa. Tentei ler o romance que tinha na mesa de cabeceira para me distrair do desastre em que havia se tornado minha vida, e quando isso não funcionou, liguei a televisão. Mas nada na TV manteve minha atenção e todas as músicas do meu iPod só pareciam aumentar minha ansiedade e frustração. Minha mente estava tão caótica, meus pensamentos vinham muito rápido para poder entender, não importava o que fazia ou onde estava não podia escapar do barulho miserável dos pensamentos meio formados que davam voltas em minha cabeça. Estava começando a reconsiderar seriamente esse sedativo - desesperada por ficar longe de tudo quando o celular tocou em meu bolso. Outra mensagem de texto do Nash. - Você está bem? Bem. - Menti. E você? - Quase lhe disse que tinha razão. Que não deveria ter dito a minha tia. Mas isso era muita informação para colocar em uma mensagem de texto. Sim. Com Carter. - Respondeu. - Te ligarei mais tarde. Pensei em enviar uma mensagem para Emma, mas ela continuava de castigo, e conhecendo sua mãe, não havia possibilidade de diminuir a pena, mesmo depois de praticamente ver a uma colega cair morta. Frustrada e mentalmente exausta, finalmente adormeci no meio de um filme que realmente não estava vendo. Em menos de uma hora depois, de acordo com meu despertador, acordei e desliguei a televisão. E foi aí que percebi que eu quase havia dormindo durante algo importante. Ou pelo menos algo interessante. No repentino silêncio, ouvi meus tios discutindo ferozmente, mas muito baixo para entender do meu quarto que se encontrava na parte de trás da casa. Abri a porta do meu quarto, vários centímetros, prendendo minha respiração até que estive certa de que as dobradiças não rangessem. Então enfiei minha cabeça para fora pelo espaço e espiei pelo corredor. Eles estavam na cozinha, a fina sombra da minha tia movia-se para frente e para trás através da única parede visível. Então a ouvi sussurrar meu nome - inclusive mais baixo que o resto da discussão - e engoli pesadamente. Com certeza ela estava tentando convencer meu tio Brendon a me levar de volta para o hospital. Isso não ia acontecer. Agora irritada, abri mais a porta e deslizei pelo corredor. Se meu tio aceitasse, eu entraria e lhes diria que eu não iria. Ou talvez simplesmente entrasse no meu carro e sairia até que
eles voltassem a seus sentidos. Eu poderia ir para Emma. Não, espere. Ela estava de castigo. Então eu iria para Nash. Onde terminasse não importava, contanto que não fosse para o departamento de saúde mental. Aproximei-me pelo corredor, agradecida por minhas silenciosas meias e pelo piso de ladrilho que não rangia. Mas congelei a alguns metros da porta da cozinha, quando meu tio falou, suas palavras continuavam suaves, mas agora eram perfeitamente audíveis. "Você está exagerando, Valerie. Ela superou antes e o fará novamente desta vez. Não vejo razão para perturbá-lo enquanto está trabalhando." Embora apreciasse que meu tio me defendesse, mesmo que ele não acreditasse na minha premonição, eu realmente duvidava que o Dr. Nelson se considerasse "perturbado" por um telefonema sobre um paciente. Sem levar em conta que provavelmente o estavam pagando. "Eu não sei que outra coisa fazer." - Suspirou tia Val, e uma cadeira raspou o chão, enquanto a sombra de meu tio se levantava. - "Ela realmente está muito chateada, e acho que irá piorar. Ela sabe que algo está acontecendo. Tentei fazer com que tomasse um sedativo, mas ela quebrou o frasco na geladeira." Tio Brendon riu, agora do outro lado da cozinha. - "Ela sabe que não precisa dessas malditas pílulas." Yeah! Estava começando a me perguntar se meu tio usava uma cota de correntes sob sua roupa, porque ele parecia ansioso para matar o ceticismo do Dragão. E eu estava pronta a entrar em batalha com ele... "Claro que não precisava." - Tia Val admitiu cansada, e sua sombra cruzou os braços sobre o peito. - "As pílulas são uma solução temporária. - como meter seu dedo na rachadura de uma barragem - o que ela realmente precisa é de seu irmão, e se você não vai chamá-lo eu vou." Meu pai? Tia Val queria que ele chamasse a meu pai? Não ao Dr. Nelson? Meu tio suspirou. - "Odeio ter que começar isso agora, se possivelmente podemos deixá-lo por mais algum tempo." - A porta da geladeira rangeu quando foi aberta, e uma lata de refrigerante saiu de lá, em seguida, soou ao ser aberta. - "É apenas uma coincidência que isso tenha acontecido por duas vezes em uma semana. Pode não acontecer outra vez em um ano ou mais." Tia Val bufou exasperada. - "Brendon você não a viu. Não a ouviu. Ela acha que está ficando louca. Ela já está vivendo em tempo emprestado e não deveria ter que passar o tempo que lhe resta pensando que esta louca."
Tempo emprestado? Um choque me atravessou, estabelecendo-se, finalmente, em meu coração, que parecia relutante em bater novamente por um momento. O que significava isso? Estava doente? Morrendo? Como puderam não haver me dito? E como poderia estar morrendo se eu me sentia bem? Exceto por saber quando outras pessoas iam morrer... E se isso era verdade, eu não saberia que ia morrer? Tio Brendon bufou, e uma cadeira raspou no chão novamente, então gemeu quando ele sentou nela. - "Ok, chame-o se quiser. Provavelmente está certa. É só que eu realmente esperava que ainda tivéssemos mais um ano ou dois, pelo menos até que ela terminasse o ensino médio." "Isso nunca foi uma certeza." - A silhueta de minha tia na parede alargou-se enquanto se aproximava, e eu me movi para meu quarto, minha coluna ainda pressionada contra a parede fria. Mas então ela parou e sua sombra virou-se. - "Onde está o número?" "Aqui, use meu telefone. É o segundo na lista de contatos." A sombra da minha tia alargou-se enquanto se afastava, provavelmente para pegar o telefone do meu tio. - "Tem certeza que não quer ligar você mesmo?" "Certeza" Outra cadeira raspou o piso enquanto minha tia sentava-se, e sua sombra tornava-se uma bola disforme na parede. Uma série de altos bips me disse que já estava pressionando os botões. Um momento depois ela falou, e prendi minha respiração, desesperada por ouvir cada palavra do que seja que tinham estado me escondendo. "Aiden? É a Valerie." - Fez uma pausa, mas não pude ouvir a resposta do meu pai. - "Nós estamos bem, Brendon esta bem aqui. Ouça, estou chamando por causa de Kaylee," Outra pausa, e desta vez eu ouvi um som baixo indistinguível, apenas reconhecível como a voz de meu pai. Tia Val suspirou de novo e sua sombra se moveu quando se remexeu na cadeira. - "Eu sei, mas está acontecendo de novo." - Pausa. - "Claro que tenho certeza. Duas vezes nos últimos três dias. Ela não nos disse da primeira vez, ou eu teria te ligado antes. Não sei como conseguiu manter silencio sobre o assunto." Meu pai disse algo mais que não pude entender. "Eu fiz, mas ela não quis tomar, e eu não vou forçá-la. Acho que temos ido além de pílulas, Aiden. É hora de dizer-lhe a verdade. Você deve isso a ela." Devia-me? Claro que ele me devia a verdade, seja lá o que era. Todos me deviam isto.
"Sim, mas eu realmente acho que deveria vir de seu pai." - Ela parecia irritada agora. Meu pai falou novamente e desta vez soou como se estivesse discutindo. Mas eu poderia ter-lhe dito o quão inútil era discutir com tia Val. Depois que ela tinha feito a sua idéia, nada poderia fazê-la mudar de opinião. "Aiden Cavanaugh, coloque sua bunda em um avião hoje mesmo, ou eu vou te mandar sua filha, ela merece a verdade, e você vai lhe dar de um jeito ou de outro."
*** De volta em meu quarto, surpresa, confusa, e mais que um pouco orgulhosa da minha tia. Seja lá o que seja essa verdade misteriosa, ela queria que eu soubesse. E não achava que eu estava enlouquecendo. Nenhum deles acreditava nisso. Embora aparentemente pensassem que eu estava morrendo. Creio que preferiria estar louca. Eu nunca antes tinha pensado realmente em minha morte, mas teria pensado que a própria idéia me deixaria muito assustada para funcionar. Especialmente tendo quase testemunhado a morte de outra pessoa, poucas horas antes. Em vez disso, me encontrei mais insensível do que apavorada. Havia um medo significativo crescendo dentro de mim, apertando minha garganta e fazendo com que meu coração batesse quase audivelmente dentro do meu peito. Mas era um medo muito distante, como se não pudesse compreender exatamente o conceito de minha própria morte. Ou de simplesmente não existir um dia. Talvez as notícias não tivessem se fundido dentro de mim ainda. Ou talvez não acredite nisso realmente. Enfim, precisava desesperadamente falar sobre isso com alguém que não estivesse ocupado escondendo-me segredos vitais. Então, mandei uma mensagem para Emma, no caso de sua mãe ter tirado a proibição de celulares. A Sra. Marshall respondeu-me alguns minutos depois, dizendo-me que Emma ainda estava de castigo, mas que me seria no dia seguinte para assistir ao funeral de Meredith, se eu pretendia ir. Respondi-lhe para dizer que estaria lá, então deixei cair meu telefone na cama com desgosto. O que tinha de bom na tecnologia se seus amigos estão sempre separados dela por estarem de castigo? Ou passeando com colegas de equipe? Por falta de coisa melhor para fazer, liguei a TV novamente, mas não consegui me concentrar, porque o que acabará de ouvir continuava dentro da minha cabeça. Analisei cada palavra, tentando entender o que eu não tinha notado. O que eles estavam me escondendo.
Estava doente. Até ali estava claro. O que mais poderia significar "vivendo em tempo emprestado?" Então, o que era isso? Que tipo de doença estranha "teria premonições de morte" como primeiro sintoma, e a própria morte como resultado eventual? Nada. a menos que ainda estivéssemos considerando demência adolescente. O que não fazíamos, com base no fato de que eles não pensavam que eu precisava de pílulas zumbi. Então, que tipo de doença poderia fazer-me pensar que estava louca? Ignorando a televisão, escorreguei na cadeira da minha escrivaninha e liguei o computador que meu pai me havia dado em meu último aniversário. Cada segundo que levou para carregar enviou ondas de excitação através de mim, reforçando minha inquietude, até que o medo que tinha esperado antes finalmente começava a enraizar-se a sério. Vou morrer. Só em pensar nas palavras, enviou sinais de terror que deslizaram através de mim. Não podia sentar-me tranqüila, até mesmo pelos poucos minutos que levou para o Windows carregar. Quando minhas pernas começaram a tremer por causa do nervoso, fiquei de pé, diante do meu guarda roupa para me olhar no espelho. Certamente, se estivesse prestes a bater as botas, o saberia no momento que me olhei no espelho. É assim que parece funcionar quando outras pessoas vão morrer. Mas não senti nada quando olhei meu reflexo, exceto pelo habitual desconforto, de que ao contrário de minha prima, minha pele era pálida, e minhas características completamente irrelevantes. Talvez não funcionasse com reflexos. Nunca havia visto Heide no espelho e muito menos Meredith. Prendendo a respiração, e quase não resistindo a necessidade absurda de cruzar meus dedos, olhei para baixo, para eu mesma, insegura, se estava mais assustada de sentir a necessidade de gritar ou de não senti-la. Novamente, não senti nada. Isto significava que depois de tudo eu não estava morrendo, ou que meu dom macabro não funcionava comigo? Ou, simplesmente, que minha morte ainda não era iminente? Aaaaarrrrgggghhh. Isso não tinha sentido. Meu computador soou para dizer-me que estava ligado e funcionando, e deixei-me cair em minha cadeira novamente. Abri meu navegador de internet e escrevi, Principal causa de morte entre os adolescentes na pesquisa. Meu peito apertado e doendo com antecipação mórbida. A primeira informação continha uma lista das dez principais causas de morte em pessoas entre quinze e dezenove anos de idade. Acidentes fortuitos, homicídios e suicídio eram os três primeiros. Mas não tinha planos de acabar com a minha vida, e os acidentes não podiam ser previstos. Nem poderia ser por assassinato, a menos que meus tios estivessem planejando fazê-lo eles mesmos.
Mais abaixo na lista, havia diferentes entradas igualmente aterrorizantes, tais como ataque cardíaco, infecções respiratórias e diabetes, entre outras. Enfim, todos eles incluíam sintomas que eu não poderia ter passado nem por alto. Isso deixou apenas a quarta causa de morte em pessoas da minha idade: Neoplasia maligna7. Tive que olhar esse. A descrição de um independente, respeitado site médico era densa e quase impossível de compreender, mas a definição mais abaixo era muito claro para ser confortável. Neoplasia maligna era a palavra do médico para câncer. Câncer. E de repente cada esperança, cada sonho que havia tido, parecia ser uma possibilidade muito frágil para sobreviver. Tinha um tumor. Que outra coisa poderia ser? E tinha que ser câncer no cérebro, para afetar as coisas que sentia e que sabia, certo? Ou as coisas que pensei que sabia. Isto queria dizer que as premonições não eram reais? Estava o tumor cerebral me provocando alucinações? Uma espécie de alucinação sensorial? Tinha imaginado ao prever as mortes de Heidi e Meredith, depois que ocorreram? Não. Isso não podia ser: Eu me recusava a acreditar que uma mera doença - fora a de Alzheimer - pudesse reescrever minhas memórias. Flutuando na afiada, quente borda de pânico, voltei para a busca e digitei: sintomas de tumor cerebral. A primeira citação era um s de site de oncologia, e dava uma lista de sete tipos de tumor cerebral com os principais sintomas para cada um. Mas não tinha nenhum deles. Não para náuseas, convulsões ou perda de audição. Não tinha impedimentos ao falar ou na função motora nem transtornos especiais. Não estava enjoada, nem tinha dores de cabeça, e não tinha nenhuma fraqueza muscular. Eu não tinha incontinência, graças a Deus. Nem tinha sangramento inesperado ou inchaço, nem qualquer alteração de julgamento. Certo, alguém poderia dizer que esconder-se em uma boate era um sinal de deterioração do juízo, mas eu tinha certeza absoluta de que minha capacidade de tomar decisões estava no lugar para alguém da minha idade, e bem à frente do juízo de outros, como certas primas mimadas – favorecidas por purgantes, - que deveriam permanecer sem nome.
7
Neoplasia é o termo que designa alterações celulares que acarretam um crescimento exagerado destas células, ou seja, proliferação celular anormal, sem controle e autonomia, na qual reduzem ou perdem a capacidade de se diferenciar, em conseqüência de mudanças nos genes que regulam o crescimento e a diferenciação celulares. A neoplasia pode ser maligna ou benigna.
Estava tentada a descartar o câncer do cérebro, baseando-me apenas nos sintomas, até que vi a seção de tumores do lobo temporal. De acordo com o site, enquanto que a "neoplasia" de lobo temporal normalmente alterava a fala e causava convulsões, eram também, muitas vezes, sintomáticos. Como eu. Era isso. Eu tinha um tumor no lóbulo temporal. Mas se era isso, como meus tios sabiam? Há quanto tempo eles sabiam? E o mais importante, quanto tempo eu teria? Meus dedos moveram-se pelas teclas, e uma palavra sem sentido apareceu na barra de endereços. Empurrei minha cadeira para trás e fechei meu computador sem me preocupar em desligá-lo. Tinha que falar com alguém. Agora. Puxei a cadeira para o lado e subi na cama sobre minhas mãos e joelhos, peguei o telefone na cabeceira. Na ponta da cama, deitou-me e puxei meus joelhos até meu peito. Meus olhos molhados enquanto procurava entre meus contatos o número de Nash. Estava limpando as lágrimas do meu rosto com minhas mangas quando ele atendeu. "Alo?" - Parecia distraído, e, no fundo, ouvi sons de combates e, então sujeitos gemendo. "Oi, sou eu." - Respirei pelo nariz para evitar que meu nariz escorresse. "Kaylee?" - Vibrou o móvel quando sentou - agora tinha sua atenção. - "O que aconteceu?" Mudou para um sussurro urgente. - "Aconteceu outra vez?" "Não, hum... Você ainda está na casa do Scott?" "Sim. Espera." - Algo roçou contra o telefone, e mal ouviu Nash dizer. - "Aqui, homem, toma meu lugar." - Então, soaram passos e o ruído de fundo se tornou progressivamente mais suave, até que se ouviu a porta fechar, e o ruído parou completamente. - "O que aconteceu?" Hesitei, rolando sobre meu estômago na cama. Ele não tinha assinado para este tipo de drama. Mas não tinha saído fugindo com as previsões da morte, e eu tinha que falar com alguém e era Nash ou a mãe de Emma. - "Ok, isto vai parecer estúpido, mas não sei que outra coisa pensar. Ouvi meus tios discutindo, e então minha tia chamou meu pai." Engoli um soluço e limpei mais lágrimas do meu rosto. - "Nash... Acho que estou morrendo." Houve um silêncio na linha, e então veio o som de um motor de carro que passou por ele. Ele devia estar no jardim de Scott. - "Espere, não entendo, porque você acha que está morrendo?" Dobrei meu travesseiro de penas pela metade e me deitei com uma bochecha sobre ele, apreciando a frieza contra meu rosto vermelho pelas lágrimas. - "Meu tio disse que achava que eu teria mais tempo, então minha tia disse ao meu pai que ele precisava me dizer a verdade, para que eu não pensasse que estava louca. Acho que é um tumor cerebral."
"Kaylee, você está somando dois e dois, e aparecendo com sete. Você tem que ter perdido alguma coisa." - Fez uma pausa e pegadas soaram no cimento como se ele estivesse na calçada. - "O que eles disseram, exatamente?" Sentei-me e obriguei a mim mesma a respirar devagar, tentando me acalmar. As palavras não estavam saindo corretamente. Não havia duvida de que ele não tinha nem idéia do que eu estava falando. - "Hum... Tia Val disse que eu estava vivendo em tempo emprestado, e que não deveria ter que gastar nada dele pensando que estava louca. Disse ao meu pai que era hora de me dizer a verdade." - Levantei-me e me encontrei passeando nervosa para frente e para trás sobre meu tapete roxo. - "Isso significa que eu estou morrendo, certo? E ela quer que me contem?" "Bem, obviamente eles tem algo importante a lhe dizer, mas sinceramente, duvido que você tenha um tumor cerebral. Você não deveria ter alguns sintomas, ou algo se está doente?" Deixei-me cair em minha cadeira novamente, e movi meu dedo sobre o mouse para ativar o monitor. - "Pesquisei e..." "Você já pesquisou tumores cerebrais? Esta tarde?" - Nash hesitou, e os passos pararam. - "Kaylee, isto é por causa de Meredith? "Não!" - Empurrei a mesa com tanta força que a cadeira rolou até acertar o lado da cama. - "Eu não sou uma hipocondríaca! Eu só estou tentando descobrir por que isso está acontecendo comigo, e nada mais faz sentido." - Frustrada, passei a mão sobre o rosto e forcei-me a respirar profundamente. - "Eles não pensam que estou louca, então não é psicológico." - E meu alívio ao ter certeza de que isso era tão grande para engolir o Oceano Pacífico. - "Então tem que ser físico." "E você acha que é um tumor cerebral." "Eu não sei que outra coisa pensar. Existe um tipo de câncer no cérebro que algumas vezes não tem nenhum sintoma. Talvez eu tenha esse tipo." "Espere..." - Ele fez uma pausa e o som do vento assobiou baixo na linha. - "Pensa que você tem um tumor, porque não tem sintomas?" Certo, continuava sem ter nenhum sentido. Fechei os olhos e deixei cair minha cabeça contra o encosto da cadeira. - "Ou talvez os pressentimentos sejam meus sintomas. Algum tipo de alucinação." Nash riu. - "Você não está alucinando, Kaylee. Não a menos que Emma e eu também tenhamos tumores. Nós dois te vimos prever duas mortes, e vimos enquanto acontecia uma delas. Você não estava imaginando isso." Sentei-me direito na cadeira, e desta vez minha longa expiração foi de alívio. - "Estava realmente esperando que dissesse isso." - Isso ajudou - ainda que seja um pouquinho – o saber que eu estava morrendo e que, pelo menos, iria com a minha mente intacta.
"Estou feliz que tenha conseguido ajudar." - Pude ouvir o sorriso em sua voz, o que provocou uma resposta em mim. Virei-me na minha cadeira, descansando os pés na minha mesinha de cabeceira. - "Ok, talvez esteja tendo premonições por culpa de um tumor. Como se estivesse ativando uma parte do meu cérebro que a maioria das pessoas não pode acessar. Como John Travolta nesse velho filme." "Os embalos de sábado à noite?" "Não tão velho." - Meu sorriso cresceu um pouco, apesar de que deveria ser uma conversa muito séria. Amava quando Nash facilmente me acalmava, inclusive através do telefone. Sua voz era hipnótica, como uma espécie de tranqüilizante auditivo. Um em que eu poderia facilmente ficar agarrada. - "No que pode mover coisas com sua mente e aprender todas as línguas, lendo um livro. E tudo acaba sendo porque ele tem um tumor no cérebro e está morrendo." "Acho que não vi esse." "Ele recebe todos os tipos de habilidades estranhas, e depois morre. É trágico, eu não quero ser algo trágico, Nash. Quero estar viva." - E de repente as lágrimas estavam de volta, não pude evitar, tinha tido mais que o suficiente de morte nos últimos dias, sem acrescentar a minha na lista. "Certo, você vai ter que confiar em mim nisto, Kaylee." - Os passos voltaram, e uma porta foi fechada, cortando o som do vento ao fundo da ligação. Então sua voz ficou mais suave. - "Suas premonições não vêm de um tumor cerebral. Seja qual for o que seus tios têm a lhe dizer, não é isso." "Como você sabe?" - Retirei a umidade dos meus olhos com uma piscadela, irritada com o quão emocional eu estava ficando. Não era este outro sintoma do meu tumor cerebral? Nash suspirou, mas parecia mais preocupado do que exasperado. - "Tenho que te dizer uma coisa. Te pego em dez minutos."
Capítulo 8 Sete minutos mais tarde, sentei no sofá da sala com as chaves no bolso, meu celular no colo e minhas unhas raspando na tapeçaria de cetim. Estava sentada de forma que tinha na minha frente tanto a televisão no mudo - mas sintonizada no canal de notícias locais – como a janela da frente, torcendo para que ninguém se desse conta que estava esperando companhia. Com ninguém queria dizer meus tios. Sophie ainda estava fora de combate e eu começava a me perguntar quantas pílulas sua mãe havia te dado. Tia Val estava na cozinha, mexendo em potes, panelas e porta dos armários enquanto fazia espaguete, sua comida favorita para sentir-se melhor. Normalmente não ingeria tanto carboidrato em uma só comida, mas era óbvio que estava tendo um mau dia. Um muito mau dia, se o cheiro de pão de alho era alguma indicação. “Ei, Kay-ursa, como vai?” Olhei meu tio apoiado na coluna de gesso que separava a cozinha da sala. Não havia me chamado assim em quase uma década e o fato de estar usando meu apelido provavelmente significava que pensava que eu estava... frágil. “Não estou louca.” – Mirei seus claros olhos verdes, desafiando-o a negar. Ele sorriu, as linhas que formaram em seu rosto de alguma maneira fizeram com que ele parecesse ainda mais jovem. – “Nunca disse que você estava.” Funguei e dei uma olhada com raiva para a cozinha, onde tia Val estava mexendo o macarrão em uma panela grande. – “Ela acredita que estou.” – Agora eu sabia que não era assim, claro, mas não estava disposta a deixar que soubessem que eu havia escutado a conversa deles. Tio Brendon balançou a cabeça e cruzou a sala até mim, com os braços cruzados por cima da camiseta que havia colocado após o trabalho. – “Ela só está preocupada com você. Nós dois estamos.” Ele se sentou na poltrona florida de frente para mim. Sempre se sentava ali ao invés do sofá branco, com a esperança de que se derramasse alguma coisa tia Val não se daria conta tão cedo. “Porque ela não se preocupa com Sophie?” “Se preocupa.” – Fez uma pausa e parecia considerar a resposta. – “Mas Sophie... é resistente. Ela estará bem depois de ter a oportunidade de lamentar o que aconteceu.” “E eu não?”
Meu tio levantou uma sobrancelha. – “Val disse que você apenas conhecia Meredith Cole.” – E fácil assim deixou de lado a verdadeira pergunta – a de meu futuro bem estar. E nós dois sabíamos disso. Antes que eu pudesse responder – e eu não tinha pressa nenhuma – ouvi barulho de motor do lado de fora e olhei através da janela para ver um desconhecido conversível azul estacionar ao lado do meu carro, brilhando com o sol da tarde. Atrás do volante estava um rosto familiar, cheio de um cabelo castanho igualmente familiar. Levantei, colocando meu celular no bolso. “Quem é?” – Tio Brendon virou-se para olhar pela janela. “Um amigo. Tenho que ir.” Ele levantou-se, mas eu já estava quase do outro lado da sala. – “Val está fazendo o jantar!” – Gritou atrás de mim. “Não tenho fome.” – Na verdade, estava morrendo de fome, mas tinha que sair de casa. Não podia comer o espaguete como se fosse qualquer outra noite. Não sabendo que minha família tinha estado mentindo durante quem sabe quanto tempo. “Kaylee, volta aqui!” – Gritou tio Brendon, me seguindo pela entrada principal até a varanda. Raras vezes tinha o ouvido levantar a voz, e nunca tinha ouvido-o gritar assim. Comecei a correr até que deslizei no assento do passageiro, logo fechei a porta e coloquei o cinto de segurança. “É seu tio?” – Perguntou Nash. – “Talvez eu devesse conhecê-lo...” “Vamos!” – Gritei, mais alto do que pretendia. – “Te apresentarei mais tarde.” – Supondo que vivesse tanto tempo. Nash deu ré até sair da calçada, olhando para trás pela janela traseira. A medida que se afastava de casa, dei uma última olhada a meu tio, que nos olhava fixamente da calçada, com seus grossos braços cruzados sobre o peito. Atrás dele, tia Val estava na varanda com um pano de prato na mão e sua boca perfeita aberta de surpresa. Quando virou a esquina, afundei no assento do carro, só então me dando conta de quão elegante era. “Por favor, me diz que não veio me buscar em um carro roubado.”
Nash riu e olhou-me sorrindo, meu pulso acelerou enquanto nosso olhar se encontrava, apesar das circunstâncias. – “É de Carter. Me emprestou até meianoite.” “Porque Scott Carter te emprestaria seu carro?” Encolheu os ombros. – “É meu amigo.” Apenas pisquei. Deixando sua questionável eleição de amigos de lado. Emma era minha melhor amiga, e eu nunca a deixaria pegar meu carro emprestado. E eu não dirigia um maravilhoso carro novo. Nash sorriu ao me ver não muito convencida, e seu próximo olhar demorou mais do que o necessário na minha boca. – “Eu posso ter tido a impressão de que... hm... você precisava de muito consolo.” Meu coração saltou até minha garganta. – “E você acredita que está a altura do desafio?” – Flertar deveria ser estranho, tendo em conta o dia que eu tinha tido. Mas ao invés disso, me fez sentir viva, especialmente com a possibilidade de minha própria morte como uma nuvem negra, projetando sua maligna sombra sobre minha vida. Sobre ela toda, menos em Nash e a forma que me sentia quando ele me olhava. Quando me tocava... Nash encolheu os ombros outra vez. – “Carter se ofereceu para te buscar ele mesmo...” Claro que havia se oferecido. Porque é o melhor amigo de Nash, e o namorado de Sophie. E minha prima tinha realmente mau gosto com os garotos. Exatamente, como parece, que Nash também tinha. – “Porque anda com ele?” “Somos colegas de time.” Ahhhh. E se o sangue é mais denso que a água, então o futebol, evidentemente, se levava nas veias. “E isso os faz amigos?” – Virei um pouco para dar uma olhada no banco de trás, que apesar de estar vazio cheirava a couro. E o perfume de Sophie. Nash franziu o cenho, como se não entendesse qual era meu ponto. Ou como se quisesse mudar de assunto. – “Temos coisas em comum. Ele sabe como passar bem o tempo. E vai atrás do que quer.” Muito bem, essa podia ser a descrição do cachorro do meu pai. Assim como eu quando respondi. – “Sim, mas uma vez que consegue, quererá outra coisa.” Nash apertou as mãos no volante e me olhou com seus olhos cheios de decepção. – “É isso que pensa que estou fazendo?”
Encolhi os ombros. – “Teu recorde meio que fala por você.” – E por que outro motivo me agüentaria tanto? Porque um cara como Nash Hudson ficaria durante loucas premonições de morte e um possível tumor cerebral se não quisesse nada? Ou mesmo se quisesse algo. Poderia ter gastado menos esforço com outras coisas se tivesse ido embora. “Isso não é assim, Kaylee.” – Insistiu, e não estava segura de querer saber o que [i]‟isso‟[/i] significava. – “Quero dizer, nós somos diferentes.” – E enquanto falava me olhou, mas não entendi o que queria dizer. “O que isso significa?” Ele suspirou, e suas mãos relaxaram ao redor do volante. – “Está com fome?” *** Meia hora mais tarde estávamos sentados no carro de Scott Carter com os assentos dianteiros inclinados para trás. Eu estava tomando refrigerante e Nash estava na metade de uma combinação de queijo, presunto, salsicha e algumas carnes que eu não conhecia. Mas cheirava bem. Eu já havia deixado cair mostarda e vinagre do carro. Nash apenas riu e me ajudou a limpar tudo. Se estava morrendo, havia decidido comer pelo menos uma vez por dia com Nash. Falar com ele fazia-me sentir bem, mesmo quando todo o restante da minha vida estava caindo em pedaços. Dei uma grande mordida no meu hambúrguer, logo tomei um gole do meu refrigerante para ajudar a engolir. “Prometa-me que se eu tiver mesmo um tumor cerebral, levará sanduiches para mim no hospital.” Olhou-me com severidade, tirando o papel de seu sanduiche. – “Não tem câncer Kaylee. Ou ao menos, essa não é a razão para estar tendo premonições.” “Como sabe?” – Mordi outro pedaço de meu hambúrguer, mastigando enquanto esperava uma resposta que ele parecia relutante em dar-me. Finalmente depois de três mordidas e duas tentativas, Nash envolveu o resto de seu sanduiche e jogou dentro da sacola, logo respirou fundo e me olhou nos olhos. Seu rosto estava franzido, como se estivesse nervoso, mas seu olhar manteve-se estável. Forte. “Tenho que te dizer algo e não vai acreditar em mim. Mas eu posso provar. Então, não se assuste, ok? Ao menos até que tenha escutado tudo.”
Engoli o que estava mastigando, logo envolvi o resto do meu hambúrguer e o coloquei em meu colo. Isso não soava como o tipo de notícias que deveria receber com comida na boca. Não a menos que quisesse morrer mais cedo do que eu pensava, com um pedaço de pão preso na minha garganta. – “Okaaaaaay. Seja o que for, não pode ser pior que um tumor no cérebro, certo?” “Exatamente.” – Passou os dedos por seu cabelo deliberadamente desordenado e logo buscou meu olhar com uma intensidade assustadora. – “Você não é humana.” “Que?” – A confusão era um ruído silencioso em minha cabeça, onde eu havia esperado um rugido de medo ou mesmo raiva. Havia me preparado para escutar algo estranho. Estava intimamente familiarizada com o estranho. Mas não tinha nem idéia do que dizer sobre não é humana. “Pode ser que teus tios não saibam, ou não querem que você saiba por alguma razão, e foi por isso que não te disse antes. Mas está me matando todo esse assunto de tumor cerebral.” – Ele estava me olhando cuidadosamente, provavelmente julgando em minha expressão o quão perto eu estava de sair correndo. E honestamente, se eu tivesse alguma idéia do que ele estava falando, pode ser que eu não estaria tão longe de realmente fugir. “Acredito que se eles soubessem que você acha que está morrendo, teriam te dito a verdade.” – Continuou. – “Parece que dirão logo de qualquer maneira, mas não quero que pense que eu também estava mentindo.” – Covinhas apareceram quando sorriu. – “Ou que você tem câncer.” Por um momento apenas pude olhá-lo, pasma e vazia com as palavras que não continham nenhuma informação real. E tenho que admitir que durante alguns segundos me perguntei se talvez não fosse ele que precisava de uma camisa de força. Mas ele havia acreditado quando lhe contei sobre Heidi, mesmo parecendo loucura, e havia me acalmado durante as duas premonições. O mínimo que eu podia fazer era escutá-lo. “O que eu sou?” – A pergunta – e minha disposição em perguntá-la – fizeram com que meu coração batesse tão forte e rápido que senti como se o carro desse voltas. Meus braços estavam cobertos de calafrios. A luz do entardecer criava sombras em nós. Mas seus olhos nunca deixaram os meus. – “É uma Bean Sidhe8, Kaylee. As premonições de morte são normais. É parte do que você é.” Outro momento de silêncio a que me agarrei – uma breve pausa da loucura que cada palavra parecia trazer. Logo me obriguei a fazer uma pergunta pertinente, lutando para que minha mandíbula obedecesse. – “Desculpe, uma o que?”
8
Fada. Mais sobre a lenda aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Banshee.
Ele sorriu e passou a mão em sua barba por fazer. – “Eu sei, essa é a parte onde começa a acreditar que sou eu que está louco.” De fato... “Mas juro que é a verdade. Você é uma Bean Sidhe. E também são seus pai. Ou pelo menos um deles.” Sacudi a cabeça e tirei o cabelo do meu rosto, tratando de dispersar a confusão e dar sentido ao que ele havia me dito. – “Banshee?” Como na mitologia?” – Havíamos estudado mitologia na aula de inglês ano passado, mas foi em sua maioria sobre coisas gregas e romanas. Deuses, deusas, semideuses e monstros. “Sim. Só que é real.” – Ele bebeu um gole de sua coca, logo a devolveu a seu lugar. – “Há coisas que não te ensinam na escola. Coisas que nem sequer conhecem, porque pensam que são apenas um punhado de velhas histórias.” “E você está dizendo que não é assim?” – Me encontrei movendo-me para mais perto da porta até que me encostei nela, tentando colocar um pouco de espaço entre eu e o único garoto do mundo que me fazia parecer normal. “Não. Kaylee, é o que é.” – Ele me olhava fixamente, cheio de expectativa, e ainda que eu quisesse negar tudo, não podia. Mesmo se Nash estava perto de ser como os outros, havia algo nele. Algo irresistível além de seus braços esculpidos, charmosos olhos e covinhas adoráveis. Ele me fazia sentir... completa. Relaxada. Como se tudo fosse ficar bem de uma forma ou de outra. O que era uma grande façanha, tendo em conta que afirmava que eu não estava qualificada para estar na raça humana. “Pense
nisso.”
–
Insistiu.
–
“O
que
sabe
das
Bean
Sidhe?”
Encolhi os ombros. – “São mulheres com vestidos cheios de franjas que caminham pelos funerais chorando pelos mortos. As vezes choram perto dos que estão moribundos anunciando que seu final está próximo.” – Bebi um gole do meu refrigerante, e depois gesticulei com o copo na mão. – “Mas Nash, as Banshees são apenas história. Velhas lendas.” Ele assentiu com a cabeça. – “A maior parte delas sim. Para começar, eles pronunciam errado. Em gaélico é B-E-A-N S-I-D-H-E. Duas palavras. Literalmente significa a mulher entre as fadas.” Ergui as sobrancelhas até quase a metade da minha testa. – “Espera, acredita que sou uma fada? Como as que tem asas brilhantes e varinhas mágicas?” Nash franziu o cenho. – “Isso não é a Disney, Kaylee. Fada é um termo muito amplo. Basicamente significa algo que não é humano. E esqueça dos vestidos e isso de seguir funerais. Tudo isso saiu de moda faz tempo. Mas o resto? Mulheres com premonições de morte? Parece familiar para você?”
Bom, havia uma ligeira similaridade com minhas premonições, mas... – “Não existem coisas como as Bean Sidhe, não importa o que você acredita.” “E também não há premonições, certo?” – Seus olhos brilhavam na penumbra da tarde quando sorriu, negando-se a se frustrar com meu cinismo. – “Está bem, vejamos quanto disso posso acertar. Teu pai... ele parece realmente muito jovem, não é? Jovem demais para ter uma filha de dezesseis anos? Teu tio também. São irmãos, não é?” Nada impressionada, rodei os olhos e dobrei uma perna debaixo de mim no estreito assento do carro. – “Viu meu tio há uma hora, sabe que é jovem. E eu não tenho visto meu pai há um ano e meio.” – Ainda que desde pequena, sempre me pareceu que era bastante jovem e bonito. Mas isso faz muito tempo... “Sei que teu tio parece jovem, mas isso não significa nada para um Bean Sidhe. Ele poderia ter cem.” Dessa vez ri. – “Bem. Meu tio é um cidadão idoso.” – Isso deixaria tia Val muito brava, pensar que meu tio pudesse ter mais que o dobro de sua idade e ainda assim parecer jovem. Nash fez uma careta diante de meu ceticismo, seu rosto escurecendo enquanto os últimos raios da luz do dia lentamente deixavam o céu. “Está bem, e sobre o resto de sua família? Teus antepassados são irlandeses, certo?” Dei de ombros e cruzei meus braços. – “Meu nome é Cavanaugh. Não é uma grande dedução.” Além do mais, ele já sabia que meu pai vivia na Irlanda. “As Bean Sidhe são nativas da Irlanda. Por isso todas as histórias nasceram de velhos contos populares da Irlanda.” Oh. Isso foi uma grande coincidência. Mas nada mais. “Tem algo mais, Houdini9?” Nash pegou minha mão novamente, e dessa vez não a retirei. – “Kaylee, eu soube o que era no momento em que me disse que Heidi Anderson ia morrer. Mas provavelmente teria sabido antes se tivesse prestado atenção. É só que nunca esperei encontrar uma Bean Sidhe na minha própria escola.” “Como teria sabido antes?”
9
Um dos mais famosos ilusionistas da história.
“Tua voz.” “Han?” – Mas meu coração começou a bater com mais força, como se soubesse algo que minha cabeça não tinha captado ainda. “Sexta-feira passada no almoço, te escutei falar com Emma sobre ir ao Taboo e não pude tirá-la da minha cabeça. Tua voz ficou gravada, como se depois de ter te escutado verdadeiramente essa primeira vez, não pudesse para de te ouvir. Tua voz se sobrepõe a todas as demais, posso te encontrar em uma multidão mesmo que não te veja, sempre e quanto estiver falando. Mas não sabia porque. Só sabia que tinha que falar contigo fora do colégio, e que estaria no clube sábado a noite.” De repente não podia respirar. Meus pulmões pareciam ser grandes demais para meu peito, e não podia fazer com que funcionasse corretamente. – “Me seguiu até o Taboo?” – Sua admissão fez com que minha cabeça girasse, perguntas e confissões lutavam pelo direito de falar primeiro. Mas não podia pensar com claridade suficiente para me concentrar nelas. “Sim.” – Ele soava tão seguro, como se não devesse ser uma grande surpresa um garoto tão gostoso e fora de meu alcance ir a um clube sábado a noite apenas para me ver. – “Queria falar contigo.” Respirei fundo e fiquei olhando nossas mãos. Apenas podia acreditar no que estava a ponto de dizer. – “Quando fala comigo sinto que tudo está bem, mesmo quando as coisas estão caindo aos pedaços. Por quê?” – Levantei a cabeça e nesse momento encontrei seus olhos, buscando a verdade mesmo se não a entendesse. – “O que faz comigo?” “Nada. Pelo menos, nada de propósito.” – Apertou minha mão, entrelaçando seus dedos com os meus. – “Nós escutamos verdadeiramente um ao outro porque somos a mesma coisa. Sou um Bean Sidhe, Kaylee. Como meu pai e minha mãe, e ao menos um de seus pais é como você.” Como eu. Isso é possível? Meu instinto me dizia que não. Sacudi a cabeça e fechei os olhos até que estive segura de que o sonho louco havia terminado. Ainda que, realmente ser uma Bean Sidhe era mais estranho que ter premonições de morte? Mas mesmo que isso fosse verdade, algo não encaixava... “Nas histórias não há homens Bean Sidhe.” “Eu sei.” – Nash franziu o cenho e soltou minha mão para cruzar seus braços no peito. – “As histórias vem do que os humanos sabem de nós e parece que sabem apenas sobre as mulheres. Vocês garotas são bastante difíceis de esquecer com todos os gritos e lamentos.” “Ha ha.” – Comecei a empurrá-lo, logo congelei quando levantei meu braço. Acabava
de defender – ainda que de brincadeira – uma espécie que eu não acreditava fazer parte. Ou mesmo acreditar que era verdadeira. E foi então quando tudo me golpeou. Quando tudo se encaixou. Sim, parecia uma loucura. Mas eu sentia que era verdade. E pedaços disso realmente tinham sentido, de uma maneira mais intuitiva que lógica. Minha garganta parecia inflamada, e meus olhos começaram a arder com lágrimas de alívio. Não ser humana era melhor que estar louca. E infinitamente melhor que morrer de câncer. Mas o mais importante, ter as respostas, mesmo sendo estranhas, era melhor que não saber. Que duvidar de mim mesma. “Sou uma Bean Sidhe?” – Duas lágrimas caíram antes que eu pudesse pará-las, e as limpei com a manga da camiseta. Nash assentiu solenemente, e eu repeti apenas para me acostumar com a idéia. – “Sou uma Bean Sidhe.” Dizer em voz alta ajudou que o último pedacinho de certeza se encaixasse em seu lugar, e senti meu peito relaxar. Um longo suspiro escapou de minha garganta e afundei no assento, olhando pelo vidro o sol se pondo. Uma tensão que nem sequer havia sentido retirou-se de meu corpo. Nash havia me dado uma resposta, mas havia trazido a minha cabeça dezenas de outras coisas, e precisava de mais informação. Imediatamente. “Porque ninguém sabe sobre os homens Bean Sidhe? E se você é um garoto, não te faz um Sidhe homem? Ele levantou a mão para alcançar sua bebida e os músculos de seu braço moveramse sobre os últimos raios de sol. – “Infelizmente, o termo foi criado pelos humanos que não sabem que os homens Bean Sidhe existem, porque eles não se lamentam. Nós não temos premonições.” Franzi o cenho. – “Então o que te faz ser um Bean Sidhe? Digo, como se diferencia dos... humanos?” – Mesmo tendo aceitado minha nova identidade, parecia estranho falar de mim como algo não humano. Apoiou-se na porta do carro de Carter e tomou um grande gole antes de responder. – “Temos outras habilidades. Mas o que posso fazer não terá muito sentido para você até que saiba o que você pode fazer.” Sacudi a cabeça sem compreender. – “Pensei que eu fosse um aviso de morte.” “Isso é o que você é, não o que pode fazer. Ao menos, não tudo o que pode fazer.”
Capítulo 9 Eu me inclinei para frente, colocando meu joelho de forma que evitasse a barra de cambio, mais curiosa do que queria admitir enquanto esperava pelo resto da explicação. Mas ele se moveu para olhar pela janela. - "Minhas pernas ficaram rígidas. Vamos caminhar." Ele abriu a porta, sem esperar pela minha resposta. "O quê?" - Perguntei, inclinando-me sobre o console para ver como se alongava no estacionamento, seus músculos tencionando e movendo enquanto ele colocava os dois braços sobre a cabeça. - "Você vai me manter em suspense?" "Não, só estou em movimento." - Resmungou impacientemente, e enfiou a cabeça dentro do carro sorrindo. - "O que? Você não pode andar e falar ao mesmo tempo?" Então, seu sorriso ampliou-se e fechou a porta na minha cara. Não tinha outra escolha senão segui-lo. As luzes automáticas acenderam-se ao colocar os pés no concreto, banhando o estacionamento inteiro, o adjacente parque deserto, e parte do cais, em um suave brilho amarelo. Rodeei o carro e lhe dei minha mão quando ele a procurou. - "Bem, eu estou andando. Comece." Nash me beijou, uma mão segurando a curva do meu quadril esquerdo, e o resto da minha frase se perdeu para sempre. Quando finalmente se afastou, me deixou ofegante e desejando coisas que apenas poderia fazer uma idéia. Seus olhos encontraram os meus a poucos centímetros de distância, e percebi que suas íris ainda continuavam girando na suave luz amarela sobre nós. Ou talvez estivessem girando de novo. De repente, seus olhos não pareciam tão estranhos. E nem o meu fascínio por eles. "Então... sobre... seus olhos?" - Sussurrei quando pude falar de novo, sem fazer qualquer movimento para me afastar. - "Isso é parte do que faz um homem Bean Sidhe?" "Meus olhos?" - Ele franziu a testa e pestanejou. - "As cores que giram, certo?" "Sim." - Inclinei-me para ver melhor, e já que estava tão perto, o beijei, sugando o lábio inferior suavemente, para em seguida, ir mais profundo. Prazer passou por mim quando ele gemeu e segurou minha cintura com as duas mãos. Suas mãos começaram a deslizar mais abaixo, e só me afastei quando me assustei, porque percebi que não queria que ele parasse. "Hum..." - Aclarei minha garganta e coloquei as mãos nos bolsos, então finalmente, levantei os olhos para descobrir que estava me olhando. - "Seus olhos são lindos." Disse eu, desesperada para dirigir a conversa de volta aos trilhos. - "Mas não dão uma pista para as pessoas? De que não... é humano?"
"Nah." - Tirou uma mecha de cabelo escuro da testa e sorriu. - "Isso só acontece quando estou experimentando algo... hum... realmente intenso." Senti-me corar, mas ele continuou como se não tivesse notado. "Os olhos Bean Sidhe são como um anel de emoções que não pode tirar. Mas não pode ler, e os seres humanos não podem vê-los em absoluto. Somente outros Bean Sidhe." - Prendeu meu olhar com intensidade. - "Os seus estão fazendo também. Tons mais azul que o oceano, girando como um redemoinho do Caribe." Oh, adorável. Meu rubor se aprofundou até que pensei que minhas bochechas queimavam. Ele podia ver o que estava pensando - o que desejava - em meus olhos. Mas eu também podia ver o que ele queria... "Diga-me o resto." - Virei-me para o parque com as mãos nos bolsos. Queria saber tudo, mas principalmente, queria mudar de assunto. Nash passou por cima de uma vaga do estacionamento e me alcançou em duas passadas. - "A sabedoria humana diz que quando um Bean Sidhe se lamenta, o faz pelos mortos, ou o próximo a morrer, mas essa não é toda a história." – Olhou-me estudando meu perfil. - "Eu vi você conter seu pranto em duas ocasiões. O que você lembra, das vezes em que o deixou sair?" Estremeci com a memória, relutante em rever o evento que me colocou em um hospital. - "Foi horrível. Depois que o soltei, não conseguia pará-lo. E eu não conseguia pensar em outra coisa. Havia um sentimento de desespero total, e esse ruído espantoso que sentia, vinha da minha garganta." - Passei por cima de uma ponte suspensa que cobria o playground, e Nash me seguiu. - "O grito me controlava, e não o contrario. As pessoas estavam olhando, soltando as bolsas e sacolas de compras para cobrir os ouvidos. Esta menina começou a chorar e agarrar-se à sua mãe, mas não conseguia pará-lo. Foi o pior dia da minha vida. Sério." "Minha mãe disse que a primeira vez é sempre difícil. Apesar de geralmente não fazer com que te internem." É verdade, sua mãe também era Bean Sidhe. Não admira que tenha me olhado demoradamente. Ela provavelmente sabia que eu não tinha idéia do que era. Quando chegamos ao coração do playground - um castelo de madeira cheio de torres, túneis, escorregadores e barras - Nash meteu-se debaixo de uma peça do equipamento de barras e segurou-se no primeiro feixe. "Você estava assistindo a uma pré-partida, quando na verdade... partiu?" Ergui uma sobrancelha, em humor negro, tentando não olhar para o tríceps claramente visível sob a confortável camiseta de manga curta. - "Pré-partida?" Ele sorriu. - "É um termo técnico."
"Aah. Não, não estava olhando nada." - Sentei-me no balanço sustentado por três correntes, balançando-me para frente e para trás lentamente, tentando esquecer as palavras mesmo antes que as dissesse. - "Eu estava tentando parar o ruído. Os guardas de segurança do Shopping Center chamaram meus tios e quando não consegui parar de gritar, me levaram para o hospital." Nash abandonou a barra e se instalou sobre as escadas recobertas de borracha do escorregador mais próximo, me olhava a poucos metros de distância. - "Bem, se você tivesse olhado para outro menino teria visto a alma do falecido. Flutuando." "Flutuando?" "Sim. As almas são atraídas principalmente pelo grito da Bean Sidhe, e enquanto durar, não podem seguir em frente. Elas só ficam paradas ali, suspensas. Lembra-se das Sereias da mitologia? Como sua música podia levar a um marinheiro para a morte?" "Sim...?" - E essa imagem não fez nada para aliviar a apreensão agora inflamada dentro de mim como uma dor de estomago. "É como isso. Exceto que a pessoa já está morta. E geralmente não são marinheiros." "Wow." - Coloquei meus pés no chão para parar o balanço e já não me balançava. "Sou como papel mata-moscas para as almas. Isso é... estranho. Por que alguém iria querer fazer isso? Suspender a alma de um pobre coitado?" Nash deu de ombros e levantou-se para ajudar-me a levantar. - "Por muitas razões. Uma Bean Sidhe que sabe o que está fazendo pode agarrar-se a uma alma tempo suficiente para que se prepare para sua vida futura. Para que se vá em paz." Fiz uma careta, incapaz de imaginar. - "Ok, mas, como isso pode ser possível se eu fico gritando sem parar?" Ele riu novamente, e eu o segui até os degraus de uma ponte suspensa, de madeiras amarradas juntas. - "Não soa como gritar para a alma. Ou para mim tampouco. Seu grito é bonito para os homens Bean Sidhes." - Nash voltou a olhar para mim a partir do degrau mais alto, com seu olhar suave, e quase reflexivo. "É bem mais como uma canção de saudade que me persegue. Eu gostaria que o ouvisse da forma como eu o ouço." "Eu também." - Qualquer coisa seria melhor que o grito ensurdecedor que tenho ouvido. - "O que mais eu posso fazer? Conte-me sobre as partes que não me dão vontade de arrancar meus próprios ouvidos do crânio." Nash cercou-me dentro da ponte, que se sacudiu abaixo de nós, até que me sentei no centro com as pernas balançando pela borda. - "Você pode manter uma alma o
suficiente para que ela possa ouvir os pensamentos e as condolências de seus amigos. Ou dizer adeus a sua família, embora eles não possam ouvi-la." "Então eu sou... útil?" - Meu tom elevou-se com esperança sincera. "Totalmente." - Sentou-se na tábua seguinte, de frente a mim com uma perna pendurada sobre a borda da ponte e a outra se arqueando atrás de mim. Meu sorriso cresceu como o calor que se expandia através do meu peito, lentamente superando meu desconforto ante a idéia da suspensão de uma alma humana. Eu não tinha certeza, se essa paz crescente surgia de meu novo propósito na vida e morte - ou pela forma que Nash me observava, como se faria qualquer coisa para me fazer rir. "Então o que você pode fazer?" "Bem, minhas cordas vocais não são tão poderosas quanto as suas, mas a voz de um homem Bean Sidhe exerce um tipo de... influência. Um forte poder de sugestão, ou a projeção da emoção." - Encolheu os ombros e enrolou um braço sobre o trilho da corda, deitando, para me olhar melhor. - "Podemos projetar confiança, excitação, ou qualquer outra emoção. Muitos de nós em conjunto podemos incentivar grupos a ação, ou pacificar uma multidão. Isso era bom durante os julgamentos de bruxas e pânicos em massa da antiguidade." - Ele sorriu. - "Mas, principalmente, nós apenas relaxamos as pessoas quando estão nervosas ou desconfortáveis." - Nash me deu um olhar significativo, e tomei uma profunda respiração pela surpresa, que quase sufoquei. "Você me acalmou, certo? No beco atrás do Taboo." "E atrás da escola, esta tarde. Com Meredith..." Como eu poderia não ter percebido? Eu nunca tinha sido capaz de controlar o pânico antes, sem colocar distância entre eu e... o pré-falecido. Pisquei lágrimas de gratidão e comecei a agradecer a ele, mas ele falou antes que pudesse pronunciar as palavras. "Não se preocupe com isso. Foi bom finalmente mostrar-me." "E há mais, além da influência?" Ele concordou com a cabeça, balançando a ponte quando se inclinou para frente, olhando-me dramaticamente. - "Eu posso conduzir as almas." "O quê?" - Calafrios apareceram por baixo das mangas, apesar da noite excepcionalmente quente.
Nash deu de ombros, como se não fosse uma grande coisa. - "Você pode suspender uma alma, e eu posso manipulá-la. Dizer-lhe para onde ir." "Sério?" Para onde as envia?"- Não podia caber em minha mente todo o conceito. "A nenhuma parte." - Inclinou-se na corda e franziu a testa. - "Esse é o problema. Suas habilidades são úteis. Altruístas mesmo. As minhas...? Não muito." "Por que não?" "Porque há um só lugar para enviar uma alma desencarnada." "A outra vida?" - Dobrei uma perna sob a outra, e virei meu rosto para ele, tentando não estar totalmente oprimida pelas possibilidades que ele estava atirando até mim. Balançou a cabeça enquanto o canto de uma cigarra começou a distância. - "Uma alma não precisa de mim para isso." - E de repente eu entendi. "Você pode devolvê-la! Ao corpo." - Sentei-me com as costas retas e a ponte balançou. – “Você pode trazer alguém de volta à vida!" Nash sacudiu a cabeça, ainda sombrio apesar do meu entusiasmo crescente, e se colocou de pé para me levantar. - "É necessário dois de nós. Uma fêmea para capturar a alma, e um macho para restabelecê-la." - Sua mão encontrou meu quadril de novo, e o calor por trás de seus olhos quase me queimava. - "Poderíamos ser incríveis juntos, Kaylee." Minhas bochechas arderam. Então, a realidade do que estava dizendo realmente me atingiu, como uma rajada de ar frio no rosto. "Podemos salvar as pessoas? Reverter a morte? Você poderia ter me dito isso antes!" Um tremor de alegria floresceu em meu peito, e no início não entendi quando ele balançou a cabeça. Mas, então, minha empolgação apagou-se, substituída por uma sensação de frio, pesado sentimento de tristeza. De culpa crescente. - "Então, não só falhei em avisar Meredith, deixei-a morrer, quando poderíamos tê-la salvado. Por que não me disse?" - Eu não poderia parar o relampejo de raiva que a compreensão havia trazido. Meredith ainda estaria viva se tivesse sabido como ajudá-la! "Não, Kaylee." - Nash inclinou meu queixo até que vi o redemoinho escuro de arrependimento em seus olhos. - "Não podemos andar por aí simplesmente empurrando de novo as almas para os cadáveres. Não é assim que funciona. Nem sequer se pode advertir a alguém de sua própria morte. É fisicamente impossível, porque não pode fazer nada mais enquanto está cantando uma música da alma. Certo?"
Concordei miseravelmente. - "É completamente desgastante..." - Embora eu ainda não pudesse imaginar que esse grito horrível soasse como a canção que ele havia descrito. - "Mas tem que haver uma maneira de contornar isso." - Esquivei-me dele e desci os degraus da ponte em dois passos de cada vez. Minha mente estava correndo e eu precisava me mover. - "Nós poderíamos elaborar algum tipo de sinal ou algo assim. Quando eu tiver uma premonição poderia apontar e você poderia ir avisar a... um... pré-falecido." Nash, me alcançou, balançando a cabeça novamente. Agarrou meu braço e puxoume para parar, mas me deixou ir quando fiquei rígida. - "Mesmo que você pudesse avisar alguém, não mudaria nada. Apenas faria com que fossem aterrorizantes os últimos momentos da pobre pessoa." - Comecei a mover minha cabeça, mas ele continuou. - "Isso é o que venho tentando lhe dizer, Kaylee. Você não pode deter a morte." "Mas você acaba de dizer que poderíamos." - Encostei-me ao lado de um escorregador verde, franzindo o cenho para ele. - "Juntos, poderíamos ter salvado Meredith. Talvez até mesmo a Heidi Anderson. Não te incomoda que nem sequer tenhamos tentado?" "Claro que sim, mas salvar Meredith não teria impedido sua morte. Só teria prolongado sua vida. E reanimar alguém cuja hora chegou, acarreta graves conseqüências. E acredite, não vale à pena pagar o preço." "O que significa isso?" - Como poderia salvar alguém não valer o preço? O olhar de Nash me queimou, como se para enfatizar a importância do que ele ia dizer. "Uma vida por uma vida, Kaylee. Se tivéssemos salvado Meredith, alguém mais teria sido levada em seu lugar. Poderia ser um de nós ou alguém próximo." Ouch. Deixei-me cair sobre o assento de borracha na base do escorregador, com os olhos fechados de horror. Bem, esse era um preço alto. E mesmo se tivesse estado disposta a pagar eu mesma, não tinha o direito de tomar essa decisão por um expectador inocente. Ou pior, Nash. No entanto, não podia esquecer o incidente. Não importava o que tinha dito, não importava quão lógico eram os argumentos, deixar Meredith morrer parecia errado, e eu não podia suportar a idéia de ter que fazê-lo novamente. Nash suspirou e sentou-se sobre o assento verde comigo, com os braços apoiados nos joelhos. - "Kaylee, sei como você se sente, mas essa é a maneira que funciona a morte. Quando a hora de alguém chega, ele tem que ir, e somente vai ficar louca procurando brechas no sistema. Confie em mim." - A angústia na voz de Nash ecoou no meu coração, e eu estava morrendo de vontade de tocá-lo. Para aliviar qualquer tormento de seu coração que introduzira tanta dor em suas palavras.
"Você tentou né?" - Sussurrei. Ele assentiu, e me inclinei para deixar que minha boca encontrasse com a sua, parando quando o contato disparou faíscas através das minhas veias. Queria segura-lo em meus braços, de alguma forma fazer com que se sentisse melhor. - "Quem era?" "Meu pai." Atordoada, inclinei-me para trás para ver seu rosto, e o dano que encontrei parecia me atravessar, me deixando fria, com medo. - "O que aconteceu?" Nash puxou ar lentamente e inclinou-se ao lado do escorregador. A luz da lâmpada acima bateu em sua mão quando esfregou a testa como que para afastar a memória. - "Ele caiu de uma escada tentando pintar os batentes de uma janela do segundo andar e bateu a cabeça em alguns tijolos que cobriam o jardim de flores de minha mãe. Ela estava aparando os arbustos quando ele caiu; então ela viu o que aconteceu." "Onde você estava?" - Sussurrei, temendo que pararia de falar se rompesse suas memórias.
minha voz
"No quintal, mas saí correndo quando ela gritou. Quando cheguei, ela estava chorando, com a cabeça dele em seu colo. Havia sangue nas pernas dela. Então, meu pai parou de respirar, e ela começou a cantar. Era bonito, Kaylee." - Suas palavras eram urgentes e sentou-se reto, como se estivesse tentando me convencer. "Melancólico e triste. E ali estava sua alma, flutuando acima dos dois. Tentei guiá-lo. Eu realmente não sabia o que estava fazendo, mas eu tinha que tentar salvá-lo. Mas ele me fez parar. Sua alma... eu podia ouvi-lo. Ele disse que tinha que ir, e que eu devia cuidar da minha mãe. Ele disse que ela ia precisar de mim, e ele estava certo. Ela se sentiu culpada porque lhe pediu para pintar as janelas. Ela não foi à mesma desde então." Eu não tinha percebido que estava prendendo a respiração até que tive que tomar uma respiração profunda. - "Quantos anos você tinha?" "Dez." - Seus olhos se fecharam. - "Meu pai foi a primeira alma que vi, e eu não pude salvá-lo. Não sem matar mais alguém, e ele não me deixou arriscar minha própria vida. Ou a de minha mãe.” - Ele abriu os olhos para olhar para mim. - "E ele estava certo sobre isso também, Kaylee. Não podemos tirar a vida de uma pessoa inocente para livrar alguém que deveria morrer." Ele não recebeu nenhum argumento de mim. Mas... - "O que aconteceria se Meredith não devesse morrer? E se aquela não fosse sua hora?" "Era. É assim que funciona." - A voz de Nash tinha a convicção de que uma criança profetizando sua crença em Papai Noel. Ele estava um pouco seguro, como se a força de sua afirmação pudesse compensar algumas dúvidas secretas. "Como você sabe?"
"Por que há horários. Listas oficiais. Há pessoas para garantir que a morte ocorra na forma em que é esperado que seja." Pisquei, entrecerrei os olhos, surpresa. - "Você está falando sério?" "Infelizmente." - Uma brisa de amargura atravessou seu rosto, mas desapareceu antes que eu tivesse certeza que estava lá em primeiro lugar. "Isso parece tão... burocrático." Ele deu de ombros. - "É um sistema muito bem organizado." "Todo sistema tem suas falhas, Nash." - Ele começou a discordar, mas me apressei antes dele. - "Pense nisso. Três garotas foram mortas na mesma área nos últimos três dias, cada uma sem uma causa conhecida. Todas elas simplesmente caíram mortas. Isso não é a ordem natural das coisas. É a própria definição de 'anormal'. Ou, pelo menos, 'suspeito‟." "Definitivamente é incomum." - Admitiu. Nash esfregou as têmporas de novo e de repente parecia muito cansado. - "Mas mesmo se não deveria morrer, não há nada que possamos fazer sobre isso sem que alguém morra." "Tudo bem..." - Eu não podia argumentar com essa lógica. - "Mas se alguém não está destinado a morrer, a pena por salva-lo ainda se aplica?" Nash, de repente pareceu surpreso, como se essa possibilidade nunca tivesse lhe ocorrido. - "Eu não sei. Mas conheço alguém que talvez saiba."
Capítulo 10 “E quem é Tod?” – Tomei o último gole do meu refrigerante, vendo como os faróis iluminavam brevemente seu rosto. “Ele trabalha no segundo turno no hospital.” – Nash disse enquanto virava à esquerda. “Fazendo o que?” “Tod é um... estagiário.” – Virou outra vez à esquerda, e o Arlington Memorial surgiu a nossa direita, as janelas de vidro da nova torre cirúrgica refletiam a luz dos faróis. Recolhi o resto da comida e as joguei dentro da sacola de papel no chão entre os meus pés. – “Não sabia que os estagiários tinham horários estabelecidos.” Nash entrou na garagem do estacionamento com o farol baixo e olhou para os dois lados, em busca de uma vaga vazia perto da entrada. Mas ele também estava obviamente evitando os meus olhos. – “Não é exatamente estagiário de medicina.” “O que é então? Exatamente.” Uma vaga vazia apareceu no final do primeiro andar, e ele estacionou nela, tendo mais cuidado com o carro de Carter do que tinha com o de sua mãe. Logo desligou o motor antes de olhar completamente para mim. “Kaylee, Tod também não é humano. E não é exatamente um amigo, então ele pode não estar muito disposto a responder nossas perguntas.” Cruzei os braços sobre o peito e tentei parecer irritada, o que não era fácil, considerando que cada vez que ele me olhava assim, como se não houvesse ninguém mais no mundo que valesse a pena olhar, meu coração batia mais forte e minha respiração entalava na garganta. “Um amigo não humano? Que trabalha no hospital não como médico estagiário?” – Ao menos não era outro jogador de futebol. – “Agora que temos claro o que não é, se importa em me dizer o que ele é?” Nash suspirou, e eu soube por esse som que não ia gostar do que ele tinha para dizer. – “Ele é um anjo da morte.” “Um o que?” – Seguramente havia ouvido mal. – “Acaba de dizer que Tod é um anjo da morte?” Nash balançou a cabeça lentamente e eu exalei. Ser uma Bean Sidhe era uma coisa: que na realidade nós podíamos ajudar as pessoas, mas não estava pronta para enfrentar a personificação andante e falante da Morte.
Muito mesmo fazer-lhe perguntas. “Não é um ceifeiro.” – Disse Nash, observando-me atentamente. – “É só um anjo. Um entre milhões. É só um trabalho.” “Só um trabalho? A morte é só um trabalho! Espera...” – Respirei profundamente e fechei os olhos. Contei até dez. Quando isso não foi suficiente, contei até trinta. Então encontrei o olhar de Nash, com a esperança de que o pânico não fosse evidente nos meus olhos. – “Então... quando me disse que não pode deter a morte, o que realmente quis dizer é que não pode deter Tod?” “Não especificamente a ele, mas sim, essa é a idéia. Os anjos da morte têm um trabalho para fazer, como todos os demais. E além disso, não são muito amigáveis com os Bean Sidhe.” “Por acaso eu quero saber por quê?” Nash sorriu com simpatia e pegou minha mão, meu coração pulou apenas com esse pequeno contato. Merda. Já podia ver que um futuro com ele ia ser difícil de sustentar. – “A maioria dos anjos da morte não nos querem porque temos o potencial de arruinar seriamente sua jornada diária. Mesmo se na verdade não restauramos a alma de uma pessoa, um anjo da morte não pode tocá-la enquanto a sustentamos. Então cada segundo que passa cantando, é um segundo de atraso na entrega dessa alma. Em um lugar movimentado, isso poderia atrasá-lo desastrosamente. Também, isso simplesmente os irrita. Os anjos da morte não gostam que qualquer outra pessoa jogue com seus jogos.” Grandioso. – “Então não apenas não sou humana, além disso, a morte é meu inimigo mortal?” – Quem, eu? Pânico? – “Alguma coisa mais que queira me dizer, já que estamos confessando-nos?” Nash tentou sufocar uma risada, mas fracassou. - “Os anjos da morte não são nossos inimigos, Kaylee. Simplesmente não desfrutam particularmente nossa companhia.” Algo me dizia que esse sentimento seria mútuo. Confirmei ligeiramente com a cabeça. Nash abriu a porta do lado do motorista e saiu para a garagem escura. Saí pelo outro lado e enquanto fechava a porta, apertou o aparelho do alarme para trancar as portas do carro. Esse som ressoou a nosso redor, e pelo que parecia, estávamos sozinhos na garagem. O que era bom, tendo em conta a discussão que estávamos tendo. – “Então, como Tod parece? Um esqueleto coberto com uma capa preta e capuz? Carrega uma foice? Porque estou pensando que isso poderia causar certo pânico no hospital.” Pegou minha mão enquanto caminhávamos até a entrada da garagem, nossos passos fazendo eco. – “Você segue cortejos fúnebres com um vestido largo, sujo e com os cabelos voando ao vento atrás de si?”
Dirigi-lhe um gesto de brincadeira. – “Me seguiu novamente, é?” Nash colocou os olhos em branco. – “Ele é normal, não que isso importe. Não pode ver um anjo da morte, a menos que ele queira ser visto.” Um quente vento de setembro soprou através da entrada da garagem. – “Tod se deixará ser visto?” “Depende de seu humor.” – Nash parou diante da enorme porta giratória que abriu para entrarmos em um lobby menor, tranqüilo e vazio, cheio de cadeiras desconfortáveis. O ar condicionado do hospital foi um alívio, e minha pele arrepiava a cada passo que dávamos. Nash ignorou a enfermeira no balcão – não que ela importasse, estava dormindo em seu posto – e guiou-me até os elevadores no final do corredor. Meus sapatos rangeram sobre o piso, e cada respiração trazia consigo o cheiro de anti-séptico e desinfetante. Qualquer um desses cheiros teria sido ruim por si só, mas juntos ameaçavam explodir meu nariz e pulmões. Felizmente, o elevador da esquerda estava vazio e aberto. No interior, Nash apertou o botão do terceiro andar. Quando as portas fecharam-se, o cheio de “boas vindas” desapareceu, substituído imediatamente pelo cheiro de hospital, uma combinação de ar viciado, pastel de carne do restaurante e cloro. “Tod trabalha no terceiro andar?” – Perguntei enquanto as engrenagens se moviam sobre nossas cabeças e o elevador subia. “Ele trabalha em todo o hospital, mas a UTI está no terceiro, e alí é onde é mais provável encontrá-lo. Supondo que queira ser encontrado.” Um novo calafrio correu pelo meu corpo enquanto sua declaração entrava em minha mente. Era mais provável encontrar Tod na UTI, onde as pessoas tinham mais probabilidade de estar morrendo. As palmas de minha mão começaram a suar, e meu coração batia tão fortemente que estava certa de que Nash podia ouvi-lo no silêncio do elevador. Quais eram as probabilidades de passar pela UTI sem encontrar uma alma por quem cantar? Aposto que vão de poucas a nenhuma. E já que estávamos no hospital, se me assustava dessa vez, provavelmente me colocariam novamente em uma cama amarrada na ala de saúde mental. Eu não voltaria para lá. Minha mão apertou a de Nash, e ele acariciou meus dedos com seu polegar. – “Se sentir que vai começar, apenas aperte minha mão e te tiro daqui.” – Comecei a mover a cabeça, e ele passou seus dedos pelo meu rosto, olhando-me fixamente nos olhos. –
“Eu
prometo.”
Suspirei. – “Ok.” – Ele já havia me ajudado em outros ataques de pânico, não podia deixar de pensar neles como tal, e eu não tinha dúvida de que podia ajudar de novo. E, de todos os modos, eu realmente não tinha outra opção. Não podia evitar a morte prematura da próxima vítima sem encontrar Tod o anjo da morte, e não podia encontrar Tod sem consultar todos seus lugares favoritos. Um apito soou e a porta se abriu com um suave som. Olhei para Nash reforçando meu medo enquanto endireitava minha coluna vertebral. – “Vamos terminar com isso.” O terceiro andar se estendia para nossos dois lados, e um corredor largo e branco abria-se diretamente em frente as portas do elevador, onde um homem e uma mulher com batas azuis estavam sentados atrás do grande balcão das enfermeiras. O homem olhou para cima quando meus sapatos fizeram barulho no chão, e a mulher também apenas nos olhou. Nash assinalou com a cabeça para a esquerda, e nos dirigimos por ali, caminhando lentamente, fingindo ler os nomes escritos nas placas fora de cada porta. Apenas éramos dois garotos com a esperança de fazer uma última homenagem a nosso avô. Simplesmente não o “encontrávamos” em lugar algum do terceiro andar, o que era quase decepcionante depois do meu medo de entrar na UTI. Felizmente, o hospital Arlington não era o maior da cidade, e apenas três das camas da UTI estavam realmente ocupadas. E nenhum dos ocupantes estava em perigo imediato de reunir-se com o anjo da morte. Tod também não estava nos andares quatro, cinco e seis, ao menos pelo que podíamos dizer. Os únicos lugares que faltava para nós olharmos era a ala cirúrgica e o pronto socorro no primeiro andar, e a maternidade no segundo. Eu não queria encontrar um anjo da morte, mesmo se não tinha uma foice, na maternidade, e, definitivamente, seríamos vistos na ala cirúrgica. Então olhamos o pronto socorro primeiro. Durante minha viagem anterior ao Arlington Memorial, meus tios haviam ligado antes, e o pessoal da ala de saúde mental nos esperava, o que significava que não tínhamos que parar no pronto socorro antes. Então, nunca havia visto um pronto socorro até que cruzamos o lobby principal e empurramos as portas giratórias na sala de espera. Havia passado muito tempo na unidade psiquiátrica, o que não é nada parecido com uma viagem a Disneylandia. Estava cheio de enfermeiras que me olhavam com pena ou desprezo, e os pacientes que ou não te olham nos olhos ou afastam o olhar. Ainda assim, o pronto socorro tem um estilo próprio de miséria. Longe das rotinas cheias de adrenalina que eu esperava tendo como base alguns programas de hospitais na TV, o pronto socorro real estava tranqüilo e sombrio.
Os pacientes esperavam em cadeiras ligeiramente acolchoadas alinhadas na parede que se agrupavam até o centro da grande sala, com seus rostos retorcidos em caretas de dor, medo ou impaciência. Uma senhora em uma cadeira de rodas coberta com uma manta, e várias crianças com febre estremeciam nos braços de suas mães. Homens com roupa de trabalho pressionavam pedaços de curativos em suas feridas sangrando, ou bolsas de gelo sobre suas cabeças. No outro lado da sala, perto da mesa de triagem, uma adolescente queixava-se e gemia com um braço agarrado contra seu peito enquanto sua mãe lia uma revista ignorando-a descaradamente. A cada poucos minutos, os funcionários do hospital entravam por um lado extremo da sala, cruzando o piso desbotado de vinil sujo, e empurrando através de um conjunto de portas duplas na outra extremidade. Apenas esses liam os registros médicos ou olhavam para frente, enquanto os pares quebravam o silêncio sombrio quase incongruentes com fragmentos de uma conversa informal. Não obstante, os funcionários faziam o que fosse para evitar o contacto visual com as pessoas esperando, enquanto que os pacientes os olhavam com uma esperança tão clara que era desconfortável para eu ver. "Você o vê?" - Sussurrei a Nash, pulando sobre as mulheres e as crianças doentes para observar o rosto dos homens. "Não, e não o faremos até que esteja pronto para ser visto." Coloquei minhas mãos nos bolsos, fisicamente resistindo a necessidade de pegar sua mão pára obter mais conforto, só porque o pronto-socorro me assustava. Se eu não podia lidar com as grandes massas olhando para o espaço como zumbis, como poderia esperar enfrentar a Morte? Ou mesmo um Anjo da Morte? - "Então como é que vamos encontrá-lo?" "O plano era que ele nos encontrasse." - Sussurrou. - "Dois Bean Sidhe andando por aqui, enquanto ele tenta trabalhar deveria atraí-lo muito rapidamente, se não por qualquer outro motivo que para nos tirar do caminho." "Então suponho que decidiu não se mostrar." "Isso parece." - Os olhos de Nash pousaram em uma placa na parede, que apontava o caminho para a loja, lanchonete, laboratório e radiologia. - "Está com sede?" "Não realmente." - Eu tinha tomado quase duas latas de refrigerante no carro, e teria que encontrar um banheiro em breve. "Então, venha sentar-se comigo. Se deixarmos claro que temos a noite toda para esperar, provavelmente ele se mostre para nos afugentar." "Mas nós não..."
"Shh." - Sorrindo, deslizou um braço em volta da minha cintura e sussurrou em meu ouvido. - "Não mostre nossa mão." Arrepios de prazer correram por meu pescoço e em meu corpo inteiro, causados por sua respiração roçando em meu ouvido. Seguimos as indicações pelo corredor, viramos a esquina e entramos na cafeteria, onde ainda estavam servindo o jantar às sete e meia da tarde. Nash comprou uma grande fatia de bolo de chocolate e uma caixa de leite tamanho escolar. Peguei uma Coca-Cola. Então optamos por uma pequena mesa em um canto da sala quase vazia. Nash sentou com as costas contra a parede, comendo como se nada tivesse acontecido. Como se ele fosse procurar um agente da morte todas as noites. Mas eu não podia ficar quieta. Meu olhar percorria a sala, passando por cima de um faxineiro esvaziando uma lata de lixo e uma mulher com desgostosa inspecionando a salada de alface murcha. Meus pés batiam no chão, com meus joelhos batendo no fundo da mesa uma e outra vez. O leite de Nash se derramava em cada impacto, mas não parecia notar. Ele estava na metade de seu bolo, menos de uma ou duas mordidas desde que tínhamos encontrado lugar, quando uma sombra caiu sobre a nossa mesa. Olhei para cima para encontrar um rapaz diante da cadeira vazia à minha direita. Ele usava calças jeans desbotada e uma camiseta branca de mangas curtas, sem indícios de um casaco, apesar da temperatura externa. E sua expressão feroz não fez nada para endurecer seus lábios de querubim e brilhantes olhos azuis, coroados por um tufo de caracóis loiros. Nash nem sequer olhou para cima. Olhei para o loiro, e depois segui seu olhar para os potes de sal e pimenta descartáveis no centro da mesa. Supondo que os queria pedir, eu estava alcançando o sal quando ele puxou a cadeira vazia e afundou-se nela, cruzando os braços nus sobre a mesa diante dele. "O que querem?" - Resmungou num tom tão baixo e grave que teria jurado que nunca poderia ter vindo de um rosto tão angelical. Nash teve seu tempo para mastigar, engolir e, finalmente empurrar seu prato. "Respostas." Eu fiz uma careta, e arfando para o loiro com incredulidade. - "Você é o anjo da morte?" Tod olhou para mim pela primeira vez, com seu cenho praticamente no lugar. "Esperava alguém mais velho? Mais alto? Talvez algo pálido e esquelético?" Desprezo pingava de suas palavras como ácido, e seu enfoque deixou Nash irritado. "Vê? Esse é o problema com o velho título. Devo começar a chamar-me um 'agente coletor' ou algo assim."
"Então farão você vestir um terno e gravata." - Disse divertida com a imagem mental. O canto da boca de Nash se contraiu. "Quem é a companheira?" - Tod balançou a cabeça para mim, mas sua atenção e irritação continuaram se concentrando em Nash. "Nós precisamos saber sobre o tipo de mudança." - Disse Nash, parando-me antes que pudesse apresentar-me. As sobrancelhas de Tod reuniram-se baixas sobre seus escuros olhos azuis, e com o brilho das lâmpadas fluorescentes do teto, notei uma pequena e pálida penugem na ponta do seu queixo forte e quadrado. - "Eu pareço como um balcão de informações para você?" "Você parece... aborrecido." - Um olhar malicioso propagou-se pelo rosto de Nash quando o cenho franzido de Tod se aprofundou, e eu me perguntava o que estava perdendo. - "O hospital não te mantêm ocupado? Olha, eu ouvi que há um lugar no Colonial Manor. Você gosta de lá, certo?" "O lar de idosos?" - Lhe perguntei, mas nenhum deles nem sequer me olhou, estavam muito ocupados olhando-se com ódio de um para o outro. - "Por que uma casa de repouso contrataria alguém para matar seus pacientes? No caso, por que um hospital o faria?" Nash riu e passou sua mão sobre a cabeça cheia de picos de cor castanhos, mas os olhos de Tod se moveram para mim e sua mandíbula se apertou. - "Será que ela vem com um botão de mudo?" "Ele não trabalha para o hospital." - Disse Nash, ignorando o Anjo da Morte na esperança de evitar a pergunta retórica. - "Ele trabalha no hospital. E a este ritmo, vai estar preso aqui para o próximo século, pelo menos. Certo, Tod?" O anjo da morte não respondeu, mas eu pude ouvir seu ranger de dentes. "Sabe, se você continuar engarrafando sua raiva assim, não vai estar em qualquer lugar dentro de um século, e muito menos ainda trabalhando em tempo integral." Espera, estava incomodando a um anjo da morte? Provavelmente não seja uma boa idéia, Kaylee... "Os Anjos da Morte não envelhecem." - Disse Tod, enquanto olhava para Nash. - "É um dos benefícios sociais." "Tal como nós, certo?" - Olhei para Nash, bem a tempo de vê-lo vacilar, e sabia que eu tinha dito alguma coisa errada. E quando olhei para Tod novamente, o encontrei olhando para mim com surpresa, um sorriso maroto destacando suas principais características angelicais com a luz do teto.
"Onde você a encontrou?" "Nós envelhecemos." - Disse Nash, mas a última palavra foi cortada, como se quase tivesse dito meu nome, mas logo a tinha retirado no último minuto. E foi então que compreendi: não queria que Tod soubesse quem eu era. Eu estava bem com isso. A idéia da morte sabendo meu nome fazia que minha pele se arrepiasse. Mesmo se esta morte em particular era apenas um de muitos, e quase demasiado bonito para olhar. "Simplesmente envelhecemos muito lentamente." - Nash continuou. Até então eu estava corando, eu tinha me colocado como uma completa idiota. Que tipo de idiota não sabe a vida útil de sua própria espécie? Nash enganchou seu pé em volta do meu tornozelo sob a mesa, esfregando minha perna em simpatia e conforto. Eu dei-lhe um sorriso agradecido e olhei os olhos de Tod com valentia. A melhor maneira de equilibrar o jogo era derrubá-lo. - "Por que você está aqui?" - Eu perguntei, com a esperança de que havia valorizado corretamente isso como sendo sua ferida. "Porque ele é um novato." - Nash sorriu. - "E não há muitas oportunidades para avançar em uma linha de trabalho onde os empregados nunca morrem." "É um novato?" - Olhei novamente para Tod, e de novo sua mandíbula mostrou sua irritação. - "Quantos anos você tem?" Eu tinha assumido, com base no comentário 'sem idade', que ele era muito mais velho do que parecia. "Ele tem dezessete anos." - Disse Nash, seu sorriso malicioso continuava firme. "Eu tinha dezessete anos quando comecei este trabalho." - Revidou irritado o anjo da morte. - "Mas isso foi há dois anos." "Você tem feito isso por dois anos e ainda assim é um novato?" Tod parecia insultado, e eu não tinha certeza se ria ou pedia desculpas. "Sim, bem, o recrutador não estava muito interessado em colocar a vaga no anúncio de emprego. E seu namorado aqui está certo sobre as oportunidades de promoção não existirem. Os Anjos da Morte mais antigos deste distrito tem em média duzentos anos. Se não tivéssemos perdido um no ano passado, ainda estaria sentado na sala de televisão no Colonial Manor, esperando que algum dos idosos terminasse com a cabeça na tigela de cereal."
"Espere aí, como é que morre um anjo da morte?" - Não pude deixar de perguntar. "Algum acidente bobo com a foice?" - Mas ninguém além de mim pareceu se divertir com minha piada. "Quanto menos você souber sobre os anjos da morte, melhor." - Nash sussurrou, e Tod concordou com a cabeça arrogantemente. Oh. Segurei minhas duas mãos em gesto de defesa e reclinei-me na cadeira. "Desculpe. E... velhos com a cabeça na tigela...?" Tod encolheu os ombros. - "Sim. Mas pelo menos aqui consigo ocasionalmente alguém que tenha sido baleado ou uma queda inesperada. A vida é cercada de surpresas, certo?" "Eu acho." - Mas as surpresas meio que tinham perdido esse brilho de novidade para mim, com a descoberta de que não era humana. Bem, exceto isso de premonição fatal. Eu adoraria que a morte me tomasse de surpresa, como as pessoas normais. Bem, não minha própria morte, claro. "Falando de surpresas..." - Torcendo a tampa da minha Soda, olhei para Nash procurando por alguma indicação, e ele assentiu, dizendo-me assim que podia continuar. Obviamente eu não estava imaginando o fato de que Tod preferiria falar comigo em vez dele. "Precisamos de sua ajuda para evitar uma muito desagradável." Tod fez todo um show de olhar seu punho, visivelmente sem relógio. – “Vocês dois já desperdiçaram meu descanso. Tenho um aneurisma no quarto andar em dez minutos, e não posso chegar atrasado. Odeio os que ficam mais do que deveriam." "Isto não levará muito tempo." - Olhei-o fixamente, recusando a quebrar o contato visual, então o vi hesitar. - "Por favor." O anjo da morte suspirou, correndo a mão pelas mechas curtas de cabelo. - "Tem cinco minutos." Respirei suavemente de alívio. Até que a realidade da situação por fim entrou em minha cabeça. Por acaso eu havia implorado por uma audiência com a morte?
Capítulo 11 "É sobre o valor da troca?" - Perguntou o anjo da morte, tirando-me de meus próprios pensamentos, onde o choque dos acontecimentos das últimas duas horas tinha finalmente me alcançado. Quando não respondi, Nash assentiu. O anjo da morte deu de ombros e curvou-se em sua cadeira. - "Você sabe tanto quanto eu sobre isso. Uma vida por uma vida." Nash me olhou com as sobrancelhas levantadas, para perguntar-me se eu estava bem. Eu assenti, colocando meus pensamentos em ordem de novo. Inclinou-se para frente com os braços cruzados sobre a mesa. - "Mas essa é a pena por salvar alguém da sua lista, não? Alguém que tinha que morrer." "Você não está 'salvando' ninguém." - Tod franziu a testa - obviamente havíamos encontrado um ponto quente. - "Você está apenas roubando almas, algo que somente adia o inevitável. E atrasa meu horário de entregas. E manda meu chefe a novos universos de irritação. E nem sequer queira saber da burocracia que envolve uma troca mesmo sendo simples e igual." "Não estou..." - Nash começou, mas Tod o interrompeu. "Mas além de tudo isso, é ilegal. Por isso a pena." Eu coloquei de novo a tampa na minha garrafa e a empurrei em direção ao centro da mesa. - "Mas a pena seria aplicável se salvarmos a alguém que não era para morrer?" Tod franziu a testa, confuso, então de repente, seu rosto ficou branco, deixando uma compreensão fria brilhando em seus olhos. - "Merda, isso nunca me ocorreu..." "Vamos, Tod." - Nash olhou para o Anjo da Morte, a dor antiga gravada nas linhas de seu cenho franzido. - "Você me deve a verdade." Mas Tod continuou como se não tivesse sido interrompido. - "... E mesmo que o fizesse, você nunca saberia, por nenhum anjo da morte admitiria que acidentalmente tomou a alma errada." "Nós não estamos falando sobre um acidente." - Olhei para cima quando as portas da cafeteria se abriram e uma mulher entrou com três filhos a tiracolo, lembrando-me pela primeira vez desde que Tod tinha se juntado a nós que estávamos discutindo coisas muito estranhas em um lugar muito público. "E sobre a lista? Não seria isto uma prova de que alguém não deveria morrer?" Nash sussurrou agora se dando conta da nova companhia.
Tod esfregou o rosto com as duas mãos, claramente frustrado e perdendo a paciência com nossas perguntas. - "Provavelmente, mas você nunca vai colocar as mãos na lista. E mesmo se você pudesse, seria tarde demais. A pena já teria sido aplicada." "Você está dizendo que um anjo da morte pode tomar uma vida inocente por uma alma que não deveria ter tomado em primeiro lugar?" - A indignação queimou em minhas veias. Se algum processo em todo o mundo deveria estar livre de corrupção, essa deveria ter sido a morte. Afinal, não era a morte o grande equalizador? Ou eram os impostos? "Não, você está certa." - Tod me deu um tímido aceno. - "Na teoria, a pena não se aplica em um caso como este. Mas a teoria e a realidade não coexistem muito bem quando se trata da morte. Assim que, mesmo que você pudesse colocar suas mãos sobre a lista, e mesmo se você está certa sobre o erro do anjo da morte... o mais provável é que já tenham tomado uma alma inocente. Ou um de vocês mesmo.” Não pude deixar de notar que não nos colocou na categoria de "inocentes". "Então estamos ferrados de qualquer maneira." - Exasperada, joguei as mãos no ar e me recostei na cadeira, fechando os olhos. "Do que se trata, afinal?" - Tod perguntou, e abri meus olhos para descobrir que estava me olhando... Isso era interesse? - "Quem você está tentando salvar?" "Não sabemos. Provavelmente a ninguém." - Nash meteu o último pedaço de bolo em seu garfo, tomando todo chocolate do prato. - "Várias garotas tem morrido recentemente na nossa região e Ka..." – Deteve-se, omitindo meu nome da frase no último segundo. - "Ela.” - A cabeça voltada na minha direção - “... pensa que suas mortes são suspeitas." "Ela pensa, huh?" - Um sorriso ergueu o canto da boca do jovem Anjo da Morte e eu quase pude ouvir as engrenagens de sua cabeça. - "O que há de suspeito nelas?" "Eram todas adolescentes. Todas muito bonitas. Todas morreram da mesma maneira. Todas estavam bem de saúde. Cada uma delas morreu com um dia de diferença." - Marquei os fatos com os dedos enquanto falava, e quando tinha usado toda a mão, mostrei a ele. - "Você escolhe. Mas de qualquer forma, há coincidências demais. Não há nenhuma maneira de que as três deveriam morrer e não me importa na lista de quem elas estavam." O interesse brilhou nos olhos de Tod e algo me disse que tinha chamado sua atenção. - "Você acha que foram mortas?" Dei batidinhas com o pé no chão pegajoso, tentando organizar meus pensamentos. "Não sei. Talvez. Mas se for assim não tenho idéia de como. Todas, exceto a última morreram em frente de testemunhas que não viram nada suspeito. Além de uma linda garota caindo no chão, sem aviso algum."
"Há maneiras de fazer isso acontecer, é claro." - Tod meio que se levantou e puxou a cadeira onde eu estava sentada, depois se sentou novamente. - "Mas mesmo se elas foram mortas, isso não muda nada. Vítimas de homicídios estão em nossa lista todos os dias. Eu tive apenas um em dois anos, mas os antigos anjos da morte os tem semanalmente." Senti como meus olhos se arregalaram, e uma pesada, apertada sensação se apoderava do meu peito. - "Você quer dizer que é esperado que as pessoas sejam assassinadas?" - Por um momento, verdadeiro horror obscureceu a determinação e o medo que se encontravam lutando dentro de mim. Como poderia ser o assassinato parte da ordem natural? Tod meneou a cabeça. - "As pessoas devem morrer, a forma específica varia muito. Inclusive o assassinato." Virei-me para Nash, piscando para conter as lágrimas de raiva dos olhos. - "Qual é o ponto de tudo isso? Se eu não posso mudá-lo, por que eu deveria saber a respeito?" Nash pegou minha mão. - "Ela está tendo problemas para deixá-las ir." - Disse ele, e Tod assentiu com a cabeça como que entendendo. "O que você sabe sobre isso?" - Eu disse irritada, não me importava que nada disto fosse culpa do anjo da morte ou que provavelmente eu deveria ter medo dele. - "Você toma vidas como um modo de vida" - Tão irônico como isso soava... - "A morte é uma ocorrência comum para você." Nash bufou, uma expressão de satisfação no rosto. - "Sim, e ouvindo-o, você nunca se daria conta que tive grandes problemas com ele no inicio." "Cuidado, Hudson" - Rosnou Tod, seus brilhantes olhos azuis gelados. Uma nova expressão pairava sobre a face de Nash - uma espécie de combinação entre diversão e travessura. - "Fale sobre a menina." "Você tem algum tipo de distúrbio? Alguma coisa que esteja falhando ai em cima?" Tod disse vagamente sinalizando para a cabeça de Nash. - "Que te faz não conseguir manter a boca fechada? Ou você é apenas uma espécie de bobo que cresce no jardim?" "Que menina?" - Ignorei tanto o que disse o anjo da morte quanto o meio sorriso satisfeito do Bean Sidhe. "Isso te ajudaria a compreender." - Disse Nash, quando ficou claro que Tod não ia responder.
"Compreender o quê?" - Perguntei, virando-me para olhar de um para o outro. Finalmente Tod suspirou ainda enviando olhares assassinos a Nash. "Ele só esta tentando me fazer parecer um idiota" - Respondeu irritado o anjo da morte, - "Mas sei de histórias que o fazem parecer ainda pior, de modo que mantenha isso em mente 'prende almas', antes de abrir essa sua boca grande novamente." Nash deu de ombros, obviamente, despreocupado com a ameaça, e Tod virou-se na cadeira para ficar completamente de frente para mim. - "No começo eu não gostava muito do meu trabalho. A coisa toda parecia inútil e triste, e simplesmente errado às vezes. Uma vez na realidade recusei um trabalho e isso fez com que quase acabassem comigo. Acho que é isso que ele quer ouvir." Pelo canto da minha visão vi Nash assentir, mas mantive minha concentração no Anjo da Morte. - "Por que você iria recusar um trabalho?" Tod exalou frustrado. Ou talvez constrangido. - "Eu estava trabalhando no asilo, e esta menina veio com seus pais para visitar sua avó, ela engasgou com uma bala que a companheira de quarto de sua avó lhe deu, e ela deveria morrer. Estava na lista era oficial. Mas quando chegou a hora, não pude fazê-lo. Ela tinha apenas três anos. Assim, quando uma enfermeira lhe aplicou a Manobra Hemlich10, deixei-a viver." "O que aconteceu?" - Meu coração doía pela menina e por Tod, cujo trabalho estava em conflito com cada grama em comparação com meu corpo. E evidentemente, no dele também. "Meu chefe ficou com raiva quando voltei sem a alma, em vez dela levou a da avó, e quando abriu uma vaga no hospital, me ignorou e deu a outra pessoa." - Seus olhos se encheram de raiva. - "Estive preso no asilo por mais três meses antes de finalmente me mudarem para cá. E não faço idéia de quanto tempo levará para subir novamente." "Mas não acha que valeu a pena?" - Não poderia deixar de perguntar. - "A avó já tinha vivido sua vida, mas a menina estava apenas começando. Salvou sua vida!" O anjo da morte balançou a cabeça lentamente, as mechas loiras brilhavam com a luz do teto. - "Não foi uma troca igual. A partir do momento em que ela deveria morrer, esta pequena menina estava vivendo em um tempo emprestado. O tempo de sua avó. Quando você faz uma troca o que está realmente fazendo é trocar a data da morte de uma pessoa pela da outra. A pequena menina morreu seis meses depois, no dia em que estava originalmente programada a morte de sua avó." Desta vez não consegui deter as lágrimas. - "Como você pode suportar isso?" Enxuguei os olhos com o guardanapo que Nash me ofereceu, aliviada de que não usava muita maquiagem.
10
A Manobra de Heimlich é o melhor método pré-hospitalar de desobstrução das vias aéreas superiores por corpo estranho.
Tod olhou para Nash, e sua expressão se suavizou quando ele voltou a me olhar. - "É mais fácil agora que estou acostumado a isso. Mas, na época, tive que aprender a confiar na lista. A Lista Mestre é como o roteiro de um jogo, ela mostra cada palavra falada por cada ator, e o show contínua seguindo contanto que ninguém se desvie dele." "Mas se isso acontecer, né?" - Amassei o guardanapo em uma bola apertada. "Mesmo que a lista seja infalível, as pessoas não o são. Um anjo da morte pode desviar-se da lista, como você fez com a menina, certo?" Nash se mexeu na cadeira, chamando nossa atenção, antes que Tod pudesse responder. - "Você acha que as garotas morreram no lugar das pessoas que estavam realmente na lista? Que eram as trocas?" Eu balancei a cabeça. - "Três em três dias? Ainda continua sendo coincidência demais. Mas se Tod pode se desviar para não levar uma alma, por acaso não seria capaz outro anjo da morte também se desviar, levando uma extra? Ou três?" "Não." - Tod sacudiu a cabeça com firmeza. - "De jeito nenhum. O chefe notaria se alguém entregasse três almas extras." Ergui uma sobrancelha em sua direção. - "O que te faz pensar que as entregou?" O cenho do anjo da morte se aprofundou ainda mais. – “Você não sabe que está falando. É impossível." "Existe uma maneira de ter certeza." - Nash olhou sombriamente antes de virar-se para Tod. - "Você está certo, nós não podemos colocar nossas mãos na lista. Mas você pode." "Não." - Tod empurrou sua cadeira para trás e se levantou. Do outro lado da cafeteria a mãe e os filhos viraram para olhar para nós, um menino estava cheio de sorvete de chocolate de orelha a orelha. "Sente-se!" - Nash sussurrou, dando-lhe um olhar irritado. Tod sacudiu a cabeça e começou a caminhar para longe de nós, então eu peguei sua mão. Ele congelou no segundo em que minha pele tocou a sua e virou-se para mim lentamente, como se cada minuto doesse. - "Por favor" - Lhe pedi com meus olhos. "Basta ouvi-lo" O anjo da morte lentamente tirou seus dedos de minha mão até que minha mão pairou no ar, vazia e abandonada. Ele olhou com raiva e medo quando afundou em sua cadeira, agora mais de um pé da mesa. "Não há necessidade de olhar a lista toda." - Disse Nash, - "Apenas a parte sobre este fim de semana. Sábado, domingo e hoje."
"Eu não posso fazê-lo." - Ele balançou a cabeça, seus cabelos loiros balançando com o movimento. - "Vocês não entendem o que estão pedindo." "Então diga-nos." - Dobrei minhas mãos sobre a mesa, deixando claro que tinha tempo para uma longa história. Mesmo que eu não o tivesse. Tod respirou com dificuldade e me dirigiu sua resposta, claramente ignorando Nash. - "Não estão falando apenas de uma lista. A Lista Mestre é um nome impróprio. Na verdade, existem várias listas. Há uma lista mestre para cada dia e meu chefe a divide por áreas, depois por turnos. Eu só vejo a parte que vai para este hospital, do meio dia até a meia-noite. Há outro anjo da morte que trabalha aqui na metade do dia. E nunca vejo sua lista, muito menos as listas de outras áreas. Não é como se eu pudesse me aproximar de um colega de trabalho e pedir-lhe que me deixe ver as suas listas velhas. Especialmente se há alguém coletando almas de forma independente." "Ele está certo. Isso é muito complicado." - Nash suspirou, fechando os olhos. Então ele os abriu novamente e me olhou com firmeza. - "Precisamos da lista mestre." Tod gemeu e abriu a boca para argumentar, mas eu falei. - "Não, não é assim. Nem sequer precisamos vê-la." "O quê?" - Nash franziu a testa e eu levantei um dedo, pedindo silencio e que esperasse, dirigindo-me para o anjo da morte. "Eu entendo que você não trabalhe com a lista mestre, mas você já a viu, né? Você disse que havia vítimas de homicídios lá todas as semanas...?" "Sim, a vejo de vez em quando." - Tod encolheu os ombros. - "Agora tudo é digital, e meu chefe está sempre no computador, no caso de precisar ajustar alguma coisa. Vejo-a quando entro em seu escritório." "Bem, isso é bom." - Não pude resistir a um pequeno sorriso. - "Nós não precisamos vê-la. Só precisamos que você a veja e nos diga se esses nomes estavam lá ou não." Tod inclinou para frente com os cotovelos sobre os joelhos, as mãos segurando a cabeça. Ele esfregou a testa, respirou fundo e finalmente resignado, se virou para mim. - "Onde elas morreram?" "A primeira foi em West End, no Taboo. Heidi ...?" - Nash olhou para mim com as sobrancelhas levantadas. "Anderson." - Completei. - "A segunda foi Alyson Baker, no Cinemark, em Arlington, e a terceira foi na Escola East Lake High, esta tarde." "Espere, essas são três áreas diferentes." - Tod franziu a testa e os músculos bem definidos de seus braços enrijeceram quando ele se inclinou sobre a mesa. - "Se vocês realmente acham que ninguém deveria ter morrido, estariam falando de três
diferentes anjos da morte envolvidos nesta pequena conspiração. Que, aliás, começa a soar bastante complicada." "Hmm..." - Eu não tenho conhecimento suficiente sobre anjos da morte para saber o quão exagerada era a teoria da qual estávamos falando, mas sabia que quanto mais gente estivesse em um segredo, mais difícil seria mantê-lo assim. Tod estava certo. Então... Talvez fosse apenas um anjo da morte de que estávamos falando, afinal. "Existe alguma coisa que impeça a um de vocês de agir na zona de alguém mais?" "Além da integridade e do medo de ser pego? Não." Integridade em um anjo da morte...? "Portanto, se um anjo da morte não tem integridade ou medo, não há nada que o impeça de levar a metade das almas do Texas da próxima vez que esteja chateado com o tráfego da rodovia na hora do rush?" - Escutei como meu tom de voz crescia, e me forcei a abaixar a voz enquanto tentava abrir a tampa do meu refrigerante. - "Por acaso não tem que entregar seu... hum... raio mortal, ou o que seja, quando não estão trabalhando?" Os lábios perfeitos de Tod elevaram-se em um rápido sorriso. - "Hum, não. Nós não temos um raio mortal, embora isso até que seria muito legal. Anjos da morte não usam nenhum equipamento. Tudo o que temos é a capacidade de extinguir a vida e tomar posse das almas. Mas, acredite isso é mais que suficiente." Com isso sua expressão tornou-se sombria. - "Em teoria, você nunca poderia encontrar um anjo da morte sem integridade. Não é como se nos candidatássemos para esse trabalho para satisfazer algum tipo de enorme desejo de poder. Somos recrutados e testados com cada tipo de condição psicológica conhecida pelo homem. Ninguém capaz de algo parecido com o que você está dizendo deve ser capaz de conseguir emprego como anjo da morte." "Você parece menos confiante no sistema." - Eu disse, observando atentamente o rosto dele. Ele deu de ombros. - "Você mesmo disse. As pessoas não são infalíveis, e o sistema é gerido por pessoas..." "Então você pode dar uma olhada nas listas?" - Disse Nash, observando Tod quase tanto quanto eu. Tod mordeu o lábio inferior, pensando. - "Estão falando de três áreas diferentes em três dias diferentes, e nenhuma na lista mestra atual." "Você pode fazer isso?" - Repeti, inclinando-me para ele com expectativa. Tod assentiu lentamente. - "Não vai ser fácil, mas eu gosto de um desafio. Contanto que seja recompensado.” - Seus olhos azuis se fixaram em mim, e algo me disse que
já não estava falando sobre a espionagem no gabinete do seu chefe. - "Vou descobrir o que querem saber - em troca do seu nome." "Não." - Nash nem sequer hesitou. - "Fará isso porque se você não fizer, ficaremos aqui e ela suspenderá toda a alma que você tente levar até que você esteja tão atrasado que seu chefe te enviará de volta para o asilo. Se você tiver sorte." "Certo." - Tod sorriu quando seus olhos mudaram de mim para Nash. - "Ela é tão verde que se pode ver as suas raízes. Eu aposto que ela nem sequer viu uma alma." "Ele está certo." - Eu disse. Nash pegou minha mão da mesa e apertou-a duramente, pedindo-me em silêncio para não dar a Tod o que ele queria. Mas eu não via razão para isso. Meu nome seria fácil de descobrir, o que tornava um preço barato para as informações que precisávamos. - "Meu nome é Kaylee. Você pode ter meu sobrenome quando você nos der o que queremos." "Feito." - Tod se colocou de pé, o rosto radiante como que produzindo seu próprio brilho. - "Lhe deixarei saber o que descobrir, mas não posso prometer que será esta noite. Já estou atrasado para o aneurisma." Concordei, desapontada, mas não muito surpresa. "Agora, se vocês me dão licença, tenho que ir fazer uma pobre mulher viúva." - E com isso desapareceu. Não houve nenhum som de sinos ou luzes piscando. Nem um simples sinal de que ele estava prestes a desaparecer. Simplesmente estava ali há um segundo e no próximo não havia ninguém, sem efeito - nem sons especiais. "Não me disse que ele podia fazer isso!" - Olhei para Nash apenas para encontrá-lo carrancudo na mesa. - "O que há de errado?" "Nada." - Ele parou e pegou o prato de papel com o último pedaço de seu bolo. "Vamos." - Nós jogamos o lixo ao sair da cafeteria, o segui pelo hospital e pelo estacionamento em completo silêncio. Eu acho que ele realmente não queria que Tod soubesse meu nome... Quando chegamos ao carro, Nash me seguiu até a porta do lado do passageiro. Para destrancá-la e abri-la para mim. Mas em vez de entrar, eu me virei para encará-lo e coloquei minha mão em seu peito. - "Você está bravo comigo." - Meu coração estava batendo tão forte que meu peito doía. Eu podia sentir seu coração batendo sob minha palma, e por um terrível momento, tive certeza que nunca voltaria a vê-lo. Simplesmente me levaria para casa, e desapareceria da minha vida como Tod tinha desaparecido na cafeteria. Mas Nash balançou a cabeça lentamente. Uma luz do teto o iluminava por trás, e seu cabelo escuro parecia brilhar em torno das bordas. - "Estou irritado com ele. Eu devia ter vindo sozinho, mas eu não achei que ele ficaria interessado em você."
Minhas sobrancelhas levantaram-se e me afastei para vê-lo melhor. - "Porque sou uma bruxa que grita?" Nash me puxou para mais perto de novo e me pressionou com seu corpo contra o carro, então me beijou tão profundamente que não tinha certeza se eu ainda estava respirando. - "Você não tem idéia de como é bonita." - Disse ele. - "Mas Tod foi obcecado por alguém por muito tempo, então pensei que estaria segura. Deveria ter imaginado que não seria assim." "Por que você não queria que ele soubesse meu nome?" Nash deu um passo atrás para me olhar melhor e a linha do seu queixo endureceu. "Porque ele é a morte Kaylee. Não importa o quão inocente ele pareça, ou quão desesperadamente agarra-se a noção de que é alguma espécie de herói da vida após a morte, arrancar almas indefesas do ponto A ao ponto B, continua sendo um anjo da morte. Um dia pode encontrar seu nome em sua lista. E embora eu saiba que manter seu nome em segredo não te salvará se isso acontecer, não vou simplesmente entregar a sua identidade a um dos ratos da morte." "Ele sabe o seu nome." - Deixei que minha mão viajasse de seu peito, baixando por seu braço até que meus dedos estivessem entrelaçados com o dele. "O conheci antes que ele fosse um anjo da morte." "Sério?" - Até aquele momento, não tinha me ocorrido que Tod houvesse tido uma vida normal. Quem eram os Anjos da Morte antes de se envolverem com morte e aqueles que estavam morrendo? Nash assentiu com a cabeça, e abri a boca para fazer outra pergunta, mas ele colocou um dedo em meus lábios. - "Eu não quero continuar falando em Tod." "Isso é justo," - murmurei contra seu dedo. Então removi sua mão e fiquei na ponta do pé. - "Também não quero falar sobre ele." - Beijei-lhe, e meu pulso ficou louco quando me correspondeu. Sua língua encontrou-se brevemente com a minha então seus lábios viajaram sobre meu queixo e pescoço. "Mmm..." - Sussurrei em seu cabelo, quando sua língua lambeu o oco da minha clavícula. Meus braços se arrepiaram, e minhas mãos dirigiram-se para suas costas. Meus dedos jogados sobre o material da sua camiseta. - "Isso é bom." "Você tem um gosto delicioso." - Ele sussurrou contra minha pele. Mas antes que eu pudesse responder, um motor ligou em uma linha de distância de nós, e à luz de seus faróis nos banhou, deixando-me cega por um momento. Nash endireitou-se, gemendo de frustração quando o carro do outro lado aproximou-se de nós antes de virar em direção à saída. - "Acho que devo te levar pra casa." - Ele disse, protegendo os olhos da luz com uma mão enquanto a outra ficava no meu braço.
Pisquei, tentando livrar os círculos de luz dos meus olhos. - "Eu não quero ir para casa. Minha família inteira tem mentido para mim por toda a vida. Não tenho nada a lhes dizer." "Não quer saber por que eles têm estado mentindo para você?" Pisquei, por um segundo pega de surpresa pelo que me disse. Simplesmente não havia considerado confrontá-los com a verdade. Nunca pensei em chegar a isso. Um sorriso lento espalhou-se em meu rosto e o vi refletido no de Nash. - "Vamos."
Capítulo 12 "Você vai entrar, né?" - Perguntei a Nash quando passou por Park, mas deixou o motor ligado. Não havia luz suficiente na estrada para ver realmente seus olhos, mas eu sabia que ele estava me olhando. "Quer que eu entre?" Eu queria? Uma silhueta delgada apareceu na janela da frente: Tia Val, com uma mão no quadril direito, e a outra segurando uma xícara de café. Estavam esperando para conversar comigo. Ou melhor, para falar comigo, porque provavelmente eles não tinham a intenção de me dizer a verdade, mas não sabiam que alguém já o havia feito. "Sim, eu quero." Não é que precisasse dele para lutar minhas batalhas. Na realidade estava esperando exigir algumas respostas que me deviam há algum tempo, agora que a grande mentira - ou seja minha vida inteira tinha sido exposta. Mas sem duvida poderia usar um pouco de apoio moral. Nash sorriu, seus dentes brancos brilharam um pouco entre as sombras, e virou a chave para desligar o motor. Encontramo-nos na frente do carro e ele pegou minha mão, em seguida, inclinou-se para tocar com um beijo minha mandíbula, logo abaixo da orelha esquerda. Mesmo enquanto estávamos na entrada de casa, sabendo que minha tia e meu tio estavam esperando, seu toque me fez tremer na expectativa de mais. Eu não estou louca. Eu sabia agora. E não estava sozinha, Nash era como eu. Ainda assim, o medo era um utensílio plástico lentamente escavando dentro de mim enquanto abria a porta, em seguida a porta de tela. Caminhei pela entrada de azulejos e puxei Nash atrás de mim. Minha tia estava no meio da sala, uma máscara frágil de reprovação mal disfarçando um sentimento mais forte de urgência que saía pelos cantos. Meu tio levantou-se imediatamente de sua cadeira, segurando os dois com um único olhar. Para seu crédito, a primeira expressão que passou em seu rosto foi a de alívio. Ele tinha estado preocupado, provavelmente porque não havia respondido a nenhuma das doze mensagens que havia deixado no meu celular em modo silencioso. Mas seu alívio não durou muito tempo. Agora que ele sabia que eu estava viva, parecia pronto para me matar ele mesmo.
A ira do tio Brendon demorou-se em mim, então foi transferida quando sua atenção mudou-se para Nash. - "É muito tarde. Tenho certeza de que Kaylee vai vê-lo no funeral amanhã." Tia Val só tomou um gole de “café”, sem me oferecer qualquer ajuda. Nash me olhou para decidir, e meu forte aperto em sua mão demonstrou minha determinação. "Tio Brendon, este é Nash Hudson. Preciso lhe fazer algumas perguntas, e ele vai ficar. Ou, vou com ele." As sobrancelhas escuras de meu tio baixaram e seu olhar endureceu, mas logo seus olhos estavam bem abertos pela surpresa. "Hudson?" - Estudou Nash com mais cuidado agora, e o reconhecimento repentino iluminou seu rosto. - "Você é filho de Trevor e Harmony?" O quê? Meus olhos saltaram entre eles confusos. À minha esquerda, tia Val tossiu violentamente e bateu em seu próprio peito. Ela tinha se engasgado com o "café". "Vocês se conhecem?" - Eu perguntei, mas Nash parecia tão perdido quanto eu me sentia. "Conheci seus pais há anos atrás." - Disse meu tio Brendon a Nash. - "Mas eu não tinha idéia de que sua mãe estava de volta nesta área." - Ele colocou as mãos nos bolsos da calça jeans, e o gesto incerto fez meu tio parecer ainda mais jovem do que o habitual. - "Fiquei muito triste quando ouvi sobre seu pai." "Obrigado, senhor." - Nash acenou com a cabeça, a mandíbula, tensa, tanto seu movimento como as palavras estavam bem praticadas. Tio Brendon virou-se para mim. - "Seu pai era amigo..." - E foi aí quando lhe ocorreu. Seu rosto ficou vermelho, e sua expressão pareceu escurecer-se. - "Você disse a ela." Nash assentiu com a cabeça novamente, segurando seu olhar com ousadia. - "Ela tem o direito de saber." "E, obviamente, nenhum de vocês ia me dizer." - Tia Val mergulhou na cadeira mais próxima e esvaziou o copo, então quase o deixou caiu sobre uma mesinha. "Bem, não posso dizer que isso é totalmente inesperado. Seu pai já esta a caminho para te explicar tudo." - As mãos de meu tio jaziam dos lados, como se ele não soubesse bem o que fazer com elas. Então, suspirou e acenou com a cabeça para si mesmo, como se tivesse chegado a algum tipo de decisão. - "Sentem-se. Por favor. Tenho certeza de que ambos têm perguntas." "Vocês querem algo para beber?" - Tia Val levantou-se hesitante, com seu copo vazio na mão.
"Sim." - Dei-lhe um sorriso doce. - "Beberei o que você está tomando." Ela franziu o cenho, pela primeira vez sem se preocupar com as rugas gravadas em sua testa, então, fez seu caminho lentamente para a cozinha. "Eu adoraria tomar um pouco de café." - Disse tio Brendon para ela enquanto afundava-se na cadeira estofada em floral, mas sua esposa desapareceu pela esquina do corredor, sem responder. Eu sentei no sofá e Nash sentou ao meu lado, e no silêncio repentino, percebi que minha prima não tinha vindo a questionar-me ou flertar com ele. E nenhuma música vinha de seu quarto. Nenhum som na verdade, sem dúvida. - "Onde está Sophie?" Tio Brendon suspirou profundamente e pareceu afundar ainda mais na poltrona. "Ela não sabe nada sobre isso. Está dormindo." "Ainda?" "Uma vez mais. Val acordou-a para jantar, mas ela não comeu nada. Então, tomou mais um daqueles malditos comprimidos e foi para a cama. Deveria ter tirado do banheiro o resto deles." - Murmurou a última parte, mas ambos ouvimos. E eu concordei inteiramente com ele sobre isso, ainda que eu discorde de muitas outras coisas. Abastecendo a bravata com minha raiva latente, preguei meu tio com o olhar mais ousado que eu poderia conseguir. - "Então eu não sou humana?" Ele suspirou. - "Você nunca faz rodeios." Eu só fiquei olhando para ele, não querendo distrair-me com disparate sem sentido. E quando meu tio começou a falar, apertei a mão de Nash mais forte que nunca. "Não, tecnicamente, não somos humanos." - Disse ele. - "Mas a diferença é muito pequena." "Sim, naturalmente." - Revirei os olhos. - "Exceto por toda a morte e gritos." "Então você também é um Bean Sidhe, certo?" - Nash interveio, lubrificando as engrenagens do discurso com mais cortesia do que eu poderia ter reunido naquele momento. Pelo menos um de nós estava calmo... "Sim. Como é o pai de Kaylee, meu irmão." - Os olhos de tio Brendon se encontraram novamente com os meus, e eu sabia o que ia dizer por causa da simpatia cautelosa brilhando em seus olhos. - "Como o era sua mãe." Isto não era sobre minha mãe. Até onde eu sabia, ela nunca havia mentido para mim. - "E quanto à tia Val?"
"Humana." - Ela respondeu por si mesma, entrando na sala com uma xícara fumegante de café em cada mão. Ela cruzou o tapete com cautela e entregou uma caneca para meu tio cuidadosamente antes de afundar na poltrona em frente dele. "Como é Sophie." "Você tem certeza?" - Nash franziu a testa. - "Talvez ela simplesmente não tenha tido a oportunidade de experimentar uma premonição ainda." "Ela estava lá com Meredith esta tarde." – Lembrei a ele. "Oh, sim." "Nós sabemos desde o momento em que ela nasceu." - Disse minha tia, como se nenhum de nós tivesse falado. "Como?" - Eu perguntei, enquanto cruzava lentamente e com cuidado uma perna sobre a outra. Tia Val levou a xícara aos lábios, em seguida, falou sobre o assunto. - "Ela chorou." Bebeu um gole de café, com seus olhos não muito focados na parede acima da minha cabeça. - "As mulheres Bean Sidhe não choram ao nascer." "Sério?" - Olhei Nash para confirmar, mas ele apenas deu de ombros, aparentemente tão surpreso quanto eu. Tio Brendon olhou para sua esposa, com preocupação crescente, em seguida, virouse para nós. - "Elas podem ter lágrimas, mas uma Bean Sidhe realmente nunca chora até que cante para sua primeira alma." "Espera, isso não pode estar correto." - Eu tinha chorado muito quando era criança, certo? Sem dúvida, no funeral da minha mãe...? Bem, eu realmente não lembrava muito dessa idade, mas eu sabia por que era um fato que tinha chorado muito quando levei minha bicicleta para fora da calçada em uma roseira, aos oito anos de idade. E mais uma vez aos onze anos, quando eu acidentalmente arranquei um brinco do meu lóbulo da orelha com uma escova de cabelos. E mais uma vez, quando tinham me deixado, pela primeira vez aos catorze anos. Por quanto tempo havia estado fazendo previsões fatais, sem nem sequer saber? Havia tido ataques inconsoláveis na pré-escola? Ou será que muito da minha juventude me mantive afastada da morte? Quanto tempo fazia que me tratavam como se fosse louca quando sabia-se o que estava acontecendo comigo o tempo todo? Minha coluna enrijeceu e senti que minhas bochechas tingiram-se de raiva. Cada resposta de meu tio só trazia mais perguntas sobre coisas que eu deveria ter sabido o tempo todo. - "Por que não me disse?" - Perguntei, rangendo os dentes para não
gritar e acordar Sophie. Eu tinha perdido muito. Inúmeras horas desperdiçadas duvidando de minha própria sanidade. Quando o que realmente deveria ter duvidado era de minha humanidade! "Sinto muito, Kaylee. Eu queria." - Tio Brendon fechou os olhos, como se reunisse seus pensamentos, então se virou para mim e para minha surpresa, percebi que eu acreditava. - "Eu comecei a te dizer no ano passado, quando estava... no hospital. Mas seu pai me pediu para não dizer. O estrago já estava feito, e ele esperava que pudéssemos esperar um pouco mais. Pelo menos até que terminasse a escola secundária." Para isso que eles esperavam que tivesse mais tempo! Não para a vida, mas para uma normal e humana adolescência. Um pensamento nobre, mas algo faltou na execução. "Estou surpresa que sua pequena farsa tenha durado por todo esse tempo!" Encontrei-me na borda do sofá enquanto falava, a mão de Nash ainda apertada na minha. Foi à única coisa que me manteve sentada, enquanto exalava toda a raiva e ressentimento que ameaçava explodir através do topo do meu crânio. - "Quanto tempo você acha que levaria antes que eu topasse com alguém à beira da morte?" Tio Brendon encolheu os ombros miseravelmente, mas sustentou meu olhar. - "A maioria dos adolescentes nunca vêem ninguém morrer. Estávamos esperando que você fosse feliz... e que poderíamos esperar e deixar que seu pai explicasse tudo isso... mais tarde. Quando estivesse pronta." "Quando eu estivesse pronta? Estava pronta no ano passado, quando vi uma criança careca em uma cadeira de rodas sendo empurrada pelo shopping em sua própria mortalha! Vocês estavam esperando que ele estivesse pronto." - Para meu pai finalmente dar um passo à frente e ganhar o título. "Ela está certa, Brendon." - Tia Val hesitou agora esparramada em sua cadeira, com as pernas abertas sem classe em seu vestido. Olhei-a, à espera de mais, mas voltouse para meu tio, quando ela levou a xícara à boca, em vez de falar. "Por que manter isso em segredo, em primeiro lugar?" "Por que você..." - Tia Val começou novamente, apontando sua xícara meio vazia. Mas meu tio a deteve com um olhar severo. "Isso quem deve explicar é seu pai." *** "Não é como se ele não tivesse tido tempo." - Espetei – “Teve dezesseis anos." Tio Brendon assentiu com a cabeça, e vi pesar em seu rosto. - "Eu sei, todos nós tivemos. E considerando em como você terminou descobrindo" - Ele olhou para Nash
se desculpando. - "Acho que estávamos errados em esperar tanto tempo. Mas seu pai estará aqui pela manhã, e eu não vou me ocupar do resto. Essa história cabe a ele contar." Havia uma história? Não é apenas uma explicação simples, mas uma história real? "Ele realmente vem?" - Vou acreditar quando o ver. No entanto, meu peito apertou-se, atravessado por uma descarga de adrenalina ao pensar que meu pai tinha as respostas que ninguém estava disposto a me dar. Mas poderia ter sabido que precisava de um desastre para ele voltar a esse lado do estado de novo. Ele não viria para me ver. Viria para fazer controle dos danos antes que minha tia fizesse mais acusações. Tio Brendon franziu o cenho ante meu ceticismo, óbvio que provavelmente podia ver girando em meus olhos. - "Nós o chamamos esta tarde." "Eu o chamei." - Tia Val corrigiu. - "Eu disse a ele para colocar seu rabo em um avião, ou eu..." "Já teve o suficiente." - Meu tio se colocou de pé antes que eu pudesse piscar, e em um instante depois segurava a xícara de sua esposa. Ela curvou-se na cadeira, com os olhos arregalados pela surpresa repentina, com a mão ainda em curva, como se estivesse em torno da xícara. - "Vou te pegar um café fresco." - Ele parou no limiar entre a sala de estar e a sala de jantar com a xícara de Tia Val agarrada com tanta força que seus dedos estavam brancos. -"Desculpe" - disse a Nash. - "Minha esposa não está levando isso muito bem. Ela está preocupada com as meninas, e é amiga da mãe de Meredith Cole." Sim, mas ela e a Sra. Cole eram companheiras de academia, não gêmeas siamesas. E apenas havia visto minha tia beber mais que um só copo de vinho uma vez - dizia que o álcool tinha muitas calorias. Nash assentiu. - "Minha mãe ficaria chateada também." Sim, mas eu aposto que ela não estaria se afogando na brandy11... "Como está sua mãe?" "Ela ainda sente falta dele." - Nash olhou para as nossas mãos entrelaçadas, obviamente, desconfortável falando sobre sua própria família. A expressão de Tio Brendon suavizou-se com simpatia. - "Com certeza sente." - Então se virou para a cozinha e deixou o resto do assunto.
11
Brandy.
Por um momento, nós ficamos olhando para o tapete, em silêncio, sem saber muito bem o que dizer. Tocou-nos um período de calma na conversa mais difícil da minha vida, e eu não estava exatamente ansiosa para tomá-la novamente. Mas tia Val, obviamente estava. - "Ela não teria gostado disso." - Seus olhos focados no chão há alguns metros na frente de sua cadeira, os braços apoiados sobre os lados e as mãos balançando. Eu nunca a tinha visto tão... Sem sentido. Flácida. "Minha mãe?" - Nash perguntou confuso, mas eu sabia o que queria dizer. Ela falava de minha mãe. "Não teria gostado do que?" - Perguntei curiosa, apesar da minha raiva persistente. Ninguém parecia estar disposto a falar sobre a minha mãe na minha frente. "Se tivesse sido de outra forma, ela teria lhe dito a verdade. Mas Aiden não poderia enfrentar isso. Nunca foi tão forte como ela." - O olhar da tia Val me encontrou e fiquei surpresa com a claridade repentina em seus olhos. A inesperada intensidade brilhando através do esmalte da intoxicação. - "Eu nunca conheci ninguém mais forte do que Darby. Eu queria ser como ela até..." "Valerie!" - Tio Brendon ficou paralisado na soleira da porta, uma nova e certamente cravada xícara de café na mão. "Até o quê?" - Olhei de um para outro. "Nada. Ela não sabe o que está dizendo." - Colocou a xícara sobre a mesa mais próxima do lado de uma porcelana de montanha, e atravessou a sala em uma passada constante, quase expirando frustração e ansiedade. Tio Brendon ergueu a mulher de sua cadeira com um braço em torno dela e ela cambaleou instável, dando crédito a sua afirmação. No entanto, apesar de suas pernas trêmulas, seus olhos eram firmes quando se conectaram com os dele, e sua censura silenciosa não escapou a ela. Mas também não a fez retratar-se de sua declaração. Com o que acabava de acontecer entre eles, estava claro que tia Val realmente sabia o que estava dizendo. Tio Brendon meio que carregou sua esposa para o corredor. - "Vou levá-la para descansar já é muito tarde. Foi bom vê-lo, Nash e, por favor, dê os meus cumprimentos à sua mãe." - Ele me encarou e depois olhou para a porta. Obviamente, as horas de visita haviam acabado. - "Tio Brendon?" - Eu tinha uma pergunta que não podia esperar por meu pai e eu queria estar segurando a mão de Nash, quando ouvisse a resposta, só no caso. Meu tio hesitou na porta, e tia Val colocou a cabeça em seu ombro, os olhos já fechados. - "Sim?"
Tomei uma respiração profunda. - "O que Tia Val quis dizer quando disse que estou vivendo em tempo emprestado?" O entendimento apoderou-se dele como as ondas alisavam a areia da praia. - "Nos ouviu esta tarde?" Concordei, e minha mão apertou com mais força a mão de Nash. Um triste olhar afastou seu sorriso e puxou tia Val contra ele. - "Isso é parte da história de seu pai. Tenha um pouco de paciência e deixe que ele te diga. E tente confiar em mim, Val realmente não sabe o que está falando." Eu exalei em desapontamento. - "Está bem." - Isso era o melhor que eu ia conseguir, eu já sabia. Felizmente, meu pai estaria lá pela manhã, e desta vez não o deixaria ir, sem responder a cada uma das minhas perguntas. "Durma um pouco Kaylee. Você também Nash. Com o funeral, amanhã, provavelmente, não será mais fácil do que foi hoje." Ambos concordamos com a cabeça e tio Brendon levantou tia Val em seus braços que estava roncando levemente agora, e levou-a pelo corredor. "Wow." - Nash assobiou quando caí de volta contra o braço do sofá de frente a ele. "Quanto ela havia tomado?" "Não sei dizer. Ela não bebe muito, por isso que provavelmente, não precisa muito para colocá-la fora de combate, e começou esta tarde." "Minha mãe só cozinha quando fica chateada. Tem algumas semanas que vivo de brownies12 e leite achocolatado." Eu sorri. - "Vamos trocar." - Tia Val prefere levar um tiro que tocar em um barrinha de manteiga e muito menos em um saco de raspas de chocolate. Sua teoria era que não saber cozinhar a salvava de centenas de calorias mensais. Minha teoria é que para todos os brandys que havia tomado nas últimas oito horas, poderia ter tido uma bandeja de brownies. "Eu gosto de brownies. Está presa com sua tia." "Sim, eu já imaginava." Nash se levantou, e eu o segui até a porta, com o braço entrelaçado com o dele. "Vou levar o carro de Scott de volta antes que chame a polícia." - disse ele.
12
Brownie é um bolo de chocolate típico da culinária dos Estados Unidos da América. Tem um leve gosto de chocolate meio amargo. Geralmente acompanhado por sorvetes e geléias.
Acompanhei-o até a rua, e quando paramos na porta do lado do motorista, passei meus braços em torno de sua cintura quando os seus me rodearam. Eu o sentia tão bem, e o pensamento de que poderia tocá-lo sempre que quisesse enviou um bando de borboletas esvoaçantes para meu estômago. Encostei-me no carro e Nash inclinou-se até mim. Sua boca encontrou a minha, e meus lábios se abriram, dando-lhe boas vindas. Alimentava-me dele. Quando seus beijos se arrastaram por meu queixo e meu pescoço, deixei cair minha cabeça para trás, grata pelo ar frio da noite que resfriava o calor que ele me provocava como ondas. Seus lábios estavam quentes e o rastro de seus beijos queimou minha garganta e por cima da minha clavícula. Cada respiração era mais rápida que a anterior. Cada beijo, cada giro de sua língua contra a minha pele me escaldada da forma mais deliciosa. Seus dedos subiam desde minha cintura, enquanto seus lábios para baixavam, deixando a um lado a gola da minha camiseta. Whoa... - "Nash." - Coloquei minhas mãos em seus ombros. "Hum?" "Ei..." – Me impulsionei contra ele, e ele levantou-se para encontrar meus próprios olhos em chamas com sua íris batendo furiosamente a luz da varanda. Estava presente porque nós dois éramos de uma espécie? Este impulso irresistível de nos tocar? Meu pulso acelerado acalmou e meu coração começou a doer. Era realmente a mim a quem desejava, ou era nossa espécie que lançava nossos hormônios em marcha? Desejaria-me se eu fosse humana? Este assunto importava? Eu não era humana. E nem ele. "Você quer que te pegue para o funeral?" Seus olhos se estreitaram confusos por minha mudança repentina de assunto. Então, respirou fundo, diminuiu a turbulência nos olhos, e se instalou no carro ao meu lado. - "E seu pai?" "Ele pode ir por si mesmo." Nash revirou os olhos. - "Eu não acho que você quer ir, com seu pai na cidade." "Vou. E vou arrastar meu pai e meu tio também." Ele ergueu as sobrancelhas, deslizando um braço ao redor da minha cintura. - "Por quê?" "Porque, se algum anjo da morte vigilante está atrás de adolescentes, eu imagino que ele vá encontrar uma platéia cheia de nós muito difícil de resistir. E quanto mais
Bean Sidhes estiverem presentes, maior é a probabilidade de que um de nós o veja, certo?" "Em teoria." - Nash franziu a testa para mim, e pude sentir um "mas" vindo. - "Mas, Kaylee" - Sorri ligeiramente divertida por ter previsto algo que não seja a morte - "Isso não vai acontecer novamente. Não tão cedo. Não no mesmo lugar." "Foi o que aconteceu nos últimos três dias em seqüência Nash, e sempre acontece quando há grandes grupos de adolescentes. O funeral tem a maior concentração de nós em uma sala desde a graduação do ano passado. Há apenas tantas possibilidades que escolha alguém lá como em qualquer outro lugar." "E se ele aparecer? O que você vai fazer?" - Nash perguntou em um sussurro rouco. Olhou por cima do meu ombro para se certificar de que ninguém tinha aparecido na porta, em seguida, encontrou meus olhos novamente, e eu percebi que por trás de sua ira repentina estava o verdadeiro medo. Eu sabia que deveria estar com medo também, e de fato estava. O próprio conceito de Anjos da Morte executando a separação de sua colheita metafísica das cascas vazias de humanos fez com que meu estômago se agitasse e meu peito se oprimisse. E a idéia de realmente estar a procura de um dos Anjos da Morte... Bem, isso era uma loucura. Mas não tão louco para deixar que outra garota inocente morresse. Não se pudesse evitá-lo. Olhei para Nash, deixando que minha intenção se mostrasse no meu rosto. Deixando que a determinação girasse lentamente em meus olhos. "Não!" - Ele olhou para a casa, depois de volta para mim, com sua íris turva. - "Você ouviu o que Tod disse." - Sussurrou ele furiosamente. - "Qualquer anjo da morte disposto a roubar as almas não autorizadas não hesitará em tomar um dos nossos no lugar." "Nós não podemos deixar que mate a mais alguém." – Sussurrei de forma igualmente urgente. Eu resisti à vontade de dar um passo atrás, com um pouco de medo de que qualquer espaço físico que colocasse entre nós durante uma discussão levasse a uma distância emocional. "Nós não temos escolha," - Disse ele. Comecei a discutir, mas ele me interrompeu, correndo a mão por seu grosso cabelo castanho. - "Bom, olha, eu não queria ter que entrar nisso agora, pensei que você saber que não é humana era o suficiente para lidar por um dia. Mas há muitas coisas que você ainda não entende, e seu tio, provavelmente, vai explicar tudo isso em breve, de qualquer maneira." - Ele suspirou e encostou-se no carro, com os olhos fechados como se estivesse reunindo seus pensamentos. E quando encontrou meus olhos novamente, vi que sua determinação agora era equivalente a minha.
"O que podemos fazer juntos?" - Ele fez um gesto para trás e para frente entre nós com uma mão. - "Restaurar uma alma? É mais complicado do que parece, e há riscos muito além da taxa de troca." "Que riscos?" - Não era o taxa de troca ruim o suficiente? Um novo segmento de preocupação abria caminho por minha espinha, e me apoiei no carro ao lado dele, vendo a luz da varanda iluminando metade de seu rosto por um momento enquanto deixava o outro lado em uma iluminação escura com características fortes. Eu tinha certeza que tudo o que ele estava prestes a dizer era tão estranho quanto descobrir que sou uma Bean Sidhe, precisava do carro de Carter atrás de mim para apoiar-me. O olhar de Nash pegou o meu, com seus olhos agitados no que só poderia ser medo. "Bean Sidhes e anjos da morte não são os únicos aí fora, Kaylee. Existem outras coisas. Coisas para as quais não tenho nome. Coisas que você nunca irá querer ver, e muito menos ser vista por elas." Minha pele arrepiou-se diante de suas palavras. Bem, isso é mais do que apenas um pouco assustador. E ainda assim, muito vago. - "Bem, onde estão esses fantasmas aterrorizantes?" "A maioria deles estão no Outro Mundo." "E onde é isso?" - Cruzei os braços sobre o peito, e meu cotovelo bateu no espelho retrovisor do carro de Carter. - "Porque isso soa como uma viagem estilo Peter Pan." No entanto, meu sarcasmo era um fino véu para os dedos gelados de inquietação rastejando dentro da minha carne. Teria sido fácil negar as afirmações deste Outro Mundo como cenas de filmes de horror, se eu não tivesse descoberto que não era humana. "Isto não é engraçado, Kaylee. O Outro Mundo esta aqui conosco, mas não realmente aqui. Está ancorado em nosso mundo, mas mais profundo do que os seres humanos podem ver. Se isso faz sentido." "Não muito," - eu disse, mas o ceticismo havia passado, minha voz soava leve e parecia vazia. - "Como sabemos desse Outro Mundo e essa... e que essa outra-coisa] esta lá, se não podemos vê-los?" Nash fez uma careta. - "Podemos vê-los, não somos humanos." - Como se eu precisasse de outro lembrete disso. - "Mas só quando você está cantando pela alma de alguém. E esse é o único momento que eles te vêem." E de repente eu me lembrei. A única coisa escura que pairando no beco, quando eu estava me lamentando por Heidi Anderson. O movimento no canto da minha visão quando a canção da alma de Meredith ameaçou sair. Eu tinha visto alguma coisa, mesmo que não tivesse caído em pranto.
É por isso que tio Brendon havia me dito para segura-lo dentro. Ele temia que eu visse muito. E talvez que esse “muito” me visse também.
Capítulo 13 Nash deve ter visto meu rosto e compreendido que eu estava perto do pânico, porque ele passou um braço em volta da minha cintura e me puxou para mais perto em cima do carro do Carter. - "Não é tão ruim quanto parece. Um Bean Sidhe experiente sabe como se manter seguro. Mas nós não somos experiente, Kaylee.” Foi legal da parte dele incluir-me nessa declaração, mas ambos sabíamos que eu era a novata. "Além disso, nós nem sequer sabemos com certeza que as garotas não estavam na lista. Isto ainda é tudo teoria. Uma muito improvável e perigosa teoria.” "Nós saberemos assim que Tod telefonar." - Eu insisti, as novas informações estavam girando na minha cabeça, complicando o que eu pensava estar disposta a fazer se a intervenção fosse necessária. “Isso pode não ser esta noite." "Será." - Ele iria descobrir para nós. Em breve. Nós realmente tivemos que chegar até ele, e ele realmente queria saber meu sobrenome, eu sabia no instante antes que ele desaparecesse que iria conseguir a informação. - “Por favor, me ligue assim que ele falar com você." Ele hesitou, depois concordou. - "Mas você tem que prometer que não vai fazer qualquer coisa perigosa, não importa o que ele diga. Você não vai cantar para uma alma sozinha." Como se eu fosse admitir se tivesse planejado algo arriscado... Além disso... - "Não tenho nenhum desejo de ver o Outro Mundo sozinha. E o meu pequeno talento não é bom sem o seu de qualquer maneira, certo?” "Bom ponto." - Ele relaxou um pouco e me deu um beijo de boa noite. Segurei-lhe apertado quando ele começou a se afastar, agarrando-me com o gosto e a sensação de todas as coisas boas e seguras. Nash se tornou uma brilhante torre de sanidade neste novo mundo de caos sem precedentes e perigos invisíveis. E eu não queria deixá-lo ir. Infelizmente, no mundo do toque de recolher e despertadores, ele não poderia ficar. Fechei e tranquei a porta quando ele saiu e fiquei observando pela janela da frente até que ele passou pela garagem e saiu fora do alcance da minha visão. Estava puxando as cortinas para fechá-las quando algo rangeu atrás de mim. "Kaylee?"
Eu pulei e girei para encontrar meu tio em pé no corredor, me observando. "Jeez, tio Brendon, você me deu um puta susto!” Seu sorriso era mais uma careta. - "Você não é a única por aqui com as orelhas grandes." "Sim, bem, não é com as orelhas grandes que me preocupo e sim com a boca grande." - Disse eu, agradecida por ouvir o ronco de Sophie novamente, agora que o resto da casa estava em silêncio. Caminhei através do tapete na direção do meu tio, dando a volta e entrando no corredor, esperando desesperadamente que ele estivesse blefando. Que ele realmente não tivesse ouvido minha pequena discussão com Nash. Ele me seguiu até meu quarto, e quando tentei fechar a porta atrás de mim, ele a segurou firmemente deixando a porta aberta. "O que está acontecendo, Kaylee?" "Nada." - Descuidadamente chutei o primeiro tênis e depois o outro no chão do meu armário. "Eu ouvi a conversa entre vocês dois." - Encostou-se no batente da porta, braços cruzados sobre seu amplo peito, ainda bem definidos após - quem sabe quantos anos de vida. - "O que você está planejando fazer no funeral, e quem é Tod?” Bem, merda. Coloquei de lado a pilha de roupas limpas e dobradas que Tia Val tinha colocado em minha cama há algumas horas e afundei no colchão, minha mente girando em busca de uma resposta que estava mais perto da mentira do que da verdade. Mas não me veio nada. Nada do que eu falasse soaria verdadeiro para ele, especialmente considerando que ele sabia mais sobre Bean Sidhes do que eu sabia... Qualquer coisa. Então, talvez eu deva lhe dizer a verdade... Dessa forma, se o desonesto Anjo da Morte aparecer no funeral e Nash se recusar a me ajudar por alguma tentativa equivocada de me proteger, certamente tio Brendon poderia tomar o seu lugar. Ele pode ser duro, mas por dentro era um grande urso de pelúcia, e ele não poderia ver mais uma garota inocente morrer antes de seu tempo, mais do que eu poderia. "Você tem certeza que quer ouvir isso?" - Apertei minhas pernas junto a mim na cama, brincando com a bainha desfiada do meu jeans. Tio Brendon sacudiu a cabeça. - "Tenho certeza que eu não quero ouvir. Mas vá em frente.”
“É melhor se sentar." - Avisei a ele, chegando a arrancar o meu iPod do meu travesseiro. Os fones de ouvido tinham ficado emaranhados de novo, acho que é o que eu recebo por adormecer enquanto estou usando eles. Meu tio deu de ombros, depois se acomodou na minha cadeira, esperando com os braços ainda cruzados sobre o peito. "Ok, este é o trato. E eu só estou lhe dizendo isso porque sei que você vai fazer a coisa certa. Então, tecnicamente, acho que a minha confissão voluntária me isenta de sofrer qualquer penalidade pelo que estou prestes a admitir.” Seus lábios se curvaram em um sorriso como se havia sido vetado na última hora. "Vá em frente..." Aspirei e segurei a respiração por um instante, querendo saber por onde seria melhor começar. Mas não havia nenhum bom lugar para começar, assim que, despejei tudo, esperando que minhas boas intenções contassem mais que a parte menos altruísta da história. - "Meredith Cole não foi à primeira." “Ela não foi a sua primeira premonição?" - Ele não parecia surpreso. Claro ele não poderia ter esquecido as outras, inclusive o incidente anterior a minha viagem para o hospital. "Isso também. Mas, quero dizer, ela não foi à primeira garota a morrer nesta semana. Houve uma no sábado à noite e uma ontem à tarde. Aconteceu da mesma forma com todas as três meninas.” "E você previu todas elas?" - Agora, pareceu surpreso com a testa enrugada e as sobrancelhas franzidas. "Não, eu nunca nem sequer vi a segunda." - Olhei para o meu colo, evitando seus olhos enquanto meus dedos trabalhavam nervosamente nos fones de ouvido, tentando produzir dois fios separados a partir de um nó que para qualquer marinheiro teria sido motivo de orgulho. - "Mas eu vi a garota que morreu no sábado, e sabia que estava para acontecer. Foi a mesma coisa com Meredith esta tarde." Assumi que tia Val lhe tinha dito. "Espere, sábado à noite?" - A parte de trás da cadeira rangeu e eu olhei para cima quando ele se inclinou para frente de olho em mim e com uma crescente suspeita. "Pensei que você estava em casa." Dei de ombros e levantei uma sobrancelha para ele. - "Eu pensei que era humana." Meu tio franziu a testa, mas acenou com a cabeça, como se quisesse dizer que eu tinha ganhado essa. Ainda assim, eu não podia acreditar que tia Val não tinha me entregado. Mesmo tendo sido legal da parte dela, não pude deixar de imaginar. Será que todos aqueles "cafés" a fizeram esquecer minha indiscrição?
"Então, onde esta primeira garota morreu?" - Ele se inclinou para trás, cruzando os braços grossos sobre o peito. - “Onde você foi?" De repente, os fios já enrolados em torno de meus dedos pareciam fascinantes... "Taboo, um clube na West End. Mas...” Ele fez uma careta, e mesmo com as grossas sobrancelhas marrons, sombras cruzaram seus olhos, pensei ter visto algum movimento verde em sua íris. Sei que nunca aconteceu antes. Eu teria notado. "Como é que você pode entrar em uma boate?" - Ele exigiu. - "Você tem uma identidade falsa?" Revirei os olhos. - "Não, eu só entrei pelos fundos." –Algo assim. - "Mas isso não é realmente o que importa." - Me apressei, esperando que ele se distraísse com a próxima parte. - "Uma das meninas no clube era... escura. Como se ela estivesse coberta por sombras, mas ninguém podia ver. E quando eu olhei para ela, eu sabia que ela ia morrer, e que o pânico, ou premonição, ou seja o que for, veio duro e rápido, tal como da última vez. Foi horrível. Mas eu não sabia que estava certa de que ela realmente ia morrer, até que vi a reportagem sobre a notícia ontem pela manhã.” Falando nisso... "Os outros estão mortos também? Os que eu vi no ano passado?” Meus dedos acalmaram no meu colo enquanto eu olhava para meu tio, implorando a ele, desafiando-o a me dizer a verdade. Ele parecia triste, como se não quisesse ter que dizer isso, mas não havia nenhuma dúvida em seus olhos. Nem qualquer hesitação. "Sim". “Como você sabe?" Ele sorriu quase amargamente. - "Porque vocês, garotas, nunca estão erradas.” Maravilha. Morbidamente precisas. Parece o discurso de propaganda de uma cartomante para lhe dizer como conseguir fortuna... "De qualquer forma, depois que eu vi a notícia ontem de manhã, fiquei meio assustada. E então aconteceu de novo naquela tarde, e as coisas ficaram realmente estranhas." "Mas você não previu uma, certo?" Concordei e deixei meus fones irremediavelmente atados em meu colo.
"Eu ouvi falar da segunda, mas tive que procurar a história na internet. Esta garota em Arlington morreu exatamente como a garota no Taboo. E como Meredith. As três apenas... caíram mortas, sem nenhum aviso. Isso parece normal para você?” "Não." Para seu crédito, meu tio nem sequer hesitou. "Mas isso não exclui a possibilidade de coincidência. Quanto Nash disse a você sobre o que podemos fazer?” "Tudo o que importante, eu espero." - E mesmo que ele tivesse deixado alguns buracos, foi muito melhor do que as armadilhas que a minha própria família havia criado em minha consciência. Sem mencionar a minha psique. Os olhos de tio Brendon se estreitaram em dúvida, e ele cruzou as pernas. - "Será que ele mencionou o que acontece à alma de uma pessoa quando morre?" "Yeah. É aí que entra o Tod” "Quem é Tod?” “O Anjo da Morte que trabalha no hospital. Ele está preso lá, porque ele deixou uma menina viver quando ela deveria morrer, e seu chefe assassinou a avó da menina em seu lugar. Mas de qualquer maneira...” Tio Brendon saiu da cadeira, o rosto vermelho, mas tão vermelho que eu pensei que ele poderia estar tendo um aneurisma. Será que Bean Sidhes tinham aneurismas? "Nash levou você para ver um anjo da morte?" - Ele pisou em meu tapete, gesticulando com raiva com ambos os braços. - "Vocês têm alguma idéia de como isso é perigoso?" Tentei responder, mas ele veio para frente, parando no final da minha cama olhando para baixo para mim enquanto ele falava. "Anjos da morte não gostam de Bean Sidhes. Nossas habilidades estão em desacordo com as deles, e a maioria deles se sentem muito ameaçados por nós. Ir para ver um anjo da morte é como andar em uma delegacia de polícia acenando com uma espingarda carregada.” "Eu sei." - Dei de ombros, tentando acalmá-lo. - "Mas Nash conhecia esse cara antes dele se tornar um anjo da morte. Eles são meio que amigos.” "Isso pode ser o que ele pensa, mas eu duvido que Tod concorde."
E ele estava andando novamente, como se quanto mais rápido ele andasse, mais rápido ele poderia pensar. Apesar de minhas dúvidas sobre essa técnica ser resultado de experiência pessoal. "Bem, ele deve, porque ele vai nos ajudar." - Não é preciso mencionar que a sua ajuda se originou mais do meu envolvimento no assunto do que o de Nash. “Ajudar vocês em quê?” - Tio Brendon congelou a meio caminho entre a sala, de frente para mim, e desta vez seus olhos estavam definitivamente um turbilhão. “Ajudar-nos a descobrir o que está acontecendo. Ele vai conseguir algumas informações para nós.” A expressão de meu tio escureceu, e minha respiração ficou presa na garganta quando o verde em sua íris mudou tão rápido que me deixou zonza. "Que tipo de informação? Kaylee, o que você está fazendo? Eu quero a verdade, e eu quero agora ou eu juro que você não vai deixar essa casa de novo, até ter completado vinte e um anos.” Eu tinha que sorrir para a ironia do tio Brendon me pedindo a verdade. Suspirei e me sentei reta na cama. "Ok, eu vou te dizer, mas não enlouqueça. Não é tão perigoso quanto parece... Eu espero... Porque há essa brecha na troca, e..." "A troca?" – O rosto de tio Brendon passou de tomate vermelho a contagem regressiva nuclear em menos de um segundo. E depois havia mais de estimulação. "É por isso que seu pai queria ser o único a lhe explicar tudo. Ou pelo menos eu. Dessa forma, nós saberíamos o quanto você saberia e sobre quanto você ainda seria inocente.” "Eu não sou inocente." - Meu temperamento explodiu, e larguei o meu iPod na minha mesa de cabeceira, antes de ajeitar acidentalmente o cabo. “Você é, se acha que sabe de tudo que envolve a troca. Você não tem nenhuma idéia de quão perigoso pode ser mexer nos negócios do anjo da morte!" "A ignorância é perigosa, tio Brendon. Você não entendeu?" Levantei, peguei um par limpo de jeans e sacudi-os duramente, satisfeita, quando o material agarrou contra si mesmo, fortemente aumentando a minha raiva. "Eventualmente, se as premonições continuassem, eu teria sido incapaz de manter preso o meu grito. Eu teria acabado atrasando a agenda de algum anjo da morte aleatório e isso realmente o deixaria furioso, sem mencionar as outras criaturas invisíveis que estão lá fora, sem idéia do que estava fazendo. Vê? Quanto mais tempo você me mantém no escuro, maior a chance de que
eu vou tropeçar em algo que não entendo. Nash sabe disso. Ele explicou as possibilidades e as possíveis conseqüências. Ele me armou com conhecimento, porque ele entende que o melhor ataque é saber como evitar os problemas." "Pelo que eu ouvi me parece que você está à procura de problemas." "Não de problemas. Mas a procura da verdade." - Deixei cair o jeans dobrado na extremidade da cama. - "Houve muito pouco disso aqui, e mesmo agora que eu sei o que eu sou você e tia Val ainda estão mantendo segredos.” Ele exalou profundamente e se sentou na beirada da minha cômoda, passando uma mão pelo cabelo despenteado. "Nós não estamos guardando segredos de você. Nós estamos dando ao seu pai a oportunidade de agir como um verdadeiro pai.” "Ah!" - Pisei em volta da cama para colocá-la entre nós, em seguida, peguei uma blusa de manga comprida da pilha. - "Ele teve dezesseis anos para ser um pai. O que faz você pensar que ele vai começar agora?” "Dê-lhe uma chance, Kaylee. Ele pode lhe surpreender." "Não é provável." - Dobrei a camisa em vários movimentos curtos acentuados e em seguida, jogue-a em cima do jeans, deixando um braço livre para balançar para o lado. - "Se Nash soubesse o que meu pai tem para me dizer, ele iria me dizer.” Tio Brendon inclinou-se e virou o braço da minha blusa e colocou em cima do jeans. - "Nash nunca deveria ter te levado para ver um Anjo da Morte, Kaylee. Bean Sidhes não têm defesas naturais contra a maioria das outras coisas lá fora. É por isso que vivemos aqui, com os seres humanos. A chave para longevidade reside em ficar fora da vista. E ter apenas um único encontro com o Anjo da Morte em sua vida – no fim dela.” "Isso é ridículo!" - Joguei outra camisa dobrada na pilha e puxei um par de calça de pijama da pilha. - "Um anjo da morte não pode tocá-lo a menos que seu nome apareça na sua lista, e quando isso acontece, não há nada que você possa fazer para detê-lo. Evitar anjos da morte é inútil. Especialmente quando ele pode ajudar você." Em teoria. Mas não foi a minha teoria sobre as garotas mortas com base na suspeita de que pelo menos um anjo da morte se desviou de seu propósito? "Qual é a verdade que este anjo da morte está te ajudando a procurar?" - Tio Brendon afundou na cadeira com um suspiro que soava como derrotado. Ele esfregou sua testa, como se ele estivesse com dor de cabeça, mas eu não seria responsabilizada por isso. Se todos os adultos na minha vida não tivessem mentido para mim por treze anos, nada disto teria acontecido.
"Ele está dando uma olhada na lista mestre, dos últimos três dias, para descobrir se as meninas que foram mortas estavam nela.” “Ele o quê?" - Tio Brendon estava totalmente assustado, e o único movimento no quarto foi o de tic na borda externa da sua pálpebra esquerda. "Não se preocupe. Ele não vai roubá-la. Ele só vai olhar.” "Kaylee, está não é a questão. O que ele está fazendo é perigoso para vocês três. Anjos da morte levam suas listas muito a sério. As pessoas não devem saber quando vão morrer. É por isso que você não pode avisá-los. Depois de ter uma premonição, você não pode falar, certo?” "Sim." - Arranquei alguns fios sobre as calças de flanela, claramente desconfortável com a direção em que a discussão estava indo, e a culpa que trazia. - "Eu tentei avisar Meredith, mas eu sabia que se eu abrisse minha boca, só seria capaz de gritar.” Tio Brendon acenou sombriamente. - "Há uma boa razão para isso. Luto consome as pessoas. A morte iminente obceca as pessoas. Já é ruim o suficiente quando uma pessoa sabe que está morrendo de câncer terminal, ou algo parecido. Mas saber o momento exato? Para que ter a data e hora estampada em seu cérebro, saber o quão perto a sua vida está para acabar? Isso iria enlouquecer as pessoas.” Eu estava virada para ele, apertando tão forte as calças com minhas mãos. - "Você acha que eu não sei isso?” “É claro que você sabe." Correu uma mão pelo cabelo castanho espesso, expirando pela boca em frustração. "Você sabe muito melhor do que eu poderia, tanto que você foi hospitalizada." "Não, você e tia Val me internaram." - Eu não poderia deixar isso de fora. "Como última alternativa, sim." - Tio Brendon admitiu o ponto com um único aceno rápido de cabeça. - "Mas só porque nós não poderíamos ajudá-la por nós mesmos. Não poderíamos mesmo acalmá-la. Você gritou por mais de uma hora depois que a premonição passou, embora eu provavelmente fosse o único que podia dizer quando isso aconteceu.” Virei-me e abri a gaveta da minha cômoda, em seguida, coloquei o pijama dentro. "Como pode você dizer?” “Os homens Bean Sidhes ouvem o choro de uma mulher como ele realmente soa. Depois de um tempo, mudou sua música para uma alma gritando de forma regular. Você estava apavorada, histérica e ficamos com medo de você se machucar. Não sabíamos o que fazer.”
“Não ocorreu a você falar comigo? Dizer-me a verdade?" - Arranquei vários pares de roupa íntima do monte e despejei em outra gaveta, em seguida, bati e fechei. “Eu queria. Eu tentei, em um momento, mas você não quis ouvir. Duvido que você pudesse me ouvir sobre o seu próprio grito. Eu não conseguia acalmá-la, mesmo quando tentei influenciá-la.” “Nash consegue. Ele já fez isso duas vezes até agora." - Afundei na minha cama com a lembrança, distraidamente puxando outro pacote de pano no meu colo, aplacado por apenas estar pensando em Nash. "Ele conseguiu?" - Um olhar estranho passou por cima do rosto do meu tio, uma combinação ímpar de surpresa, melancolia e preocupação. - "Ele consegue influenciar você?" "Só para me acalmar durante essas duas premonições. Por quê?" E de repente eu entendi o que ele estava realmente pensando. "Não! Ele nunca iria tentar influenciar-me para fazer algo. Ele não é assim.” Ele pareceu considerar meu ponto por um momento e, finalmente, concordou. "Bom. Fico feliz que ele possa ajudar você a controlar o seu lamento, mesmo que tenha de usar a sua influência. Isso é certamente melhor do que a outra alternativa." Sorriu para me colocar à vontade, mas em vez disso, a linha de tempo da sua boca, me deixou apreensiva. "Mas nós nos desviamos da questão inicial. Kaylee, você não pode se envolver nos negócios dos anjos da morte. E você certamente não deveria ter pedido a um deles para espionar um colega de trabalho assim. Se ele é pego, não vai ser bonito. Eles provavelmente irão despedi-lo." "E daí?" O que era perder um emprego em comparação a evitar a morte de uma garota inocente? Além disso, perder o emprego não era o fim do mundo, Emma era uma prova disso. Ela tinha perdido um a cada dois meses em quase um ano até que ela foi contratada para trabalhar no cinema. "Um captor de almas parece uma bonita habilidade especializada, e Nash disse que há Anjos da Morte por todo o mundo. Com certeza ele pode encontrar outro emprego em outro lugar. Ele não gosta muito do hospital, de qualquer maneira.” Tio Brendon fechou os olhos e respirou fundo antes de segurar o meu olhar novamente.
"Kaylee, você não entende. Não há volta, uma vez que um anjo da morte perde a sua posição." "Volta? O que isso significa? Voltando de quê?” "Dos mortos. Anjos da morte estão mortos, Kaylee. A única coisa mantendo os seus corpos e suas almas em funcionamento é o trabalho. Uma vez que um anjo da morte perde seu posto, acabou." "Nãooo." As meias que eu tinha empilhado caíram no meu colo enquanto eu tentava convencer minha mente do que eu tinha acabado de ouvir. Então, quando Tod disse que quase perdeu o emprego por deixar a menina viva, o que ele quis dizer foi que ele quase perdeu a vida. E se ele fosse pego espionando para mim, isso era exatamente o que iria acontecer. Não é legal. Nada divertido mesmo. Mas Por que inferno ele disse que faria isso? Certamente não foi só para obter o meu nome? Eu não era tão interessante e meu nome não podia ser muito difícil de encontrar por ele mesmo. Ele já sabia onde eu estudava. "Mas tivemos que fazê-lo." - Encontrei os olhos de tio Brendon, falando a verdade tão logo a reconheci. “Nós tínhamos de saber se as garotas estavam na lista. Eu não acho que elas deveriam morrer, e nós não saberíamos ao certo sem dar uma olhadinha na lista.” No entanto, minha resolução vacilou quando falei. Foi o mesmo velho dilema moral. Será que eu tenho o direito de decidir se valia à pena arriscar uma vida por outra? Uma vida de uma garota que nunca conheci, pela vida de um cara que eu tinha encontrado apenas uma vez? Um garoto que já estava morto, que certamente conhecia o risco quando ele concordou em fazer. De repente nada fazia sentido. Eu sabia no meu coração que essas garotas não deviam estar morrendo, mas tentando salvar a próxima iria me expor a criaturas que eu não podia sequer começar a imaginar em um mundo que eu não podia ver e colocando várias outras vidas em perigo. Incluindo a minha. Meus ombros caíram e olhei para meu tio em uma quase paralisante confusão. "Então o que eu deveria estar fazendo?" Odiei o quão jovem e inocente pareci, mas ele estava certo. Eu realmente não tinha idéia do que estava acontecendo, e todas as boas intenções do mundo não significariam nada se eu não soubesse o que fazer com elas.
"Eu não acho que há qualquer coisa que você possa fazer Kaylee." Tio Brendon parecia tão frustrado como eu. - "Mas nós não sabemos se há algo de errado ainda, e até que saibamos com certeza, você está apenas conseguindo problemas.” Eu tentei muito manter minha mente aberta. Para não tirar conclusões precipitadas. Afinal, eu não estava exatamente envolta em evidência. Tudo o que tinha era um mau pressentimento e alguma culpa pela alma levada. E mesmo que de alguma forma eu esteja certa, minhas opções eram poucas e distantes entre si. Para dizer exageradas. Acabei de descobrir que sou uma Bean Sidhe e ainda assim só tinha experimentado uma das habilidades que eu seria capaz de fazer. Não tinha nenhuma garantia de que poderia fazer qualquer coisa para salvar a vida da próxima garota, mesmo se ela estivesse indevidamente em perigo. Talvez eu deva ficar fora dos negócios do anjo da morte. Afinal, ele realmente não me envolve. Ainda. Mas se ele envolver em breve? Uma garota da minha escola já tinha morrido e não havia nenhuma garantia de que não aconteceria novamente. E isso pode acontecer a alguém. Poderia ser eu, ou qualquer um dos meus amigos. "Mas e se eu estiver certa? Se essas garotas estão morrendo antes do tempo, não posso ficar de braços cruzados e deixar acontecer de novo se eu posso, eventualmente, deter isso. Mas não posso salvar ninguém sozinha e colocar mais alguém nisso só vai colocar mais pessoas em perigo." - Como arrisquei Tod. E Nash. "Bem, então acho que você tem sua resposta. Mesmo se você estiver disposta a arriscar a si mesma para parar esses eventos, não vou deixar você fazer isso enquanto estiver sob meus cuidados, você não tem o direito de arriscar qualquer pessoa mais.” Abandonei a roupa pelo meu travesseiro, arrancando ansiosamente uma pena que estava saindo pela fronha. - "Então, eu devo apenas deixar uma garota inocente morrer antes do tempo?" Tio Brendon exalou fortemente. - "Não." - Ele se inclinou para frente com os cotovelos sobre os joelhos e tomou uma respiração longa e profunda. - "Eu vou te dizer o quê. Quando você tiver a resposta do anjo da morte, se for verificado que essas garotas não estavam na lista, entrarei nessa. Com o seu pai. Com uma única condição. Você vai jurar ficar fora disto.” “Mas...” "Nada de “mas”. Nós temos um acordo?" Abri minha boca para responder, mas ele me interrompeu.
"E antes de você responder, pense em Nash e em Tod, e quem mais você pode estar colocando em perigo se você tentar lidar com isso sozinha." Suspirei. Ele sabia que me tinha com essa última. "Ótimo. Vou deixar você saber o que Tod descobriu assim que eu souber de alguma coisa.” "Obrigado. Sei que nada disto é fácil para você." - Ele se Levantou e enfiou as mãos nos seus bolsos e eu deixei minhas meias na gaveta aberta atrás de mim. "Sim, bem, o que é um pouco de doença mental e patológica gritando entre a família?” O meu tio riu, inclinando-se contra a porta. - "Poderia ser pior. Você poderia ser um oráculo." "Há oráculos?" "Não tantos agora, e a maioria das pessoas são verdadeiramente certificáveis. Se você acha que prever uma morte é ruim para sua sanidade, tente saber o que vai acontecer a todos que encontrar, e ser incapaz de desligar as visões." Eu só podia tremer com esse pensamento. Como poderia haver tanto lá fora e eu nunca ter tido conhecimento? Como eu poderia não perceber que a metade da minha família nem sequer era humana? Não seria os olhos que tinham um turbilhão de cores, uma pista para mim? "Como eu nunca notei o turbilhão em seus olhos antes de hoje à noite?" Tio Brendon me deu um sorriso melancólico. "Porque eu sou muito velho e aprendi a controlar minhas emoções, na sua maior parte. Embora isso fique mais difícil de fazer em torno de você todos os dias. Acho que isso faz parte do motivo pelo qual seu pai permanece afastado. Quando olha para você, ele vê sua mãe e ele não pode esconder a sua reação. E se você visse seus olhos, você teria perguntas que ele não estava pronto para responder." Bem, não respondendo, já não era uma opção... - "Então, quantos anos você tem? De verdade.” Tio Brendon riu e olhou para o chão e por um momento eu pensei que ele não responderia e que eu tinha quebrado algum tipo de código de conduta dos Bean Sidhe ao perguntar. Mas, em seguida, ele encontrou os meus olhos, ainda sorrindo ligeiramente.
"Eu quis saber quanto tempo você levaria para perguntar. Completei 124 anos na última primavera.” "Puta merda!" - Senti meus olhos ficarem grandes quando o seu sorriso se aprofundou. - "Você poderia ter se aposentado há sessenta anos atrás. A tia Val sabe?” “Claro que sim. E ela me provoca sem piedade. Os filhos do meu primeiro casamento são mais velhos do que ela." "Você foi casado antes?" - Eu não pude segurar o choque na minha voz. Aquele sorriso de saudade estava de volta. - "Na Irlanda, há meio século. Temos que mudar de cidade a cada par de décadas para manter as pessoas sem perceber que eu não envelheço. Minha primeira mulher morreu em Illinois há vinte e quatro anos atrás, e nossos filhos ambos Bean Sidhes têm agora seus próprios netos. Lembre-me de lhe mostrar as fotos algum dia." Concordei entorpecida pela surpresa. "Uau. Então são crianças mais agradáveis do que Sophie?" - Eu não poderia ajudar, mas perguntei. Tio Brendon me deu uma careta indiferente, que se transformou em um sorriso simpático. "Sinceramente, sim. Mas Sophie ainda é jovem. Ela vai amadurecer sua atitude." De alguma forma eu tinha minhas dúvidas. Mas então algo me ocorreu. "Irônico, não é?" - Eu dei outro passo para trás, avaliando ele a partir de um ponto de vista melhor e de uma perspectiva totalmente nova. - "Você tem três vezes a idade da tia Val, e mesmo assim você parece muito mais jovem." Ele piscou o olho, uma mão na maçaneta da porta quando ele se virou para sair. "Bem, Kaylee, posso dizer-lhe direito agora que "irônico" não é bem como ela descreve.”
Capítulo 14 A música soou da escuridão, as pesadas, crocantes batidas pulsantes na minha orelha. Pisquei e puxei o cobertor sobre meus ombros, irritada com a interrupção do meu sono, mesmo quando me senti aliviada pelo fim do meu sonho. Que na realidade era mais um pesadelo. Enquanto dormia, havia estado navegando em uma paisagem escura, pontilhada por peculiares e vagas referencias disformes, figuras feitas de sombra que escorriam e deslizavam ao meu redor, sempre, fora de vista quando me virava para concentrarme neles. Mais a frente, as formas mais pesadas e, embora nunca chegassem perto o suficiente para focá-las, sabia que estavam me seguindo. No sonho, eu estava procurando alguma coisa. Ou talvez procurando encontrar minha maneira de sair de algo. Mas não pude encontrá-lo. No meu quarto, a música continuou tocando, e reclamei quando percebi que vinha do meu telefone. Ainda meia dormindo, me virei enroscando o pé no edredom, cheguei até minha mesa de cabeceira. Minha mão direita tocou o telefone, que saltava na superfície envernizada, e as vibrações me faziam cócegas nos dedos. Piscando lentamente, peguei o telefone e olhei para a tela, chocada ao perceber que lançava um suave brilho verde no meio do quarto. O número era desconhecido, e não havia nenhum nome disponível. Provavelmente, um número errado, mas abri o telefone de qualquer maneira, devido a hora do dia aparecer na tela. Era 01h33am. Não se liga no meio da noite, a menos que algo esteja errado. "Alo?" - disse com voz rouca, soando tão alerta como um urso em janeiro. E quase tão amigável. "Kaylee?" Muito para um número errado. - "Hum, sim?" "É o Tod." Sentei-me tão rapidamente que minha cabeça girou, e tive que esfregar os olhos para fazer as luzes na parte de trás das minhas pálpebras pararem de piscar. - "Nash lhe deu meu número?" - Isso soou suspeito, mesmo com o sono encobrindo meu cérebro como uma névoa sobre um lago frio. "Não, não liguei para ele ainda. Eu queria dizer a você primeiro." "Okaaay..." - No entanto, mesmo com informações importantes praticamente penduradas nos lábios, eu não poderia descartar os „comos e os porquês‟. - "Onde você conseguiu meu número?" "Ele está programado no telefone de Nash." "E como você conseguiu seu telefone?"
"Ele deixou em seu armário." - A voz de Tod era tão suave e despreocupada, e eu quase podia imaginá-lo dando de ombros enquanto falava. "Você entrou no quarto dele? Como conseguiu entrar?" - Mas depois me lembrei dele desaparecendo da vista de todos na cafeteria do hospital. - "Não importa." "Não se preocupe, ele não tem nem idéia." "Esse não é o ponto!" - Gemi e me inclinei para tocar a base da minha lâmpada uma vez. Ela acendeu na luz mais fraca. - "Você não pode simplesmente entrar sorrateiramente na casa das pessoas sem permissão. Isso é invasão. Uma invasão de privacidade. É assustador..." Tod suspirou do outro lado da linha. - "Eu trabalho doze horas por dia. Não tenho que comer ou dormir. O que mais se supõe que eu faça com a outra metade da minha vida depois da morte?" Encostei-me na cabeceira da cama e removi o cabelo emaranhado do meu rosto. "Eu não sei. Vá ver um filme. Matricule-se em algum curso. Mas fique longe... - Me sentei, olhando com desconfiança para meu próprio ambiente, quando algo me ocorreu. - "Você já veio no meu quarto?" Um riso suave, genuíno soprou sobre a linha. - "Se eu soubesse onde é seu quarto, estaríamos falando pessoalmente. Infelizmente, Nash não tem seu endereço em seu telefone. Ou escrito onde eu poderia encontrar sem acordá-lo." "Graças a Deus pelos pequenos milagres." - Murmurei. "No entanto, ele tem seu sobrenome. Srta. Cavanaugh." Merda. Com meu sobrenome, e seu “poof” conveniente como método de viagem, não levaria muito tempo para descobrir onde eu morava. Talvez tio Brendon tenha razão sobre os anjos da morte. "Você não quer saber por que eu liguei, Kaylee Cavanaugh?" - Ele zombou. "Hum... sim." - Mas eu já não tinha certeza se a informação valia a pena ter que lidar com Tod, o anjo da morte, que parecia cada vez mais „sombrio‟ com cada palavra que dizia. "Bom. Mas devo dizer-lhe que os termos do nosso acordo mudaram." Mordi meu lábio inferior, cortando um gemido de frustração. - "O que isso significa?" Podia ouvir o ranger das molas através do telefone, quando ele se instalou no que seja que estivesse sentado, e quase pude saborear a satisfação infiltrando-se através
do telefone. - "Concordei em olhar a lista em troca do seu sobrenome. Fiz minha parte, mas já não preciso do pagamento acordado. Felizmente para você, estou disposto a renegociar." "O que você quer?" - Perguntei, satisfeita ao ouvir que a suspeita era tão audível na minha voz como o prazer era na dele. "Seu endereço." "Não." - Eu nem sequer tive que pensar sobre isso. - "Eu não quero você aqui se esgueirando para me espionar." - Ou revelando-se a Sophie, cujos pais não queriam ela exposta a esse admirável mundo novo das trevas. "Oh, vamos, Kaylee. Eu não faria isso." Revirei os olhos, mesmo sabendo que ele não podia me ver. - "Como eu sei disso? Você estava na casa de Nash esta noite." "Isso é diferente." "Como isso é diferente?" - Puxei meu edredom até a cintura e deixei cair à cabeça para trás contra a cabeceira. "Isso... não importa." "Diga-me." Ele hesitou, e molas rangeram de novo na extremidade da conexão. - "Conheço Nash há um longo tempo. E às vezes, eu só... não quero estar sozinho." - A vulnerabilidade em sua voz ecoou em meu coração, tentando me confundir. Mas, então, suas palavras reais foram processadas em minha cabeça. "Você já fez isso antes? O que, gasta seu tempo lá?" "Não. Não é assim. Kaylee... você não pode lhe dizer!" - Apesar da seriedade do seu fundamento, eu sabia que Tod não tinha medo de Nash. Ele estava com medo de passar vergonha. Eu acho que algumas coisas não mudam na vida após a morte. "Eu não posso deixar de lhe dizer. Tod presume-se que ele é seu amigo." - Pelo menos, costumava ser. - "Ele tem o direito de saber que você tem estado espiando." "Eu não estou espionando ele. Não me importa o que está fazendo, e eu nunca..." Fez uma pausa, e sua voz tornou-se difícil. - "Olhe, jura que não vai lhe dizer, e eu te direi o que eu descobri sobre a lista." Eu levantei minhas sobrancelhas em surpresa até o meio da testa. Ele estava disposto a me pagar para manter o seu segredo? Estupendo. Mas... - "Por que confiará que eu não vou contar?"
"Por que Nash disse que você não mente." Grande. Um Anjo da Morte sombrio tinha me prendido por minha honra. - "Ótimo. Eu juro que não vou dizer-lhe em troca do que você descobriu sobre a lista. Mas você tem que jurar ficar fora de sua casa." Por um instante houve apenas silêncio na linha - Tod estava obviamente lutando com sua decisão. O que poderia ser tão importante quanto rondar a casa de Nash? Por que diabo teria a necessidade de voltar? "Trato feito." - Disse ele, finalmente, e exalei com alívio. Por alguma razão, eu tinha certeza que ele iria manter sua palavra também. "Bom." - Removo o edredom. Estava acordada, então eu poderia muito bem levantar. - "Então, você deu uma olhada na lista?" "Eu descansei um pouquinho lá. Meu patrão estaria fora do escritório por quase uma hora para lidar com algumas complicações no extremo norte do distrito. E já que por acaso eu tinha sua senha..." "Como você fez para 'por acaso' saber sua senha?" - Eu afundei na minha cadeira e tirei uma caneta azul metálico de um pote de barro que havia feito na Girl Scouts13 há uma década atrás, e então comecei a rabiscar num bloco de papel roxo. "No mês passado, ele acidentalmente se trancou para fora do sistema, e como o único anjo da Mmorte no escritório que realmente viveu durante a era digital, eu sou tipo o técnico de plantão." Oh. Estranho, mas eu engoli. - "Então o que acontece com as listas?" "Elas não estavam lá." "O quê?" - Larguei a caneta, a raiva abria uma trilha de brasa em minha espinha, chispas queimavam até as pontas dos meus dedos. Tinha acabado de negociar por nada? Eu jurei segredo de Nash só para descobrir que Tod não tinha conseguido olhar as listas? "Os nomes. Eles não estavam lá." – Ele esclareceu, e o alivio encharcou a maior parte da minha irritação. Rapidamente seguido pelo medo renovado em nome de todas as garotas que eu conhecia. - "Você estava certa." - Continuou Tod. - "Não era para nenhuma daquelas garotas morrerem." ***
13
http://translate.google.com.br/translate?hl=ptBR&sl=en&u=http://www.girlscouts.org/who_we_are/&ei=14_CS7PHBc6HuAf7pKT6Cg&sa=X&oi=trans late&ct=result&resnum=2&ved=0CBoQ7gEwAQ&prev=/search%3Fq%3DGirl%2BScouts%26hl%3DptBR%26sa%3DG
Depois de falar com Tod, eu não conseguia dormir. Precisava dizer ao meu tio que a minha suspeita tinha sido confirmada, um dos Anjos da Morte companheiros de Tod estava fazendo horas extras não autorizadas arrancando algumas almas. Mas não vi nenhuma razão para acordá-lo depois de apenas duas horas de sono, mesmo por notícias desta magnitude. Nenhuma das outras garotas tinha morrido antes do meio dia, então se o padrão continuasse, nós teríamos um tempinho antes que a próxima morresse. Gostaria de dizer ao meu tio e meu pai ao mesmo tempo, então não teria que dizer duas vezes. E na parte da manhã, assim esperava que pudesse evitar ter de explicar como um Anjo da Morte tem meu número de telefone e por que tinha me ligado no meio da noite. Mas contar a Nash não podia esperar. Meu pulso saltava enquanto rolava através da minha lista de contatos buscando seu nome, meu coração pesaroso com o que eu tinha a dizer, e o que tinha jurado não dizer. Eu acreditava firmemente que manter segredos não era bom para qualquer relacionamento, minha família era a prova viva disso. Mas Tod tinha jurado nunca mais ir à casa de Nash, então seu segredo agora era inofensivo e, portanto, mais do que justo pelas vidas que podem ser salvas ao ficar em silêncio. Certo? O telefone tocou três vezes na minha orelha, com uma lentidão agonizante. Ainda assim, parte de mim esperava que ele não atendesse. Que poderia ter um par de horas a mais antes de contar a Nash. Ele respondeu no meio do quarto toque. "Alô?" - Nash parecia tão cansado quanto eu me sentia. "Ei, eu sou." - Nervosa demais para me sentar agora, caminhava pela extensão da minha cama. "Kaylee?" - Colocou-se imediatamente alerta, uma habilidade que eu realmente invejava. - "O que aconteceu?" Eu arranquei um peso de papel de vidro redondo da minha escrivaninha e rolei em minhas mãos, enquanto falava, minha cabeça estava curvada em um ângulo doloroso com o pequeno telefone preso entre o meu ombro e meu ouvido. - "As garotas não estavam na lista." "Elas não estavam? Como você sabe..." - Sua respiração sibilou com raiva, e fechei os olhos, esperando pela explosão. - "Que canalha! Ele descobriu você?" "Só meu número de telefone."
"Como?" "Eu... terá que perguntar a ele." - Tinha jurado não dizer a Nash, mas não ia mentir. "Não há problema." - Alguma coisa arranhou o bocal do telefone, enquanto ele o cobria, mas eu ainda assim o ouvi gritar. – “Saia de onde está, Tod!” "Você sabia que ele estava aí?" - Eu não conseguia reprimir um sorriso, mesmo sabendo que ele estava irritado. "Ele não é nem metade discreto como pensa que é." - Nash rosnou. Coloquei a bola de cristal na escrivaninha e peguei de novo o telefone na minha mão, virando-me para evitar ver minha cama no espelho. - "Nem você. Sua mãe vai acordar, se você não parar de gritar." "Ela está trabalhando das 23h00 às 07h00 no hospital esta noite." "Bem, eu tenho certeza que Tod já se foi." - Certamente não tinha me ligado da casa de Nash... Uma porta rangeu ao ser aberta sobre a linha, e tabuas gemeram sob os pés de Nash. - "Ele ainda está aqui." "Como você sabe?" "Eu apenas sei." - Outra pausa, e desta vez não se preocupou em cobrir o telefone porque estava gritando. - "Eu não estou jogando, Tod. Se você não mostrar-se em cinco segundos, vou chamar seu chefe." "Você não tem o número." - A voz de Tod era inconfundível, mesmo em um sussurro. Ele tinha me ligado da casa de Nash! Por quê? Só para esfregar na cara do meu namorado? "Eu lhe disse para ficar longe dela." - A voz de Nash foi tão profunda pela raiva que era quase irreconhecível. Em contrapartida, Tod parecia tão calmo como sempre, o que provavelmente deixava Nash mais furioso ainda. - "E eu não fiquei perto dela, mas isso não é por qualquer coisa que você tenha dito. Ela apenas não me convidou." Ainda... Nós três ouvimos o termo tácito, e até mesmo por telefone eu podia sentir a ira de Nash. Então eu o ouvi.
"Que diabos você pensa que está fazendo?" - Ele exigiu, sua voz se tornou suave e perigosa. "Eu não tenho que obedecê-lo, Nash." "Saia do meu quarto, saia desta casa, e fique longe de Kaylee. Ou eu juro que vou aparecer no hospital amanhã e fazer seu turno inteiro um inferno." Eu estava imóvel no centro do meu tapete roxo, horrorizada com a idéia de estar entre um anjo da morte e sua vítima. - "Nash, ele estava nos fazendo um favor." Mas os dois me ignoraram. "Você vem no meu trabalho de novo e assombrarei seu rabo como o fantasma do Natal passado!" - Gritou Tod. "Essa foi assombração de uma noite." - Nash resmungou, mas o anjo da Morte não respondeu e, finalmente, Nash suspirou. Então, molas rangeram quando ele caiu sobre o que assumi ser seu sofá. - "Ele se foi." "Por que você não me disse que ele estava morto?" "Porque já estava atirando em você informação a esquerda e direita, e tive medo que mais um fato sobrenatural pudesse realmente assustá-la." "Sem mais segredos, Nash." - Irritada agora, afundei no tapete e puxei os fios roxos no brilho suave da luz vinda da lâmpada. - "Eu não sou frágil. A partir de agora, diga-me tudo." "Tudo bem. Sinto muito. Você quer saber sobre Tod?" - Sua voz estava distante, como se lamentasse a oferta antes mesmo que terminasse de dizer as palavras. Arrastei-me de volta para minha cama e desliguei a luz, então deitei com a bochecha na fria superfície do meu travesseiro. - "Não tudo. Mas pelo menos o que seja relevante para mim." Nash respirou profundamente, e eu quase podia sentir sua relutância. Uma parte de mim queria me retratar e dizer que ele não me devia nenhuma resposta. Mas não o fiz, porque a outra metade de mim insistia que eu precisava dessas respostas. O comportamento de Tod me deu medo, e se Nash tinha informações que poderiam me ajudar a entender no que estava me metendo, eu as queria. "O conheço desde sempre," - Nash começou e eu fiquei quieta para certificar-me de que não perderia nada. Foi estranho da melhor maneira possível, falar com ele no meio da noite, na escuridão, na minha cama. Sua voz era intima quase como se estivesse sussurrando em meu ouvido. E este pensamento fez com que meu pulso acelerasse e me aquecesse todo o corpo. - "Costumávamos estar sempre próximos. Então ele morreu alguns anos atrás, e os Anjos da Morte o recrutaram. Ele aceitou o trabalho porque é a única maneira de permanecer aqui. Com a vida. Mas ele teve um
tempo difícil para adaptar-se ao trabalho." - Nash fez uma pausa, em seguida, sua voz tornou-se quase melancólica. - "Então eu pensei que ele seria capaz de ajudá-la a entender a morte, que é uma parte necessária da vida. Porque ele passou pela mesma coisa, querendo salvar a todos. Mas ele superou Kaylee, e sua adaptação veio com graves conseqüências. Ele já não pensa sobre as coisas do jeito que fazemos. Não têm os mesmos valores e preocupações. Ele é realmente um Anjo da Morte agora. É perigoso." Fiz uma careta, pensando no que agora sabia de Tod que Nash não sabia. - "Talvez não seja tão perigoso quanto você pensa. Talvez só precise de... companhia." "Ele veio em minha casa para encontrar seu número de telefone. Se fosse humano, o teria mandado para a prisão. Do jeito que as coisas estão não há muito que eu possa fazer senão o delatar a seu chefe." - Que era o mesmo que matar Tod. - "Juro, se já não estivesse morto, o mataria eu mesmo. Desculpe-me, Kaylee. Nunca deveria ter te levado até ele." Sozinha em meu quarto, suspirei e virei para meu lado esquerdo, segurando o telefone na minha orelha direita. - "Ele tinha as informações para nós." "Por algo extra, pelo que parece." - Nash suspirou profundamente e pareceu se acalmar. Sentei-me na cama e enfiei os pés frios sob o edredom. - "Ele estava tentando ajudar." "Essa é a coisa, não é um cara mau. Mas desde... a mudança... ele apenas ajuda em seus próprios termos, e não fará nada que não seja benéfico para ele. Colocar-se em dívida com alguém assim... especialmente um Anjo da Morte, é uma idéia muito ruim. Deveríamos ter resolvido sem a ajuda dele." Eu não tinha idéia do que dizer. Sim, Tod tinha cruzado uma linha muito importante. Várias linhas, na verdade. Mas pela própria admissão de Nash, o Anjo da Morte não era uma má pessoa. E tinha vindo atrás de nós, por uma maneira de falar. As molas gemeram quando Nash moveu-se em seu assento. - "Então, qual é o plano? Ainda não sabemos quem será a próxima garota, ou se haverá mesmo uma." Apertei meus olhos fechados, sem saber como ele reagiria a minha notícia. - "Eu chamei a cavalaria." "O quê?" "Meu tio. E meu pai." - Sentindo-me bem mais acordada agora, toquei a lâmpada novamente, e o quarto se iluminou. - "Tio Brendon disse que iria descobrir o que estava acontecendo, se eu prometesse ficar longe disso."
Nash deu uma risada rouca que enviou um raio de calor abrasador através de mim. "Eu sabia que gostaria de seu tio." Eu sorri. - "Ele não é ruim. Colocando todas as mentiras de lado. Vou lhe falar sobre a lista na parte da manhã." "Me colocará para correr do cemitério?" "Ao longo do caminho, se você ainda quiser uma carona." - Uma sensação de calor corria dentro de mim com a idéia de vê-lo novamente. "Eu adoraria dar uma passeio."
Capítulo 15 Pela manhã acordei com a claridade entrando no meu quarto através da cortina e com minha porta tremendo e batendo embaixo do punho de alguém. "Kaylee, mova o seu traseiro preguiçoso da cama!" - Sophie gritou. - "Seu pai está no telefone." Rolei puxando o edredom e olhei para o despertador na minha mesa de cabeceira, 08h45 da manhã. Por que meu pai me ligaria agora se ele vai me ver em menos de uma hora? Para me dizer que tinha desembarcado? Ou será que era para dizer que não tinha chegado? Ele não vem. Eu deveria saber. Por um momento, ignorei minha prima e olhei para o centro do mofo que avançava lentamente enfileirando-se no teto, deixando minha raiva sair para a superfície. Eu não tinha visto meu pai em mais de dezoito meses, e agora ele não virá me explicar o motivo dele nunca ter me dito que eu não era humana. Não que eu precisasse dele. Graças à sua covardia, eu tinha um conjunto perfeitamente bem de tutores a minha disposição. Mas o que ele me devia era uma explicação, e se eu não iria conseguir uma em pessoa pelo menos poderia conseguir através do telefone. Joguei as cobertas para trás e vesti a calça do pijama que estava no chão, quando abri a porta, lá estava Sophie, completamente vestida e com maquiagem completa, parecendo tão fresca e relaxada como sempre. O único sinal de que sua noite de sono havia sido quimicamente induzida era o inchaço leve ao redor dos olhos, que provavelmente desapareceria dentro de uma hora. Da última vez que eu tinha tomado um dos comprimidos de zumbi eu tinha acordado parecendo que tinha sido atropelada. "Obrigada." Peguei o telefone da mão de Sophie, e ela só balançou a cabeça, em seguida, virou-se e saiu pelo corredor sem a sua atitude arrogante usual. Chutei a porta para fechá-la e segurei o telefone sem fio junto ao meu ouvido. Senti-o maior e mais pesado do que o meu celular, não me lembrava da ultima vez que realmente tinha usado o telefone convencional. "Você poderia ter ligado para meu celular.” - Eu disse. "Eu sei."
A voz de meu pai era como eu me lembrava, profunda, suave e distante. Ele provavelmente parecia exatamente o mesmo também, o que significava que a minha aparência seria um choque para ele, apesar de sua compreensão da passagem do tempo. Eu estava com quase quinze anos da última vez que ele tinha me visto. As coisas tinham mudado. Eu tinha mudado. "Eu tenho esse número memorizado, por isso era mais fácil" - Continuou ele. Essa foi à fala de um pai ausente que queria dizer: Estou muito envergonhado em admitir que não me lembro o número do seu telefone celular. Mesmo sendo ele quem paga a conta. "Então me deixe adivinhar." - Puxei minha cadeira e me sentei, socando o botão liga/desliga do meu computador só para manter as mãos ocupadas. - "Você não virá." "É claro que vou." - Eu praticamente podia vê-lo franzindo a testa e foi aí que percebi o ruído ao fundo da ligação. O som de um funcionário pelo alto-falante, trechos aleatórios de conversa, ecos de passos. Ele estava no aeroporto. "Meu vôo foi adiado por problemas no motor, em Chicago. Mas com alguma sorte, estarei aí nesta noite. Eu apenas queria que você soubesse que vou chegar atrasado.” "Oh. Ok.” - Ainda bem que eu não comecei exigindo que ele me contasse tudo pelo telefone. - "Vejo você esta noite.” "Sim." - Silêncio tomou conta da ligação, porque ele não sabia o que dizer e eu não iria tornar mais fácil para ele falando em primeiro lugar. Finalmente, ele limpou a garganta. - "Você está bem?" - Sua voz estava... pesada, como se ele quisesse dizer mais, mas deixou as palavras flutuando. "Bem." - Não que ele pudesse fazer alguma coisa se eu não estivesse, pensei, balançando meu mouse para localizar o cursor na tela. - "Só tenho que me acostumar com tudo, mas estou pronta para saber todos os segredos." "Sinto muito sobre tudo isso, Kaylee. Eu sei que lhe devo a verdade sobre tudo, mas algumas não vão ser fáceis para eu dizer, então preciso que você tenha paciência comigo. Por favor." "Como se eu tivesse alguma opção." - No entanto ao mesmo tempo em que estava furiosa sobre toda a mentira da minha vida eu estava desesperada para saber o porquê de tudo isso em primeiro lugar. Certamente eles tinham uma boa razão para me deixar achar que era louca em vez de me dizer a verdade. Meu pai suspirou. - "Posso te levar para jantar quando eu chegar?"
"Bem, eu vou ter que comer alguma coisa." - Cliquei duas vezes no navegador da Internet e digitei o nome de uma estação de notícias local na barra de pesquisa, esperando por alguma noticia. Ele hesitou por outro longo momento, como se estivesse esperando eu dizer mais alguma coisa, mesmo que uma parte de mim quisesse falar, poupá-lo do silêncio terrível que eu tinha sofrido, resisti. As visitas de aniversário e os cartões de Natal não foram suficientes para segurar o seu lugar na minha vida. Especialmente desde que eles tinham parado de chegar... - "Vejo você hoje à noite, então." "Ok." - Desliguei e coloquei o telefone sobre a mesa, olhando para ele sem expressão durante vários segundos. Então soltei a respiração que não tinha percebido que estava segurando e procurei através das noticias on-line do dia, na esperança de limpar meu pai dos meus pensamentos. Pelo menos até que ele tivesse aparecido na varanda. Não havia nada de novo sobre Alyson Baker ou Meredith Cole, mas o juiz tinha oficialmente declarado a causa da morte de Heidi Anderson. Insuficiência cardíaca. Mas não era disso ultimamente que todo mundo morria? No entanto, no caso de Heidi, não havia motivo listado para insuficiência cardíaca. Como eu sabia o tempo todo, ela simplesmente caiu morta. Pronto. Frustrada mais uma vez, desliguei o computador e coloquei o telefone sem fio na sua base no meu caminho para o banheiro. Vinte minutos mais tarde, banhada, seca e vestida, sentei-me na cozinha com um copo de suco e uma barra de cereais. Tinha acabado de abrir a barra, quando tia Val entrou enrolada no roupão felpudo do meu tio ao invés de sua pura seda. Seu cabelo era um grande emaranhado loiro, gel de ontem distribuído em partes aleatórias do seu cabelo com se fosse uma punk. Sua sombra estava borrada abaixo dos olhos e sua pele estava pálida sob as manchas remanescentes do blush e da base. Ela se arrastou direto para a cafeteira, que já estava cheia e fumegante. Por vários minutos mastiguei em silêncio enquanto ela bebia, mas pelo tempo que ela levou para tomar seu segundo gole o café tinha esfriado. "Sinto muito sobre ontem à noite, querida." - Colocou uma mão sobre seu cabelo, tentando alisá-lo. - "Eu não quis envergonhá-la na frente de seu namorado.” "Está tudo bem." - Amassei e joguei a embalagem na lata de lixo do outro lado da sala. - “Havia muita coisa acontecendo de errado para me preocupar com uma tia bêbada." Ela fez uma careta, então balançou a cabeça. - "Eu acho que merecia isso." Mas vê-la estremecer sobre cada movimento como se o contato com o ar a magoasse me fez sentir culpada. - "Não, você não merecia. Sinto muito.”
"Eu também sinto muito." - Tia Val forçou um sorriso. - "Eu não sei como começar a explicar o quanto estou arrependida. Nada disso é sua culpa...” - Ela olhou para baixo em seu café, como se ela tivesse mais a dizer, mas as palavras tinham caído na caneca e estavam agora muito empapadas para se usar. "Não se preocupe com isso." - Terminei meu suco de laranja e deixei meu copo na pia, então voltei ao meu quarto, onde mandei uma mensagem para Emma para ter certeza que ela ainda estava vindo para o funeral. A mãe dela respondeu que Emma me encontraria 15 minutos antes da 13hs. Passei o resto da manhã entre a televisão e a navegação na internet. Tentei falar com meu tio por duas vezes para informá-lo sobre o que Tod tinha descoberto, mas cada vez que eu o tinha encontrado ele estava com a sombra pegajosa da Sophie, que parecia estar temendo o funeral tanto quanto eu estava. Depois de um almoço cedo, fui escolher minhas roupas para o funeral. Mudei minha camiseta normal por uma blusa de mangas compridas esperando que isto fosse uma vestimenta adequada para ir a um funeral. Quando sai, vi Sophie sentada no banco do corredor, as mãos cruzadas sobre a saia de um vestido preto justo, com seus longos cabelos loiro caídos quase na altura do seu seio. Ela parecia tão triste, tão perdida que por mais que eu odiasse estragar minha ida sozinha no carro com Nash, eu lhe ofereci uma carona para a escola. "Mamãe me levará." - Disse ela dirigindo brevemente seu olhar grande e triste para o meu. "Ok." - Ainda bem. Estava na entrada da garagem de Nash cinco minutos mais tarde e esperei nervosamente ele entrar no carro. Estava com medo de falar com ele, parecia estranho depois de sua briga no meio da noite com Tod e sua relutante discussão comigo. Mas ele se inclinou para me beijar logo que fechou a porta, e a profundidade daquele beijo junto ao fato de que nenhum de nós parecia disposto a terminá-lo, me fez imaginar que a argumentação tinha acabado. O estacionamento da escola estava lotado. Transbordando. Muitos pais chegaram, assim como alguns oficiais da cidade, e de acordo com o jornal da manhã, a escola tinha chamado conselheiros extras para ajudar aos alunos a aprenderem a lidar com sua dor. Tivemos que estacionar perto do ginásio e caminhar cerca de oitocentos metros. Nash pegou minha mão no caminho, e nós nos encontramos com Emma na porta da frente, onde uma de suas irmãs a tinha deixado. Eu tinha prometido dar-lhe uma carona para casa. Emma parecia uma porcaria. Usava o cabelo puxado em um rabo de cavalo apertado, sem frescuras, junto com o mínimo de maquiagem. E se seus olhos vermelhos eram indicação de que ela esteve chorando. Mas ela não conhecia Meredith melhor do que eu.
"Você está bem?" - Passei meu braço livre em torno de sua cintura e fizemos nosso caminho através de um conjunto de portas duplas, empurrados com a multidão. "Yeah. Essa coisa toda é tão estranha. Primeiro foi à menina no clube, em seguida, a do cinema. Agora, uma de nossa própria escola. Todo mundo está falando sobre isso. E eles nem sabem sobre você.” - Disse ela, sussurrando a última palavra. "Bem, fica ainda mais estranho do que isso." - Nash e eu a levamos em direção ao canto vazio perto dos banheiros. Eu não tinha tido chance de dizer a ela sobre qualquer um dos acontecimentos mais recentes, e pela primeira vez eu estava feliz que ela estava sem poder usar seu telefone. Se ela estivesse podendo atender ligações eu poderia ter deixado escapar toda história - sobre Bean Sidhes, Anjos da Morte e a lista de mortes – antes mesmo que eu pudesse refletir sobre isso. O que provavelmente teria a assustado ainda mais. "Como poderia ficar mais estranhas do que isso?" - Emma abriu os braços apontando a multidão sombria no vestíbulo. "Algo está errado. Elas não deveriam morrer.” - Sussurrei, ficando na ponta dos pés para chegar mais perto de seu ouvido, com Nash colado ao meu lado. Os olhos de Emma arregalaram-se. - "O que significa isso? Quem não deveria morrer?” Olhei para Nash, e ele acenou com a cabeça. Nós realmente deveríamos ter discutido o quanto Emma deveria saber. - "Hum. Algumas pessoas têm de morrer, ou seria o mundo super povoado. Como... pessoas idosas. Eles viveram uma vida plena. Alguns deles estão prontos para ir, mesmo. Mas os adolescentes são muito jovens. Meredith tinha uma vida toda pela frente.” Emma franziu as sobrancelhas para mim como se eu estivesse doida. Ou pelo menos perdido alguns pontos de QI. Não, eu não sou uma boa mentirosa. Embora, tecnicamente, eu não estivesse mentindo para ela. Enquanto Emma ainda estava tentando entender o que eu tinha dito sobre a morte, Nash nos guiou através da multidão em direção ao ginásio, onde nos sentamos na arquibancada perto dos visitantes com várias centenas de outras pessoas. Um pódio tinha sido colocado debaixo de uma das cestas, e vários funcionários da escola estavam sentados lá com a família de Meredith, com a bandeira da escola, do Estado e a bandeira nacional. Por uma hora e meia, vimos os amigos de Meredith e sua família levantarem, irem para frente e dizer a todos nós como legal, bonita, inteligente e gentil ela era. Nem tudo o que foi dito se aplicava inteiramente a Meredith, ela tinha estado lá conosco, mas os mortos têm uma maneira de tornarem-se santos aos olhos dos sobreviventes, e a Sra. Cole não era nenhuma exceção.
E para ser justa, além de ser bonita e popular, ela não era diferente da maioria dos demais, de qualquer um de nós. Que foi precisamente por isso que todo mundo estava tão chateado. Se Meredith poderia morrer qualquer um de nós poderia. Os olhos de Emma encheram-se de lagrimas e minha própria visão ficou turva com as lágrimas quando a Sra. Cole subiu ao pódio, já chorando amargamente. Sophie sentou-se na fileira do fundo, cercada por dançarinos soluçando com lencinhos retirados de pequenas bolsas de bom gosto. Vários deles falaram, a maioria colegas de ultimo ano de Meredith, recitando sérias frases com entusiasmo. – Meredith teria preferido que seguíssemos em frente. – Ela amava a vida, e dançar e não iria querer que isso parasse pela sua ausência. – Ela não iria querer nos ver chorar. Quando o ultimo de seus colegas falou, uma tela branca automatizada rolou para baixo desde o teto, e alguém jogou um vídeo de fotos estáticas de Meredith, do nascimento à morte, acompanhada por algumas de suas canções favoritas. Durante o filme, vários estudantes se levantaram e fizeram seu caminho para o pátio, onde os conselheiros esperavam para aconselhá-los. Soluços e choro silencioso ecoavam por todos nós, uma comunidade em luto, e tudo que eu conseguia pensar era que se não conseguimos encontrar o Anjo da Morte responsável pela coleta não autorizada da alma de Meredith, iria acontecer tudo de novo. Depois do memorial, Nash, Emma, e eu fizemos o nosso caminho lentamente pelas arquibancadas, devido à quantidade de pessoas interessadas em reconfortar umas as outras do que realmente em desocupar o edifício. Eventualmente, chegamos ao piso do ginásio, onde os grupos de pessoas estavam andando em massa para uma das quatro saídas. Uma vez que nós tínhamos estacionado na frente da escola, fomos para as portas principais, avançando para frente um centímetro de cada vez. Nash tinha acabado de pegar minha mão, o braço inteiramente ao meu redor, quando de repente, uma devastadora onda de tristeza caiu sobre mim, estabelecendo-se fortemente em meu peito e no estômago. Meus pulmões apertaramse e uma coceira insuportável começou na base da minha garganta. Mas desta vez, ao invés de estar lamentando o início da minha previsão sobre a morte iminente de outra colega, eu agradeci a premonição. O Anjo da Morte estava aqui e dessa vez teríamos a nossa oportunidade de detê-lo.
Capítulo 16 Minha mão pegou a de Nash. Ele me olhou e arregalou os olhos. "Outra vez?" - Ele sussurrou, aproximando-se tanto que seus lábios tocaram minha orelha, mas apenas assenti. - "Quem é?" Balancei a cabeça, minha respiração tornou-se mais rápida. Ainda não tinha identificado a fonte. Havia muita gente em muitos grupos formados muito próximos. Todos os corpos com cores escuras fundiam-se em uma camuflagem com trajes de funeral, e em alguns casos, não podia distinguir uma forma da outra. Uma descarga de incerteza atravessou meu coração, penetrando minha determinação como uma faca atravessa a carne. E se eu não puder fazer isso? E se eu não conseguir encontrar a vítima, e muito menos salvá-la...? "Ok, Kaylee, acalme-se." - Suas palavras sussurrantes correram sobre mim com uma sensação quase física de deslizamento, tentando me acalmar mesmo quando seus olhos rodavam com um lento e fixo medo. - "Olhe ao seu redor lentamente. Podemos salvar a próxima. Mas primeiro você tem que encontrá-la." Tentei seguir suas instruções, mas o pânico estava muito forte, um zumbido frenético enquanto o grito crescia dentro de minha cabeça. Isso interrompia meu pensamento. Deixava a lógica com um conceito abstrato. Nash pareceu entender. Ele se colocou na minha frente para que ficássemos cara a cara, com seu nariz a centímetros do meu rosto. Olhou em meus olhos e pegou minha mão entre as suas. A multidão avançava, dividindo o fluxo em torno de nós como a água em torno de um afloramento de rio. Várias pessoas olharam para nós, mas ninguém parou, eu não era a única jovem tendo uma crise pública no ginásio, e a maioria das outras eram muito mais audíveis do que minha. No momento, pelo menos. Cerrei a mandíbula, segurando a canção da alma mais forte que já havia sentido enquanto deixava que meus olhos passeassem pela multidão, passando por sobre as crianças e adultos e demorando nas garotas. Ela estava lá, em algum lugar, e ia morrer. Não havia nada que eu pudesse fazer para evitar. Mas se a encontrasse a tempo, e se de fato era capaz de fazer o que Nash havia me explicado, poderia trazêla de volta. Poderíamos trazê-la de volta. Então, a única coisa que teríamos que nos preocupar seria evitar a fúria do Anjo da Morte. Pode ter sido coincidência, ou talvez minha muito real necessidade, apesar da nossa tensa relação, em ver que a minha prima estava segura, meus olhos fixaram-se primeiro em Sophie. Ela estava parada embaixo da cesta, no lado oposto do ginásio com um grupo de amigas com olhos chorosos e com os braços em um abraço de
tristeza. Mas nenhum desses rostos vermelhos e úmidos intensificou meu pânico, e nenhuma delas estava envolta em um véu de sombras que só eu podia ver. As garotas estavam bem, exceto por sua dor. Felizmente, não teria que acrescentar mais essa. Então, minha visão encontrou outro grupo de garotas jovens – calouras, adivinhei. Para cada lado que olhava tinha mais garotas, algumas em vestidos, algumas com calças escuras, outras em jeans, o uniforme oficial dos adolescentes. Era como se os jovens e adultos já não existissem. Meus olhos eram atraídos apenas para as garotas. Mas de todos os rostos - sardentos, banhados em lágrimas, finos, redondos, pálidos, escuros e bronzeados - nenhum deteve meu olhar. Nenhum gritava para minha alma. Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, mas não poderia ter sido mais de um minuto, meu olhos encontraram Nash outra vez. Meu queixo doía de tão apertado que o mantive, minha garganta estava áspera por reter o grito e minhas unhas haviam deixado marcas em suas mãos. Balancei a cabeça e pisquei para limpar as lágrimas que se formavam em meus olhos. Ela ainda estava lá, em algum lugar - baseando-me na força sem precedentes do grito acumulando-se dentro de mim - mas não conseguia encontrá-la. "Tente novamente." - Nash apertou minhas mãos. "Uma vez mais." Concordei e me forcei a engolir o crescente som - uma agonia comparável à de engolir cacos de vidro - mas desta vez as conseqüências de reprimi-lo eram muito reais. A pressão crescia no meu peito e garganta, e cada vez me convencia mais de que se não pudesse liberá-lo logo ou afastar-me da fonte, meu corpo se quebraria em uma ferida aberta de dor. Agora, desesperada, olhei por cima de seu ombro, onde as pessoas ainda empurravam lentamente para a saída. Todo mundo nessa direção estava de costas para mim, com suas identidades ocultas pelas anônimas partes de trás de suas cabeças. Uma ruiva magra com longos cachos soltos. Duas garotas negras com ondas maciças idênticas. Uma morena com cabelos finos e tão lisos como uma régua. Ela se virou e vi seu perfil, mas o pânico não aumentou. Então, uma cabeça chamou minha atenção, outra loira, a cerca de quinze metros de distância, com toda sua figura obscurecida por uma espessa e escura sombra que de alguma forma não caia sobre mais ninguém. No momento em que meu olhar a encontrou, minha garganta convulsionou, lutando por libertar o grito que meu maxilar segurava. Meu peito gritava por ar fresco, mas tinha medo de deixá-lo entrar, temerosa que isso alimentasse o grito que ainda não estava pronta para deixar sair. A loira era alta e cheia de curvas, seu cabelo chegava bem no meio das costas. Se tivesse um rabo de cavalo, teria jurado que era Emma. Mas quem quer que seja, estava prestes a morrer.
Eu não podia falar para avisar Nash, então apertei sua mão, um pouco mais forte do que pretendia. Ele começou a se afastar, mas arregalou os olhos com a compreensão e virou a boca em uma linha firme. "Onde?" - Ele sussurrou urgentemente. - "Quem é?" Agora fraca por resistir ao grito, pude apenas acenar na direção da loira, mas isso foi de pouca ajuda. Meu gesto abrangia pelo menos cinqüenta pessoas, mais da metade das garotas jovens. "Mostre-me." - Ele largou minha mão esquerda, mas manteve a direita. - "Você pode andar?" Concordei, mas não tinha certeza se realmente podia fazê-lo. Minha cabeça ressoava com os ecos dos gritos não pronunciados, minhas pernas estavam trêmulas, e minha mão segurava o ar. Um suave e agudo bramido filtrava-se por mim agora, o grito colava-se por entre meus lábios imperfeitamente selados. E com ele veio uma escuridão familiar, esse estranho filtro cinza revestindo minha visão. Parecia como se o mundo se fechasse sobre mim, enquanto algo mais - formas anormais e um mundo que ninguém mais podia ver - parecia desdobrar-se diante de meus olhos. Nash puxou-me para frente. Tropecei e ofeguei, e meu queixo se abriu. Mas ele me endireitou muito rápido e fechei minha boca com força, mordendo a língua, em um precipitado esforço para evitar gritar. Sangue entrou em minha boca, mas o próximo passo que dei foi por vontade própria. A dor tinha clareado minha cabeça. Minha visão voltou ao normal. Avancei desajeitadamente com Nash guiando-me, ajustando nosso lento progresso quando eu sacudia a cabeça. Nós só andamos doze passos - contei para manter minha concentração - e então, a loira estava ao meu alcance, temporariamente parada pela multidão em seu progresso em direção à porta. Parei atrás dela e acenei para Nash. Ele parecia doente. Seu rosto de repente ficou pálido, e sua garganta fez um grande esforço para engolir algo que, obviamente, não queria dizer. - "Você tem certeza?" Ele murmurou, e eu assenti com a cabeça novamente, meu maxilar estava agora rangendo pelo trabalho de conter meu grito. Eu tinha certeza. Esta era a indicada. Nash levantou a mão, com seus dedos tremendo enquanto atravessavam a mortal e misteriosa sombra, e me olhou uma última vez. Então ele colocou a mão sobre o ombro direito da garota. Ela se virou, e meu coração parou. Emma.
Ela havia desfeito o rabo de cavalo em algum momento e tinha ido à nossa frente quando eu tinha ficado para trás, lutando contra o pânico. Eu tinha que me forçar a respirar, forçar meus pulmões a se expandir com meus dentes ainda cerrados. Minha visão escureceu novamente. Tornou-se turva. Esta inquietante e escura névoa estendeu-se sobre tudo, então eu via o mundo através de um nevoeiro fino e incolor. Emma olhou para mim com os abertos e melancólicos olhos temperados por sua própria sombra pessoal. Sua expressão estava cheia de compreensão, mas ainda assim faltava-lhe uma peça fundamental do quebra cabeças. - "Está acontecendo de novo, né?" - Ela sussurrou, tomando minha mão na sua. - "Quem é? Você já sabe?" Concordei, e quando pisquei, duas lágrimas deslizaram pelo meu rosto, queimandome com suas linhas quentes e finas. Enquanto eu observava, um rapaz da minha aula de biologia alisava o braço de Emma, entrando e saindo de sua sombra pessoal sem o menor sinal de consciência em seus olhos. Por todo o nosso lado alunos e pais moviam-se com passos lentos e sem rumo, dirigindo-se gradualmente para as portas. Alheios a escuridão do Outro Mundo que atravessavam. No que viria a acontecer nos próximos instantes. No canto de minha visão, algo cruzou precipitadamente a nebulosidade. Algo alto, moreno, e rápido. Meu coração batia dolorosamente. Um aumento de adrenalina apertou meu peito. Meu olhar lançou-se para seguir a estranha forma, mas desapareceu antes que pudesse recair sobre ela, movendo-se facilmente pela multidão, sem atingir nenhum corpo. Mas não andava como nada que eu já tivesse visto, com uma graça torta e peculiar, como se tivesse pernas demais. Ou talvez de menos. E ninguém mais o viu. Meus olhos fecharam-se pelo horror. Minha mente se rebelava contra o que eu tinha visto, julgando como impossível. Eu sabia que havia outras coisas lá fora. Tinha sido advertida. Já havia vislumbrado coisas antes. Mas isto era demais, apenas um fio fino de som escapava da minha garganta tensamente fechada! "Nós temos que esperar," - sussurrou Nash, e meus olhos se abriram, minha atenção voltou-se para Emma e a terrível questão em nossas mãos. No entanto, a forma disforme permanecia em minha mente, seu estranho volume impresso na parte de trás das minhas pálpebras. - "Ela deve morrer antes que possamos trazê-la de volta, e cantar muito cedo seria desperdiçar sua energia." Não. Meu cabelo bateu em meu rosto quando sacudi minha cabeça negando fervorosamente o que eu sabia que era verdade. Não podia deixar Emma morrer. Não faria isso. Mas não havia nada que pudesse fazer para detê-lo, e todos nós sabíamos disso. Exceto Emma.
"O quê?" - Passou o olhar de mim para Nash, a confusão enrugando sua testa. - "Do que estão falando?" O suor se juntava em minhas mãos, e pela primeira vez estava contente de ser incapaz de falar. De não poder lhe responder. Em vez disso, engoli pesadamente, com minha garganta fechando-se em torno do grito que me queimava por dentro. A névoa cinza era mais escura agora, mas não tão grossa. Podia ver através dela facilmente, porém manchava tudo aquilo que minha visão pousava, como se o ginásio inteiro tivesse sido coberto com uma nuvem de fumaça translúcida. E ainda tinham coisas movendo-se no canto da minha visão, atraindo meus olhos primeiro em uma direção, depois para outra. Teria dado qualquer coisa para ser capaz de falar naquele momento não só para avisar a Emma - porque, evidentemente, esse era um ponto discutível - mas para perguntar a Nash o que diabos estava acontecendo. Ele podia ver o que eu via? E mais importante, eles podiam nos ver? Minha cabeça girava rapidamente, meus olhos seguindo uma explosão misteriosa de movimento, mas tarde demais. Virei na direção oposta, olhando para a escuridão fantasmagórica quando rastreei outro movimento. Meu queixo doía, meu coração palpitava, e a profunda queimação em minha garganta crescia em volume. Aqueles que estavam perto de nós olharam para mim, só afastado o olhar quando Nash me abraçou, apoiando minha cabeça em seu ombro, como se me consolasse. Que era em parte, o que estava fazendo. "Kaylee, não." - Sussurrou em meus cabelos, mas desta vez sua influência foi de pouca ajuda. A urgência de gritar era muito forte, a morte vinha muito rápida, vi de longe Emma nos observando, ainda envolta em uma quase sólida camada de sombras. - "Não olhe para eles." Ele também os vê? Isso respondia uma das minhas perguntas... "Concentre-se em reter o grito." - Disse ele. - "Seu gemido fecha a lacuna, mas não acho que podem nos ver ainda. Eles farão quando você cantar, mas não estão aqui conosco, não importa o que pareça." Lacuna? Lacuna entre que e o que? Nosso mundo e o Outro Mundo? Não é bom. Não é nada bom... Afastei-me de seus braços para ver seu rosto, procurando respostas em sua expressão, mas não havia nenhuma. Provavelmente por que eu não podia fazer as perguntas certas. Ok. Iria ignorar o raro véu de realidade cinza, por impossível que parecesse. Mas e sobre o Anjo da Morte? Se Emma ia morrer - mesmo que temporariamente – eu não deixaria que isso acontecesse apenas para nada.
Olhei deliberadamente para Emma para acentuar o efeito, meu coração partia-se um pouco mais pelo claro alarme em seu rosto, em seguida, encolhi os ombros exageradamente para Nash, todo tempo abafando o grito que agora se sentia imediato. Por algum milagre, ele entendeu. "Você não pode vê-lo até que ele queira ser visto." - Ele gentilmente me lembrou, aproximando-se para sussurrar contra minha testa. Suas palavras, deslizando quase fisicamente - o suave toque de sua voz acetinada carregada de influencia contra minha pele, fez o pânico diminuir um pouco. Não o suficiente para oferecer muito alívio, mas o suficiente para conter o grito por mais alguns segundos. - "E eu apostaria minhas economias de toda a vida, que não quer ser visto. Você tem que esperar. Segure-o apenas um pouco mais." "O quê?" - Repetiu Emma, apertando minha mão para chamar minha atenção. - "Não pode ver a quem? Onde...?" Então, no meio da frase, ela simplesmente desmoronou. As pernas de Emma dobraram-se debaixo dela com minha mão ainda agarrada as suas. Sua cabeça bateu na pessoa atrás dela. Ele cambaleou e quase caiu. Eu caí com ela, com as lágrimas agora fluindo livremente. A mão de Nash escorregou do meu aperto quando meus joelhos bateram no chão e o golpe repercutiu por todo meu corpo. Os olhos de Emma olhavam para o nada, as janelas de sua alma abertas de ponta a ponta, embora fosse evidente que não havia ninguém em casa. "Kaylee!" - Nash se jogou no chão do outro lado de Emma. Olhou-me implorando enquanto as pessoas se viravam para olhar, com seus olhos e bocas bem abertas. Apena o ouvi. Já não notava a escuridão ou o estranho movimento rastejando de volta para o canto da minha visão. No conseguia pensar em nada mais do que em Emma, e em como ela jazia ali, parada, olhando para o teto como se pudesse ver através dele. "Deixe-o sair, Kaylee. Cante para ela. Chame a sua alma para que eu possa vê-lo. Segure-a enquanto puder." Olhei para Emma, bonita mesmo na morte. Seus dedos ainda estavam quentes nos meus. Seu cabelo tinha caído sobre seu ombro, e as suaves pontas roçavam meu braço. Deixei minha cabeça cair para trás e minha boca se abriu. Então, eu comecei a gritar. O grito saiu de mim em uma agonizante torrente de notas abrasivas e discordantes que rasparam minha garganta em carne viva, esvaziando-me, dos pés até o topo da minha cabeça. Doeu como o inferno. Mas além da dor, senti um grande alívio por deixar de ser o recipiente de tal barulho sobrenatural e um sofrimento agonizante por
ter perdido minha melhor amiga. A prima que deveria ter tido. Minha confidente, e às vezes, minha sanidade mental. O ginásio inteiro parou em um instante. As pessoas congelaram, logo, viraram-se para me olhar, a maior parte tapando os ouvidos com as mãos e fazendo caretas de dor. Alguém mais gritou - pude perceber por que estava com sua boca completamente aberta, embora eu não pudesse ouvir por causa do barulho mais poderoso que vinha da minha própria boca. E então, antes que sequer pudesse processar todos os olhares abobalhados dirigidos a mim, o mundo inteiro pareceu mover-se. Essa fina névoa cinza acomodou-se em torno de mim, sobre tudo o que era normal, embora este fosse mais um sentimento do que um fato físico. As deformadas e estranhas criaturas que não conseguia focar antes de repente estavam por toda parte, intercaladas com a multidão humana e, em alguns casos revestindo-a, observando-me como os alunos e pais, mas do outro lado da escuridão. Eles eram cinzentos, como se o nevoa tivesse roubado sua cor de alguma forma, e pareciam distantes, como se os observasse através de algum tipo de vidro fosco e sem forma. Era isso a que Nash se referia quando disse que na realidade não estariam conosco? Porque se era assim, não conseguia ver muita diferença. Estavam perto demais para eu estar confortável, e aproximavam-se mais a cada segundo. Uma estranha criatura sem cabeça estava parada à minha esquerda entre dois rapazes vestidos com calças cáqui amarrotados, olhando para mim com olhos localizados em seu peito nu, entre pequenos e incolores mamilos. Um nariz estranho e estreito saia do oco abaixo do esterno, e uns lábios finos abriam-se bem acima de seu umbigo. Não é preciso falar como eu sabia que era homem... Horrorizada, eu fechei meus olhos e meu grito diminuiu. Mas então me lembrei de Emma. Ela precisava de mim. Eles não estão aqui conosco. Eles não estão aqui conosco. A voz de Nash parecia cantar dentro da minha cabeça. Deixei o grito sair novamente, espantada com a capacidade dos meus pulmões, e abri meus olhos. Estava determinada a olhar apenas para Nash. Ele podia me ajudar a superar isso, ele tinha feito antes. Mas em vez disso, meu olhar caiu sobre um belo homem e uma mulher andando na minha direção através da multidão. Eles pareciam quase normais, exceto por sua borrada cor cinza e a estranha e alongada proporção de seus membros e a cauda fina enrolada em volta do tornozelo da mulher. Enquanto observava encantada, o homem atravessou caminhando meu professor de ciências, que não sequer estremeceu.
É isso aí. O bastante. Eu não poderia suportar mais monstros cinza. Desta vez, eu olharia para Nash ou para nada. Minha garganta estava queimando. Meus ouvidos zumbiam. Meu coração batia violentamente. Mas finalmente o rosto de Nash entrou na minha visão, bem em frente a mim. Mas para minha desgraça, seus olhos não encontraram os meus. Ele parecia encantado com o espaço sobre o corpo de Emma, seus olhos apertados com a concentração, o rosto molhado de suor. Olhei para cima e de repente eu entendi. Ali estava Emma. Não o corpo esfriando lentamente na minha frente. A verdadeira Emma. Era a coisa mais incrível que eu tinha visto na minha vida, sua alma pairava no ar entre nós. Se uma alma pode ser chamada de “coisa”. Não era linda, como tinha esperado. Não havia uma bola brilhante de fria luz. Nem um fantasma com forma de Emma flutuando sobre uma brisa etérea. Ela era escura e disforme, ainda que translúcida, como uma sombra clara e ondulante de... Nada. Mas o que faltava a sua alma em forma, sobrava-lhe muito em sentimento. Parecia importante. Vital. Uns dedos frios tocaram meu braço e eu pulei certa de que uma das criaturas do Outro Mundo havia vindo por mim. Mas era apenas a diretora, ajoelhada ao meu lado, dizendo algo que eu não podia ouvir. Estava me perguntando o que tinha acontecido, mas eu não podia falar. Tentou me afastar de Emma, mas não iam me tirar de lá. Nem iria ser silenciada. Uma mulher baixa e redonda com um vestido como saco apareceu no círculo que havia se formado em torno de nós, empurrando as pessoas para fora de seu caminho. As criaturas cinza não a notaram, e eu percebi que provavelmente não podiam vê-la. Nem a nenhum dos outros humanos. A mulher agachou-se ao lado de Nash e disse-lhe algo, mas ele não respondeu. Seus olhos estavam vidrados, suas mãos soltas jaziam caídas em seu colo. Quando não pôde falar com Nash, me olhou com estranheza e se levantou. Ela cambaleou por um momento, depois deu a volta ao redor dele e se ajoelhou ao lado da cabeça de Emma para verificar seu pulso. Mais pessoas se ajoelharam no chão com as mãos cobrindo os ouvidos, suas bocas em um movimento frenético e inútil. Eles eram alheios as criaturas espalhadas entre eles, uma condição que, aparentemente, era mútua. Um homem alto e magro fazia gestos desesperados com os dois braços, e os humanos a seu lado retrocederam. As criaturas cinza pareceram chegar mais perto, mas eu via tudo de longe, enquanto o grito destroçava minha garganta, queimando como lâminas raspando minha pele. Então meus olhos foram atraídos de volta a alma de Emma, que tinha começado a se torcer e contorcer freneticamente. Um final de fumaça que se arrastava para o canto do ginásio, como que se esforçando nessa direção, enquanto o resto ficava envolto em
torno de si, afundando-se na direção do corpo de Emma, como o pesado final de uma gota de chuva. Paralisada, olhei Nash para ver o suor escorrendo por seu rosto. Seus olhos estavam abertos, mas sem foco, e suas mãos cerradas em punhos em sua calça cáqui. E enquanto eu observava, a alma desceu um pouco mais, como se a gravidade sobre o corpo de Emma tivesse sido empurrada de alguma forma. As pessoas corriam em torno de nós, olhando para mim, gritando para serem ouvidos sobre mim. Mãos humanas tocavam meus braços, puxando minha roupa, algumas tentando me consolar e silenciar meu grito, outros tentando me afastar. Formas estranhas e incolores agrupadas em pares e trios, observando corajosamente, murmurando palavras que eu não podia ouvir e que provavelmente não teria entendido. E a alma de Emma movia-se lentamente em direção a seu corpo, com esse vapor fumegante ainda se arrastando para o canto. Nash quase a tinha. Mas se não pudesse fazê-lo rapidamente, seria tarde demais. Minha voz já estava perdendo volume, minha garganta agora vibrava com agonia, meus pulmões queimavam pela necessidade de oxigênio. Então, finalmente, a sombra translúcida acomodou-se sobre o corpo de Emma, e pareceu fundir-se nele. Em menos de um segundo foi absorvida completamente. Nash respirou energicamente, e piscou, enxugando o suor da testa com a manga. Minha voz finalmente se rendeu, e minha boca se fechou com um estalo seco, chamativo no silêncio repentino. E cada ser cinza, cada punhado de nevoa, simplesmente desapareceu da existência. Por um momento ninguém se moveu. As mãos em mim ficaram quietas. Os espectadores humanos congelaram como se pudessem sentir a diferença, ainda que claramente não tivessem idéia do que tinha acontecido, apenas que eu tinha parado de gritar. Meu olhar voltou-se para Emma, procurando algum sinal de vida, uma elevação do peito, pulso. Teria pegado até mesmo um espirro molhado e mal-humorado. Mas por alguns segundos de tortura, não tivemos nada, e estava convencida que tinha falhado. Alguma coisa tinha dado errado. O Anjo da Morte invisível era muito forte. Eu era muito fraca. Nash estava sem prática. Então, Emma respirou. Eu quase perdi porque não houve uma respirada digna de Oscar. Nenhum ofegar, sem chiado, nenhuma tosse de afogamento para soltar os pulmões lentos. Ela simplesmente respirou. Minha cabeça caiu em minhas mãos, lágrimas de alívio me inundaram. Ri, mas não produzi nenhum som. Na verdade tinha perdido a voz.
Emma abriu os olhos, e o feitiço se quebrou. Alguém na multidão ofegou, e de repente todo mundo estava se aproximando, sussurrando aos colegas, cobrindo a boca aberta com as mãos tremulas. Emma olhou para mim com a testa enrugada pela confusão. - "Por que... estou no chão?" Abri a boca para responder, mas a dor residual na minha garganta me lembrou que tinha perdido a voz. Nash deu-me um olhar de total e emocionante triunfo e respondeu por mim. - "Você está bem. Acho que desmaiou." "Não tinha pulso." - A redonda mulher caiu sentada, com seu rosto vermelho de vergonha. - "Estava... eu verifiquei. Deveria estar..." "Ela desmaiou." - Repetiu Nash firmemente. - "Provavelmente bateu com a cabeça quando caiu, mas agora está bem." Para demonstrar, estendeu a mão para que ela a pegasse, então a endireitei, arrumando suas pernas esticadas no chão na frente dela. "Você não deveria movê-la!" - Repreendeu a diretora ao meu lado. - "Ela pode ter quebrado alguma coisa." "Estou bem." - A voz de Emma estava cheia de confusão. - "Não me dói nada." Um murmúrio baixo cresceu em torno de nós, enquanto a notícia se espalhava para aqueles que estavam longe demais para ter visto o show. Palavras sussurradas como "morta" e "sem pulso" me perturbaram, mas quando Nash se esticou sobre o peito de Emma para pegar minha mão, a ansiedade diminuiu. Até que um segundo grito rompeu a crescente calma. As cabeças viraram e as pessoas ofegaram. Emma e Nash observavam com horror sobre meu ombro e virei-me para seguir seus olhares. A multidão ainda estava em torno de nós, mas através dos espaços entre os corpos, vi o suficiente para entender o que tinha acontecido. Alguém mais havia caído. Eu não podia ver quem era, porque alguém já estava debruçado sobre ela, praticando a RCP. Mas supus pela saia preta lisa e as pernas finas e macias que era uma garota, e eu sabia, pelo padrão que era jovem e bonita. A mão de Nash apertou a minha e olhei para cima para encontrar seu rosto tão tenso pelo arrependimento como provavelmente estava o meu. Nós tínhamos feito o impensável.
Tínhamos salvado Emma em troca de outra vida. Não um dos nossos, mas de uma garota inocente que não tinha nada a ver. Arqueei ambas as sobrancelhas em sua direção, perguntando silenciosamente, se estava disposto a tentar novamente. Ele concordou com a cabeça gravemente, mas parecia muito menos confiante de que poderíamos fazê-lo. E no fundo da minha mente, uma trágica certeza permanecia: se salvássemos outra, o Anjo da Morte simplesmente atacaria outra vez. E mais uma vez. Ou levaria um de nós. De qualquer forma, não podíamos nos permitir jogar o seu jogo. Mas eu não podia deixar alguém morrer sem razão. Abri a boca para gritar, e não saiu nada. Eu tinha esquecido que minha voz tinha sumido, e desta vez, também havia sumido a urgência de gritar. Não havia pânico. Nenhuma dor fresca rasgando o interior da minha garganta. Horrorizada, olhei para Nash em busca de conselho, mas ele só franziu a testa. - "Se você não pode cantar, ela já se foi." - Sussurrou. - "A urgência termina uma vez que o Anjo da Morte tem sua alma." Que era o porquê de minha canção para Meredith ter terminado tão logo ela morreu, não tínhamos feito uma tentativa por sua alma. Devastada, eu só pude observar enquanto as pessoas correriam ao redor da garota morta, tentando ajudar, tentando ver, tentando entender. E no meio da confusão, um dos espectadores chamou minha atenção. Porque ela não estava olhando. Enquanto todo mundo estava concentrados na garota deitada no chão do ginásio com um braço fino jogado sobre a verde linha de três pontos, uma mulher estava parada no canto de trás com seus olhos fixos em... Mim. Não se mexia, e de fato, parecia estranhamente congelada em contraste com a comoção que nos rodeava. Enquanto observava, me sorriu lenta e intimamente, como se compartilhássemos algum tipo de segredo. E nós o fazíamos. Ela era o Anjo da Morte. "Nash..." - Resmunguei, e procurei sua mão, hesitando em tirar meus olhos da estranha e imóvel mulher. "Eu a vejo." - Mas ele mal tinha falado a última palavra quando ela desvaneceu. Desapareceu da face da terra, tão silenciosa e repentinamente como Tod tinha feito, e no caos, ninguém pareceu notar. A frustração e a raiva me queimaram, escaldando desde meu interior. O Anjo da Morte estava tirando sarro de nós.
Sabíamos da possível conseqüência e tínhamos corrido o risco de qualquer maneira, e agora alguém tinha morrido para pagar por nossa decisão. E o Anjo da Morte provavelmente tinha sabido o tempo todo que não poderíamos pará-la. E a pior parte era que quando olhei para Emma, que não tinha idéia do que havia custado sua vida, não me arrependi da minha escolha. Nem mesmo um pouco.
Capítulo 17 Durante os minutos seguintes, os detalhes filtraram-se até nós por meio da multidão de espectadores, que agora, graças a Deus, centraram sua atenção do outro lado do ginásio. A garota era do primeiro ano. Uma líder de torcida, cujo nome era Julie Duke. Eu conhecia esse nome tentei evocar uma vaga imagem de seu rosto. Ela era bonita e muito querida, e se a memória não me faltava, mais amigável e transigente que a maioria das outras “agita pompons”. Quando Julie continuou sem pulso após vários minutos depois que sofreu o colapso, os adultos começaram a conduzir os estudantes para a porta, quase como uma entidade única. Nash e eu fomos autorizados a ficar, porque éramos nós que levaríamos Emma para casa, mas os professores, não a deixariam sair até que os paramédicos a tivessem examinado. No entanto, Julie era a prioridade no momento, então, quando os médicos chegaram, o diretor os levou diretamente ao grupo de pessoas que estavam redor dela. Mas era tarde demais. Mesmo se eu já não tivesse certeza, teria sido óbvio apenas em observar suas posições, e a maneira sem pressa em fazer o seu trabalho, finalmente ela foi colocada em uma maca e coberta com um lençol. Então, um único paramédico vestindo calça preta e camisa de uniforme atravessou o ginásio até nós, com o kit de primeiros socorros na mão. Ele examinou Emma completamente, mas não encontrou nada que pudesse ter causado seu colapso. Seu pulso, pressão arterial e respiração estavam normais. Sua pele estava corada e saudável, seus olhos dilatavam-se corretamente à luz, e seus reflexos respondiam. O médico concluiu que simplesmente havia desmaiado, mas indicou que ela deveria ir ao hospital para um exame mais amplo, para desencargo. Emma tentou recusar, mas o diretor apoiou sua decisão fazendo uma ligação à Sra. Marshall, quem informou-lhe que iria buscar a filha lá. Quando eu estava certa de que Sophie tinha carona para casa, Nash e eu seguimos a ambulância para o hospital onde a enfermeira da triagem colocou Emma em uma sala iluminada e pequena para aguardar ser examinada. E a sua mãe. Logo que a enfermeira saiu, fechando a porta atrás dela, Emma virou-se para nós, sua expressão em uma mistura de medo e confusão. "O que aconteceu?" - Perguntou, ignorando os travesseiros para sentar-se na cama com as pernas cruzadas estilo yoga. - "A verdade." Olhei para Nash, que tinha puxado uma luva de látex de uma caixa fixada na parede, mas ele apenas deu de ombros e indicou com a cabeça em sua direção, me dando um sinal claro para continuar. "Hum..." - Eu murmurei, sem saber o que dizer. Ou como expressá-lo. Ou se a minha voz ainda rouca suportaria. - "Você morreu."
"Eu morri?" - Os olhos de Emma ficaram enormes e redondos. Seja o que for ela esperava ouvir, eu não tinha dito. Balancei a cabeça, hesitante. - "Você morreu e nós a trouxemos de volta." Ela engoliu em seco, olhando de mim para Nash - que agora soprava na luva descartável - e olhou de volta para mim. - "Vocês me salvaram? Como fizeram, com RCP?" - Seus braços relaxaram e os ombros caíram - obviamente tinha estado esperando por alguma coisa... Mais estranha. Considerei simplesmente concordar com a cabeça, mas ninguém iria corroborar nossa história. Teríamos que dizer a verdade, ou pelo menos uma versão dela. "Não exatamente." - Hesitei, silenciosamente pedindo ajuda.
levantando
uma
sobrancelha
para
Nash,
Ele suspirou e esvaziou a luva, em seguida, sentou-se na beirada da cama de Emma. Sentei-me na frente dele e me apoiei em seu peito. Só tinha quebrado o contato físico com ele, desde que cantei para a alma de Emma, e eu não queria ter que fazê-lo tão cedo. "Bem, vamos te contar o que está acontecendo..." - No entanto, quando ele apertou minha mão, eu soube que não iria dizer-lhe tudo, nem me deixaria fazê-lo. - "Mas primeiro, eu preciso que você jure não contar a ninguém. A ninguém. Nunca. Mesmo se você estiver com noventa anos de idade e ansiosa para fazer uma confissão em seu leito de morte." Emma nos deu um grande sorriso e revirou os olhos. - "Sim, como se eu fosse pensar em vocês quando estiver com cem anos de idade e esteja dando meu último suspiro." Nash riu e me abraçou pela cintura. Inclinei-me contra seu peito e seu coração bateu nas minhas costas. Quando falou, sua respiração agitou o cabelo sobre minha orelha, me acalmando suavemente, mas eu sabia que ele fez isso em beneficio de Emma. Apenas no caso. "Então você jura?" - Ele perguntou, e ela concordou com a cabeça. - "Você sabe que Kaylee pode saber quando alguém vai morrer?" - Emma assentiu com a cabeça mais uma vez, estreitou seus olhos, brilhando de curiosidade, com uma pitada de medo que ela provavelmente não queria que víssemos. "Bem, algumas vezes, em certas circunstâncias... ela pode trazê-los de volta." "Com a sua ajuda." - Acrescentei em uma voz rouca, imediatamente me perguntei se sua participação era uma das partes que Nash queria manter em segredo. Mas ele beijou meu pescoço para me deixar saber que estava tudo bem. "Sim, com minha ajuda." - Seus dedos se uniram com os meus, onde minha mão estava sobre meu colo. - "Juntos, nós te acordamos. Mais ou menos. Você estará bem agora. Não há nada errado com você e o médico provavelmente irá dizer que
você desmaiou de estresse ou tristeza, ou algo parecido. Como os paramédicos disseram." Por quase um minuto, Emma ficou em silêncio, absorvendo tudo. Tive medo que mesmo sob a influência cuidadosa de Nash, ela poderia perder o controle, ou começar a rir de nós. Mas ela apenas piscou e sacudiu a cabeça. - "Eu morri?" Perguntou novamente. - "E vocês me trouxeram de volta. Eu sabia que devia ter tido esse pequeno medidor de saúde instalado sobre minha cabeça, para assim saber quando estou prestes a cair." Eu sorri, aliviada que ela podia ver o engraçado da situação, e Nash soltou uma gargalhada, balançando o corpo todo nas minhas costas. - "Bem, com alguma sorte, te demos a saúde infinita." - Disse ele. Emma sorriu brevemente, então se tornou séria. - "Foi como com as outras? Eu simplesmente desmoronei?" "Sim." - Odiava ter que contar a ela sobre sua própria morte. - "No meio da frase." "Por quê?" "Nós não sabemos." - Nash respondeu antes que eu pudesse fazê-lo. Não acrescentei mais nada, porque, tecnicamente, era a verdade, mas não toda. E porque não queria que Emma se envolvesse com uma psicótica, extra sombria, Anjo da Morte feminina. Ela pensou por um momento, seus dedos roçando os lençóis brancos do hospital. Quando sua mão tocou o controle remoto da cama, pegou-o, percorrendo com os olhos os botões rapidamente antes de olhar-me novo. - "Como vocês fizeram?" "Isso é complicado..." - Procurei pelas palavras adequadas, mas não as encontrei. "Eu não sei como explicar isso, e não é realmente importante." - Pelo menos no que diz respeito a Emma. - "O importante é que você está bem." Ela apertou um botão no controle remoto, e a cabeceira da cama levantou-se alguns centímetros abaixo dela. - "Então o que aconteceu com Julie?" Essa era a pergunta que eu temia. Contemplei meu colo, onde meu dedo torcia-se em nó um no outro. Então olhei para Nash, esperando que ele tivesse uma maneira melhor e menos traumática para explicar do que simplesmente dizer: Ela morreu por você. Mas, obviamente, não era assim. - "Salvamos sua vida, e faríamos novamente se fosse preciso. Mas a morte é como a vida em alguns aspectos, Emma. Tudo tem um preço." "Um preço?" - Emma ficou assustada e sua mão agarrou firmemente o controle. A cama baixou, mas ela não percebeu. – "Você matou Julie para me salvar?"
"Não!" - Tentei alcançar Emma, mas ela recuou precipitadamente no travesseiro, horrorizada. - "Não tivemos nada a ver com a morte de Julie! Mas quando te trouxemos de volta, criamos uma espécie de brecha, e algo tinha que preenchê-la." Isto não era exatamente verdade. Mas não podia lhe explicar que não deveria ter havido um custo por sua vida sem contar-lhe sobre os Bean Sidhes, e os Anjos da Morte e outras coisas mais obscuras que nem mesmo eu entendia ainda. Emma relaxou um pouco, mas não se aproximou de nós. - "Sabiam disso quando me salvaram?" - Nos perguntou, e novamente fiquei impressionada com a percepção que ela tinha. Provavelmente ela seria uma Bean Sidhe melhor do eu era. Nash pigarreou atrás de mim, preparando-se para responder a sua pergunta. "Sabíamos que havia uma possibilidade. Mas seu caso foi um tipo de exceção, assim que não esperávamos que isso acontecesse. E não tínhamos idéia de quem iria em seu lugar." Emma franziu a testa. - "Então você não tinha nenhuma premonição sobre sua morte?" "Não, eu..." - Não tive. Ainda não tinha pensado nisso até que ela perguntou. - "Por que eu não soube dela?" - Perguntei, virando-me para olhar para Nash. "Por que a razão de sua morte..." - Que significa a decisão do Anjo da Morte de levála... - "Não existia até que trouxemos Emma de volta. O que prova que Julie... Não era para morrer também." "Ela não tinha que morrer?" - Emma abraçou um travesseiro contra o peito. "Não." - Debrucei-me sobre o peito de Nash e imediatamente minha consciência me repreendeu porque ela tinha acabado de morrer e não tinha em quem se apoiar. Então me endireitei novamente, mas não pude soltar sua mão. - "Algo está errado. Estamos tentando descobrir, mas não estamos realmente certos por onde começar." "Eu deveria morrer?" - Seu olhar cravou-se em mim. Eu nunca tinha visto minha melhor amiga tão vulnerável e assustada. Nash negou com a cabeça firmemente na borda da minha visão. - "É por isso que a trouxemos de volta. Gostaria de poder ter ajudado Julie." Emma franziu a testa. - "Por que não puderam fazê-lo?" "... Não fomos rápidos o suficiente." - Estremeci quando a frustração e a raiva reviraram meu estomago. - "E usei tudo em você." "O que significa..." - Mas antes que ela pudesse terminar a pergunta, a porta se abriu e uma mulher de meia-idade com uniforme e avental do laboratório entrou. Ela carregava uma prancheta e uma muito nervosa Sra. Marshall entrou atrás.
"Emma, eu acredito que esta mulher lhe pertença?" - A médica colocou a prancheta debaixo do braço e se afastou deixando passar a Sra. Marshall, que se lançou para a cama e quase esmagou sua filha mais nova em um abraço. De repente a cama tremeu sob nós, Nash e eu pulamos para fora do colchão alarmados. - "Desculpe." - Emma puxou o controle remoto debaixo de sua perna, onde havia caído. "Hum, nós estamos indo," - eu disse, dirigindo-me em direção à porta. - "Meu pai é para vir hoje à noite, e realmente preciso falar com ele." "Seu pai vai à sua casa?" - Ainda apertada debaixo do abraço, Emma afastou uma mecha de cabelo da mãe para assim poder olhar para mim, e assenti com a cabeça. "Eu ligo para você amanhã. Está bem?" Emma franziu a testa enquanto sua mãe se acomodava na cama, mas concordou com a cabeça quando a médica manteve a porta aberta para nós. Ela estava bem. Para melhor ou para pior, tínhamos salvado sua vida, pelo menos por agora. E com alguma sorte, ela não iria atrair o olhar de outro Anjo da Morte por um longo, longo tempo. A Sra. Marshall despediu-se com a mão enquanto a porta se fechava atrás de nós, e a última coisa que ouvi foi Emma insistindo que a teria chamado se ainda tivesse seu celular com ela. Nossos passos soaram no piso de vinil sujo enquanto passávamos pelo balcão das enfermeiras, indo para as pesadas portas duplas que levam para a sala de espera da emergência. Eram apenas quatro horas da tarde e eu estava exausta. E a cócega na minha garganta me lembrou que ainda soava como uma rã. Mas tinha acabado de pensar nisso quando uma voz familiar chamou meu nome no amplo e branco corredor atrás de nós. Eu gelei a no meio do passo, mas Nash só parou quando ele percebeu que eu tinha parado. "Eu achei que você poderia querer algo quente para sua garganta. Parece que você realmente a usou hoje." Virei-me para encontrar Tod segurando um copo descartável fumegante, e sua outra mão embrulhada em torno de um suporte de via intravenosa. Nash enrijeceu ao meu lado. - "O que há de errado?" - Perguntou. Mas ele estava olhando para mim, não para Tod. Olhei para o Anjo da Morte com minhas sobrancelhas levantadas. Tod encolheu os ombros e me deu um grande sorriso. - "Ele não pode me ver, ou ouvir a não ser que eu queira." - Então olhou para Nash, e percebi que, o que ele ia dizer depois, Nash
ouviria. - "E até que ele se desculpe, eu e você teremos todas nossas conversas sem ele." Nash ficou tenso novamente, seguindo meu olhar para o que ele aparentemente viu como um corredor vazio. - "Maldição, Tod." - Ele sussurrou com raiva. - "Deixe-a sozinha." Tod sorriu como se tivéssemos partilhado uma piada privada. - "Nem sequer a estou tocando." Nash rangeu os dentes, mas eu rolei meus olhos e disse claramente antes que ele pudesse dizer algo que todos nós nos arrependêssemos mais tarde. - "Isso é ridículo. Nash seja simpático. Tod deixe ele te ver. Ou deixarei os dois aqui." Nash ficou em silencio, mas logo soltou suas mandíbulas. E eu soube o momento em que Tod apareceu para ele, porque seu olhar estreitou-se no rosto do Anjo da Morte. - "O que você está fazendo aqui?" "Eu trabalho aqui." - Tod deixou cair o suporte de IV e avançou, estendendo um copo fumegante para mim. Eu peguei sem pensar - minha garganta doía, e beber algo quente seria uma boa idéia. Bebi de uma fenda pequena na tampa e fui surpreendida pelo sabor doce, rico do chocolate quente com apenas uma pitada de canela. Dei-lhe um sorriso agradecido. - "Eu amo chocolate." Tod encolheu os ombros e enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans, mas um flash momentâneo em seus olhos revelou sua satisfação. - "Não tinha certeza se você gostava de café, mas pensei que o chocolate era uma coisa certa." Um som suave de ranger de dentes chegou aos meus ouvidos quando Nash raspou os dentes uns contra os outros, e sua mão apertou a minha. - "Vamos Kaylee." Concordei, então encolhi os ombros me desculpando com Tod. - "Sim, eu deveria voltar para casa." "Para ver seu pai?" - O Anjo da Morte me sorriu maliciosamente, e os pontos conquistados pelo chocolate quente instantaneamente se perderam ao invadir minha privacidade. "Você estava me espionando?” Abriu-se uma porta do lado direito do vestíbulo e um enfermeiro saiu, empurrando um idoso em uma cadeira de rodas. Os dois nos olharam muito brevemente, antes de continuar pelo corredor na direção oposta. Mas só para o caso, Tod falou baixinho e deu um passo para mais perto. - "Eu não estava espionando. Eu escutei. Estou preso aqui doze horas por dia, e é ridículo que eu finja que não ouço nada." "O que você ouviu?" - Perguntei.
Tod olhou de mim para Nash, e olhou para o posto de enfermagem no final do corredor, na junção de dois outros corredores. Então apontou para uma porta, fechada e sem numero à esquerda e acenou para que o acompanhássemos. Eu fui e Nash seguiu-me com relutância. Tod me fez um gesto de "depois de você" na porta, mas quando tentei abri-la, a maçaneta não girou. - "Está trancada." "Oops." - Tod desapareceu, e um instante depois a porta se abriu pelo lado de dentro. O Anjo da Morte estava em um armário pequeno, escuro, cheio de estantes com medicamentos empilhados, seringas, e todos os tipos de suprimentos médicos. Hesitei com medo que alguém pudesse entrar e nos pegar. Um Anjo da Morte poderia em um piscar de olhos livrar-se do problema, mas os Bean Sidhes não podiam fazer isso. Então, um ligeiro som de passos soou vindo de um dos corredores, e Nash de repente me deu um empurrão e fechou a porta atrás de nós. Houve um segundo de escuridão, logo algo fez clic e a lâmpada no teto nos iluminou. Nash tinha encontrado o interruptor. - "Bem, cuspa." - Ele rosnou. - "Não quero ter que explicar para o pai de Kaylee o porquê de nós estarmos presos em um armário de hospital cheio de substâncias controladas." "Ok." - Tod encostou-se em uma prateleira que estava na parede de trás dando a Nash e a mim mais espaço - algo como um metro quadrado por pessoa. - "Eu estava esperando por um cara com uma facada no peito. Deveria ter sido rápido e simples, mas tive que sair por um momento para atender uma chamada do meu chefe, e quando voltei, o médico o tinha trazido de volta três vezes. Você sabe, com essas coisas de pás que dão choque?" "Então você o deixou viver?" - Nash parecia quase tão surpreso quanto eu. "Hum... não." - Tod franziu a testa, seus cachos loiros brilhando à luz. - "Ele estava na minha lista. Enfim, quando terminei com a vítima de facada, deixei o quarto para uma xícara de café e te ouvi falando." - Ele me deu uma olhada, ignorando completamente Nash. - "Então, te segui até o quarto de sua amiga. Ela é sexy.” "Fique longe de... dela." - concluiu fracamente, lembrando-me no último momento que não era prudente dar os nomes dos meus amigos para os Anjos da Morte. Não que o Anjo da Morte não pudesse descobrir de qualquer forma. E não era como se a morte já não tivesse o nome de Emma em seus arquivos, depois desta tarde. Tod rolou os olhos. - "Que tipo de Anjo da Morte pensa que eu sou? E de qualquer forma, que graça teria matá-la?" "Deixe-a em paz." - Nash rosnou. - "Vamos embora." - Virou-se e agarrou a maçaneta, então, abriu a porta tão rápido que, se alguém no posto de enfermagem estivesse olhando, teríamos sido apanhados em flagrante. Surpresa, corri atrás dele e ouvi o armário se fechar atrás de mim.
Estávamos quase nas portas duplas quando Tod falou novamente. - "Você não quer saber sobre o telefonema?" - Sussurrou, mas de alguma forma sua voz soou como se ele tivesse falado a alguns centímetros de distância. Parei, puxando Nash em uma parada repentina. Ele pareceu confuso, depois, irritado, e percebi tremendo com o choque que ele não tinha ouvido Tod - e que eu não deveria ter ouvido também. O Anjo da Morte estava pelo menos a seis metros de distancia, ainda na frente do armário. "O telefonema do seu chefe?" - Sussurrei experimentalmente para ver se Tod conseguia me ouvir. O Anjo da Morte concordou com a cabeça, sorrindo com ar de satisfação. "O que ele disse?" - Nash murmurou baixinho, irritado. "Venha." - Depois de uma rápida olhada para me certificar de que nenhuma das enfermeiras nos observava, eu quase o arrastei de volta para o armário do corredor atrás de Tod. - "Por que devemos nos preocupar com as suas conversas telefônicas com seu chefe?" - Perguntei em voz alta, para atualizar Nash sobre o assunto. "Porque ele tem uma teoria sobre os nomes fora da lista do Anjo da Morte." - O sorriso de Tod cresceu enquanto encostava-se na estante a esquerda e uma pequena ondulação apareceu em sua bochecha direita, destacada pela luz sombria que vinha do teto. - "Como eu poderia não ter percebido isso antes?" "Que teoria?" - perguntou Nash. Aparentemente ele podia ouvir Tod novamente. "Tudo tem um preço. Você deve saber disso agora." "Certo." - Bufei de frustração e ignorei Nash quando segurou apertando sua mão na minha. - "Diga-nos o que você sabe, e diremos o que sabemos." Tod riu e puxou um penico de plástico de uma das prateleiras, observando-o atentamente como se esperasse que um coelho saltasse de dentro como brinde de um mágico. - "Está blefando. Você não sabe nada sobre isso." "Nós vimos o Anjo da Morte quando Emma morreu," - Expliquei, e seu sorriso desapareceu instantaneamente. Ele colocou o penico de volta no lugar e eu soube que tinha toda a sua atenção. - "Comece a falar." "É melhor estar dizendo a verdade." - Tod olhou de mim para Nash repetidamente. "Eu disse a você, Kaylee não mente." - Respondeu Nash, e eu não pude deixar de notar que ele não se incluiu na referida declaração.
Tod hesitou apenas um momento, como se considerasse. Então, acenou com a cabeça. - "Meu chefe é um Anjo da Morte realmente muito velho chamado Levi. Ele tem estado neste mundo por muitíssimo tempo. Tipo cento e cinqüenta anos." Cruzou os braços, acomodando-se na parede cheia de prateleiras. - "Levi disse que algo como isto aconteceu quando ele se tornou um Anjo da Morte. Tudo era muito menos organizado naquele tempo, e quando descobriram que alguém levava almas que não estavam na lista, - escreviam tudo completamente à mão, - você consegue imaginar isso? Já tinham perdido seis almas em sua região." "Você está falando sério?" - Nash envolveu um braço em volta da minha cintura, e deixei ele me puxar para perto. - "Ou você está apenas fazendo tudo isso para impressionar Kaylee?" Tod fez uma careta sombria, mas pensei que era uma pergunta completamente válida. - "Cada palavra veio diretamente de Levi. Se vocês não acreditam em mim, podem ir e perguntar a ele." Nash enrijeceu, e murmurou algo sobre aquilo não ser necessário. "Então por que eles estavam morrendo?" - Eu perguntei, retomando o assunto. Os olhos do Anjo da Morte voltaram novamente para mim, e falou em um tom confiante, os olhos azuis brilhando. - "Suas almas estavam sendo caçadas ilegalmente." "Caçadas?" - Virei-me para olhar a Nash com uma sobrancelha levantada, mas ele apenas deu de ombros, a boca fechada em uma linha dura. - "Por que alguém roubaria as almas?" "Boa pergunta." - Tod manuseou uma caixa de termômetros descartáveis. Seu sorriso se ampliou, e lembrou-me os telespectadores de um filme quando vibram com uma cena de assassinato, quando sabem que são sangues falsos e magia de cinema. “Não há muito uso para almas separadas deste mundo..." - O Anjo da Morte deixou essas ultimas palavras em suspenso, e uma sensação de enjôo torceu no fundo do meu estômago. "Mas há no Outro Mundo?" - Terminei por ele, e Tod assentiu com a cabeça, obviamente impressionado que o meu status de novata não era tão evidente mais. "As almas são uma raridade no plano mais profundo ou Submundo ou Inferno ou Outro Mundo, seja como denominem. Algo entre uma delicadeza e um luxo. São muito solicitadas, ocasionalmente, uma transferência desaparece no caminho." "Uma transferência de almas?" - Uma sensação de medo passou como um relâmpago por mim, enquanto pensava. - "No caminho a partir de onde? Para onde?" Nash respondeu, ele pareceu muito feliz em saber a resposta e irritado por ter que me dizer. - "A partir daqui, para onde são... recicladas.”
"Reencarnadas?" "Sim." - Tod ergueu-se e bateu com a cabeça na prateleira de cima, esfregava enquanto falava. - "Mas algumas vezes a transferência não é feita, de modo que essas almas não são entregues. São substituídas por novas, que é uma das razões pelas quais vocês irão encontrar uma alma completamente nova, às vezes." Eu fiz uma nota mental para perguntar depois como poderia identificar uma nova alma. - "Então, essas almas que são caçadas furtivamente vão para o Inferno?" Perguntei, tentando apenas manter-me à tona na corrente da nova informação. "Você quer dizer que Meredith, e Julie, e as outras foram mortas para que algum monstro de outra dimensão pudesse fazer um lanche à meia-noite com suas almas?" Encostei-me em uma prateleira alta para equilibrar-me enquanto minha cabeça girava. Realmente não podia ajustar minha mente a tudo o que ele acabava de contar. "Essa é a teoria de Levi." - Tod pegou um rolo de gaze esterilizada e jogou-o no ar, em seguida pegou. - "Ele disse que a última vez que isso aconteceu, elas estavam sendo recolhidas como pagamento a um demônio." Minha mão agarrou firmemente a prateleira e um parafuso saliente cortou meu dedo, mas eu quase não notei por causa do escuro medo girando em torno de mim como uma espessa nevoa. - "Um demônio?" Nash respirou com dificuldade. - "Os seres humanos os chamam de demônios, mas essa não é exatamente a palavra correta, porque eles não têm nenhuma relação com qualquer religião. Alimentam-se da dor e do caos. Mas eles não podem sair do Inferno." "Ok..." - Meu pulso corria rapidamente e, pisquei novamente de volta as criaturas cinza que tinha visto durante a canção para a alma de Emma. Foram esses demônios? - "Pagamento pelo que?" O Anjo da Morte encolheu os ombros. - "Poderia ser qualquer coisa. Às vezes, são acordos. Por baixo da mesa, é claro. Levi se encarregará dele, tão logo encontre o Anjo da Morte responsável." - Pegou o rolo de gaze de novo e deu de ombros, obviamente tinha nos dito tudo o que sabia. O que foi mais do que eu tinha esperado. - "Então... o que há sobre o Anjo da Morte que vocês viram?" "Diga a Levi que ele deve procurar por uma mulher." - Mudei de posição me aproximando de Nash e acidentalmente esbarrei em uma prateleira. Várias caixas de equipamentos médicos caíram, derramando seu conteúdo parecendo vermes de plástico transparente. "Uma mulher?" - Os olhos de Tod se arregalaram, e eu concordei.
"Alta e magra, com cabelo castanho ondulado." - disse Nash. - "Parece com alguém que você conhece?" Tod negou com a cabeça. - "Mas Levi conhece cada Anjo da Morte do Estado. Ele vai cuidar dela." - Ele hesitou, como se não tivesse certeza se deveria ou não dizer a próxima parte. - "Mas ele acha que vocês vão conseguir que suas almas sejam caçadas, antes que ele possa ter tudo sob controle." "É isso o que você acha também?" - Eu não estava certa do porque sua opinião me importava, mas era assim. Tod encolheu os ombros, os dedos ainda na bola improvisada. - "Eu digo que esta é uma possibilidade muito real. Especialmente se continuarem mexendo com os dedos na frente da boca do tigre." "Não tínhamos escolha." - Debrucei-me para reagrupar as caixas que haviam caído. "O tigre estava prestes a comer minha melhor amiga." "Você é algo especial, Kaylee Cavanaugh," - Tod sussurrou, e soube pela expressão em branco de Nash que ele não tinha ouvido isso, embora claramente tenha visto que os lábios do Anjo da Morte se moveram. - "Poderia ter sido você, em vez da líder de torcida. Pode ser você da próxima vez. Ou pode ser ele." - Seu olhar mudou para Nash e voltou para mim, sua expressão irreverente escureceu. "Deixe Levi lidar com isso." - Disse ele. - "Se você não vai fazer isso por mim, ou mesmo por si mesma, faça-o por Nash. Por favor." Tod pareceu realmente assustado, e eu não sabia o que fazer com o medo que demonstrava um Anjo da Morte sombrio. Então, concordei com a cabeça. - "Nós estamos fora. Já prometi ao meu tio." - Segurei a mão de Nash enquanto Tod assentia com a cabeça. Então, ele desapareceu, ainda segurando a gaze em sua mão, e eu fiquei sozinha com Nash em um armário apertado.
Capítulo 18 "O que ele disse?" - Nash moveu-se em seu assento, olhando pela janela do passageiro para as luzes dos carros que passavam. Estávamos quase na minha casa, e estas foram as primeiras palavras que ele falou desde que deixamos o estacionamento do hospital. "Existe mais alguma coisa que eu deva saber sobre os Anjos da Morte?" - Não podia evitar que minha voz soasse irritada, estou cansada de andar no escuro. - "Podem ler meus pensamentos ou ver através da minha roupa?" - Isso explicaria muitas coisas... - "Ou podem me fazer ficar de cabeça para baixo e grasnar como uma galinha?" Nash finalmente suspirou e se virou para mim. - "Anjos da Morte são como 'faz-tudo' sobrenatural de todo tipo. Eles podem aparecer onde quiser e escolher quem os vê e ouve. Se eles querem ser vistos ou ouvidos. Eles têm outras habilidades menores, mas nenhuma tão irritante como essa coisa de audição seletiva." - Colocou a mão no apoio de braço do carro, seus dedos brancos de tensão. - "Então, o que ele disse?" Hesitei em responder, se Tod quisesse que Nash ouvisse, teria dito para ele escutar também. Então, novamente, não me fez prometer... - "Me pediu para não deixar te matarem. Ele está tentando protegê-lo." Tirei os olhos da estrada bem a tempo de ver Nash revirar os olhos. - "Não, ele está tentando proteger você, e sabe que vai ser mais seguro falar da minha segurança do que da sua." "Como você sabe o que ele está fazendo?" "Porque eu teria feito o mesmo." Um jato quente de adrenalina percorreu meu peito, embora soubesse que Nash estava errado. Tod estava cuidando dele, pelo menos em parte. Desviei os olhos do sol da tarde, quando voltar a olhar, estava no meu bairro. Dois quarteirões adiante e a esquerda, o carro da minha tia estava à vista, estacionado em um lugar que sempre estava repleto de carros. Meu tio tinha tirado o dia de folga, esperando que meu pai chegasse no meio da manhã. E com certeza Sophie já tinha retornado do funeral. Todo mundo estava aqui... Nash me seguiu até a sala, onde meu tio estava sentado em um sofá com estampa floral em um ângulo que lhe permitia olhar à televisão com as notícias locais e a janela principal. Levantou-se quando nos aproximamos, colocando as mãos nos bolsos, os olhos ansiosos olhando para os meus procurando algum indicio de problemas. "Sophie nos contou o que aconteceu. Você está bem?" "Bem." - Desabei em um canto do sofá e puxei Nash comigo.
O olhar de tio Brendon encontrou o meu e ele disse. - "Val... não está se sentindo bem hoje, acabei de colocá-la na cama." Agora? Olhei pela janela os últimos raios de sol da tarde desaparecendo abaixo do telhado da varanda. Não eram nem cinco e meia. "Este não é o melhor momento para estar acompanhada." - Continuou ele, olhando brevemente para Nash. "Eu quero estar com ele quando me encontrar com meu pai." - Insisti, e meu tio me olhou como se fosse discutir. Mas, em seguida, fez um gesto de resignação e afundou-se na cadeira. "O que foi que Sophie lhe disse?" - Eu perguntei. Fiquei surpresa que ele não tivesse me telefonado, mas tinha checado meu telefone no carro, e não tinha mensagens ou chamadas perdidas. Mas provavelmente ele estava ocupado lidando com a minha tia. Tio Brendon recostou-se na cadeira e levantou uma lata de refrigerante da ponta da mesinha. "Ela disse que Emma desmaiou, e enquanto todo mundo estava fazendo um estardalhaço sobre isso, uma das líderes de torcida caiu morta. A escola inteira esta completamente chocada. E saiu nos noticiários." Engoli em seco e olhei para Nash. E, naturalmente, tio Brendon percebeu. "Emma morreu, não é?" - Sua expressão era triste, como se não tivesse certeza de realmente querer ouvir a verdade. - "Ela morreu, e vocês dois a trouxeram de volta." Ante suas palavras, o horror e uma atordoante incredulidade tomaram conta de mim como uma onda devastadora, o culminar de todas as coisas terríveis que eu tinha visto e feito nesses últimos dias, e pude apenas assentir, impedindo que as lágrimas caíssem dos meus olhos por pura vontade. Olhei para o rosto de meu tio, que estava como névoa antes de uma tempestade, ele ficou parado com a mão apertada ao redor da lata de refrigerante. Se estivesse cheia, ele teria a maior parte do refrigerante em sua mão. - "Eu disse para você ficar fora disso. Disse que seu pai e eu cuidaríamos disso. Você poderia ter morrido, e como as coisas estão agora, mais alguém esta morta." Levantei-me de uma vez, a raiva ofuscando minhas emoções mais fracas. - "Isso não é justo. Nada disso foi nossa culpa!" "Não há nada de justo sobre isso." - Tio Brendon rugiu, e eu soube pelo volume que Sophie não estava em casa. - "Se você não acredita em mim, vá perguntar aos pobres pais da líder de torcida."
Nash ficou ao meu lado, sua posição firme e forte, seu olhar inflexível. - "Sr. Cavanaugh, não tivemos nada a ver com a morte de Julie. Na verdade, nós também tentamos salvá-la, mas..." Todos nós percebemos ao mesmo tempo, que ele tinha dito alguma coisa que não devia. Apertei sua mão para silenciá-lo, mas era tarde demais. "Você tentou fazer isso de novo?" - A fúria do tio Brendon só foi superada pelo seu medo. "Nós tivemos!" - Eu estava gritando agora, e a sala inteira nadou com as lágrimas que enchiam meus olhos. - "Eu não podia deixar que o Anjo da Morte roubasse outra alma sem ao menos tentar impedi-lo." Uma luz de simpatia piscou através de sua ira, mas rapidamente desapareceu pisoteada pelo medo nascido da precaução. - "Você tinha o quê? Você não pode ir metendo o nariz nos assuntos dos Anjos da Morte cada vez que alguém morre, a menos que você queira morrer com eles!" - Ele virou-se para Nash nesse momento, com a raiva ainda girando em seus olhos. - "Se você vai dizer-lhe o que pode fazer, também têm a responsabilidade de dizer o que ela não pode fazer." "Ele disse." – Eu disse antes que Nash pudesse responder. - "Mas não era para Emma morrer." Os olhos de meu tio estreitaram-se com suspeita. - "Como você sabe disso?" Nash falou antes que eu, provavelmente para evitar que eu cavasse ainda mais fundo minha sepultura. - "Tod foi capaz de verificar a lista. Este Anjo da Morte é um patife, e nenhuma dessas garotas tinham que morrer." "Está vendo?" - Perguntei quando Nash ficou em silêncio, sem revelar o resto das informações que Tod havia nos dado. "Tivemos que salvá-la. Ela não devia morrer ainda." - Além de ser minha melhor amiga. - "Diga-me, você não teria feito o mesmo." "Ele não teria." - Uma nova voz surgiu vinda da porta de entrada, trazida por uma suave brisa de setembro, e todos nós viramos para ela ao mesmo tempo. Meu pai estava na porta com uma mala em cada mão. - "Mas eu o faria." Eu deveria ter dito alguma coisa. Eu deveria ter tido algum tipo de saudação a um pai que eu não via há um ano e meio. Mas minha boca se recusava a abrir, e quanto mais eu ficava ali em silêncio, mais entendia melhor o problema. Não era que eu não tinha nada a dizer. Mas sim que eu tinha muito a dizer. Por que você mentiu? Onde você estava? O que faz você pensar que voltar agora vai fazer a diferença? Mas eu não conseguia decidir o que dizer em primeiro lugar.
Nash não tinha esse problema. - "Eu acho que este é seu pai?" - Ele sussurrou, inclinando-se para mim, para que nossos ombros se tocassem. Meu pai concordou com a cabeça, grossas ondas marrons subindo e descendo com o movimento. Seu cabelo estava mais comprido do que eu lembrava, e quase tocava seus ombros. Não pude evitar me perguntar o quão diferente ele me via. "Você deve ser o filho da Harmony," - Disse meu pai, sua voz profunda e retumbante. - "Brendon disse que provavelmente estaria aqui." "Sim, senhor." - disse Nash. Então, para mim, ele disse. - "Ele não soa como nativo da Irlanda." Meu pai largou as malas na entrada. - "Eu não sou. Eu só vivo lá." - Esticando a mão fechou a porta, em seguida, limpou suas botas no capacho antes de entrar na sala. Meu pai olhou para mim por um tempo, da cabeça aos pés, e seu queixo endureceu quando seu olhar se demorou em minha mão direita, ainda segurando a de Nash. Em seguida, seus olhos caíram sobre meu rosto, e uma gama de emoções passou pelo seu, a primeira de todas, luto, eu já havia esperado. Quanto mais crescia, mais me parecia com minha mãe. Ela só tinha vinte e três anos quando morreu - pelo menos foi o que me disseram - e eu às vezes até me assustava com a semelhança que eu via pelas fotografias antigas. Ele também parecia um pouco triste e preocupado, como se temesse a conversa para que viria. Mas a última expressão - a que impedia que corresse da casa, e pegasse o táxi que tinha tomado para vir - era de orgulho. Os olhos de meu pai brilhavam com esse sentimento, assim como uma velha dor gravada nas linhas de um rosto que ainda era jovem. "Ei, criança." - Respirou profundamente, e todo seu peito caiu enquanto arfava. "Acha que poderia me dar um abraço?" Eu não tinha a intenção de abraçá-lo. Ainda estava tão irritada com ele que mal conseguia pensar em outra coisa, inclusive em tudo o que estava acontecendo. Mesmo assim soltei minha mão de Nash e dei um passo em frente automaticamente. Meu pai cruzou o resto do piso até mim. Rodeou-me com seus enormes braços e minha cabeça encontrou-se em seu peito, como quando eu era criança. Ele podia ter o aspecto diferente, mas o cheiro era exatamente o mesmo. Como o café, a lã do casaco e da colônia que tem usado desde que me lembre. O abraço de meu pai trouxe o fantasma de lembranças tão antigas que não conseguia me concentrar. "Senti saudades." - Disse ele em meus cabelos, como se ainda fosse uma criança. Dei um passo para trás e cruzei os braços sobre o peito, os abraços não consertariam tudo. - "Você poderia ter me visitado."
"Eu deveria tê-lo feito." - Não era exatamente um pedido de desculpas, mas pelo menos estávamos de acordo em alguma coisa. "Bem, agora você está aqui." - Tio Brendon virou-se para a cozinha. - "Sente-se, Aiden. O que eu posso te servir para beber?" "Café, obrigado." - Meu pai tirou o casaco de lã preto e colocou nas costas da cadeira. - "Então..." - afundou-se na cadeira, e eu me sentei à sua frente dele, ao lado de Nash no sofá. - "Ouvi dizer que você descobriu sua herança. E, claro, já a provou. Você restaurou uma amiga?" Olhei em seus olhos corajosamente, desafiando-o a criticar a minha decisão quando ele já tinha admitido que teria feito o mesmo. - "Não era para Emma morrer. Nenhuma delas era." "Nenhuma delas?" - Meu pai franziu o cenho em direção a cozinha, obviamente tio Brendon ainda não havia dado todos os detalhes da minha descoberta. - "De quem estamos falando?" "Há mais três. Uma por dia, três dias seguidos." - O polegar de Nash acariciou as costas da minha mão até que meu pai franziu-lhe a testa, ele então deixou caiu minha mão e recostou-se no sofá. - "Então, hoje o Anjo da Morte levou mais uma depois que salvamos Emma." Irritante - e ainda assim divertido - Peguei sua mão e deixei que as duas descansassem no meu colo. Pais ausentes não tinham o direito de reprovar meus namorados. - "As quatro - ou cinco se contar com Emma - apenas caíram mortas, sem aviso prévio. Não era sua hora de morrer." "Como você sabe?" Encostei-me em Nash, sorrindo inocentemente enquanto o maxilar do meu pai apertava-se mais e mais. - "Tod é amigo de Nash e é um Anjo da Morte." As sobrancelhas de meu pai levantaram-se em surpresa, e por um momento esqueceu-se de continuar com a careta. - "Seu amigo é um Anjo da Morte?" Nash encolheu os ombros. - "Eu o conheci antes... que morresse." Papai se inclinou para frente, com os cotovelos sobre os joelhos e os olhos apertados. - "E este Anjo da Morte, disse que as garotas não estavam em sua lista?" "Elas não estavam em nenhuma lista," - disse eu, tirando sua atenção de sobre Nash. - "O chefe de Tod acredita que há um Anjo da Morte aí fora caçando almas para vendê-las no Inferno. Ou algo assim."
Tio Brendon congelou na porta, segurando duas fumegantes e perfumadas xícaras de café. - "Alguém está vendendo almas ao Inferno?" - Ele e meu pai trocaram olhares idênticos de horror e pavor antes de virar-se para nós. - "O que vocês sabem sobre o Inferno?" "Apenas que existe um, e que alguns moradores gostam das almas humanas." - Dei de ombros, tentando acalmar os dois. - "Mas isso não é realmente importante para nós, certo? O chefe de Tod disse que vai cuidar disso." O alívio no rosto do meu tio era tão denso como a tensão na postura de Nash. "Pois bem. Os anjos da Morte devem cuidar de seus próprios problemas. Isto não é realmente uma questão para os Bean Sidhes." Franzindo a testa, toquei a frente do meu sapato no tapete. - "Exceto que este Anjo da Morte psicopata tentou levar a melhor amiga de uma Bean Sidhe. Esse tipo de coisa faz com que o assunto seja meu." Tio Brendon franziu a testa e parecia pronto a discutir, mas meu pai falou antes que ele pudesse. - "Alguém te viu trazer Emma de volta?" - Ele perguntou, pegando sua xícara, como se procurasse calor. Nash sentou-se ainda mais ereto, ansioso para me defender. - "Ninguém sabia o que estava acontecendo. Emma acabara de desmoronar, e todos pensavam que Kaylee estava assustada com isso. E uma vez que Emma sentou-se, todos pensaram que ela havia apenas desmaiado." A maior parte era verdade, embora houvesse boatos que circulavam sobre o coração de Emma ter realmente parado por um minuto. A senhora que lhe tomara o pulso, provavelmente, tinha começado isso. Eu não podia culpá-la. A pobre mulher provavelmente precisará de terapia. Pensando bem, eu também. E talvez Emma. Meu pai deu de ombros, olhando para seu irmão com firmeza. - "Aparentemente, nenhum dano foi feito." "Exceto por Julie." - Resmunguei, e imediatamente quis ter mantido a boca fechada. Meu pai parou com a xícara a meio caminho de sua boca. - "Ela é a troca?" "Sim." - E mesmo sabendo em meu coração que a morte de Julie não era culpa nossa, não podia escapar da culpa que prendia meu peito e fazia meu corpo inteiro sentir-se pesado. Tio Brendon afundou-se na outra cadeira e meneou a cabeça tristemente. - "É por isso que você tem que manter-se longe do que diz respeito ao Anjo da Morte. Essa pobre garota estaria viva ainda se vocês dois tivessem deixado as coisas em paz."
"Sim, mas Emma não estaria." - Minha mão livre apertou o braço do sofá. - "E nós não tínhamos nenhuma maneira de saber com certeza que ela levaria alguém. Tod, disse que não deveria haver nenhuma penalidade por salvar uma vida que não deveria ter sido tomada, em primeiro lugar." "Ela?" - Meu pai baixou lentamente sua xícara sobre a mesinha. - "E posso saber como é que você sabe que o Anjo da Morte é uma mulher?" Mexi-me desconfortavelmente no sofá e olhei para Nash, mas ele deu de ombros, deixando para mim. Assim que me obriguei a olhar meu pai nos olhos. - "Nós... meio que... a vimos." Tio Brendon sentou-se ereto em sua cadeira, cada músculo do seu corpo estava tenso. - "Como?" "Ela mostrou-se." - Dei de ombros. - "Quando estavam fazendo RPC em Julie. Ela estava na parte de trás do ginásio, detrás da maioria da multidão e sorriu para nós." "Ela sorriu para você?" - Meu pai franziu o cenho. - "Por que ela se mostraria de propósito?" "Não importa," - disse meu tio. - "Os Anjos da Morte vão cuidar dos seus. Devemos ficar longe." Por um momento pensei que meu pai iria discutir. Ele parecia quase tão irritado quanto eu. Mas, então, acenou de forma decisiva. - "Eu concordo." "Mas e se não eles não puderem encontrá-la?" - Rebati, a mão de Nash ainda estava segurando a minha. Meu pai balançou a cabeça e recostou-se, cruzando os braços na frente de seu suéter. "Se vocês podem encontrá-la, os Anjos da Morte podem encontrá-la." "Mas..." "Eles tem razão, Kaylee," - disse Nash a poucos centímetros de minha orelha. - "Nós nem sequer sabemos atrás de quem o Anjo da Morte irá depois. Se é que voltará a fazer isso de novo." Ela o fará. Quando sorriu para mim, eu soube que não estava acabado. Levará outra garota em breve, a menos que alguém a pare. Mas ninguém mais parece disposto a tentar. Meu pai virou-se para seu irmão, seus pensamentos estavam escondidos sob uma fachada de calma. - "Como estão as suas meninas?" - Ele perguntou, e apenas com isso, o assunto estava encerrado.
"Não estão levando isso muito bem." - Meu tio soltou um suspiro pesado. - "Sophie saiu com seus amigos. A garota que morreu ontem estava em sua equipe de dança, e o resto deles estão passando cada momento acordados juntos, como uma espécie de sempre acordados. E Val... tomou uma garrafa de Brandy, esta tarde, antes mesmo que eu soubesse que a tinha aberto. Coloquei-a na cama faz uma hora para deixá-la dormir até passar o efeito." Wow. Talvez tia Val precisasse ir ver o Dr. Nelson. "Sinto muito, Bren." Tio Brendon deu de ombros, como se isso não importasse, mas a linha tensa em seus ombros dizia o contrário. - "Ela sempre foi muito nervosa. Sophie é igual. Estarão bem uma vez que isso passe." Mas isso não iria passar, e eu não podia ser a única que soubesse. Tio Brendon levantou-se e pegou sua xícara. Cada um de seus movimentos mostrava exaustão e medo. - "Vou ver como esta minha esposa. Val arrumou o quarto de hóspedes para você esta manhã. Se você precisar de mais alguma coisa diga a Kaylee." "Obrigado," - Quando a porta do quarto de tio Brendon se fechou, meu pai levantouse e virou-se para Nash, obviamente esperando que ele também fosse. - "Nash, não posso dizer-lhe o quanto estou agradecido por você ter ajudado a minha filha." Ainda teimosamente sentado, Nash negou com a cabeça. - "Eu não poderia ter feito nada sem que ela sustentasse a alma." "Refiro-me ao que você fez por Kaylee. Brendon disse que sua dose de verdade provavelmente salvou-a de uma depressão." - Ele ofereceu sua mão, e Nash não soube o que fazer por um momento, depois se levantou e a aceitou. "Papai..." - Comecei a dizer, mas ele balançou a cabeça. "Cometi um erro, e Nash assumiu o que eu tinha deixado de fazer. Ele merece que lhe agradeçam." - Apertou a mão de Nash com firmeza, em seguida, soltou e retrocedeu, deixando um caminho livre obvio para a porta da frente. Revirei os olhos ante sua insinuação não muito sutil. - "Eu concordo. Mas Nash fica. De qualquer forma, ele sabe mais sobre isso do que eu." - Deslizei minha mão na dele e fiquei tão perto quanto podia. Para minha surpresa, apesar de parecer irritado, meu pai não discutiu. Seus olhos moveram-se de mim para Nash, e de novo para mim e simplesmente assentiu, aparentemente resignado. - "Bem. Se você confia nele, eu também." - Retrocedeu lentamente em direção a sua cadeira e sentou-se diante de nós. Em seguida,
inspirou profundamente e encontrou os meus olhos. Estava pronta para ouvir o que ele tinha a dizer. Mas a verdadeira pergunta era se ele estava pronto ou não para me dizer. "Eu sei que tudo isto deveria ter saído há anos atrás," - começou. - "Mas a verdade é que toda vez que decidia que era hora de te falar sobre sua mãe... sobre você... não consegui fazê-lo. Você parece tanto com ela..." Sua voz falhou, e olhou para baixo, e quando me olhou novamente, seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas. "Você se parece tanto com ela que cada vez que te olho, meu coração pula de alegria, só para voltar a quebrar-se novamente. Poderia ter sido mais fácil se eu tivesse te mantido comigo. Se eu tivesse te visto todos os dias e observar como crescia para tornar-se sua própria pessoa. Mas como as coisas estão olho você e vejo a ela. E é tão malditamente difícil..." Nash se retorceu, e olhei para as minhas mãos, enquanto meu pai passeava com seu olhar ao redor da sala, evitando nossos olhos até que teve controle. Então, ele suspirou e passou um braço por seus olhos, secando as lágrimas em um suéter muito grosso para ser realmente necessário, em setembro. Merda. Realmente estava chorando. Eu não sabia como lidar com um pai que estava chorando. Eu mal sabia como lidar com um normal. "Hum, alguém mais está com fome? Eu não pude almoçar." "Eu poderia comer alguma coisa," - disse Nash, e sabia que ele tinha dado conta da necessidade que havia de quebrar a tensão. Ou talvez só estivesse com fome. "Ok, macarrão com queijo?" - Perguntei. Já estava a meio caminho quando ele assentiu. Nash e meu pai me seguiram pela sala de jantar até a cozinha, onde me ajoelhei para pegar um pacote de macarrão na parte de trás no fundo do armário. Pensei que estava pronta. Que eu poderia lidar com o que fosse que ele tinha a dizer. Mas a verdade era que eu não poderia ficar apenas sentada vendo meu pai chorar. Precisava de minhas mãos ocupadas com alguma coisa, enquanto meu coração se quebrava. "Você sabe cozinhar?" - Olhou surpreso quando peguei um pote do outro gabinete, e um bloco de queijo americano processado da prateleira do meu tio na geladeira. "É apenas uma pasta. tio Brendon me ensinou." - Ele também me ensinou a esconder o pacote ocasional de chocolate por trás do esconderijo de torresmos, que tia Val nunca tocaria, nem mesmo para despejá-lo em uma lata de lixo.
Meu pai sentou-se em um dos bancos, ainda observando, quando acendi o fogão e coloquei sal na água. Nash acomodou-se em um dos bancos há dois assentos ao lado dele e cruzou os braços sobre o balcão. "E o que você quer saber primeiro?" - Meu pai encontrou meu olhar por sobre o queijo que eu estava desembrulhando em uma tabua de corte. Dei de ombros e peguei uma faca de uma das gavetas à minha esquerda. - "Eu acho que entendi muito bem a parte sobre Bean Sidhe, graças a Nash." - Meu pai encolheu-se, e eu poderia ter me sentido culpada, mas ele nunca fez qualquer tentativa de explicar-me as mesmas coisas. - "Mas por que tia Val disse que eu estava vivendo em um tempo emprestado? O que significa isso?" Desta vez ele se encolheu como se eu tivesse lhe batido. Ele obviamente estava esperando algo mais - provavelmente uma pergunta técnica do livro de Como Ser um Bean Sidhe, da qual o meu exemplar se perdeu no correio. Meu pai suspirou e de repente pareceu muito cansado. - "É uma longa história, Kaylee, e uma que preferiria contar em privado." "Não." - Balancei minha cabeça com firmeza e abri um saco de macarrão. - "Você voou pela metade do mundo, porque me devia uma explicação." - Para não mencionar um pedido de desculpas. - "Eu quero ouvi-la agora." As sobrancelhas de meu pai levantaram-se em surpresa, e com mais do que um pouco de irritação. Depois, ele franziu a testa. - "Você parece a sua mãe." Sim, bem, eu tive que herdar o caráter de alguém. – Será que ela não iria querer que me dissesse seja lá o que você tem a dizer?" Ele não poderia ter parecido mais surpreso se ele tivesse levado um soco. "Eu honestamente não sei. Mas você está certa. Você tem o direito de saber todos os fatos." - Fechou os olhos brevemente, como se organizasse seus pensamentos. "Tudo começou quando você morreu."
Capítulo 19 “O que?” – Minha mão fechou-se ao redor de um cubo de queijo, até que escorreu pelos meus dedos. Meu pulso golpeava com tanta força em minha garganta que pensei que explodiria. – “Quer dizer na noite em que mamãe morreu.” Meu pai assentiu. – “Ela também morreu essa noite. Mas você foi a primeira.” “Uouu...” – Nash inclinou-se para frente, olhando de um lado para outro entre eu e meu pai. – “Kaylee morreu?” Meu pai suspirou, acomodando-se para contar uma longa história. – “Era fevereiro, do ano em que completou três anos. As estradas estavam cobertas de gelo. Não temos muito desse clima invernal no Texas, então quando acontece, ninguém sabe exatamente como lidar com ele. Incluindo eu.” “Espera um segundo, já ouvi tudo isso antes.” – Joguei o macarrão dentro da água agora fervente, e vapor subiu até o meu rosto, cobrindo minha pele com uma capa instantânea de umidade e calor. – “Você estava dirigindo, e outro carro nos acertou na estrada coberta de gelo. Quebrei o braço e a perna direita e mamãe morreu.” Meu pai assentiu miseravelmente, logo respirou fundo e continuou. – “Vínhamos para cá, para a festa de aniversário de Sophie. Sua mãe achava que o clima estava perigoso, mas eu disse que ficaríamos bem. Era uma viagem curta, e tua prima te adorava. Foi tudo culpa minha.” “O que aconteceu?” – Perguntei, esquecendo da minha mão cheia de queijo. Meu pai piscou lentamente, como se tentasse afastar as lágrimas. – “Havia um veado na estrada. Eu não estava tão rápido. Mas o chão estava cheio de gelo, e o veado era enorme. Desviei para não acertá-lo e o carro deslizou pelo gelo. Terminamos do outro lado da estrada. Um carro que estava vindo nos golpeou, na parte traseira do carro no lado do passageiro. Teu acento foi esmagado.” Fechei os olhos e agarrei com força a mesa enquanto uma onda de vertigem ameaçava deixar-me inconsciente, minha mãe havia sido morta nesse acidente, não eu. Fiquei bastante machucada, mas sobrevivi. Eu era a prova viva disso! Meus olhos abriram-se, focando instantaneamente meu pai. – “Papai, lembro de partes disso. Estive no hospital por semanas. Tinha dois gessos. Ainda temos algumas fotos. Mas estou viva, vê?” – Estendi meus braços através da mesa para demonstrar meu ponto. – “Então, o que aconteceu? Os para paramédicos me trouxeram de volta?” – A verdade estava me cercando, uma grande e escura nuvem no horizonte de minha mente. Quase podia vê-la, mas recusei-me a trazer-la para a luz. Recusei-me a admitir a tormenta que estava caindo sobre mim, molhando-me completamente com uma fria e cruel torrente de respostas que eu pensei que queria. Já não queria mais saber.
Mas meu pai apenas negou com a cabeça. – “Eles não chegaram a tempo. O homem no outro carro era médico, mas sua esposa bateu a cabeça em algo e ele estava tentando acordá-la. Quando aproximou-se para nos ajudar, tudo já havia terminado.” “Não.” – Mexi no macarrão com tanta força que água fervendo derramou-se pelo fogão. A mão de Nash cobriu a minha suavemente, apesar de eu não ter o escutado moverse e levantei o olhar para encontra-me com o seu. – “Você morreu Kaylee. Sabe que é verdade.” Meu pai voltou a assentir, e quando seus olhos fechados apertaram-se com força, duas silenciosas lágrimas caíram pelas suas bochechas. – “Tive que ir pelo lado do motorista e arrancar todo os assentos do carro. Quando te peguei nos braços, não fez nenhum som, mesmo estando com seu braço e perna direita dobrados disformemente.” – Seus olhos se abriram, e a dor neles manteve-me presa. – “Te segurei como a um bebê, e você apenas me olhou. Então sua mãe saiu engatinhando do carro e segurou sua mão. Ela estava chorando, não podia falar, e pude ver a verdade em seus olhos. Sabia que íamos te perder.” Ele soluçou e fiquei petrificada, com medo de que se me movesse ele deixasse de falar. E ainda com mais medo porque parte de mim realmente queria que ele parasse. – “Morreu bem ali ao lado da estrada, com a neve derretendo em seu cabelo.” “Então porque continuo aqui?” – Sussurrei, mas já sabia a resposta. – “Era minha hora, não é?” – Abri a torneira e mantive minha mão embaixo da água fria, limpando o queijo dos meus dedos enquanto olhava meu pai. – “Supunha-se que eu deveria morrer, e você me trouxe de volta.” “Sim.” – Sua voz quebrou-se com essa única sílaba, e seu rosto começou a ficar vermelho pelo esforço de conter as lágrimas. – “Não podíamos suportar. Ela cantou por você, e foi a coisa mais linda que alguma vez escutei. Apenas podia olhar, estava chorando tanto. Mas então te vi. Tua alma, tão pequena e branca na escuridão. Era muito cedo. Não podia deixar que se fosse.” Fechei a torneira e peguei uma toalha da gaveta perto da minha cintura, deixando cair gotas no chão enquanto secava as mãos, logo inclinei-me sobre a bancada e o olhei fixamente. – “Diga-me como aconteceu.” Ele não hesitou dessa vez. – “Fiz que tua mãe me olhasse, para ter certeza que ela entendia. Disse que cuidaria de ti. Que ia te trazer de volta. Ela estava chorando, mas assentiu, ainda seguia cantando. Então guiei tua alma de volta a teu pequeno corpo. Piscou para mim. Então, cantou, com tua primeira respiração.”
“Eu... cantei?” – A toalha deslizou pelos meus dedos e caiu suavemente sobre a louça, mas não dei atenção. “O canto da alma.” – Meu pai pressionou a palma de sua mão em seus olhos, como se quisesse fisicamente deter as lágrimas, mas ainda assim seu rosto estava úmido quando me olhou novamente. – “Achei que cantava por mim. Você precisava mais de sua mãe do que de mim. Estava pronto para ir. Mas enquanto estava ali te segurando, o anjo da morte mostrou-se.” “Ele te deixou vê-lo?” – Interrompeu Nash, ainda ao meu lado. Quase havia esquecido que estava ali. Meu pai assentiu. – “Estava de pé no gramado, do lado da estrada. Lhe disse que estava pronto para ir. Te entreguei a tua mãe, e você ainda continuava cantando essa linda e aguda canção, como um passarinho. Me senti tão em paz, pensando que a última coisa que escutaria seria você cantando minha canção da alma.” – Deteve-se, e dessa vez as lágrimas realmente caíram. – “Mas eu devia saber, porque sua mãe não estava cantando contigo.” - Olhei fixamente meu pai por sobre a mesa, pasma, o jantar esquecido. – “Esse bastardo a levou ao invés de mim.” – Os punhos de meu pai golpearam o balcão com tanta força que tudo ao redor chacoalhou, sua mandíbula apertada de fúria. – “Ele apenas a olhou e Darby teve um colapso. Tive que me jogar em ti para evitar que batesse a cabeça no chão quando ela caiu.” “Kaylee, respira.” – Disse Nash, acariciando minhas costas. Em algum momento durante a história havia parado de respirar, e nem sequer me dei conta até que Nash falou. “Ela morreu por minha culpa?” – Minhas mãos fecharam-se em punhos e minhas unhas cortaram a palma das minhas mãos. “Não. Bebê, não.” – Meu pai se inclinou para a frente, para olhar-me diretamente nos olhos. – “Ela morreu por minha culpa.” Ele pegou minhas mãos e não quis soltá-las, mesmo quando as puxei. – “Nada disso é culpa sua.” Mas nada do que disse podia fazer-me sentir melhor. Eu devia morrer, e porque não foi assim, minha mãe morreu. E mesmo se não houvesse sido ela, teria sido meu pai. Ou talvez uma das pessoas do outro carro. O ponto era que eu estava viva quando deveria estar morte, e minha mãe havia pagado por isso. “Então... tempo emprestado?” – Dei a volta e fui até o fogão desligar o fogo, e movi a panela até a pia, fazendo tudo automaticamente porque estava intumescida. – “Estou vivendo o tempo de minha mãe? Isso é o que tia Val quis dizer?” “Sim.” – Meu se inclinou para trás em seu banco, me dando bastante espaço. – “Viverá até o dia em que ela deveria morrer. Mas não se preocupe com isso. Estou certo que teria tido uma vida longa.”
E foi aí onde rompi em lágrimas. Havia agüentado até esse momento, meu pesar eclipsado pela culpa que sentia por ser a causa da morte de minha mãe. Mas pensar em quão longa deveria ser sua vida... não podia suportar isso. Nash pigarreou, atraindo nossa atenção. – “Ela conhecia o risco, certo Sr. Cavanaugh?” – Olhou fixamente meu pai com um descarado e expectante olhar em seu rosto. – “A mãe de Kaylee sabia o que estava fazendo, não é?” “Claro que sim.” – Assentiu firmemente meu pai. – “Ela provavelmente não compreendeu que havia planejado a troca. Estava disposta a pagar o preço ou nunca teria cantado para você. Eu apenas... queria salvá-la também. Supunha-se que eu iria, mas perdi as duas essa noite. E realmente nunca tive você de volta, não é?” Solucei fortemente, tirando as lágrimas com as palmas da mão. Realmente estava ficando boa em não chorar. – “Estou bem aqui papai.” – Coloquei os talheres na lavadora de louças e despejei o macarrão em outra panela. – “Você foi embora.” “Tive que ir.” – Ele suspirou e balançou a cabeça. – “Ao menos pensei que tinha que ir. Ele veio atrás de você novamente, Kaylee. O anjo da morte estava furioso que havíamos te salvado. Ele levou a sua mãe, mas duas noites depois voltou por você. No hospital, nunca teria me dado conta se tua avó não houvesse voltado da Irlanda depois do acidente. Ela praticamente vivia em seu quarto junto comigo, e teve uma premonição de sua morte.” “Espere um pouco, eu devia morrer outra vez?” – Minha mão hesitou sobre a bancada. “Não.” – Negou meu pai veementemente. – “Não. Tua mãe e eu irritamos o anjo da morte quando te salvamos. Ele voltou por você por vingança. Tua mãe não saiu ferida do acidente, e você estava vivendo seu tempo. Não há maneira de que morresse dois dias depois. Então quando ele voltou por você na segunda vez, o confrontei.” “Ele mostrou-se?” – Perguntou Nash, e olhei para o lado para vê-lo olhando meu pai, tão fascinado como eu estava. Papai assentiu. – “Era um demônio arrogante.” “E o que aconteceu?” – Perguntei. “Dei um murro nele.” Por um momento ficamos apenas olhando-o em silêncio. – “Deu um murro em um anjo da morte?” – Perguntei, pasma.
“Sim.” – E riu ao recordá-lo, seu sorriso me fez sorrir também. Não podia lembrar a última vez que havia visto meu pai rir. – “Quebrei o nariz dele.” “Como isso é possível?” – Perguntei a Nash, pensando em seu tipo de amizade com Tod. “Eles tem que assumir uma forma física para pode interagir com objetos físicos.” – Disse ele brincando com a caixa onde havia vindo o queijo. – “Não sei se dá para matá-los, mas sei que podem sentir dor.” “E você sabe isso por que...?” – Perguntei, mas muito certa de que já sabia a resposta. Nash sorriu. – “Tod e eu nem sempre nos damos tão bem.” – Mas então ele voltou-se para olhar meu pai, novamente sério. “Porque um anjo da morte veio por Kaylee uma segunda vez?” “Não sei, mas tinha medo que viesse de novo.” – Meu pai ficou em silêncio, e seu meio sorriso dissolveu-se em uma sombria expressão. – “Te deixei com Brendon para te manter a salvo. Tinha medo que se a levava comigo ele acabaria te levando também. Então te deixei longe de mim. Sinto muito Kaylee.” “Eu sei.” – Não estava exatamente pronta para aceitar suas desculpas ainda, mesmo sabendo que o que ele fizera tinha ajudado. Mexi no macarrão e acrescentei mais alguns punhados de queijo. Liguei o fogão em fogo médio e joguei um punhado de sal, um pouco de leite e uma colherada da margarina com baixas calorias de tia Val. Olhei fixamente a panela enquanto mexia a comida. – “Por quanto tempo você ficará?” “Pelo tempo que me quiser aqui.” – Disse ele, e algo em sua voz me fez virar-me para olhar para ele. Isso significava o que eu achava que significava? “E seu trabalho?” Encolheu os ombros. – “Há trabalhos aqui. Ou, se quiser, pode voltar comigo para a Irlanda. Tenho certeza que seus avós adorariam te ver.” Não os havia visto desde a última vez que vi meu pai, e nunca havia saído do país. Mas... Olhei para Nash. Quando me viu observando-o, assentiu, mas não me enganava. Ele não queria que eu fosse, e isso bastava para mim.
“Eu adoraria visitar a Irlanda, mas moro aqui papai.” – Coloquei um pouco de pimenta na panela e continuei mexendo. – “Não quero ir.” – A decepção em seu rosto quase me matou. – “Mas é mais que bem vindo a ficar. Se quiser.” “Eu...” Eu gostaria de pensar que ele ia dizer que sim. Que estava pensando em uma casa para nós dois, com esperança não muito longe de Nash, mas bastante longe de Sophie e seu melodrama. Mas nunca estarei certa do que diria. Ele não chegou a terminar a frase porque a porta abriu-se e algo caiu no chão, logo Sophie grunhiu. – “Quem diabos deixou essas estúpidas malas em frente a porta?” – Perguntou. Divertida por sua entrada desastrada, dobrei o pescoço para ver sobre o ombro de Nash. Minha prima estava ajoelhada no chão, uma mão apoiada na mala velha e desgastada. Comecei a rir, mas quando meu olhar encontrou-se com o dela, toda a diversão se foi instantaneamente, deixando-me fria e vazia. Seu rosto estava coberto de sombras, seus traços tão escuros que mal podia percebê-los, mesmo com a luz bem em cima dela. O anjo da morte havia vindo por sua seguinte vítima. Sophie estava a ponto de morrer.
Capítulo 20 “Sophie?” – Meu pai se levantou e virou para ela sem me olhar nem uma única vez. “Uau, está muito parecida com sua mãe, exceto pelos olhos. Esses são os olhos de Brendon, apostaria minha vida nisso.” – Se ele tivesse me olhado saberia o destino dela. Estava certa disso. Mas ele não me olhou. Até mesmo Nash estava olhando para minha prima. O medo e a adrenalina enviaram um doloroso espasmo através de meu peito e agarrei a beirada da bancada. “Sophie...” – Sussurrei tão alto quanto fui capaz, desesperada por adverti-la antes que o pânico desatasse de verdade. Mas ninguém me ouviu. Sophie levantou-se com mais graça do que eu teria alguma vez em toda minha vida, ainda com o vestido escuro e bonito que havia usado no memorial. “Tio Aiden.” – Ela formou um sorriso débil, fazendo jogo com seus olhos arroxeados, sendo educada mesmo com dor. – “E Nash. Dois de meus homens favoritos no mesmo cômodo.” Pela primeira vez não me importei com as chamas de inveja em suas palavras direcionadas a mim, porque o interior de minha garganta havia começado a arder cruelmente. Sim, as vezes eu queria calá-la, mas não permanentemente. “Papai.” – Grunhi, ainda agarrada a borda da bancada, mas, de novo, ninguém me ouviu. Exceto Sophie. “O que está acontecendo com ela?” – Minha prima bateu os pés com as mãos apoiadas em sua estreita cintura. – “Kaylee, parece que vai vomitar em teu... O que é isso?” – Olhou para dentro da panela. – “Macarrão com queijo?” Nash virou para mim tão rápido que estive a ponto de perder o equilíbrio. “Kaylee?” – Mas apenas podia olhá-lo, minha mandíbula apertada evitando o canto pela alma de minha prima. – “Outra vez?” – Assenti e me aproximei dele, enquanto ele sussurrava palavras que eu não podia escutar, com sua bochecha áspera roçando na minha. “Kay?” – Meu pai virou-se para mim um segundo depois de Nash e horror passou por suas feições quando encontrou meus olhos. Seguiu lentamente meu olhar até minha prima, como se fosse assustar-se com o que veria. “Sophie?” – Perguntou, e assenti, apertando os dentes tão forte que dor espalhou-se pelas minhas têmporas. – “Quanto tempo?” – Neguei com a cabeça. Não tinha nem
idéia que minha habilidade vinha com um medidor de tempo, muito menos de como usá-la. “Brendon!” – Gritou meu pai, seu olhar fixo em mim. Sophie encolheu-se e depois deu um passo para frente para ver-me melhor, inclinando-se sobre o encosto de uma cadeira, com seu rosto cheio de sombras em uma careta de confusão. Nash estava ainda sussurrando para mim, sujeitando-me fixamente com suas costas virada para os outros. Seus lábios acariciaram minha orelha, suas palavras deslizavam sobre mim como uma respiração calmante de influência, ajudando-me a manter meu pânico sob controle. Respirei profundamente tentando conter o grito que ameaçava escapar enquanto olhava fixamente por cima de seu ombro, sem poder despregar os olhos de minha prima estranhamente escurecida. “O que está acontecendo?” – Sophie agarrou o encosto da cadeira com ambas as mãos e seu olhar encontrou o meu. – “Está perdendo o controle outra vez, não é? Mamãe guardou o número do psiquiatra por aqui em algum lugar.” – Dirigiu-se para a cozinha, mas meu pai a deteve com um braço. “Não Sophie.” – Ele deu uma olhada pela sala e gritou. – “Brendon! Venha aqui!” – Depois olhou para sua sobrinha. – “Kaylee ficará bem.” “Não, não ficará.” – Disse Sophie negando com a cabeça, seus olhos verdes muito abertos com sincera preocupação. Acredito que estava com medo por mim. Ou até com medo de mim. – “Sei que está preocupado com ela, mas ela precisa de ajuda de verdade, tio Aiden. Algo está mal com ela. Eu disse que isso podia acontecer outra vez, mas ninguém me escutou. Deveriam ter deixado que o doutor lhe desse a terapia do choque.” “Sophie...” – Os ombros de meu pai estavam tensos, sua expressão entre o medo e a raiva. Estava a ponto de mandá-la direto a – só não mandou porque Nash adiantouse. “Maldita seja, Sophie, ela está tentando te ajudar e você...” – Aproximou-se rapidamente dela com seus olhos cheios de fúria. Mas no momento em que ele se afastou de mim, o pânico me inundou. Puxei seu braço para atraí-lo de volta para mim e Nash com o olhar cheio de entendimento continuou sussurrando como se nunca houvesse parado. Uns passos ressoaram pelo vestíbulo e abri meus olhos para ver tio Brendon parar no meio da sala. Olhou-me e depois a meu pai, e depois seguiu o olhar de meu pai até Sophie. O que vi foi o rosto do meu tio cheio de agonia, tão forte que quase não suportei olhá-lo. Durante vários segundos ninguém se moveu como se tivesse medo de que um leve movimento fizesse o anjo da morte sair de seu esconderijo, causando
um inevitável final. Sophie olhou a cada um de nós totalmente confusa. Depois meu pai suspirou, e o suave som pareceu alcançar cada canto da ampla sala. “Está bem?” – Perguntou, e assenti dolorosamente. Não era eu que enfrentava a morte. Não ainda, de qualquer forma. “O que está acontecendo?” – Exigiu Sophie, quebrando o silêncio como um tiro em um funeral. Mas ninguém respondeu. Ela era a fonte do problema, por isso ninguém a olhou. Pela primeira vez, todo mundo estava olhando para mim. “É Sophie?” – Perguntou tio Brendon, caminhando lentamente até nós, como se doesse mover-se. Sua voz mal era audível entre os silenciosos gritos em minha cabeça. Assenti e ele fechou os olhos, inalou profundamente e logo exalou. – “Tem certeza?” – Teve que abrir seus olhos para me ver assentir outra vez e apertou sua mandíbula. – “Me ajudará?” – Perguntou, com a dor transformando suas feições. – “Prometo que não deixarei que te peguem.” Infelizmente, depois da história de meu pai, não estava certa de que tio Brendon pudesse ter algum controle sobre quem o anjo da morte escolhia na troca. Nenhum anjo da morte que estava coletando almas que não estavam na lista pensaria duas vezes antes de levar um Bean Sidhe que se meteu em seu caminho. Ou qualquer um no cômodo, de qualquer forma. Mas não podia deixar Sophie morrer, mesmo ela sendo uma dor na minha bunda na maior parte do tempo. “Do que estão falando?” – Minha prima olhava a cada um de nós, como se tivéssemos perdido a cabeça. – “O que está acontecendo?” Tio Brendon cruzou a sala em quatro passadas e indicou com um gesto que ela o acompanhasse até o sofá. Ela foi com relutância. – “Céus, tenho que te dizer algo e não tenho tempo para a versão longa e amável.” – Segurou as mãos de Sophie e meu peito doeu, o que deveria ser os estilhaços do meu coração. – “Vai morrer em alguns minutos.” – Disse. Sophie franziu o cenho, mas seu pai continuou rapidamente antes que ela pudesse interrompê-lo. – “Mas não quero que se preocupe, porque Kaylee e eu vamos te trazer de volta. Ficará bem. Não estou certo do que acontecerá depois disso, mas o que eu preciso que saiba é que você ficará bem.” “Não sei do que você está falando.” – A confusão convertia seus finos traços em uma máscara e o pânico era visível em sua expressão. Seu mundo simplesmente havia deixado de ter sentido e ela não sabia o que fazer com a informação que não podia entender. Eu sabia exatamente como ela se sentia. – “Porque eu morreria? E o que diabos Kaylee pode fazer sobre isso?” Tio Brendon balançou a cabeça.
“Não temos tempo para tudo isso agora. Não sei quanto tempo temos então necessito que confie em mim. Te trarei de volta.” Sophie assentiu, mas parecia assustada, tanto por seu pai como por ela mesma. Seguramente acreditava que ele tinha enlouquecido. Me olhou por cima do ombro dele como se de alguma forma eu pudesse tê-lo contaminado com meu defeito mental, mas não podia sentir nenhuma raiva por minha prima, não com ela momentos antes de morrer. “Nãoooo.” – Todas as cabeças giraram até o corredor, onde tia Val estava de pé agarrando o batente da porta. – “Isso não devia acontecer com Sophie.” “Que?” – Tio Brendon ficou de pé tão rápido que me fez ter tontura. Ele observou sua mulher com horror. – “Valerie, o que você fez?” Tia Val? O que ela podia ter haver com os anjos da morte e os Bean Sidhe? Era humana! Antes que minha tia pudesse responder uma onda de aflição me atingiu e balancei sobre meus pés. Nash me segurou antes que golpeasse a mesa e me sentou cuidadosamente em uma das cadeiras. Não devia demorar muito. Sophie os olhou tremendo, e olhar para ela mandou calafrios através de meu corpo. A angústia me atingiu de dentro para fora. Sentia meu coração grande demais para meu peito. Minha garganta ardia como se respirasse fogo. Mas além da dor física em conter a canção da alma de Sophie, sentia minha prima perdendo intensidade, como se o anjo da morte estivesse a ponto de atacar. Era como ver minha própria mão desenhada em um bloco de madeira, sabendo que os lenhadores viriam por ela. Sabendo que nunca voltaria. E não importaria que nunca houvéssemos acabado. “Mamãe?” – Gritou Sophie, passando seu peso de um pé para outro como se fosse abraçar a si mesma. – “O que está acontecendo?” “Não se preocupe querida.” – Disse tia Val, seu olhar correndo por toda a sala, como um viciado em drogas. – “Não deixarei que te leve.” – Parou, sem olhar sua filha, e sua cabeça caiu para trás tanto quanto pôde, com cascatas de cabelo loiro caindo por suas costas quase até a cintura. – “Marg.” – Gritou, e eu me encolhi. Minhas mãos agarraram os braços da cadeira tentando recuperar o controle depois de ter estado a ponto de perdê-lo. –“Sei que está aqui, Marg!” Marg? Não tinha contado a tia Val sobre ter visto o anjo da morte, ou que ela fosse de fato uma mulher. E nem sequer sabia o nome dela. Até agora. E de imediato entendi. Tia Val sabia o nome dela porque ela a havia contratado. Não! A negação e devastação romperam através de mim. Não podia acreditar. Tia Val era a única mãe que eu havia conhecido durante os últimos treze anos. Ela me
amava e claro, amava Sophie e tio Brendon. Ela nunca poderia fazer negócios com um anjo da morte, muito menos negociar com as almas de inocentes. Mas a bebida e as perguntas... Ela havia sabido o tempo todo porque as garotas estavam morrendo! “Isso não era parte do trato.” – Gritou minha tia, com as mãos fechadas em punhos, tremendo de medo ou raiva. Ou ambos. - “Mostra-te covarde! Não pode fazer isso!” Mas isso é no que ela estava muito equivocada.
Capítulo 21 Os gritos de tia Val ainda estavam ecoando em meus ouvidos quando Sophie desabou sobre seus pés. Assim que caiu, bateu a parte de trás de sua cabeça na borda da mesa de centro. Caiu no chão com um baque surdo, sangue escorrendo por seus cabelos manchando o tapete branco. Nenhum de seus pais viu acontecer. Tio Brendon estava observando obsessivamente a sala, como se o anjo da morte pudesse estar escondido atrás de uma poltrona ou em um vaso de plantas. Tia Val ainda olhava para o teto, gritando para Marg aparecer e se explicar. Como se anjos da morte viessem de cima. Mas no momento que Sophie morreu, a canção de sua alma forçou a saída pela minha garganta e eu quase sufoquei tentando segurá-la. Tia Val me viu sufocando e virou para olhar a filha. - "Não!" - Gritou, e eu nunca tinha visto uma voz humana chegar tão perto do meu grito até aquele momento. Ela caiu de joelhos no chão. - "Acorde Sophie!" - Acariciou os cachos loiros para trás do rosto de sua filha, e seus dedos saíram manchados de sangue. - "Marg, corrija isso! Este não era o combinado!" "Sophie!" - Tio Brendon juntou-se a sua esposa ao lado do corpo inerte de sua filha. Nash e eu olhamos com horror, muito chocados com o movimento. Então, meu tio me olhou por cima do ombro de sua esposa, mas eu não conseguia entender o que ele queria. Estava muito ocupada segurando o grito. Nash agachou-se ao lado de minha cadeira e segurou minhas mãos, seu olhar penetrou-me com força e muita intensidade. - "Deixe sair." - Ele sussurrou. "Mostre-nos sua alma para que a gente possa orientá-la." Então eu cantei por Sophie. Eu cantei por uma alma tomada antes de seu tempo, cantei por uma nova vida perdida. Cantei pelos pais sem filhos, e por uma menina que não consegue decidir quem e o que quer ser. Cantei pela minha prima, minha irmã substituta, cuja língua jamais seria atenuada mesmo pela idade e experiência. Enquanto eu gritava, as luzes escureceram-se, mas eu não podia ver nenhuma diferença perceptível em qualquer lâmpada. A sala inteira começou a ficar cinza, como tinha ficado antes no ginásio, e olhei hesitante ao redor da sala, de repente com medo do que encontraria no escuro, criaturas deformadas andando em minha própria casa. Não havia nada a ser encontrado. Eu estava claramente vendo o inferno, mas era... de alguma forma, vazio.
Mais desconcertante do que o som. Ou melhor, a ausência de som. Enquanto eu cantava, não ouvi mais nada ao meu redor, como se alguém tivesse apertado o botão de mudo em algum controle remoto cósmico. Após alguns segundos, eu não conseguia nem me ouvir gritar, mas eu sabia pelo fogo em minha garganta e pulmões que eu ainda estava, de fato, gritando bem alto a plenos pulmões não humanos. A alma de Sophie subiu mais do que a de Emma tinha subido, e uma parte de mim entendeu que isso era minha culpa. Porque Nash teve que pedir-me para cantar por ela. Tia Brendon estava com os braços duros ao seu lado, com as mãos fechadas em punhos, antebraços expostos mostrando grande esforço. Não pude ver seu rosto, mas imaginei que parecia com o de Nash quando guiou a alma de Emma: vermelho e tenso, úmido de suor. Tia Val caiu sobre sua filha, chorando inconsolavelmente agora. Ela era a única pessoa na sala que não podia ver a alma de Sophie, e uma parte distante de mim percebeu o quanto isso era insuportavelmente trágico. O ombros de tio Brendon caíram, e ele virou-se para mim exausto. - "Segure-a." Balbuciou, e eu acenei com a cabeça ainda gritando. Gostaria de fazer o meu melhor, mas minha garganta ainda estava dolorida de cantar a canção de Emma naquela tarde, e eu não tinha certeza de quanto tempo poderia continuar por Sophie. Meu tio fez um gesto para meu pai. Não entendi o que ele disse, mas a essência era clara: ele não podia fazer isso sozinho. Por alguma razão, ele não podia mover a alma de sua filha. Meu pai concordou, e ambos voltaram-se para Sophie, trabalhando juntos agora. Tia Val ajoelhou-se com a mão no esterno de sua filha, de frente para o resto da sala. Mas ela não estava olhando para qualquer um de nós. Estava falando, evidentemente, para a sala em geral. Seu rosto estava manchado de lágrimas, e cheio de sofrimento e culpa. Não consegui entender muito bem o que disse, mas percebi duas palavras com base no movimento familiar de seus lábios. “Leve-me!” E então entendi. Ela estava conversando com o anjo da morte - Marg, pedindo-lhe que poupasse a vida de Sophie em troca de sua própria. E foi aí que tudo mudou. A atmosfera do quarto mudou abruptamente, como se todos os ângulos tivessem mudado, as proporções recalibradas. Era como assistir a um filme com as imagens todas desarrumadas. Uma figura escura e esguia apareceu no meio da sala com aparência estranha, apenas a um pé do meu pai e meu tio, do outro lado do corpo de Sophie.
A reconheci de imediato do memorial de Meredith. Marg. Ela ainda vestia o mesmo suéter preto que acentuava sua leve figura, e sapatilhas afundando no tapete de minha tia. O anjo da morte deu-me uma olhada e franziu a testa, em seguida virou-se para tia Val. Eu podia ver apenas uma parte de seu pequeno rosto, mas era o suficiente. "Você tem certeza?" - Ela perguntou, com sua voz de metal derretido, suave e lenta, mas quente o suficiente para chamuscar com apenas um toque. Fiquei tão surpresa ao ouvi-la que quase parei de cantar, e a alma de Sophie vagou em direção a Marg. Então Nash apertou minha mão e minha voz voltou, a alma de Sophie firmando-se mais uma vez. O anjo da morte não pareceu notar. Ela estava observando minha tia, que estava dizendo outra coisa que eu não podia ouvir. Eu só podia ouvir Marg, o que significava que o anjo da morte não tinha me esquecido por algum motivo, ela queria que eu ouvisse o que estava dizendo. Tia Val assentiu com firmeza em resposta a uma pergunta do anjo da morte, seus lábios movendo-se rapidamente. Marg a olhou por um momento, depois balançou a cabeça, e vi sua boca curvando-se lentamente em um malicioso sorriso. - "Sua alma não é suficiente." - Disse, sua voz quase como uma presença física. - "Você prometeu a Belsphegore jovens e belas almas, e como seu corpo, sua alma está envelhecendo e cheia de lesões. Ela não vai aceitar isso." Minha tia estava falando novamente, gesticulando com raiva, e seu marido encolheuse com algo que ela disse, os punhos cerrados ainda em esforço. Novamente, eu queria desesperadamente poder ouvir os dois lados do argumento. "Nós não chegamos a um acordo específico sobre as almas a serem recolhidas." Disse Marg, e calafrios passaram por meus braços. Apenas ouvi-la ia me matar. - "Eu coletei as quatro primeiras, apesar da interferência de suas jovens crianças..." Crianças? Ela não pode simplesmente me chamar de criança! "... e eu terei a quinta no final desse joguinho. Eu terei o dinheiro, Belphegore terá as almas, e você terá juventude e beleza como nunca imaginou." Juventude? Tia Val havia contratado um anjo da morte para caçar almas inocentes em troca de sua juventude? Alguém poderia realmente ser tão fútil? Tia Val estava gritando agora, as veias destacando-se em seu fino pescoço. Porém Marg apenas riu. - "Tenho em meu poder quatro jovens e fortes almas, e se eu quiser, nem meia dúzia de Bean Sidhes será capaz de me deter." - Para demonstrar, ela acenou com uma mão no ar, com a palma para cima. Dor atravessou por meu
peito, a alma de Sophie subiu mais alto apesar de eu estar cantando e do grande esforço do meu pai e meu tio para guiá-la de volta. Nash ficou de pé e acrescentou seu melhor esforço ao grupo, com o rosto lavado com a tensão. A alma de Sophie sacudiu-se, em seguida afundou ligeiramente, mas não foi muito longe. Marg os olhou então, ficando de costas para minha tia a fim de focar sua fúria em mim e Nash. - "Você..." Gritei mais forte a cada passo que ela dava em minha direção e minha voz começou a falhar. Eu estava perdendo, e uma vez que meu lamento cessasse, não haveria alma para os homens guiar. "Alguma coisa está..." - Seu suéter balançou-se ao seu redor enquanto andava, dando-lhe uma presença maior e mais intimidante. Então os olhos dela estreitaramse enquanto estudava outra coisa através de mim, meu coração disparando ainda mais aterrorizado. Seu sorriso voltou lentamente. "Você vive a vida de alguém. Belphegore certamente amaria o gosto de sua vida emprestada. Se você quer ver o sol do próximo dia, cale-se e liberte a alma. Caso contrário, sua família verá você engolir sua própria língua antes de eu levar sua alma no lugar da dela." Seu sorriso ampliou-se, e seus dentes brancos me trouxeram mais calafrios. - "E você vai morrer em perfeito silêncio, pequena. Não haverá ninguém para cantar a canção de sua alma." "Eu cantarei por ela." - A voz era suave e lírica, e, nesse estranho silêncio, minha cabeça girou em direção a ela. Tod estava na frente da porta fechada. Seus pés afastados em postura de luta, suas mãos ao seu lado, a mandíbula fechada em fúria. Ele parecia pronto para uma batalha dos infernos, mas a voz de Tod não correspondia a que eu tinha escutado. Alguém saiu de trás dele, e meu pulso acelerou cheio de esperança. Harmony Hudson, mãe de Nash. E ela parecia com raiva. "Consegue me ouvir, querida?" - Perguntou, e eu assenti, muito grata por sua presença, o que eu não sabia era como ela tinha sabido que era necessária aqui. "Sua voz está se desfazendo, mas posso cantar a noite toda." - Enfrentou Marg então, e pareceu ficar mais alta. - "Você não levará a alma dela, nem qualquer outra." Disse, olhando para a alma de Sophie que ainda balançava lentamente em cima de seu corpo.
Marg rosnou como um gato bravo, a boca aberta, dentes expostos, e por um momento pensei que ela iria atacar a mãe de Nash com um conjunto de garras retráteis. Então, ela pareceu se recompor. - "Você não poderá ajudar, assim como a criança." - Marg ronronou, movendo-se lentamente em direção a porta de entrada. "Precisará de mais que três de seus homens para roubar essa alma de mim enquanto tenho presas quatro almas reservas." "Que tal quatro homens?" - Disse Tod com seus dentes cerrados. Ele olhou para mim, depois para Nash que assentiu com a cabeça dando seu aval para algo que não entendi. Então Tod fechou os olhos em concentração e a alma de Sophie sacudiu um pouco mais para baixo. Meus olhos se arregalaram. Tod era um anjo da morte. No entanto, ele estava muito bem ajudando os outros a guiar de volta a alma de Sophie. Os olhos de Marg ficaram escuros com a raiva, e ela virou-se para encarar Sophie, claramente tentando pegar sua alma antes que perdesse a chance. E isso foi quando minha voz morreu. "Não!" - Eu grasnei, mas nenhum som saiu. No entanto, logo depois que meu grito desapareceu, outro som voltou com força total em seu lugar, meus ouvidos pareceram estalar com a mudança na pressão. E a primeira coisa que percebi foi a mais bela música que já ouvi em toda minha vida. A mãe de Nash estava cantando por Sophie. Os quatro homens estavam puxando a alma de minha prima agora, com a música de Harmony para ajudá-los. Mas Marg estava puxando-a também, e a alma de Sophie começou a subir novamente, dessa vez em direção ao anjo da morte com os braços abertos para recebê-la. "Marg, por favor!" - Tia Val gritou. - "Leve-me. Minha alma pode não ser jovem, mas é forte, e você não pode ter Sophie!" "Você não pode salvá-la..." - Marg rugiu, e, olhando em volta, vi que estava certa. Com quatro almas na reserva, ela era forte demais até para quatro homens Bean Sidhe. Irônico, considerando quão pequena e frágil ela parecia... Espere. Ela é frágil. Nash tinha dito que anjos da morte devem assumir uma forma física para interagir. O que significa que Marg tem as mesmas fraquezas físicas que o anjo da morte que tentou me levar tinha. O anjo da morte que meu pai deu um soco... Minha cabeça latejava e minha garganta ardia enquanto eu corria para a cozinha. Olhei para o faqueiro, depois balancei a cabeça. Eu não sabia se podia pará-la com apenas um golpe.
Mas eu poderia desconcentrá-la com um golpe. Abri o armário debaixo e procurei pela velha frigideira de ferro fundido que tio Brendon usava para fazer pão de milho, em seguida, peguei-a e corri para a sala. Passei por Nash, Harmony e Tod, e já tinha puxado a frigideira para um golpe quando percebi algo. Marg deve ter me ouvido chegar, ou visto algum sinal no rosto de minha tia, pois ela virou no último segundo. A frigideira bateu em seu ombro, ao invés da cabeça, então, ao invés de deixá-la inconsciente, eu simplesmente a acertei. Mas ela caiu duramente. Sua coxa bateu no chão com um baque, jogando a mesa a dois metros de distância. Não consegui reprimir um sorriso de triunfo, enquanto uma dor cruel apoderou-se do braço que usei para dar o golpe. Por um instante ela ficou atordoada, o cabelo bagunçado ao redor de sua cabeça e os braços caídos. De rabo de olho vi a alma de Sophie afundar suavemente em direção a seu corpo. Então tia Val soltou um grito de raiva e lançou-se no chão. Eu nunca a tinha visto perder sua aparência graciosa - e, eu nunca a admirei tanto quanto agora. Ela lançou-se em Marg, as mãos segurando os ombros do anjo da morte. Seus olhos eram selvagens, os cabelos bagunçados. Ela parecia louca, e eu tinha poucas dúvidas de que se não fosse ainda, logo seria. "Você não vai levar minha filha!" - Ela gritou, a centímetros da cara de Marg. "Então, ou você me leva agora, ou ficará sem uma alma para barganhar!" Os lábios de Marg curvaram-se com raiva quando avancei, a frigideira ainda agarrada em minhas mãos. Ela olhou para a alma de Sophie e seus olhos escuros brilharam cheios de fúria ao descobrir que Sophie ainda estava respirando, embora continuasse inconsciente. Marg olhou para minha tia então, vendo-se sem alternativas. Seja lá quem for Belphegore, Marg claramente não queria desapontá-la. O anjo da morte considerou por menos de um segundo, então balançou a cabeça. - "Sua alma não cumpre o acordo que fez, mas pagará por sua arrogância e vaidade." - E simples assim, tia Val caiu em cima do anjo da morte, os olhos já vidrados e vazios. Mas o corpo de tia Val bateu direto do tapete, pois Marg já havia ido. Pisquei, olhando para a minha tia em estado de choque e, cuidadosamente, ajoelheime no chão para não cair de cara.
"Kaylee, você está bem?" - Os dedos de Nash enrolaram-se ao redor de minha mão esquerda, lembrando-me que eu ainda segurava a frigideira de ferro. Assustada com o que tinha feito, agora que tudo acabou, deixei cair a frigideira que bateu no tapete com um baque surdo. "Estou bem." - Sussurrei. - "Considerando tudo". Tio Brendon andou pesadamente por mim para se ajoelhar ao lado de Sophie. Ele tomou seu pulso e exalou em alívio, em seguida, passou a mão em sua cabeça, perto de onde ela bateu na mesa. Então a pegou nos braços e a deitou sobre o sofá, indiferente se seu cabelo manchava de sangue toda a seda branca. Tia Val teria tido um ataque por causa da bagunça. Mas agora tia Val estava morta. Com Sophie em segurança, seu pai caiu ao lado se sua esposa e repetiu os mesmos passos. Porém dessa vez não houve suspiro de alívio. Ao invés disso, ele sentou-se no chão, passando a mão pelos braços de Sophie. Então apoiou os cotovelos nos joelhos e embalou sua cabeça entre as mãos. Seu corpo inteiro balançou por causa das lágrimas silenciosas. "Brendon?" - Meu pai disse, com sua mão quente em minhas costas. "Como ela pôde fazer isso?" - Disse meu tio, olhando para nós com os olhos avermelhados. - "O que ela estava pensando?" "Eu não sei." - Meu pai me deixou para ir ajoelhar-se ao lado de seu irmão. "É minha culpa. Viver com a gente é muito difícil para os seres humanos. Eu deveria ter sabido melhor." - Tio Brendon soluçou. - "Ela não queria envelhecer sem mim." "Isso não é culpa sua." - Meu pai insistiu, apertando o ombro do irmão. - "Não é que ela não queria ficar velha sem você, Bren. Ela não quer ficar velha de qualquer jeito." Minha tia havia feito negócios com um anjo da morte que custou a vida de quatro meninas inocentes. Ela mentiu para todos nós, e quase causou a morte de sua própria filha. Ela explodiu um buraco do tamanho de uma cratera nuclear no meio de nossa família. Mas quando chegou a hora, ela deu sua própria vida em troca da de sua filha sem pensar duas vezes, assim como minha mãe tinha feito. Isso faz seus pecados serem perdoáveis? Eu queria dizer que sim, que o sacrifício de uma mãe era o suficiente para apagar seus pecados. Mas a verdade não era tão bonita. A morte de minha tia não iria trazer Heidi, Alyson, Meredith ou Julie de volta. Não haveria qualquer reparo psicológico para a dor que sua perda causaria a Sophie. Não daria sua esposa de volta a tio Brendon.
A verdade é que o sacrifício de tia Val era muito pouco, muito tarde e ela tinha deixado aqueles que mais amava para lidar com as conseqüências. *** "Aqui, Kaylee. Isto ajudará sua garganta." - Harmony Hudson colocou uma pequena xícara de chá de mel sobre a mesa a minha frente, e inclinei-me sobre ela, respirando o aroma perfumado. Ela começou a voltar para a cozinha, onde o cheiro de biscoitos caseiros começava a sair do forno, sua terapia favorita, mas coloquei uma mão em seu braço. "Eu teria perdido Sophie se você não estivesse aqui." - Minha voz ainda estava rouca, sentia minha garganta como se houvesse engolido uma pinha. E o choque estava começando finalmente a passar, deixando meu coração e minha cabeça cheios de detalhes terríveis. Harmony sorriu tristemente e afundou-se na cadeira ao meu lado. - "Pelo que ouvi dizer, você cantou mais do que sua cota permitia hoje." Balancei a cabeça e tomei um gole da xícara com cuidado, agradecida pelo calor reconfortante que escorria por minha garganta. - "Mas isso acabou agora, né? Belphegore não pode pegar mais almas e Marg não voltará, certo?" "Não se ela tem algum juízo. Os anjos da morte sabem quem ela é agora, e todos estarão vigiando-a." - Harmony olhou para a esquerda, e segui meu olhar pela sala, onde minha tia havia morrido, minha prima havia sido trazida de volta e eu havia acertado um anjo da morte com uma frigideira de ferro. Quarta-feira. Mais estranha. De todo o sempre. Os paramédicos tinham ido a mais ou menos meia hora, o tapete branco ainda tinha marcas de sangue. Tinham enrolado tia Val em um lençol branco e tio Brendon e Sophie foram juntos na ambulância para o hospital, aonde ela iria levar pontos na parte de trás de sua cabeça e sua mãe seria oficialmente considerada morta. Sophie não entendia o que tinha acontecido, eu soube disso no momento em que havia recuperado a consciência. Mas o que eu não imaginava era que ela iria me culpar pela morte de sua mãe. Minha prima estava tecnicamente morta quando tia Val fez a troca que havia salvado sua vida, porém Sophie não se lembrava de nada. Tudo o que ela sabia era que sua mãe tinha morrido e que de alguma forma eu tinha algo a ver com isso. Assim como minha própria mãe. Ela e eu tínhamos mais coisas em comum agora do que jamais havíamos tido. "Como você soube? Sobre tudo isso?" - Perguntei a Harmony, acenando em direção a sala indicando o completo desastre. Mas ela apenas franziu a testa, como se confundida com a necessidade de minha pergunta.
“Eu disse a ela.” Assustada, olhei para cima e encontrei Tod sentado em frente a mim, os braços cruzados sobre a mesa, uma única mecha loira caída em sua testa. Harmony sorriu para ele, deixando-me saber que ela também podia vê-lo, e em seguida levantou-se para verificar os biscoitos. "Como você fez isso?" - Trouxe a xícara à boca para outro gole. - "Como você guiou a alma de Sophie? Eu pensei que você fosse um ceifador." "Ele é." - Disse Nash atrás de mim, e eu virei para ver meu pai seguindo-o pela porta da frente, puxando sua manga comprida para baixo. Ele e meu pai tinham acabado de colocar o sofá de seda branca de tia Val na parte traseira do caminhão do meu tio, para que ele não tivesse que lidar com as manchas de sangue quando voltasse com Sophie do hospital. - "Tod é muito talentoso." Todo tirou a mecha de seu rosto e fez uma careta. Harmony falou da cozinha enquanto abria a porta do forno. - "Meus dois meninos são talentosos." "Seus dois meninos?" - Repeti, certa de que havia ouvido errado. Nash suspirou e caiu sobre a cadeira que sua mãe havia desocupado, em seguida, apontou para o anjo da morte com uma mão. - "Kaylee, este é meu irmão, Tod." "Irmão?" - Meu olhar viajou de um para o outro, em busca de alguma semelhança, mas a única coisa que pude encontrar foram as covinhas. Embora, agora que eu estava pensando sobre isso, Tod tinha cachos loiros como Harmony... E de repente tudo mais fez sentido. As discussões inúteis. Nash conhecer Tod desde sempre. Tod ficar na casa de Nash. Nash saber tanto sobre anjos da morte. Como eu pude não ver isso antes? "Uma palavra de advertência..." - Harmony me deu um leve sorriso, mas depois mudou seu foco para meu pai. - "Você tem que tomar cuidado com irmãos Bean Sidhe. Eles sempre querem mais do que negociar." Meu pai limpou a garganta e olhou para fora. *** Uma hora depois os Hudsons tinham ido embora, e meu pai estava na minha frente no balcão, mastigando o último pedaço de biscoito que eu não tinha fome para comer. Levei meu prato vazio para a pia e deixei água cair sobre ele.
Ele deslizou um braço em volta dos meus ombros e me puxou para perto. Eu deixei. Ele ainda não sabia mais sobre mim e minha vida do que sabia há uma hora atrás, nada tinha mudado muito. Mas ao mesmo tempo tudo tinha mudado. Agora ele podia olhar para mim, não importando o quanto eu lembrasse minha mãe, ao olharme, ele me via, e não a ela. Ele podia ver o que tinha, ao invés do que tinha perdido. Ele ficaria. Nós provavelmente brigaríamos sobre os toques de recolher e outras coisas, mas pelo menos essas coisas me faziam sentir normal. E eu precisava de uma boa dose de normalidade após a semana que tive. Eu suspirei, olhando para a água na pia, muito exausta e confusa naquele momento até mesmo para perceber que eu deveria fechar a torneira. "O que há de errado?" - Papai chegou mais perto de mim para fechar a torneira. "Nada." - Dei de ombros, depois virei de costas para a pia. - "Bom, tudo, na verdade. A questão é que só conheci três Bean Sidhe adultos, e todos vocês estão... sozinhos." - Tragicamente, de fato. - "Os Bean Sidhe não tem finais felizes?" "Claro que sim." - Meu pai insistiu, envolvendo um braço em volta dos meus ombros. - "Tão feliz quanto qualquer outra pessoa, pelo menos." - E para minha surpresa, ele não parecia nem um pouco na dúvida, mesmo depois de tudo que havia passado. "Eu sei que não parece possível nesse momento, considerando tudo o que você viu e ouviu esta noite. Mas não julgue seu futuro com base nos erros dos outros. Os de Valerie, nem os meus. Você terá o final feliz que está disposta a trabalhar para conquistar. E pelo que vi até agora, você não tem medo do trabalho." Concordei, sem saber como reagir. "Além disso, ser um Bean Sidhe não é de todo ruim Kaylee." Fiz uma careta cética. - "É bom ouvir isso, porque de onde estou vendo, parece apenas um monte de grito e morte." "Sim, há um bocado disso. Mas..." - Meu pai virou-me até que eu olhei para ele, apenas registrando vagamente o lento e constante redemoinho de cor de chocolate, cobre e caramelo em seus olhos. - "Nós temos um dom, e se você estiver disposta a enfrentar os desafios que vem com esse dom de vez em quando, a vida te trará um milagre." - Seus olhos rodaram mais rápidos e suas mãos apertaram um pouco mais meus braços. "Você é o meu milagre, Kaylee. O de sua mãe também. Ela sabia o que estava fazendo naquela noite na estrada. Ela estava salvando o nosso milagre. Nós dois estávamos. E tanto quanto eu sinto a falta dela, nunca me arrependi de nossa decisão. Nem por um segundo." - Ele piscou e seus olhos estavam cheios de lágrimas. – “Você não deve duvidar disso.”
"Não duvido." - Encontrei seu olhar, esperando que o meu parecesse sincero, porque a verdade é que eu estava longe de ter certeza. O que me fez digna de ter uma vida além da que o destino tinha decidido me dar? Meu pai franziu a testa, como se tivesse visto a dúvida em meus olhos, que provavelmente diziam-lhe mais do que minha resposta. Redemoinhos estúpidos. Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa um motor fez um barulho familiar do lado de fora, então ele ficou em silêncio. Nash. Olhei para meu pai cheia de expectativas e ele fez uma careta. - "Ele sempre vem tão tarde?" Revirei os olhos. - "São nove e meia." - Embora na verdade, parecia como se fosse mais de duas da manhã. "Ótimo. Vá falar com ele antes que ele venha para dentro, e eu tenha que fingir que estou bem com isso." “Você não gosta dele?” Meu pai suspirou. "Depois de tudo o que ele fez por você, como eu poderia não gostar dele? Mas eu vejo a maneira como ele a olha. A maneira como você olha para ele." Sorri, enquanto a porta do carro se abria. - "Quantos anos você tem, velhinho? Não se lembra de ter tido minha idade?" "Estou com 132, e me lembro muito bem. É por isso que estou preocupado." - Uma sombra passou por seu rosto, em seguida, fez um sinal para a porta. - "Meia hora." Irritação ameaçou explodir meu temperamento. Ele estava em casa há três horas e já estava colocando regras? Mas eu sufoquei a raiva e aceitei o toque de recolher do meu pai, porque era legal ter meu pai em casa. Certo? Nash olhou-me com surpresa quando abri a porta da frente. Ele estava no último degrau, uma mão sobre a campainha. - "Ei." "Ei." - Fechei a porta e encostei-me nela. - "Você esqueceu de alguma coisa?" Ele encolheu os ombros e sua jaqueta brilhou sob a luz da varanda. - "Eu só queria dizer boa noite, sem minha mão olhando por cima do meu ombro. Ou seu pai." "Ou seu irmão." - Eu não pude resistir a um sorriso, mas Nash apenas franziu a testa. "Eu não quero falar sobre Tod.”
"É justo." - Desci um degrau e encontrei seus olhos, ele ainda estava um pouco mais baixo que eu. Era uma pose estranhamente íntima, seu corpo a centímetros do meu, mas não estávamos nos tocando. - "O que você quer falar?" Ele levantou uma sobrancelha, e sua voz saiu rouca. - "Quem disse que eu queria falar?" Eu deixei ele me beijar, até meu pai bater na janela às minhas costas. Nash gemeu, e eu o puxei para longe das luzes da varanda. "Então você está realmente bem com tudo isso?" - Ele abriu os braços na escuridão, mas seu gesto incluiu tudo de estranho que tinha acontecido em minha vida nos últimos quatro dias. - "A maioria das garotas teriam ficado totalmente apavoradas comigo." "O que posso dizer? Sua voz faz maravilhas." - Para não mencionar suas mãos. E seus lábios... E novamente uma dor se apoderou de mim, enchendo meu coração de dúvidas. Ele seria feliz comigo em um mês uma vez que a novidade de beijar outro Bean Sidhe houvesse passado? "O que há de errado?" - Ele inclinou o queixo até o meu olhar encontrar o dele, embora eu não pudesse vê-lo muito bem no escuro. Deixei minhas dúvidas de lado e inclinei-me com as costas contra o carro. - "A escola será estranha depois disso. Quero dizer, como devo me preocupar com trigonometria e história quando eu trouxe minha melhor amiga de volta dos mortos e enfrentei um anjo da morte tentando levar a alma da minha prima?” "Você vai se cuidar, porque se ficar de recuperação não haverá mais nada disso..." Ele se inclinou para mim, sua boca provocando a minha até que o puxei, precisando de mais. "Hummm... essa motivação é muito boa." - Murmurei contra seu rosto, quanto finalmente consegui força de vontade para me afastar. "Com alguma sorte haverá muito disso, mas não mais que isso." - Ele fez um gesto vago na direção de casa. - "Isso será raro, e agora acabou." Um arrepio passou por mim com a lembrança. - "E se não for?" - Afinal, Marg ainda estava lá fora em algum lugar, e deixou, sem dúvida, Belphegore insatisfeita. Mas Nash não se deixaria abalar. - "Acabou. Mas estamos apenas começando, Kaylee. Você não tem idéia de quão especial é estarmos juntos. Como é incrível que nós tenhamos nos encontrado." - Esfregou os braços e eu sabia que a intensidade em
sua voz era séria. - "E nós temos uma longa vida pela frente. Tempo para fazer tudo o que quisermos. Ser qualquer coisa que quisermos." Tempo. Esse era o ponto, não é? De Nash, do meu pai. Finalmente eu tinha isso. Minha vida não era só minha. Minha mãe havia morrido para me dar esse tempo. E não importa o que aconteceu depois, eu ficaria muito bem para fazer valer seu sacrifício.
FIM!! A série Soul SOUL SCREAMERS continua com : Soul Screamers 02 - My Soul To Save
Créditos:
Comunidade Tradução de Livros [http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=25399156]
Tradução: Hayleyyy (Val) [http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=4163518357463385049
Tradução: Thábata Papini [http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=1224165313819057875]
Tradução: Michelle [http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=15221778400641543549]
Tradução e Revisão: Thábata Papini [http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=1224165313819057875]
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